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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

SALMOS CANTAI AO SENHOR UM CÂNTICO NOVO, CANTAI AO SENHOR...

         SALMOS CANTAI AO SENHOR UM CÂNTICO NOVO, CANTAI AO SENHOR...
Salmos é um dos livros mais apreciados pelos cristãos. Quem nunca encontrou conforto e consolo em tempos de necessidade em suas páginas? Porém, sua autoria, teologia, interpretação e aplicação são temas que geram muitos debates que o tornam um dos livros mais complexos do cânon.
Com relação à sua composição temos que distinguir dois aspectos:
a autoria de um Salmo específico
a composição do livro todo
Alguns Salmos parecem ser datados do segundo milênio  a.C. enquanto outros foram produzidos no período pós-exílio. Porém, a composição do livro de modo completo ocorreu apenas no período pós-exílio, isto é, após o ano 539 a.C.
A autoria de cada um dos Salmos é deduzida a partir do seu título. Apenas 34 Salmos não possuem título. Dentro do grupo de Salmos que possuem título 100 apontam seu autor. Dos 100 títulos que indicam o autor 73 são atribuídos a Davi. Outros autores são: Moisés – Salmo 90; Salomão – Salmos 72, 127; Asafe – Salmos 50, 73, 83; Hemã – Salmo 88; Etã – Salmo 89; Filhos de Coré – Salmos 42, 44 a 49, 84, 85, 87.
O nome Salmos vem do grego Psalmoi, derivado da palavra psallo, que significa dedilhar, aludindo a um instrumento de cordas. Em hebraico o livro recebe o nome de Tehillîm, que significa cânticos de louvor.
Os salmos estão organizados em cinco grandes livros, a saber:
Livro I: 1 a 41
Livro II: 42 a 72
Livro III: 73 a 89
Livro IV: 90 a 106
Livro V: 107 a 150
Esta divisão está contida nos manuscritos mais antigos, porém os estudiosos têm descoberto pequenas coleções de Salmos:
Coleção davídica I: 3 a 41
Coleção dos filhos de Coré I: 42 a 49
Coleção davídica II: 51 a 65
Coleção de Asafe: 73 a 83
Coleção dos filhos de Coré: II: 84 a 88 (exceto o 86)
Coleção de louvor congregacional I: 95 a 100
Coleção Aleluia: 111 a 117
Coleção Salmos dos Degraus (subida a Jerusalém): 120 a 134
Coleção davídica III: 138 a 145
Coleção de louvor congregacional II: 146 a 150
Estas coleções menores foram organizadas nos cinco livros vistos acima para compor o livro completo dos Salmos. Alguns especulam que o organizador realizou este trabalho para destacar a transição de um livro para outro para o leitor entender o assunto principal de um livro. Nesta organização os Salmos 1 e 2 formam a introdução do livro. Cada um dos livros que compõem os Salmos termina com uma doxologia, cujo propósito é dar louvor a Javé pelo que foi revelado sobre si em cada livro. Observe o padrão que se repete em Sl. 41:13; 72:18ss; 89:52; 106:48 e 150, que serve como fechamento geral da composição dos Salmos.
O livro de Salmos, segundo os estudiosos, pode seguir o mesmo conceito aplicado no livro dos Reis, isto é, alguém coleta e organiza materiais de diversas fontes de acordo com um propósito teológico, desta forma a mensagem geral do livro transcende a mensagem particular de cada Salmo.
Estudos comprovam que o livro de Salmos não foi completado de uma vez, pois suas partes I a III, encontradas nos manuscritos do Mar Morto (cerca de 150 a.C.), estão dispostas na mesma ordem que conhecemos hoje. Entretanto, os livros IV e V estão dispostos em outra ordem, o que pode significar que os livros I a III já estavam com sua ordem definida no fim do século II a.C., enquanto que os livros IV e V ainda estavam em processo de organização, concluído plenamente pouco antes do período de Cristo. Portanto, ao longo de quase mil anos, vários escritores compuseram suas poesias que foram organizadas em pequenas coleções em diferentes períodos da história com um propósito teológico.
Com relação à forma os Salmos podem ser classificados em: louvor, lamento e sabedoria. Cada Salmo possui uma única forma, exceto o Salmo 22, onde os versos 1 a 21 são de lamento e os versos 22 a 31 são de louvor.
Os Salmos não eram exclusivos do povo hebreu, pois os povos mesopotâmicos também se utilizavam deste recurso literário para expressar suas emoções à divindade. A semelhança dos Salmos hebraicos com os mesopotâmicos se encontra na forma dos Salmos: o louvor e o lamento. Contudo existem diferenças consideráveis entre os Salmos hebraicos e mesopotâmicos, e uma delas é a abordagem do adorador mesopotâmico. Os Salmos de lamento mesopotâmicos tem a intenção de manipular a divindade, e para isto recorre a rituais de magia, pois entende que é culpado em todas as situações, mesmo que não saiba a razão. Como entende que a divindade mesopotâmica não seja justa e coerente o adorador apenas se propõe a aplacar a ira divina.
O adorador hebreu pressupõe sua inocência e não tenta manipular a Deus com rituais de magia e encantamentos. Quando os Salmos indicam claramente a culpa do autor, como é o caso do Salmo 51, a ofensa a Deus é sempre de caráter ético, enquanto o lamento mesopotâmico é relativo ao sacrifício impróprio no culto.
Estrutura de Salmos
 Seguindo a teoria da organização teológica do livro dos Salmos, a seguinte estrutura é proposta:
Introdução                      Salmo 1 – No final Deus justifica os justosSalmos 1 e 2                  Salmo 2 – Escolha e proteção divina do rei israelita
Livro  Transição     Tema Conteúdo
Livro 1           Salmo 41      Conflito entre Davi e Saul           Muitos lamentos individuais; a maioria dos salmos menciona inimigos
Livro 2           Salmo 72      Dinastia de Davi     Salmos principais:45, 48, 51, 54 a 64; em geral , salmos de lamento e “inimigos”.
Livro 3           Salmo 89      Crise assíria do século VIII         Coleções de Asafe e dos filhos de Coré; salmo principal:78
Livro 4           Salmo 106    Introspecção sobre a destruição do templo e o exílio       Coleção de louvor: 95 a 100; salmos principais: 90, 103 a 105.
Livro 5           Salmo 145    Louvor/reflexão sobre o retorno do exílio e início de nova era  Coleção de aleluia: 111 a 117; cânticos de subida: 120 a 134; repetição davídica: 138 a 145; salmos principais: 107, 110, 119.
Conclusão: 146 a 150 – Louvor culminante a Deus.
HILL, Andrew & WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007. p. 379.
I. Introdução – 1 e 2
II. Conflito de Davi com Saul – 3 a 41
III. Reinado de Davi – 42 a 72
IV. Crise assíria – 73 a 89
V. Introspecção sobre a destruição do templo e o exílio – 90 a 106
VI. Louvor e reflexão sobre o retorno e a nova era – 107 a 145
VII. Louvor final – 146 a 150
O livro de Salmos segue o padrão interpretativo da história narrada no livro de Reis e Crônicas, e sua organização não foi feita levando-se em consideração as circunstâncias na data de composição, mas de acordo com o propósito teológico da coleção. Por exemplo, os salmos 138 a 145 são davídicos, porém estão organizados na divisão pós-exílica do Livro dos Salmos. Ainda outros Salmos estão dispostos de forma a atingir o objetivo teológico do organizador, tais como:
45 – Hino da coroação de Davi
48 – Relação com a conquista de Jerusalém por Davi
51 – Arrependimento de Davi
78 – Reflexão sobre a queda do Reino do Norte
90 – Salmo de Moisés no início da divisão exílica
103 – Debate sobre o perdão de Deus dos pecados da Nação
110 – Soberania divina com ênfase escatológica
119 – Relação com a Lei como ênfase no período pós-exílio
Outro exemplo da organização de acordo com o objetivo teológico é a coleção Aleluia (Salmos 111 a 117) que segue o Salmo 110 com os temas da fidelidade e governo divinos. A coleção Cântico dos Degraus (Salmos 120 a 134) remete à peregrinação de todo hebreu a Jerusalém. Esta coleção faz parte da seção do exílio no livro de Salmos, portanto os leitores refletiriam sobre o retorno a Jerusalém após o cativeiro babilônico.
De modo geral, de acordo com esta teoria, podemos explicar as coleções do Livro de Salmos da seguinte maneira:
Livro I           
Mencionam lamentos e inimigos
Autor clama pela ajuda de Deus
Salmos 3 a 13 – relacionados com I Samuel 19 a 23 – Conflitos de Davi com Saul
Salmo 18 – relacionado com I Samuel 24 – Davi poupa a Saul e este interrompe a perseguição
Salmos 23 e 24 – relacionados com I Samuel 25 – Davi tem suas necessidades supridas pela sabedoria de Abigail
Livro II          
Relacionados com o reinado de Davi narrado em II Samuel
Lamento dos Salmos 54 a 64 relacionados ao conflito de Davi com seu filho Absalão
Livro III         
Pode remeter ao conflito do Reino do Norte com a Assíria
Salmo 78 – Possível ligação com a Queda de Samaria (Reino do Norte)
Salmo 89 apresenta uma crise com sua possível solução
Livro IV        
Começa com Salmo de Moisés (90)
Termina com a recapitulação da rebelião (106)
Aponta para esperança e restauração
Coleção de Salmos de louvor (95 a 100)
Afirmações de esperança e fé mantidas no exílio
Destacam a fidelidade de Javé, livramento, julgamento das nações e soberania de Deus
Termina com uma coleção sobre o poder e misericórdia de Javé (104 a 106)
Livro V         
Gratidão dos israelitas por reuni-los após o exílio
A lei como fundamento da comunidade pós-exílica
Propósito e conteúdo
Com relação ao conteúdo, o livro de Salmos aborda os seguintes temas:
Reconhecimento da soberania de Deus
As formas variadas de louvor em todas as situações
Vindicação dos justos e castigo dos ímpios
A natureza e a criação de Javé
O consolo de misericórdia de Javé em tempos de crise
O propósito de Salmos não está relacionado tanto com cada autor, pois cada um tinha suas razões e motivos para compor sua poesia. Antes está relacionado com a sua organização final, que tinha como objetivo mostrar a historia de Israel sob a perspectiva da aliança de Javé com o povo hebreu.
O principio da retribuição: Segunda Parte
O princípio da retribuição pode ser declarado em duas sentenças:
O justo prosperará e o ímpio será castigado com sofrimento
Os que prosperam são justos e os que sofrem são ímpios
A primeira sentença é confirmada em todo o livro dos Salmos, porém a exceção à esta regra também é ensinada. A segunda sentença, embora não receba apoio bíblico, era senso comum entre os israelitas, pois se entendia que, se Deus é justo como pode um justo sofrer ou um ímpio prosperar? Esta era uma questão muito delicada para o israelita no Antigo Testamento, pois não havia o conceito escatológico da esperança do céu.
Nos salmos de lamento o autor se queixa da prosperidade dos ímpios e pede que Deus humilhe seus inimigos. Embora o salmista não se considere plenamente justo, ele se considera mais justo do que aquele que não temia a Javé. Por isso existem muitos salmos chamados imprecatórios (3, 28, 58, 109, 137). Nestes salmos vemos como o autor entendia o modo de Deus agir, pois, para que a justiça de Deus se confirmasse, o ímpio deveria ser castigado. Posto de outra forma, o pedido de castigo para o ímpio era a forma de o salmista declarar o pecado daqueles que não andavam conforme a lei de Javé.
O livro de Salmos mostra que os justos podem esperar uma retribuição de Deus por sua justiça, mas em nenhum lugar está mencionado que não havia exceções a esta regra. A vida nem sempre é simples e a Bíblia não apresenta uma regra de justiça que sempre funciona em todos os casos.
Reino
Nove salmos mencionam especificamente o rei: 2, 18, 21, 45, 72, 89, 110, 132, 144. Destes nove, quatro falam sobre Davi. Estes salmos são frequentemente considerados messiânicos, isto é, sinalizam o reino eterno de um rei ideal da linhagem davídica. Porém, estes salmos também podem se aplicar a qualquer rei, pois citam o livramento, vitória e bênção para o rei que confia em Deus e segue os padrões estabelecidos pela aliança. Este padrão foi verificado nos reis da dinastia davídica que confiaram no Senhor, conforme relatado no livro dos Reis. O Messias, em comparação com estes reis, seria perfeitamente justo e desfrutaria de todas as bênçãos de Deus no seu reinado.
Criação
O povo hebreu era basicamente agrícola, e por isso dependia muito das condições climáticas para assegurar sua produção de alimentos. As bênçãos e maldições de Javé estavam ligadas à terra, que fazia parte da aliança. Os deuses dos povos pagãos estavam ligados ao clima e era necessário que o Deus dos hebreus estivesse fora desta regra teológica. Deus não estava preso às forças da natureza, por isso, nos salmos que tratam sobre a criação (8, 19, 29, 65, 104) Deus sustenta toda a criação (104), que revela a glória de Deus (19). As forças da natureza são instrumentos de Deus (29, 65) e por isso ele é glorificado acima da natureza, algo não possível nos sistemas religiosos dos antigos povos pagãos.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante




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