EM
BAIXO DA PALMEIRA...
DÉBORA UMA MULHER A SERVIÇO DE DEUS...
Algumas pessoas são líderes improváveis. Superficialmente, elas
parecem não ter as características que geralmente associamos com grandeza e
poder. Davi, por exemplo, era um jovem pastor de ovelhas, um sonhador que
escrevia cânticos e tocava harpa – qualidades geralmente não procuradas quando
você escolhe alguém para derrotar inimigos. No entanto, Deus o chamou não
apenas para ser um homem de guerra mas também rei de todo o Israel. Por quê?
Porque Davi tinha algo mais importante do que habilidade militar ou sangue
real. Ele tinha fé em Deus.
Na época dos juízes, uma mulher chamada Débora tornou-se líder
de Israel. Pelos nossos padrões, ela também era uma candidata improvável para
essa tarefa tão relevante. A Bíblia fala pouco sobre suas credenciais, a não
ser que era esposa e mãe (Jz 4.4; Jz 5.7), o que não a qualificava para dirigir
um país. Porém, Débora tinha a mesma vantagem que Davi: ela tinha fé em Deus.
Numa época em que Israel andava aos tropeços e cada homem fazia
aquilo que parecia certo aos seus próprios olhos (veja Jz 17.6; Jz 21.25), Deus
escolheu uma mulher de grande fé que estava disposta a segui-lO em obediência.
As Escrituras dizem que Débora era uma profetisa, significando
que Deus lhe falava e ela transmitia Sua Palavra ao povo. Ela era uma juíza,
portanto, julgava as pessoas que vinham até ela para resolver suas contendas.
Naturalmente, ela também era esposa e mãe.
Seu feito mais conhecido ocorreu quando os israelitas clamaram a
Deus por libertação depois de vinte anos de opressão sob o jugo de Jabim, rei
de Canaã. O poderoso Jabim tinha 900 carros de ferro e governava a partir de
Hazor, no Norte de Israel. Débora, que vivia no Sul, fora de Jerusalém, nas
regiões montanhosas de Efraim, convocou Baraque, da tribo de Naftali, da região
de Hazor. Quando Baraque chegou, Débora corajosamente transmitiu-lhe o plano de
Deus: “Porventura, o Senhor, Deus de Israel, não deu ordem, dizendo: Vai, e
leva gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali
e dos filhos de Zebulom? E farei ir a ti para o ribeiro Quisom a Sísera,
comandante do exército de Jabim, com os seus carros e as suas tropas; e o darei
nas tuas mãos” (Jz 4.6-7).
Baraque estava disposto a obedecer, mas insistiu que Débora
fosse com ele. Ela concordou, porém disse a Baraque que assim ele cederia a uma
mulher a honra de capturar Sísera.
Naquele dia Deus sustentou Israel, como Débora sabia que Ele
faria. O Senhor enviou uma chuva torrencial que inundou o ribeiro Quisom e fez
com que a armada aparentemente invencível de Sísera atolasse na lama. Este
fugiu e foi engodado por Jael, outra mulher, que cravou uma estaca de tenda em
sua cabeça e o matou. Dessa maneira, Deus libertou Israel.
Mais tarde, Débora escreveu um belo cântico (Jz 5) que exalta a
Deus e revela muito sobre sua própria pessoa. Ela era uma mulher de profunda fé
e grande discernimento espiritual. Havia avaliado a sombria situação de seu
país com perspicácia (Jz 5.6-7), compreendeu o motivo da decadência (idolatria,
v.8) e assumiu a responsabilidade pela nação (vv. 7,12). Ela tinha tanta
autoridade que, quando convocou Baraque, ele veio imediatamente sem questionar
sua autoridade ou suas instruções. Débora é a única mulher na Bíblia que não
apenas governou Israel como também deu ordens militares a um homem, e isso com
a bênção de Deus.
Quando ela mandava reunir as tropas, esperava que elas se
apresentassem. Aos que ignoravam o chamado, ela amaldiçoava: “Amaldiçoai a
Meroz... amaldiçoai duramente os seus moradores, porque não vieram em socorro
do Senhor” (Jz 5.23). Débora provavelmente não conseguia entender por que esses
combatentes de Israel tinham tão pouca fé em Deus.
Por um lado, Débora aparentava ser uma mulher “dura” no
confronto, mas também parecia extremamente maternal. Somente uma mãe que se
importa com seus filhos pensaria em descrever a mãe de Sísera aguardando
ansiosamente que seu filho voltasse para casa, preocupada com sua demora em
voltar da batalha (v.28).
É interessante observar que não há evidência bíblica de que
Débora tenha usurpado a autoridade masculina. É triste dizer que,
provavelmente, existia pouca autoridade masculina fiel a Deus naqueles dias.
Israel estava em condição espiritual tão lamentável que Deus envergonhou a
nação daqueles dias depositando o mais alto cargo de liderança nas mãos de uma
mulher.
Hoje, vivendo em um mundo dirigido pelo sucesso e pelas
realizações materiais, é fácil esquecer que Deus não deseja tanto as nossas
habilidades, mas sim a nossa vontade, o nosso querer que vem da fé.
Baraque, sem dúvida, foi um ótimo militar, e seu nome está
registrado em Hebreus 11 como homem de fé. Porém, ele mesmo teria capturado
Sísera se tivesse confiado um pouco mais em Deus. Débora, por outro lado, era
uma simples esposa e mãe, mas sua fé a tornou um vaso muito mais útil para o
Senhor do que alguém poderia imaginar.
A Bíblia ensina que nosso tempo na terra é curto: “Que é a vossa
vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”
(Tg 4.14). Muitas pessoas podem abalar montanhas com suas credenciais e
construir reinos com suas aptidões. Mas, no final, o que contará para a
eternidade não será aquilo que realizamos com nossas habilidades, mas o que
Deus fez através de nós por meio de nossa fé.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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