LÍNGUA
MALDITA 2...
O tropeçar em muitas coisas não suspende o direito a salvação,
uma vez que foi alcançado pela fé. A salvação decorre da filiação divina por
meio da fé em Cristo aparte das questões comportamentais. A salvação não é
conquistada através de bom ou mau comportamento e também não é mantida através
de comportamento. A salvação é pela fé (salvação) e o fim objetivo da nossa fé
se alcança com a perseverança.
A Língua
1 Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que
receberemos mais duro juízo.
Tiago dá um conselho a alguns irmãos: não sejam muitos de vós
mestres. Por que ele dá esse conselho? Alguns queriam ser mestre, porém não
tinham recebido tal capacitação ( Ef 4:10 -11).
As pessoas que aspiravam a posição de mestre não atinavam que os
mestres receberão juízo na condição de mestre e nem da necessidade de estar
enquadrado em alguns quesitos que Tiago discorre neste capítulo.
O juízo que Tiago faz referência será estabelecido no Tribunal
de Cristo ( Rm 14:10 ; 2Co 5:10 ), visto que ele se inclui entre aqueles que
receberão maior juízo (implicitamente Tiago se posiciona como mestre), e por
ser certo que ele tinha certeza de sua salvação. O juízo do Grande Trono Branco
não é destinado à igreja “Meus irmãos...” (v. 1).
Os versículos que se seguem apresentam os motivos pelas quais os
irmãos não deveriam aspirar a posição de mestres com o único fito de se vã
gloriar.
2 Porque todos tropeçamos
em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e
poderoso para também refrear todo o corpo.
O apóstolo chama a atenção para algo que não devemos ignorar:
todos tropeçam em muitas coisas! Tiago não exclui nenhum dos irmãos. Todos nós
tropeçamos em muitas coisas.
O tropeçar deste versículo difere da ideia que Paulo apresenta
em Romanos “Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem
faça o bem, não há nem um só” ( Rm 3:12 ). Isto porque o que Paulo apresenta
diz respeito a todos que ainda não tiveram um encontro com Cristo.
A carta aos Hebreus demonstra o desejo do escritor em não
tropeçar em coisa alguma, e para isso solicita aos cristãos que orem em seu
favor “Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles
que em tudo querem portar-se honestamente” ( Hb 13:18 ). O portar-se
honestamente em tudo deve ser o desejo de todo cristão, porém, ele deve ter
consciência de que falhará em muitas coisas.
O tropeçar em muitas coisas não suspende o direito à salvação,
uma vez que a salvação é alcançada pela fé. A salvação decorre da filiação
divina por meio da fé em Cristo, aparte das questões comportamentais. A
salvação não é conquistada através de bom ou mau comportamento e também não é
mantida através do comportamento.
A salvação é pela fé (evangelho), e o fim objetivo da nossa fé
se alcança com a perseverança.
"Se alguém não tropeça palavra, o tal é perfeito, e
poderoso para também refrear todo o corpo”.
Após demonstrar que todos os cristãos estão sujeitos a erros,
tanto comportamentais quanto conceituais, o apóstolo Tiago estipula uma
condição para alguém ser perfeito: se não tropeçar em palavra, o homem é
perfeito.
Tropeçar ‘em palavra’ não é falar palavras torpes, fofocar, mal
dizer, mentir, etc. O ‘tropeçar em palavra’ não tem relação com o que é
abordado no verso 5 ( Tg 3:5 ).
Se ‘tropeçar em palavra’ fosse falar palavras torpes, fofocar,
mentir, amaldiçoar, o apóstolo não teria colocado o substantivo ‘palavra’ no
singular “Se alguém não tropeça em palavra(s) ...”. Quando alguém mente, fofoca
ou amaldiçoa, profere várias palavras, diferente de tropeçar ‘em’ a ‘palavra’.
Sobre qual ‘palavra’ o apóstolo fez referência?
A palavra do verso 2 do capítulo 3 diz da palavra da verdade, o
que foi abordado desde o início da epístola:
"Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( Tg 1:18 );
"Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de
malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as
vossas almas" ( Tg 1:21 );
"E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes,
enganando-vos com falsos discursos" ( Tg 1:22 );
"Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é
semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural" ( Tg
1:23 );
Ou seja, desde o início da epístola o apóstolo demonstrou que os
cristãos foram gerados pela palavra da verdade com o objetivo de serem
primícias das criaturas de Deus (perfeitos). Ele também demonstra que é
necessário rejeitar toda a imundície e malícia, recebendo com mansidão a
palavra enxertada que salva o homem. O cristão é aquele que cumpre a palavra, e
não somente ouvinte, ou seja, o ouvinte diz de quem se envolve em falsos
discursos ( Tg 1:23 ).
A palavra da verdade é poder para criar filhos de Deus ( Jo 1:12
), porém, não tem efeito sobre aqueles que não se exercitam nela "Ora, o
fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz" ( Tg 3:18
). Ou seja, da mesma forma que o espelho não tem poder para mudar o homem que
se utiliza do seu reflexo para contemplar o seu rosto natural, não terá nova
vida aqueles que não atentam bem para a lei perfeita, e nela perseveram ( Tg
1:25 ).
Todos que creem na palavra tornam-se perfeitos, pois alcançou a
salvação em Cristo ( 1Co 2:6 ; 2Co 13:11 ). Ou seja, Tiago estava demonstrando
que quem não tropeça na (em+a) palavra alcançou a perfeição, isto porque muitos
desejavam serem mestres, porém não compreendiam a palavra que concede a
perfeição em Cristo "Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o
que dizem nem o que afirmam" ( 1Tm 1:7 ); "Instrutor dos néscios,
mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei" ( Rm
2:20 ).
Muitos buscavam somente a posição de mestre por vã-gloria, o que
promoveria somente a inveja, o sentimento faccioso, a confusão e toda má obra (
Tg 3:16 ). Quem quisesse ser sábio e entendido, condição essencial para ser
mestre, bastava ter um bom procedimento ( Tg 3:13 ).
Os perfeitos manejam bem a palavra da verdade (poder de Deus),
estão plenos (cheios) do poder de Deus ( Rm 1:16 ). Quem é perfeito se revestiu
de toda a armadura de Deus ( Ef 6:10 , 13 -17), e não mais vive guiado pelas
paixões humanas ( Gl 5:24 ; 2Tm 2:22 ), não tem falta de coisa alguma.
Perfeito: maduro e completo ( Tg 1:4 ).
3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos
obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
O apóstolo passa a exemplos figurativos. Os exemplos apontam o
contraste entre o tamanho e força do cavalo e a pequenez dos freios que os
controlam.
4 Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de
impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade
daquele que as governa.
Ele apresenta o contraste
entre o tamanho das embarcações e o leme que as orienta.
5 Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de
grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
“Assim também...”, ou
seja, alguns dos elementos (leme e freio) que foram apresentados nas
ilustrações anteriores se comparam proporcionalmente a língua e o efeito
devastador que ela pode causar. O apóstolo evidencia o quanto é importante ter
a língua sob controle.
Tiago apresenta uma grande verdade: a língua é um pequeno membro
que se gloria de grandes coisas! Ou seja, muitos dentro da igreja se gabavam de
serem mestres, mesmo quando não tinham esse dom. Porém, é difícil que alguém
venha a se gabar das funções que aparentemente são pequenas.
Um bom exemplo de controle sobre a língua é observável em Paulo:
“Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. O
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que
não minto. Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pós guardas às portas
da cidade dos damascenos, para me prenderem. E fui descido num cesto por uma
janela da muralha; e assim escapei das suas mãos” ( 2Co 11:30 -33).
Paulo não se gabou de grandes coisas, antes, sentia-se
lisonjeado por ter fugido do rei Aretas em um cesto.
Muitos em nossos dias se gabam de grandes feitos, grandes
ajuntamentos, grandes mensagens. Porém, este é um feito próprio da língua
quando sobre ela não se tem domínio.
Paulo bem que podia gabar-se do livramento que Deus concedeu a
ele e a Silas, mas preferiu gloriar-se (como que em um ato de loucura) das suas
fraquezas “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a
Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande
terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as
portas, e foram soltas as prisões de todos” ( At 16:25 -26).
Apenas uma fagulha de fogo pode incendiar um bosque inteiro.
Iniquidade
6 A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua
está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso
da natureza, e é inflamada pelo inferno.
A língua é comparada a
uma fagulha que incendeia um bosque. Por vir especificada ‘um fogo’, demonstra
que ela não é fogo, mas é comparável ao fogo por ter a capacidade de inflamar.
Embora esta carta traga muitos conselhos, não devemos ler e
analisar seus textos como se lê e analisa o livro de provérbios. Primeiro
porque provérbios é um livro, e o texto de Tiago é uma epístola.
As diferenças entre carta e livro acabam por influenciar a
escrita e a linguagem utilizada pelo autor, visto que a linguagem deve ser
própria ao público alvo.
O público que se destina um livro é abrangente, universal,
enquanto que uma carta destina-se a um público restrito (os destinatários). Ou
seja, uma carta tem o cunho pessoal, enquanto um livro se guia pela
impessoalidade e universalidade.
O livro de provérbios destina-se a humanidade e a carta de Tiago
aos cristãos.
O tema ‘língua’ não tem início neste capítulo. Este tema vem sendo
desenvolvido desde o primeiro capítulo, o que diferencia a abordagem de Tiago
da abordagem feita em Provérbios. Em Provérbios geralmente uma ideia se conclui
em apenas um versículo.
Como a língua é um pequeno membro que se gaba de grandes coisas,
todos os cristãos devem ter o cuidado de gloriar-se apenas em Deus ( Jr 9:24 ;
1Co 1:31 ; 2Co 10:17 ), pois no Senhor não há diferenças socioeconômicas. Ou
seja, o irmão de condição humilde deve gloriar-se na sua alta posição no Senhor
e o rico na sua insignificância ( Ef 1:9 -10).
Porém, ao ingressar na igreja, tanto o pobre quanto o rico
buscam o que entendem ser a melhor posição: querem ser mestre, doutores,
pastores, etc. Esquecem que para ser algo diante do Senhor, devem deixar tudo,
principalmente os conceitos e conhecimentos do mundo “E, na verdade, tenho
também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as
considero como escória, para que possa ganhar a Cristo...” ( Fl 3:8 ).
Aquele que procura ser mestre somente como meio para se gabar,
sem ter a chamada para tal ministério, poderia causar um grande prejuízo a
igreja de Deus, visto que poderia introduzir algum erro conceitual e a
devastação seria semelhante ao pequeno fogo em uma floresta.
Observe que o homem é atraído e engodado pela sua própria
concupiscência. Por desejar ardentemente gabar-se de grandes feitos, aplica-se
em alcançar grandes posições. Aquele que é guiado pela concupiscência, quando
alcança uma posição de destaque, os deslizes com as palavras e os erros
conceituais são inevitáveis (isto porque, todos nós tropeçamos em muitas
coisas, e quem não tropeça em palavras é perfeito e capaz de refrear todo o
corpo); e o que este homem estará propagando com a sua língua será como o fogo
em uma floresta: devastador. A posição de mestre a alguém que não foi
comissionado para ensinar potencializa o efeito destruidor do erro.
Para evitar tão grande mal, todo homem deve estar pronto a ouvir
e ser tardio em falar, a exemplo daqueles que, diante da tentação, diziam de
maneira equivocada que estavam sendo tentados pelo Senhor ( Tg 1:13 -17). Qual
não seria o estrago no seio da igreja se alguém com este erro conceitual
viessem a alcançar a posição de mestre?
Aquele que é enganado pelo seu próprio coração acredita que é
religioso. Estes geralmente não controlam a língua, estão prontos a falar, são
tardios em ouvir, e acabam lançando mão da ira ( Tg 1:16 ).
“...como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos
membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada
pelo inferno”
O versículo acima é um exemplo prático do exposto no capítulo um
versículo quatorze e quinze. Compare:
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua
própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o
pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” ( Tg 1:14 -15).
Cada pessoa é tentada pela sua própria concupiscência, ou seja,
primeiro ela é atraída e engodada pelos seus próprios desejos. Quando estes
desejos são levados a efeito, dá-se à luz o pecado, e o fim dele é a morte.
Da mesma maneira, o homem que não cumpre com o disposto no
versículo dezenove do capitulo um, acaba por se gabar de grandes coisas ( Tg
3;5 ). Para fazer jus ao que foi propalado através da língua incontida, este
homem vai se sentir atraído e desejar as ‘melhores’ posições na igreja.
Como todos tropeçam em muitas coisas, aquele que se gaba e alcança
uma posição de destaque, irá tropeçar em palavras. Desta forma, a língua deste
incauto será como fogo. Será como mundo de iniquidade situada entre os seus
membros.
Como o que contamina o homem é o que procede do seu coração
“Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem” ( Mt
15:18 ); “Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o
que sai dele isso é que contamina o homem” ( Mc 7:15 ), a língua é o veículo
que evidencia o que está no coração, o que contamina todo o corpo.
Tiago e Jesus falam do mesmo problema que afeta o coração da
humanidade. Este fala do princípio pernicioso que contamina o homem (o pecado
que tem domínio sob o coração do homem sem Deus), enquanto aquele fala da
língua, membro que torna evidente o princípio pernicioso que está no coração do
homem.
Tiago dá mais um alerta: a língua pode acelerar o processo de
destruição do homem, que sem a intervenção da língua, seria natural, ou seja,
seria conforme o curso próprio da natureza. Isto porque o curso da natureza do
homem é a morte, e a língua tem a capacidade de inflamar; ela acelera o curso
da natureza. Um exemplo desta verdade é o recomendado por Paulo: “Não neófito,
para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” ( 1Tm 3:6 ).
A soberba leva a queda, uma entrada súbita na condenação do
diabo. E, o que resta a quem teve inflamado o curso da natureza pela língua?
Ser inflamada pelo inferno!
Onde há pecado, há morte e a justiça de Deus não opera, o que
resta é o fogo do inferno ( Tg 1:20 e Tg 3:6 ).
Fonte Doce, Água Doce.
7 Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves,
tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza
humana;
Toda a natureza é dominada pelo homem porque Deus lhe deu o
domínio “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre
o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra”
( Gn 1:26 ).
8 Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode
refrear; está cheia de peçonha mortal.
Apesar da condição
anterior (v. 7), o homem não pode domar a língua. Observe que Tiago aponta uma
impossibilidade: nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode
controlar; está cheia de peçonha mortal.
Se pensarmos somente na língua, é difícil explicarmos este
verso. Porém, quando verificamos que o coração do homem e enganoso “Enganoso é
o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” ( Jr
17:9 ); e que, o que procede do coração do homem é que contamina “E dizia: O
que sai do homem isso contamina o homem” ( Mc 7:20 ), percebemos que a
abordagem de Tiago refere-se ao posicionamento de Jesus: “Raça de víboras, como
podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no
coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 ).
É impossível ao homem por si só mudar a natureza do seu coração
“Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?
Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” ( Jr 13:23 ).
Mas, o que é impossível aos homens é possível a Deus! Através da regeneração
Deus cria um novo coração e um novo homem e lhe dá uma nova vida.
A ordem divina sempre foi: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso
coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” ( Dt 10:16 ). Mas, como fazer
tal circuncisão? É possível ao homem fazer tal incisão?
Ora, o é que impossível aos homens, é possível a Deus. A
circuncisão do coração só é possível quando se está em Cristo “No qual também
estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo
dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo” ( Cl 2:11 ).Tal circuncisão é
pela fé “Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem
subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Mas que diz? A palavra está
junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que
pregamos, A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu
coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que
com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a
salvação” ( Rm 10:6 -10).
Seria impossível a boca (língua) fazer a confissão verdadeira
para a salvação caso não houvesse a circuncisão de Cristo. Só em Cristo é que o
homem recebe um novo coração “E lhes darei um só coração, e um espírito novo
porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um
coração de carne” ( Ez 11:19 ).
9 Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os
homens, feitos à semelhança de Deus.
Tiago evidência a incoerência de alguns: bendizem a Deus e
amaldiçoam a sua criatura.
10 De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meu irmão não
convém que isto se faça assim.
Isto quer dizer que de
uma mesma boca, através de uma mesma língua, um coração deita benção e
maldição.
Não é conveniente a cristãos que procedam desta maneira. Caso
alguém questionasse o fato de não ser próprio aos irmãos falarem mal uns dos
outros Tiago passa aos exemplos e motiva a sua argumentação.
11 Porventura deitam alguma fonte de uma mesmo manancial água
doce e água amargosa?
As perguntas de respostas
prontas: Não! Cada fonte deita a água que lhe é própria. Mas, uma fonte de um
mesmo manancial só pode produzir um único tipo de água.
12 Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a
videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.
O que é impossível às
plantas é impossível às fontes de um mesmo manancial “Porque não há boa árvore
que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” ( Lc 6:43 ).
O apóstolo segue fazendo uma aplicação prática do seu ensino.
13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom
trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
Esta pergunta é uma ‘pegadinha’. Aquele que responder: “Eu”, é o
mesmo que queria ser mestre, e que Tiago procura dissuadir do seu intento ( Tg
3:1 ). Aquele que desejava ser mestre, ao menos se considerava sábio e
entendido.
Pois bem, se houvesse alguém que se considerava sábio e
entendido deveria demonstrar através de um bom trato (procedimento), as suas
obras em mansidão de sabedoria.
Ou seja, aquele que não tivesse as suas obras demonstradas em
bom procedimento, tinha em si amarga inveja e um sentimento faccioso.
É necessário observar os três elementos que compõe o versículo:
"Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria".
Mostre pelo seu bom trato – (trato: tratamento; ajuste, pacto,
tratado; convivência; passadio, alimentação; procedimento, modos, etc). Aquele
que se sentisse sábio e entendido deveria ter uma boa convivência, bons modos e
procedimento;
As suas obras – ‘as obras’ constituem o motivo pela qual alguém
se gaba; observe que ‘bom trato’ não é ‘boas obras’ (aquelas que são feitas em
Deus), e que ‘boas obras’ também não é ‘as suas obras’, que o versículo faz
referência; a pessoa que estivesse se gloriando deveria mostrar a sua
realização (suas obras);
Em mansidão de sabedoria – Porém, deveria demonstrar as suas
obras segundo a sabedoria descrita no versículo dezessete: em mansidão de
sabedoria que do alto vem.
A Inveja: Obra da Carne
14 Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso
coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
O problema encontra-se no
coração do homem e a língua torna evidente este mal “...sentimento faccioso em
vosso coração...”.
Este versículo demanda um exercício de interpretação de texto
para uma melhor compreensão. Observe:
Uma pergunta – “Quem entre vós é sábio e entendido?”. O contexto
nos mostra que só quem quer ser mestre se considera sábio e entendido;
Uma determinação a quem respondesse afirmativamente que é sábio
e entendido – “Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de
sabedoria” A determinação do apóstolo só é cabível a quem presume ser sábio e
entendido; porém, a determinação é impossível de ser cumprida por quem se
arroga na condição de sábio e entendido;
Uma conclusão – “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento
faccioso em vosso coração...”. Este versículo é uma conclusão do apóstolo, e
aponta os elementos que consta do coração daqueles que se acham sábios e
entendidos. Observe que o argumento fica inconsistente quando se tenta combinar
a primeira e a segunda parte do versículo ao se enfatizar a partícula ‘se’:
“Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso...”, e; “... não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade”. O indivíduo pode se gloriar de uma
alta posição, porém, jamais alguém vai querer se gloriar de ser invejoso e
faccioso. A Bíblia Vida Nova da Editora Vida Nova reza o seguinte: “Se, pelo
contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem
vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”. Para enfatizar a partícula
‘se’, trocam o ‘não’ pelo ‘nem’, o que dá a entender que alguém se gloria em
ser invejo e faccioso (‘glorieis disso’, disso o quê?).
A ênfase deve estar no
verbo ‘ter’, o que demonstra que aqueles que se sentiam entendidos e sábios só
estavam cheios de inveja e contenda “Porém se tendes inveja amarga, e contenda
em vosso coração...”.
A pergunta persiste: quem é sábio e entendido? Um sábio e
entendido deve mostrar através do seu bom comportamento suas obras em mansidão
de sabedoria. Quando alguém que se diz sábio e entendido não consegue cumprir
com a determinação anterior, só pode estar acometido de amarga inveja e um
sentimento faccioso no coração.
A determinação é clara e precisa: “... não vos glorieis nem
mintais contra a verdade”.
Não vos glorieis – Com relação a gloriar-se, a primeira
determinação do apóstolo é oposta: “Glorie-se o irmão de condição humilde (...)
o rico, porém, glorie-se na sua insignificância...”; O apóstolo Tiago dá um bom
motivo para os irmãos se gloriarem ( Tg 1:9 -10), e reitera que todos devem
estar prontos a ouvir, tardios em falar ( Tg 1:19 ). Se alguém estava
procurando a posição de mestre com a intenção de gloriar-se, a determinação é
clara: não vos glorieis; pois os mestre receberão maior juízo ( Tg 3:1 ); a
língua se gaba de grandes coisas ( Tg 3:5 ); e, quem entre eles era sábio e
entendido, a ponto de gloriar-se? ( Tg 3:13 );
Nem mintais contra a verdade – o verbo no grego sugere que não
deveriam alegar ‘falsas reivindicações de estarem na verdade’, ou seja, eles na
verdade não eram mestres, antes tinham amarga inveja no coração e um sentimento
faccioso.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal
e diabólica.
Muitos dentre os cristãos se sentiam mestres, sábios e
entendidos, porém a sabedoria que neles estava não vinha de Deus ( Tg 3:1 e
13).
A pretensa sabedoria que alguns possuíam não era a sabedoria que
vem do alto.
A sabedoria terrena, animal e diabólica é a que está vinculada à
velha natureza. Eles ainda eram carnais ( 1Co 3:3 ).
16 Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e
toda a obra perversa.
O apóstolo dá os motivos que compromete a sabedoria que alguns
possuíam: inveja, espírito faccioso, perturbação e obra perversa “Porque as
obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza,
lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas,
dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas
semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que
os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” ( Gl 5:19 -21);
“Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e
dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” ( 1Co
3:3 ).
17 Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois
pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem
parcialidade, e sem hipocrisia.
O apóstolo Tiago descreve a sabedoria que vem de Deus. Esta é a
sabedoria que Deus dá liberalmente a todos “E, se algum de vós tem falta de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto,
e ser-lhe-á dada” ( Tg 1:5 ).
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que
exercitam a paz.
O apóstolo Tiago chega a uma conclusão: o fruto da justiça
semeia-se na paz! O que ele quis dizer?
Não se semeia o fruto, e sim a semente, pois devemos ter em
mente que a semente dará o seu fruto no devido tempo. Ou seja, para se obter o
fruto da justiça devemos lançar a semente na paz. Mas, qual é a semente que
produz o fruto da justiça? Para se obter o fruto da justiça faz-se necessário
semear a semente apropriada, que é a palavra de Deus ( 1Pe 1:23 ).
Sabemos que Cristo é a nossa paz e que o fruto da justiça só é
possível por meio dele ( Ef 2:14 ). Sobre este assunto o apóstolo Tiago já
havia feito uma abordagem anteriormente:
“Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade,
para que fôssemos como primícias das suas criaturas. Portanto, meus amados
irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se
irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. Por isso, rejeitando
toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em
vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas” ( Tg 1:18 -21).
Gerou pela palavra da verdade: “Sendo de novo gerados, não de
semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que
permanece para sempre” ( 1Pe 1:23 ) – a palavra do evangelho é semente que pode
salvar as nossas almas e nos deixa na posição de primícias das criaturas de
Deus;
Pronto para ouvir: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir
pela palavra de Deus” ( Rm 10:17 ) – a semente só germina quando ouvimos. Por
isso a recomendação do apóstolo: “...recebei com mansidão a palavra...”;
Não opera a justiça de Deus: “Aquele que não conheceu pecado, o
fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” ( 2Co 5:21 )
– a justiça que surge é em Cristo (nele) e é resultado de uma obra divina
(feitos);
Rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia: “E, na verdade,
toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas
depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” ( Hb 12:11
) – o ato do cristão em rejeitar a imundícia e a superfluidade de malícia é o
mesmo que se exercitar na paz.
Ora, o fruto da justiça
semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.
Passemos a explicar novamente o versículo dentro do contexto que
o apóstolo vinha discorrendo.
Aqueles que desejavam ser mestre simplesmente para se gabar,
foram avisados de que a sabedoria que vem do alto é pura, depois pacífica,
moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e
sem hipocrisia. Após informar qual a sabedoria que deveriam buscar, Tiago
conclui: “Ora...”.
Ou seja, só é possível semear o fruto da paz, levar a semente do
evangelho, aqueles que dela são nascidos e que exercitam a paz. Os que promovem
a paz, ou aqueles que a exercitam, não devem ter amarga inveja e nem sentimento
faccioso. Estes são requisitos essenciais a quem deseja ser mestre.
A bíblia nos apresenta o fruto da justiça e o fruto do Espírito.
Qual a relação entre eles?
“Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam
a paz”
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança...”
Tiago fala como se semeia
o fruto da justiça e Paulo aponta o que é o fruto do Espírito.
O fruto do Espírito – “E os que são de Cristo crucificaram a
carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos
também em Espírito” ( Gl 5:23 -24) - O fruto do Espírito só é possível àqueles
que crucificaram a carne e nasceram do Espírito Eterno. Estes deixaram de viver
segundo a carne e passaram a viver segundo o Espírito. Ou seja, cumpre-se o que
foi dito por Cristo: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito” ( Jo 3:6 ). Aqueles que são nascidos do Espírito através
do lavar regenerador da palavra do evangelho, estes são espirituais, e produzem
em Deus amor, gozo, paz, longanimidade, etc. “Estai em mim, e eu em vós; como a
vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também
vós, se não estiverdes em mim” ( Jo 15:4 );
O fruto da justiça – “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver
para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” ( 1Pe 2:24 ) - O fruto da
justiça só é possível àqueles que tiveram os seus pecados levados pelo corpo de
Cristo e crucificaram a carne, estando mortos para o pecado. Estes deixaram de
viver para o pecado e passaram a viver segundo a Justiça. Ou seja, para
pudéssemos ser: “Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para
glória e louvor de Deus” ( Fl 1:11 ).
Observe que o ‘fruto da
justiça’ e o ‘fruto do Espírito’ só são possíveis por meio de Jesus. Observe
também que os dois frutos estão no singular: o fruto. Ou seja, o fruto do
Espírito é o mesmo que o fruto da justiça.
E o mais interessante: Paulo e Tiago falam do fruto do Espírito,
e ou Fruto da Justiça, para dissuadir os seus leitores de comportamento
semelhantes:
“Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos
outros, invejando-nos uns aos outros” ( Gl 5:26 );
“Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração,
não vos glorieis, nem mintais contra a verdade (...) Porque onde há inveja e
espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa” ( Tg 3:14 -16).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião
Dr. Edson Cavalcante.
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