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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

HIRÃO REI DE TIRO UM MAÇOM ARQUITETO DO TEMPLO DE SALOMÃO...


HIRÃO REI DE TIRO UM MAÇOM ARQUITETO DO TEMPLO DE SALOMÃO...
O Contexto histórico e cultural de Tiro
A cidade de Tiro é hoje Es-Sur, um pobre povoado libanês, habitado por pescadores. Foi em tempos antigos uma cidade fortificada da Fenícia, apelidada por alguns historiadores como “a Veneza da Antiguidade”. Sua origem remota no tempo pode ser atestada através de citações em Heródoto, historiador grego que situa sua fundação em 2700 a.C, e nas “Cartas de Amarna” (“Cartas de Amarna” é a designação dada a um conjunto de tabuinhas em escrita cuneiforme encontradas em Amarna, uma das várias capitais do Egito Antigo. Faziam parte do arquivo de correspondência do Egito com os seus reis vassalos e governadores de Canaã e datam dos reinados de Amen-hotep III e de Amen-hotep IV - mais conhecido como Akhenaton. A maioria delas foi escrita em acádico, a língua diplomática da época.) Nessas cartas há relatos de que durante o período de Amen-hotep III, o chefe local de Tiro escreveu a este faraó delatando traições de cidades vizinhas e solicitando auxílio contra o amorreu Aziru e contra o rei de Sidom. Com o declínio do Egito, Tiro se tornou independente e até mesmo recebeu refugiados sidônios que fugiram para a ilha. Nos relatos bíblicos, Tiro é mencionada brevemente nas conquistas de Josué e, mais tarde, no período da monarquia unida, principalmente durante a construção do Templo de Salomão, com a qual contribuiu fornecendo materiais e mão de obra especializada.
Expulsos da Palestina e Síria, principalmente por causa da invasão de suas cidades pelos poderosos filisteus que dominavam a tecnologia do ferro, no XIII e XII séculos a.C, os fenícios concentraram seus esforços para o lado do mar e se tornaram os maiores marinheiros e comerciantes de todos os tempos, em relação ao mundo conhecido. Após se estabelecerem em Tiro, aventuraram-se pelas águas do Mediterrâneo fundando colônias na costa e ilhas vizinhas do Mar Egeu, na Grécia, na costa Norte da África, em Cartago, na Sicília e na Córsega, na Península Ibérica e até mesmo para além dos Pilares de Hércules, em Gadeira.
Durante o século XI a.C, a economia de Tiro experimentou uma mudança radical, da cultura agrária para o mercantilismo, mas não se sabe se isto é devido às relações comerciais com Israel ou a algum tipo de vantagem que obtiveram delas. É fato, porém, que Tiro se tornou famosa na antiguidade pela produção de certa tintura púrpura bastante rara, extraída de um molusco conhecido como múrice. O nome Fenícia pode ter se originado desse comércio, pois phoinix, quer dizer “vermelho” ou “púrpura”. A cor púrpura era reservada em várias culturas dos tempos antigos para a realeza e nobreza, o que deve ter favorecido a valorização do produto fenício. Além da tintura, os mercadores satisfaziam os caprichos do mundo então conhecido com tapeçarias exóticas e bordados delicados provenientes de portos comerciais espalhados por rotas que somente eles conheciam. Os metais também contribuíram para a emergência comercial de Tiro. Os fenícios estabeleceram um grupo de tarshishes, isto é, “fundições ou refinarias” em várias colônias, particularmente no sudoeste da Espanha, região célebre pela presença de minérios, e na Ilha de Chipre, que continha preciosas minas de cobre. Desde os tempos remotos, os tírios eram conhecidos por sua aptidão para toda a obra artística em cobre e metal amarelo.
O nome Tiro significa “rocha”. A cidade era composta de duas partes distintas: uma fortaleza rochosa, chamada de “Antiga Tiro”, situada numa pequena ilha a quase um quilômetro da costa do Mediterrâneo e um povoado na costa principal da Fenícia. O canal que separava as duas partes da cidade também servia para ligar dois importantes portos: o porto sidônio a nordeste e o egípcio ao sul. Essa localização geográfica estratégica permitiu a Tiro resistir aos impérios mais poderosos que passaram pela Palestina, mantendo uma relativa independência. Os monarcas assírios sempre a desejaram, alguns conseguiram até mesmo fazer com que lhe pagasse tributos para que parassem de atacá-la e Assurbanipal chegou a subjugá-la por um período de tempo, tomando seu lado continental. Com o declínio do Império Assírio, Tiro se rebelou, recuperando muito de sua autonomia e de seu antigo comércio marítimo. Em 588, o faraó Hofra atacou sem muito sucesso a Tiro e Sidom. Nabucodonosor sitiou Tiro por treze anos seguidos e não conseguiu tomá-la, apesar de posteriormente Tiro ter reconhecido a suserania babilônica e pago tributos por pelo menos uma década, o que há vários contratos babilônicos que comprovam, mas a maior parte dos tesouros de Tiro deixaram a ilha em navios com destino às colônias e Nabucodonosor terminou sua campanha sem grandes recompensas (cf Ez 29:18).
A ausência de pressões provenientes de políticas agressivas – ou até mesmo a capacidade de sobreviver bem a essas políticas -, juntamente com a efervescência econômica e as habilidades artísticas celebradas, gerou um espírito de orgulho no povo de Tiro. A cidade somente foi destruída por Alexandre Magno em 332 a.C, após um cerco de sete meses construindo um molhe do continente até a ilha. A cidade foi reconstruída em 314 a.C, mas foi completamente destruída pelos sarracenos em 1291.
Outro fato que merece destaque sobre a cidade é a força da figura do rei dentro de sua sociedade. Como outras culturas oriundas do Crescente Fértil, os habitantes de Tiro compartilhavam a crença de que seu rei era o representante dos deuses na terra, dotado de um caráter sobre-humano. A principal divindade em Tiro era Baal-Mecarte, senhor do inferno (e do fogo), da tempestade e da fertilidade, que teve seu culto introduzido em Israel por Jezabel, esposa do rei Acabe. (cf I Rs 16:31-34). A situação de invencibilidade da Ilha era atribuída ao fato de ser o lugar sagrado deste deus, e em seu templo podia ser encontrado no altar um trono vazio reservado para seu representante no meio dos homens, o monarca. Essa fé era algo tão profundo que chegou até mesmo a resistir aos apelos da helenização e pensamento grego que varreu toda a região durante o período de Alexandre Magno e Tiro não se rendeu à tentação de ser uma república, mas conservou a forma de governo monárquica até a completa perda de sua independência.
Os Oráculos contra Tiro
Ezequiel dedica mais tempo a Tiro do que qualquer outro escritor do Antigo Testamento. Na seção que examinaremos de seu livro (Ez 26 – 28:19), o profeta faz três oráculos contra a cidade: prediz a derrota de seu poder naval sob as mãos de Nabucodonosor (cap.26), faz uma magnífica lamentação sobre o naufrágio do galante navio de Tiro (cap. 27), e descreve o orgulho e queda do príncipe de Tiro numa canção de escárnio (cap.28:1-19)
1. A Derrota e Destruição de Tiro (Ezequiel 26:1-21).
O primeiro verso do capítulo introduz a cronologia da profecia. O décimo primeiro ano provavelmente corresponde ao ano 586 a.C e o verso 2 sugere que Jerusalém já havia sido destruída. O teor deste oráculo é predominantemente histórico e factual. O “portal das nações quebrado” pode referir-se à localização privilegiada de Jerusalém num território estratégico sobre as estradas dos pedágios. Agora que a cidade havia sido conquistada, já não poderia receber os impostos das caravanas que passavam por ela e Tiro planejava lucrar com a situação. Esta atitude fez com que o Senhor se colocasse contra Tiro e, a seguir, são pronunciados quatro oráculos contra ela, cada um introduzido pela expressão “Assim diz o Soberano, o Senhor” (vs 3,7,15 e 19).
O primeiro oráculo contra a cidade de Tiro (vs 3-6):
Culpa e castigo                              
A introdução já declara o motivo da culpa de Tiro na expressão “por essa razão”, ligando a palavra profética à denúncia de intenção da cidade em beneficiar-se com a queda de Jerusalém. O versículo 3 chega a ter certa dose de ironia com a comparação “virão como o mar quando eleva as suas ondas”, já que o domínio dos mares era a maior força deste povo e uma de suas maiores realizações.
A predição da destruição completa da Ilha-fortaleza (indicada pela expressão “rocha nua” no vs 4) deve ter parecido absurda aos ouvintes da época, devido à fama de invencibilidade que a cidade ostentava. A frota e o exército de Tiro tinham a peculiar característica de movimentarem-se da ilha para o continente e vice versa, quando era estrategicamente conveniente, para se defenderem de seus atacantes, mas Deus decreta através de Ezequiel que esse jogo de “gato e rato” acabaria, pois não somente a ilha seria arrasada, mas também os territórios do continente, a linha das colônias fenícias na costa, conforme parece ressaltar o versículo 6.
É interessante ainda notar que nos dias atuais onde havia a cidade de Tiro é situada hoje a cidade de Es-Sur, um povoado habitado quase que exclusivamente por pescadores, onde a profundidade das águas favorece a pesca com rede, cumprindo a literalmente a Palavra do verso 5: “Fora, no mar, ela se tornará um local propício para estender redes de pesca, pois Eu falei. Palavra do Soberano, o Senhor”. (comparar também com verso 14).
O segundo oráculo contra a cidade de Tiro (vs 7-14):
A iminente destruição por Nabucodonosor
Nabucodonosor é a forma do nome sempre usado por Ezequiel para “Nabukudurri-usur”, que significa, “deus Nebo, proteja as minhas fronteiras”. O significado deste nome já demonstra a relevância que os babilônicos davam para o expansionismo de seu império. O título que o acompanha “Rei de reis” é de origem assíria e asseverava a força da relação entre o suserano e seus vassalos conquistados. O império assírio havia conseguido por mais de uma vez exigir pagamentos de tributos por parte da cidade de Tiro, durante os reinados de Assurnasírpal II, Salmaneser III e Assurbanipal, cair diante de um monarca babilônico que ostentava um título de um passado que nenhum habitante de Tiro via com simpatia é, ironicamente, um duro golpe no orgulho dos tírios.
Os versos 8-12 descrevem as táticas militares que seriam usadas contra Tiro: obras de cerco, aríetes, espadas, cavalaria pesada e até um levantamento de escudos, uma formação militar babilônica semelhante ao “testudo romano” ou “formação tartaruga”, artifício defensivo que consistia em dispor os escudos bem juntos uns dos outros, protegendo os lados, a dianteira e o teto de ataques projéteis. No verso 11, encontramos a expressão “suas resistentes colunas ruirão”, essas colunas não fazem parte das defesas de Tiro contra invasores, não possuem um significado bélico, mas um caráter duplo sagrado e cívico. O oráculo sugere que a morada inexpugnável de Baal-Mecarte seria profanada, seu templo cairia incapaz de proteger sua cidade sagrada e o rei de Tiro, seu campeão e representante na terra, nada poderia fazer a esse respeito. A queda de Tiro iria revelar a impotência e fragilidade do deus que a cidade se orgulhava tanto.
O terceiro oráculo contra a cidade de Tiro (vs 15-18):
Os Efeitos de sua queda sobre os príncipes do mar.
Tiro possuía colônias das quais adquiria as mais variadas mercadorias e dispunha de um vasto território comercial, o terceiro oráculo mostra como a queda da capital desde império mercante iria afetar seus limites como um todo, se entendendo até os pontos mais afastados. Sua queda teria repercussões até mesmo nas rotas e caminhos secretos que somente esses fenícios conheciam.
Os príncipes do mar são os mercadores, reis e governantes de cidades e portos que dependiam economicamente da prosperidade de Tiro, essa dependência fica evidente no choro e pavor descritos no verso 16, quando eles desceriam do trono, ou seja, perderiam sua alta posição ao descobrirem-se desamparados de sua capital. O fragmento “porão de lado seus mantos e tirarão suas roupas bordadas” pode também ser interpretado como uma alusão aos produtos de luxo que desapareceriam com o declínio das rotas comerciais fenícias.
As lamentações dos príncipes (vs 17,18) ilustram não somente sua tristeza pela conquista de Tiro, mas também sua perplexidade. Como um povo poderoso que impunha pavor, era um poder nos mares, responsável por uma civilização e sustentador de todo um modo de vida, foi reduzido a ruínas? Se um destino assim teve a poderosa Tiro, o que seria das cidades desses príncipes?
O quarto oráculo contra a cidade de Tiro (vs 19-21):
A descida ao Inferno
“(...) e quando eu a cobrir com as vastas águas do abismo” (v 19) é a predição de que as ambições de Tiro não se cumpririam. A palavra hebraica para “vastas águas” é tehôm, e denota uma profundidade inexplorável (ou que não pode ser conquistada ou medida). A cidade sonhava e se empenhava em conquistar e ampliar seu domínio sobre as muitas águas, mas não teria êxito neste intento e, em vez disso, ainda seria conquistada por elas.
Os versos 20 e 21 profetizam que o Senhor faria Tiro descer ao Sheol, “(...) para fazer companhia aos antigos”, e habitar embaixo da terra. O fato das Escrituras muitas vezes falar das profundezas da terra como lugar dos mortos não é suficiente para postular que os escritores bíblicos cressem que esse fosse o verdadeiro lugar dos espíritos que partiam. Considerando que os homens pensam em termos concretos, é natural que, à vista do sepultamento do corpo, a morada dos mortos fosse localizada num nível abaixo da terra. De qualquer forma, o sentido de sheol nesta profecia é enfatizar que a cidade de Tiro seria destituída de sua posição de destaque. Em vez de ascender, seria rebaixada até o inferno – o lugar mais profundo – e seu orgulho seria quebrado, uma vez que ela seria procurada e não mais encontrada (v 21).
2. Um Lamento por Tiro (Ezequiel 27:1- 36)
No capítulo 27 de Ezequiel, o Senhor ordena ao profeta que faça um lamento a respeito de Tiro. A lamentação era uma prática geralmente associada ao arrependimento e contrição ou tinha lugar por causa de alguma grande desgraça. Os sepultamentos eram ocasiões para se lamentar, e desde o Egito Antigo, o Oriente conhecia as carpideiras, profissionais de cabelos desgrenhados e vestes desemaranhadas que acompanhavam os cortejos fúnebres expressando tristeza. Mortes notáveis algumas vezes motivaram lamentações poéticas, como por exemplo, Davi lamentou Saul e Jônatas com o “Lamento do Arco” (2 Sm 1:17-24) e Jeremias compôs um lamento em homenagem ao rei Josias (2 Cr 35:25). O oráculo apresentado com a linguagem poética de lamentação indica que, como os acontecimentos enumerados anteriormente, a queda de Tiro seria algo realmente notável. No poema, introduzido por um pequeno trecho em prosa, Tiro é representada como um elegante navio manobrado por marinheiros de cidades fenícias (vs. 1-9), ricamente carregado de mercadorias de muitas nações (vs 9-25) que naufragou para tristeza dos navegantes (vs 25-36).
Os nove primeiros versos do poema descrevem a construção e tripulação do navio. As palavras: “Você diz, ó Tiro: Minha beleza é perfeita”, enfatiza mais uma vez que o pecado de Tiro foi o orgulho. Assim como o início do poema é a declaração soberba que a cidade julgava altivamente ter atingido a perfeição, foi seu orgulho e desejo de ascensão que desencadeou seu julgamento pelo Senhor e sua queda. A madeira do navio foi descrita. Os conveses foram feitos de ciprestes de Senir (que significa “montanha sagrada”), o nome amonita para o Monte Hermom. O mastro era feito de cedros do Líbano. Seus remos, de carvalhos de Basã, uma região a leste e nordeste de Quinerete. A estrutura do navio era feita de cipreste das costas de Chipre, e revestido de mármore ou marfim (segundo algumas traduções). Todos esses materiais serviam para ilustrar como a beleza de Tiro reunia elementos raros e preciosos de todo o mundo conhecido, valorizados tanto por sua qualidade como pela dificuldade em ser encontrados. As velas da embarcação são descritas como “feitas de belo linho bordado”, esse linho bordado era uma mercadoria muito cobiçada na época e seu uso na convecção de velas pode ser interpretado como um símbolo de riqueza exagerada. Os toldos são descritos como “azul e púrpura”, no original literalmente “púrpura azul e púrpura vermelha”, se levarmos em conta o que já foi informado sobre o uso reservado da cor púrpura na antiguidade para realeza e nobreza de diversas culturas, pode-se inferir que a visão de um navio como descrito por Ezequiel claramente evocaria conceitos de prosperidade, sucesso, imponência, luxo e orgulho.
Sidom e Arvade, territórios fenícios com experiência em navegação, forneciam os remadores a Tiro e Gebal, afamada desde os tempos antigos por seus pedreiros e mestres em construção de navios, os artesãos que proveriam manutenção até mesmo em alto mar se fosse necessário. A tribulação do navio era a melhor da época, com os melhores especialistas segundo suas áreas de atuação. A qualidade dos materiais usados e a mão de obra encontrada no navio sugere um fim glorioso para o mesmo, uma expectativa de sucesso onde quer que ele passe.
A partir da segunda parte do verso 9 até o verso 25, cita-se lugares que atuavam como parceiros e clientes de Tiro. É uma espécie de “catálogo de comerciantes”. Tiro recebia metais de Tarsis. Javã, Tubal e Meseque eram remanescentes do povo hitita e faziam tráfico de escravos e bronze. Togarma (provavelmente a atual Armênia) fornecia cavalos. Os homens de Rodes, marfim e ébano; a Síria, pedras preciosas, bordados e púrpura; Judá e Israel, cereais e especiarias; Damasco, vinho e lã; perfumes de Samá e Rama, etc. A lista extensa mostra como o comércio de Tiro era diversificado e a palavra “mercadorias” nos versos 12,14,16,19 e 22 é a tradução da palavra hebraica ’izzabón, que significa “a parte que fica com o negociante” e traz implícita a idéia de lucro. O Catálogo serve para ilustrar a variedade de mercadorias e também a riqueza que Tiro adquiria através delas.
Após descrever os materiais e mão de obra do navio e revelar seu catálogo comercial, Ezequiel prossegue o oráculo tragicamente nos versos 25 a 30: O navio naufraga e sua carga de bens, mercadorias e riquezas se perde. A tripulação (composta de marinheiros, pilotos, calafates, negociantes e soldados) morre afogada e seus gritos podem ser ouvidos até mesmo das praias próximas, demonstrando que nem a riqueza, poder, nem o conhecimento técnico que proporcionou um império mercantil a Tiro, nem seus muitos clientes poderiam livrá-la do juízo de Yavé.
Os versos 30 e 31 mostram que o abatimento de Tiro é um acontecimento tão trágico que todos os outros marujos – provavelmente os que haviam desenvolvido relação comercial com ela - largariam seus afazeres apenas para pranteá-la. Apenas nestes dois versículos, enfatizando o impacto e consternação que a queda de Tiro teria no mundo marítimo, encontramos enumerados oito sinais de tristeza: 1 - O fato dos marujos abandonarem suas tarefas normais; 2 - erguer a voz; 3 - gritar com amargura; 4 – espalhar poeira sobre a cabeça; 5 – rolar na cinza; 6 – raspar a cabeça; 7 – usar vestes de luto e 8 – chorar com angústia de alma e pranto amargurado.
A última parte do oráculo (vs 32-36) é o lamento, propriamente dito, sobre o fim trágico de Tiro. É interessante notar que o verso 34 encerra uma ideia semelhante àquela encontrada em Ezequiel 26:2: a de uma situação extrema que pôs fim a uma vantagem comercial. A ira do Senhor contra Tiro se acendeu quando a cidade, em seu orgulho, quis tirar proveito da queda de Jerusalém e o julgamento de Deus impôs a mesma condição à orgulhosa Tiro de uma maneira tão marcante que chocou as nações e povos que a conheciam.
3. A Queda do Príncipe de Tiro. (Ezequiel 28:1-19)
No capítulo 28, Ezequiel passa da cidade a seu governador, como representante do caráter de sua comunidade e personificação do espírito da orgulhosa metrópole comercial. Rei e povo constituem uma corporação sólida que recebe a condenação por seu orgulho e auto-deificação. A Bíblia traz outros exemplos dessa “insanidade da prosperidade”, com reis declarando-se (ou querendo ser) deuses: Senaqueribe (II Rs 18:33-35), Faraó (Ez 29:3) e Nabucodonosor (Dn 3:15, 4:30) nos servem de exemplo dentre outros.
O profeta Ezequiel refere-se ao rei de Tiro em duas partes distintas: a primeira traz a profecia contra o monarca (vs 1-10) e a segunda é um lamento sobre sua queda (vs 11-19). Qualquer interpretação destas passagens deve ser feita sem deixar de ter em mente que, apesar desta divisão, se trata de um oráculo contínuo, inteiro, que envolve pronunciamentos de julgamento e lamento. Há uma grande quantidade de termos específicos que ligam as duas partes da trama: o coração arrogante (vs 2,4,17), a beleza (vs 7,12,17), o esplendor (vs 7,17), a sabedoria (vs 4,5,7,17), o comércio (vs. 5,16,18) e o ouro (vs 4,13). Qualquer exegese proposta ao texto deve contemplá-lo em sua integridade e esclarecer satisfatoriamente os pontos levantados tanto na profecia quanto no lamento. O estudo individual das partes neste trabalho visa apenas uma maior facilidade didática.
A Profecia: O Castigo do Príncipe de Tiro por causa de sua Auto-Exaltação
O Príncipe de Tiro é anunciado no verso 2 como “nagîd”, literalmente, “líder” de Tiro. O termo “nagîd” era usado com exclusividade para designar os governantes de Israel e, no contexto de Ezequiel, serve para demonstrar que, apesar deste príncipe acreditar que havia adquirido sua posição por méritos e força própria, a realidade não era essa, ele devia seu poder e status a uma designação de Yavé. Ittobaal II era o rei da cidade fenícia nesta ocasião, mas a denúncia e condenação são mais contra a arrogância e autoteísmo de Tiro do que contra qualquer governante específico: “No orgulho do seu coração você diz: ‘Sou um deus; sento-me no trono de um deus no coração dos mares.’. Mas você é um homem, e não um deus (...)”. A intenção inicial do texto é colocar o rei de Tiro em seu lugar de homem mortal e revelar que suas presunções são falsas. Se compararmos a temática deste oráculo com a profecia de Isaías (II Rs 19:21-28), dirigida a um outro rei com delírios de divindade, Senaqueribe (II Rs 18:31-35), notaremos que o Senhor procedeu da mesma forma com ele, lembrando-o que Ele o havia estabelecido (II Rs 19:25). Essa idéia de divinização do monarca aparece também na introdução à lamentação, no verso 12, quando o rei de Tiro é tratado por “melek”, termo que exemplifica bem o conceito do Crescente Fértil de que o governante era um representante sobrenatural dos deuses. A expressão “trono de um deus no coração dos mares” bem pode referir-se ao trono reservado ao rei no altar do templo de Baal-Mecarte ou até mesmo à cidade de Tiro como habitação inexpugnável dos deuses. É válido observar que se trata de “um trono” de “um deus” e não “o” Trono do Deus Altíssimo”, como alguns tem sido induzidos a interpretar quando lêem a passagem em paralelo com Isaías 14:13,14. Aliás, sobre a passagem de Isaías, é válido ter em mente que o hebraico é uma língua que não faz distinção entre letras maiúsculas e minúsculas, logo a tradução do original “el” por “Deus” (com letra maiúscula) já é uma interpretação posterior que obscurece a intenção inicial do texto. “El”, apesar de ser uma partícula que aparece em vários dos nomes conhecidos de Yavé na Bíblia, é o nome de uma divindade cananéia, pai do deus Baal, para exemplificar essa distinção, podemos comparar o texto de Isaías com o relato do encontro de Abraão com Melquisedeque em Gênesis 14:17-24. Melquisedeque apresenta-se como sacerdote do “Deus Altíssimo”, no original hebraico “El Eliom”, justamente para que Abraão entendesse que o Deus dos dois era o mesmo, não o “el” cananita ou qualquer outro “el” conhecido na região. Sobre o “trono de el” é necessário lembrar que havia uma crença generalizada no Oriente da existência de uma montanha sagrada ao Norte muito alta, usada pelos deuses para ascender ao céu. Supostamente existia um trono no topo desta montanha e o deus ou homem que se assentasse sobre este trono teria poder sobre os demais deuses e homens, é mais provável que seja este o “trono de el” sobre o qual o rei de Isaias deseja se assentar do que sobre o “Trono do Deus Altíssimo”, interpretação favorita dos que insistem em ver Lúcifer como retratado ali.
A indagação do verso 3: “Você é mais sábio do que Daniel?”, pode não referir-se ao Daniel da Bíblia, mas a um abastado juiz chamado Danel (cf também Ez 14:14) da antiga cidade portuária de Ugarit, aclamado na época por seu conhecimento, sabedoria e justiça e que é citado também nas tabuinhas de Ras-Shamra, datadas do mesmo período deste oráculo. Essa suposição leva em conta que os versículos seguintes 4 e 5 mostram que sabedoria aqui não quer dizer uma habilidade especial vinda de Deus para cultura, ciência e interpretação profética como a dada ao Daniel bíblico (Dn 1:17), mas uma aptidão e conhecimento para se enriquecer e
acumular tesouros, como uma espécie de malícia comercial. Essa sabedoria corrompida teria sido a causa do orgulho do rei (vs 5).
Com a finalidade de abater o rei orgulhoso, o Senhor traria os “estrangeiros das mais impiedosas nações”, os caldeus ou babilônicos, para que o arrancassem de sua posição pseudodivina e lhe lembrassem que ele não passava de um ser humano comum (vs 9). Como antítese ao conceito de exaltação e enfatizando o castigo pelo orgulho, aparece a expressão “descer à cova” (heb. shahat), equivalente ao Sheol, ou reino subterrâneo dos mortos. A palavra Shahat vem da raiz shûah, que significa “afogar-se” e sugere mais uma vez, como na profecia contra a cidade de Tiro (Ez 26:19), que como punição pelo orgulho, ele não seria capaz de dominar as águas, mas as águas o aniquilariam.
A profecia é finalizada com a predição: “Você terá a morte dos incircuncisos nas mãos dos estrangeiros” (vs 10). Segundo Heródoto, os fenícios praticavam a circuncisão como um sinal de honra e morrer como um incircunciso desprezado era a vergonha muito temida. O oráculo com essas palavras acrescenta à aniquilação o sentido de maior humilhação possível dentro da cultura fenícia.
O Lamento sobre o Rei de Tiro (Ezequiel 28:12-19)
A segunda parte das predições dirigidas ao rei de Tiro foram as que mais receberam atenção em esforços interpretativos desde o princípio. Antes de nos lançarmos à tentativa de analisar esta passagem, é relevante termos uma vista panorâmica das teorias prevalecentes.
• Satanás é o rei de Tiro
Talvez esta seja a suposição mais conhecida e com o maior número de adeptos. Muitos através da história da igreja cristã têm interpretado Ezequiel 28:12-19 como a descrição de Satanás. Pais da igreja como Tertuliano, Orígenes, João Cassiano, Cirilo de Jerusalém, e especialmente, Jerônimo ajudaram a popularizar esta interpretação porque liam Isaías 14:12-15 como uma passagem paralela. Apoio moderno a esta teoria é encontrado, por exemplo, em Kaiser Junior, que interpreta a história não somente como uma contenda entre meros mortais, mas simultaneamente como uma batalha sobrenatural pelo domínio. Segundo Kaiser Junior, Satanás teria sua própria sucessão de tiranos que correspondiam à linhagem davídica de Deus, além de sua própria pessoa culminante, o tirano dos tiranos.
• O rei de Tiro é uma analogia do Primeiro Homem
Devido a certos paralelos entre nossa passagem e Gênesis 2-3, alguns supõem que o rei de Tiro seja uma ilustração ou adaptação de Adão, o primeiro homem. Os dois relatos compartilham alguns elementos: o Jardim do Éden, a criação, a perfeição, o querubim e a expulsão. Mas existem diferenças básicas que tornam difícil sustentar essa posição: em Ezequiel há pedras preciosas em vez de árvores; o ser está coberto e não nu; a responsabilidade é de guarda e não de cultivo e cuidado do jardim; não há serpente ou elemento tentador externo e, o mais importante, não há mulher.
• Trata-se de um relato de caráter mitológico
A linguagem de Ezequiel tem sido vista por muitos estudiosos como mítica e encorajado a interpretação de identificar o rei de Tiro como uma entidade mitológica ou como se ele se considerasse a personificação de uma deidade mitológica. Para validar essa suposição, geralmente são evocados os termos “querubim”, “monte santo de Deus” e “pedras afogueadas” em ligação com 28:2 “No orgulho do seu coração você diz: ’Eu sou El (...)”,
Esta teoria era refutada até pouco tempo alegando-se que não existia nenhum mito na literatura do Antigo Oriente que demonstrasse semelhanças com Ezequiel, entretanto Pfeiffer e Harrison não são dessa opinião. Eles citam em seu comentário bíblico que os fenícios conheciam uma fábula estruturalmente muito parecida com a narrativa de Gênesis 2 e 3. Segundo a lenda fenícia, no Jardim de Deus habitavam inicialmente o homem ideal (o Urmensch, ou primeiro homem), perfeito em sabedoria e beleza e o querubim que guardava o jardim. Embora fosse um simples mortal, o homem ficou orgulhoso e proclamou-se deus. Por este pecado, o querubim o expulsou de lá. Segundo o relato de Ezequiel, o rei de Tiro seria arruinado por uma ofensa semelhante.
A posição literal
Esta última perspectiva entende que o príncipe e o rei de Tiro são a mesma pessoa e interpreta o texto nominalmente, como um oráculo dirigido a um homem específico em determinado momento do tempo. Geralmente esta posição requer mais subsídios, considerando a linguagem difícil de Ezequiel e o abismo cultural, temporal e de pensamento que dificulta a descoberta do sentido primário do texto.
Análise do Lamento sobre o rei de Tiro
Embora escrita em métrica qiná, própria das lamentações, o texto é mais uma ironia do que uma lamentação.
Na expressão “modelo da perfeição”, a palavra hebraica traduzida como modelo é “hôtem”, e traz o sentido de “aquele que sela’, ou ”aferidor”, como algo a ser imitado ou invejado. Pode referir-se ao papel de destaque ocupado pelo rei que inspirava a ambição dos outros príncipes fenícios. Logo em seguida, aparecem duas outras características do monarca: “cheio de sabedoria e de perfeita beleza”, lembrando que na profecia anterior a sabedoria é retratada como malícia comercial e que o texto deve ser tratado como uma unidade, podemos estender até aqui a interpretação que a sabedoria e beleza podem ser, respectivamente, as habilidades de adquirir riquezas e os luxos advindos desses tesouros. Seguindo o raciocínio desta forma, o rei de Tiro (do ponto de vista dos mercadores marítimos e do povo fenício) servia mesmo de modelo aferidor.
Os versos 13 a 15 são problemáticos. Muitos interpretam o Éden aqui como o jardim da criação e postulam que o rei de Tiro seria então Adão ou Satanás. Mas se entendermos a passagem literalmente, se este é o Jardim do Éden literal, do relato de Gênesis, não há possibilidade do rei da cidade de Tiro (homem) ser o sujeito do oráculo. Se esta possibilidade não existe, e insistimos sustentando na identificação do destinatário das palavras proféticas como ou o primeiro homem ou o diabo, o lamento torna-se um texto independente, sem qualquer ligação com a profecia anterior e já vimos inicialmente a importância do oráculo ser tratado como um todo contínuo e coeso.
Uma proposta interessante para tentar solucionar a expressão “Éden, jardim de Deus”, é a leitura paralela do oráculo contra o Egito (capítulos 29-31). A passagem sugere uma conexão – ao menos na mente do profeta e talvez na da sociedade como um todo – entre a idéia de “Jardim de Deus” ou Éden e o Líbano. No capítulo 31 há a referência ao “cedro do Líbano” (vs 3), aos “cedros do jardim de Deus” (vs 8) e das árvores do Jardim do Éden até mesmo sentindo inveja do cedro do Líbano. O rei responsável por Tiro ter iniciado seu processo de ascensão comercial foi Hirão, que participou ativamente da construção do templo de Salomão. A riqueza de Tiro começou fabricando artefatos em bronze (o que pode ser uma referência às pedras afogueadas e a fundição) e vendendo madeiras do Líbano. Desta forma, o rei de Tiro teria estado no Éden representado em seu antecessor distante. Esta imagem comercial relacionando o Éden e o Líbano parece convincente porque não foge do propósito do oráculo, que é denunciar Tiro por seu pecado de ganância (26:2). As pedras como cobertura podem ser interpretadas como símbolos de riqueza.
A expressão “Você foi ungido querubim guardião” merece atenção especial. O original hebraico é ambíguo e passível de duas traduções de sentidos diferentes, pode significar tanto “Você era o querubim ungido” quanto “você estava com o querubim ungido”. Os que vêem Adão nesta passagem geralmente preferem a última tradução e alegam que Adão tinha uma companhia angelical no Éden, mas devemos lembrar algumas coisas: no relato de Gênesis, a mulher é feita porque não era bom que o homem estivesse só, logo, é improvável que ele desfrutasse de um companheiro inteligente; se a função do suposto querubim companheiro é de guardião de Adão, deve-se expor do que ele estava sendo protegido e o porquê; e, finalmente, no relato bíblico, é o homem que é expulso do paraíso, não o querubim; somente após a expulsão de Adão é que encontramos menção da presença de querubins no jardim (Gn 3:24). Há ainda os que entendem que o querubim deste texto é Satanás, literalmente, o que também é difícil de sustentar, pois Satanás nunca é retratado na Bíblia como guardião de coisa alguma. Deve-se considerar ainda que, especificamente em Ezequiel, os querubins são descritos como aqueles que guardam e sustentam o trono de Deus, dar a Satanás a posição de querubim antes de sua queda é tomar por certo o que não tem respaldo em nenhuma parte da Escritura, ou seja, afirmar que a função de Satanás era guardar e sustentar o trono de Deus.
Parece razoável interpretar o rei de Tiro (homem) no papel do querubim ungido como alguém que recebeu um privilégio do próprio Deus. Este privilégio pode ter sido participar da edificação do palácio de Davi e, posteriormente, da construção do Templo, inclusive na fabricação de diversos utensílios sagrados. A posição de destaque no comércio mundial pode ter sido fruto das bênçãos de Deus pela participação de seus antepassados no sistema de culto em Israel. Não se pode perder de vista que o motivo dos oráculos contra Tiro é a expectativa gananciosa da cidade de lucrar com a queda de Jerusalém. O rei de Tiro que auxiliou Davi e Salomão tinha uma postura muito diferente daquele da época de Ezequiel, basta comparar I Reis 5:7 com Ezequiel 26:2 para que isso fique evidente. Trair o legado deste privilégio por orgulho e ganância mereceu o julgamento e punição de Yavé.
A posição de que a passagem trata de um relato mítico também não deve ser descartada totalmente. Relacionar o lamento sobre o rei de Tiro com elementos mitológicos da cultura fenícia parece ser realmente válido dentro do contexto estrutural encontrado em toda a obra de Ezequiel. O profeta, por todo o livro, faz uso de diversos recursos didáticos para viabilizar o entendimento de sua mensagem: representação dramática, atos simbólicos, parábolas e provérbios, dentre outros. Parece razoável que este profeta também utilizasse elementos mitológicos ou fábulas da cultura fenícia para que a mensagem fosse compreendida da forma mais clara e fiel possível por este povo. Um argumento forte contra esta suposição, porém, é que Ezequiel profetizou contra Tiro no meio do exílio babilônico, ele não se deslocou até a orgulhosa cidade comercial para entregar sua profecia e os ouvintes deste oráculo provavelmente foram judeus deportados. Se levarmos isso em consideração, parece injustificado ou inútil o esforço para deixar o oráculo mais facilmente inteligível aos fenícios.
O “monte santo de Deus”, referido no verso 14, deve ser o monte Saphôn, montanha sagrada para o povo fenício e pode ser interpretada metaforicamente como um lugar elevado, de privilégio e destaque, ainda mais se pensarmos que este oráculo é o lamento sobre a queda e deve enfatizar o sentido de perder uma alta posição para ser humilhado até o inferno. Cabe aqui também o pensamento comum oriental sobre a existência da montanha sagrada ao Norte, escada dos deuses para o céu.
Caminhar entre as “pedras fulgurantes”, no original hebraico, quer dizer andar entre as pedras que se destacam por seu brilho, não que estas pedras sejam incandescentes. É a definição de algo que emite luz própria, à semelhança do fogo, não que esteja se consumindo ou envolto em chamas. Esse brilho à aparência de fogo é característico da manifestação divina (cf. Ez 1:13) e pode ser interpretado como mais um indício de que o rei de Tiro foi favorecido por Deus, mas sua atitude ambiciosa atraiu juízo sobre si. Não somente sua posição, mas suas riquezas somente foram adquiridas com a permissão de Yavé. Existem alguns teólogos que tentam definir essas “pedras fulgurantes” como algum paralelo na religião fenícia ao sacerdócio judaico, alegando uma simbologia das pedras do peitoral relacionada a fragmentos de lendas sobre o monte Saphôn e as estrelas de Baal o rodeando. Entretanto os que pensam assim esquecem que o texto fala sobre “andar” entre estas pedras, não usá-las como adorno sagrado, como é comumente sugerido.
“Você era inculpável em todos os seus caminhos” (vs 15), aparece em muitas traduções como “Perfeito em todos os caminhos”. A palavra traduzida por perfeição ou até inculpabilidade, no texto hebraico original, é “tamin” e designa mais um estado de integridade do que de ausência de defeitos. Perfeição sugere que não falta nada ou parte alguma, como a oferta ao Senhor devia ser perfeita e não apresentando animais mancos (que faltavam ou faziam uso atrofiado dos membros) ou aleijados. Uma tradução do sentido aproximado seria, “Não te faltava nada, mas sua ganância desejou ir além”. Essa concepção está em harmonia com a temática do oráculo como um todo e deve ser considerada. É interessante notar que ela introduz a “multiplicação do comércio” e o aparecimento da violência e do pecado (vs 16), a violência pode ser entendida como uma tentativa de atender à ganância do coração a qualquer custo, numa atitude em que “os fins justificam os meios”. A continuação da leitura revela a expressão ”comércio desonesto”, essa desonestidade não era somente cobrar com usura, além do preço justo, com ganhos excessivos, mas principalmente usar de quaisquer meios para enriquecimento. Se pensarmos que Tiro era favorecida por Deus por sua atitude em relação a Israel anteriormente, parece natural que a mudança de atitude nesta ultima ocasião (26:2) resultaria num juízo de Deus (“fiz sair de você um fogo que o consumiu”) contra ela. Essa ideia ganha força enfatizada também na profanação do santuário, a quebra de uma instituição sagrada, e a expulsão, ou o fim dos privilégios.
Conclusão:
Os oráculos de Ezequiel são dirigidos ao rei de Tiro histórico, personagem real, como consequência de seu orgulho e ganância. As inferências míticas podem ter sido introduzidas para que a compreensão da mensagem fosse facilitada dentro da cultura fenícia, ainda que não haja sustentação para crer que o profeta tinha expectativas de que suas palavras chegassem diretamente a esse povo. A suposição de que o rei de Tiro é uma analogia de Adão não apresentou argumentos convincentes o bastante para validá-la, nem a que postula que o oráculo dirige-se a Satanás antes de sua queda. Entretanto, é impossível não enxergar um poder espiritual atuando por trás do personagem humano. Mesmo que os oráculos não sejam contra Satanás, deve-se reconhecer que havia um espírito maligno por trás do orgulho do rei de Tiro, instigando-o em sua auto deificação, Vai aqui , primeiramente a nossa Saudação pelas três sagradas pontas do triângulo. Que o Deus do seu coração, lhe permita Luz e Sabedoria, para que entendas que a Maçonaria é evolutiva e progressista. Que você entenda o seu real papel, diante do seu aprendizado quanto a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Que você aplique o seu conhecimento em seu dia dia, em seu cotidiano, em sua vida. Que você saiba o quanto é importante você ser M.'., fora das Lojas e que não basta você apenas ter aprendido, SINAIS, PALAVRAS E TOQUES. Você é muito mais que isto.
Tudo aquilo que você lê, ouve,vê, merece uma atenção muito mais observadora e de reflexão. Não basta ler, ouvir, ver. Você deve entender o significado, a simbologia e se convencer de que é certo ou errado. Se convencer e acreditar é primordial, até que algo novo surja e lhe demonstre que você não estava tão certo e com humildade deve aceitar e mudar a sua opinião. Não há porque termos vergonha em nos aprimorarmos e aceitarmos nossos erros. SOMOS IMPERFEITOS. NÃO SE ESQUEÇA DISTO. A nossa caminhada , o nosso aprendizado é longo e requerer de todos nós muita observação. Mesmo estando MESTRE, se você observar, não aprendemos nada ainda. A caminhada continua e esperamos que com muita LUZ, para que você consiga se aproximar da verdade, uma vez que ela é relativa e o que é certo para você, talvez não seja para mim.
HIRAM ABIFF .'.
                              Aprendemos como sendo a LENDA que está contida em todos os Graus Maçônicos, principalmente no terceiro grau, bem como é observada em um dos Landmarks.
                              A lenda apresenta HIRÃO ABI , como sendo o salvador maçônico e apregoa um rito de morte e ressurreição  de seu salvador.
                              Abordado por três vezes para revelar o segredo de um Mestre Maçom é ferido e morto por negar esta informação. Salomão diante do acontecido envia grupo para investigar e descobrir HIRÃO ABIF, que encontrado em sua sepultura, ressuscita.
                              Vejam que a lenda fala em HIRÃO ABIFF e não HIRAM ABIFF.
                               Em outra visão a lenda diz que se trata de um ritual do terceiro grau da maçonaria, que surgira em razão da construção do Templo de Salomão. Quando o Rei de Tiro, que também tinha o nome de HIRÃO, fez acordos com Salomão, enviando para a Terra Santa, ouro, prata, madeira de ciprete e cedro, além de pedreiros e desse sábio artífice HIRÃO ABI, que era descendente de Dã por parte de mãe e filho de um nome fenício. Nesta outra visão consta ser HIRÃO salvador maçônico e apregoa um rito de morte bem como a ressurreição deste salvador. Na 3a abordagem ele é ferido e morto. Na visão ADVENTISTA no entanto se questiona que seriam pessoas distintas. HIRÃO ABIF , (Rei de Tiro)  nada haver com HIRAM ABIFF .
                                 Isto nos faz observarmos mais tudo que é publicado a respeito,até porque todos sabem de que muitos escritos aconteceram com o tempo. Tudo que diz respeito à Maçonaria era oculto. Nos primórdios era proibido a escrita e até mesmo o que já está escrito é preciso que tenhamos uma maior observação face a tradução, que pode não ser a correta. É por isto que chegarmos próximo da verdade, é algo que requer estudos, pesquisas. Somente com o tempo é que se consegue um melhor entendimento e o fortalecimento do que acreditamos.
                                  HIRAM ABIFF, é também conhecido como , o filho da viúva. De acordo com os Maçons ele teria sido o arquiteto e construtor do Templo de Salomão, templo que guardaria a placa que continha os 10 Mandamentos e seria a morada de DEUS.Segundo esta lenda, Salomão que foi Rei de Israel recebeu o projeto diretamente de DEUS. HIRAM ABIFF, também era conhecedor da planta divina. Foi então que ele HIRAM fora abordado por três de seus operários, invejosos de HIRAM, por não terem este conhecimento. Entendiam que HIRAM era possuidor de uma palavra chave e que esta palavra os levariam a ter todo o conhecimento que HIRAM possuía. Sabedores de que HIRAM, ia diariamente ao templo para rezar, o aguardaram.
                                   HIRAM , ao se aproximar da PORTA LESTE, é abordado pelo primeiro operário que lhe pede o segredo, mas diante da negativa este operário corta a garganta de HIRAM, com uma pedra afiada. HIRAM , consegue fugir mas chegando à PORTA SUL é novamente abordado pelo segundo operário, que diante de nova negativa , lhe fere com o esquadro de pedreiro. Rastejando HIRAM, chega à PORTA OESTE e ali também encontra o terceiro operário, que diante de mais uma negativa em revelar o segredo, é atingido com um golpe na testa. O terceiro operário lhe dá uma pancada com um martelo, e isto o leva a morte. Ao desfalecer grita MEU DEUS ! QUEM AJUDARÁ O FILHO DA VIÚVA?
É preciso que se saiba, de que há poucos indícios de que HIRAM e o TEMPLO DE SALOMÃO, realmente existiram. Somente na BÍBLIA é que encontramos poucas citações.

O RITUAL SOBRE HIRAM ABIFF , é feito nas iniciações, onde toda historia de que conhecemos é retratada da forma como aprendemos sobre a lenda. Ali se demonstra uma das simbologias utilizadas na maçonaria. Neste ritual acabamos por entender o significado do "segredo" que não deve ser revelado, mas não é o que muitos imaginam. É preciso que se entenda de que gradativamente o iniciado em razão de seus estudos, dedicação, recebe o que se chama de "aumento de salário" e vai passando de um grau para outro e a cada grau se adquire o conhecimento especifico para aquele grau. isto não pode ser revelado ao iniciado, enquanto este não fizer por merecer. É tudo ao seu tempo.
A ressurreição de cada um tem também um significado simbólico e pessoal, onde nos leva a reflexão deste momento e seu significado em nossas vidas.
Em muitos momentos de nossa vida, ressuscitamos , renovamos a nossa vida e muitas das vezes iniciamos do zero, pautados em tudo que vivenciamos e é assim que gradativamente entendo que conseguimos nos aprimorar ( lapidar a pedra bruta) , sermos melhores a cada dia , e com isto serviços à sociedade que busca constantemente uma vida mais digna, pautada na LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante

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