QUANDO
O CORAÇÃO DO CRISTÃO FICA MAIS FRIO QUE O GELO...
Malaquias significa “meu o mensageiro”. Um título bem sugestivo
para o livro, pois sabemos somente sobre a mensagem e não sobre o mensageiro em
si, que foi usado por Deus para escrever o ultimo livro do Antigo Testamento. A
mensagem do mensageiro Malaquias vem em um tom de sentença de Deus para o povo rebelde
de Israel. A palavra descrita como sentença, no original hebraico tem mais a
ideia de peso. E por que o Senhor se dirigiu desta forma ao povo? Ao longo da
mensagem de Malaquias pode se observar que o povo, mais uma vez, abandonou o
amor a Deus e voltou-se para as praticas pagãs e colocou a adoração a Deus em
ultimo plano. Assim, a adoração ao nome do Senhor foi colocada de lado diante
da incredulidade e desobediência do povo. Para entender melhor a situação do
povo nos dias de Malaquias, por favor, volte comigo um pouquinho antes do livro
ser escrito, volte comigo para o ano de 538 A.C.
Em 538 A.C, Ciro publicou um decreto que permitia os judeus
voltar a Jerusalém depois de anos de cativeiro e reconstruir o templo para a
adoração a Deus. Cerca de 50 mil judeus aceitaram o desafio e voltaram para
Jerusalém. Nesse período Deus levanta
Ageu, Esdras e Zacarias para profetizar e encorajar o povo a reconstruir o
templo. Alguns anos se passam e Neemias torna-se governador. Neemias passa a
observar que já no seu tempo as coisas começaram a ficar um tanto estranhas
entre o povo de Deus. O mesmo povo que outrora era estrangeiro, cativo e sofria
em terras estranhas e que recebeu favor e misericórdia de Deus , quando a graça
divina tocou o coração de Ciro, agora começa a blasfemar ao Senhor em sua
própria terra desfrutando das bênçãos do Senhor em sua própria terra. Isso
deixa Neemias revoltado ao ponto de tomar algumas medidas drásticas em
Jerusalém. É possível que o profeta Malaquias tenha sido chamado nesse tempo de
Neemias para expor os pecados do povo, repreende-lo e fazê-lo voltar á adoração
ao Senhor. As condições descritas no livro de Neemias são bem semelhantes às
condições descritas nas profecias de Malaquias.
Podemos identificar que este tempo foi de grande declínio
espiritual, de grande frieza espiritual e de grande cinismo do povo de Deus e
por fim, um tempo de grande necessidade de ouvir uma exortação da parte de
Deus.
Coração de gelo
E que pecados rondavam o coração do povo de Deus?
Ao longo dos meus estudos no livro de Malaquias pude observar 5
pecados gravíssimos contra Deus:
1° rejeitaram o amor de Deus e o trataram de forma cínica e
arrogante (1:2-5)
Não é atoa que Malaquias identifica este pecado como o primeiro
dentre muitos. A rejeição ao amor de Deus vai desencadear outros tipos de
pecados que vai dilacerar a alma e fazê-la cada vez mais cega e surda para ter
uma percepção clara do amor de Deus. Quanto mais você rejeita o amor de Deus,
mais difícil será você não rejeitá-lo, pois menos perceptível você será para
ouvi-lo. É quase idêntico a aquela lei da física do radio ligado. Quanto mais
eu me distancio do radio, menos eu poderei ouvi-lo. Assim a rejeição ao amor, a
rejeição ao dar a devida resposta ao amor divino provavelmente é a mãe de todos
os pecados.
E como isso penetra no coração e na mente do homem?
Quando o nosso coração tem amores rivais. Quando o nosso coração
tem outros amantes. E qual era o amor rival do coração do povo de Deus?
Provavelmente o seu bem-estar! O povo de Deus viveu o seu “american dream”
quando voltaram da babilônias cem anos antes. O “sonho americano” do povo de
Deus estava começando a se realizar, eles estavam voltando pra casa, a
esperança de uma vida prospera e tranquila estava tomando um lugar no coração
deles que não deveria tomar. Observe comigo que a adoração devida ao nome do
Senhor e a devida resposta ao amor de Deus não era mais o centro da vida do
povo. E isto aconteceu por que outras coisas tomaram o lugar no centro da vida
de Israel naquele momento. E tudo me leva a pensar que a prosperidade, a
esperança de uma vida bacana, o sonho de uma vida feliz e tranquila longe do
cativeiro tomou o lugar de Deus. E este é o perigo da prosperidade, este é o
perigo quando Deus nos abençoa, quando a benção toma o lugar de Deus na
nossa vida e se torna um amor
rival. Deixe de lado os amores rivais.
Volte-se para Deus, o mesmo Deus que amou o povo, como descrito nos primeiros
versos do livro é o mesmo Deus que te ajuda que te ama e lhe faz abandonar
estes amores rivais.
2° recusaram dar a Deus a devida honra ( 1:6-2:9)
Ora se o povo deixou de lado a resposta devida ao amor de Deus,
isso os levou também a rejeitar a devida honra a Deus. Uma vez que eu rejeito o
amor de Deus no meu coração, internamente, eu tenho que colocar isto para fora.
Eu tenho que me expressar de alguma maneira. A expressão da desonra do povo de
Deus estava no fato de oferecer sacrifícios imperfeitos a Deus. O chefe de
família deveria pegar o seu próprio novilho e levar ao sacerdote para que este
pudesse oferecer em holocausto para a adoração ao Senhor. No passar dos anos
eles negligenciaram essa prática ao oferecer novilhos doentes, cegos e coxos.
Sua atitude para com Deus era refletida na adoração que eles davam ao Senhor,
ou seja, sua adoração estava doente! A vida com Deus para o povo virou rotina.
Virou um verdadeiro tédio. Uma obrigação religiosa e nada mais. A adoração
virou uma atitude sem paixão. Esse tipo de cristianismo é sem cor. Sem
aventura. Sem sorrisos. A primeira atitude de homem que tem seu coração tapado
para o amor de Deus é desonrá-lo na adoração. Quando o esfriamento penetra no
coração pode ter certeza que isto terá ações exteriores e visíveis. A falta de
zelo na adoração do povo era visível, ninguém compra de um cambista um novilho
cego e machucado de forma invisível. A adoração seja ela falsa ou verdadeira é
visível por todos. Dificilmente alguém seco, frio consegue se passar por um
homem espiritual. Pode rodopiar, pular, marchar e até subir ao púlpito para
pregar. Se o coração for uma pedra de gelo, uma sala vazia provavelmente todos
saberão disso!
3° desprezarão a fidelidade de Deus (2:10-16)
O vers. 11 do cap. 2 diz “uma coisa repugnante foi cometida em
Israel e Jerusalém, Judá desonrou o santuário de Deus”. Enquanto o Salmista
cantava no salmo 84 “como é agradável o lugar da tua habitação, a minha alma
anela e até desfalece pelos seus átrios”, o povo de Israel pós-exílio
babilônico cantava “como é desprezível estar nos átrios do Senhor”!
O profeta chega a uma conclusão obvia: Que coisa repugnante!
Quando um crente quebra as alianças com Deus e volta o seu coração para a
prática do pecado, o que será das alianças feitas com outros irmãos? O que será
da aliança feita com a sua esposa, ou seu esposo, se as alianças feitas com
Deus foram quebradas? O que pode sustentar a aliança de um matrimônio, quando
as alianças com o Amado foram quebradas? Que coisa repugnante é quebrar a
aliança com Deus. A infidelidade com Deus causa no coração do povo, uma ferida
que se não for tratada será a causa de outras infidelidades. Provavelmente essa
é a causa do que Paulo fala em Efésios 5:1 “sejam imitadores de Deus”. Deus não
quebra as suas alianças. Deus é fiel as suas alianças, por isso ao imita-lo, o
homem permanece fiel as suas alianças, pois Deus é fiel às alianças Dele.
Quebrar as alianças com Deus trará consequências na sua vida diária. Se você
for solteiro, a infidelidade ao Senhor será um beijo convidativo a outros tipos
de pecados sexuais inclusive pecados de ordem moral. Para os casados a infidelidade
a Deus é a causa principal do divorcio. Só no Brasil mais de 45,6% dos
casamentos chegam ao fim. Só no ano 2011, 350 mil casais quebraram as suas
alianças matrimoniais. Pergunto: qual a causa disso? O povo anda distante de
Deus. Cresce o numero de evangélicos, mas são evangélicos que não permanecem
fieis a sua aliança com Deus. E isto terá consequências sociais gravíssimas
tais como o divorcio. Isso é tudo é consequência direta do afastamento de Deus
e sua infidelidade para com ele.
4° Chegaram ao cumulo de redefinir a justiça de Deus (2:17
A cegueira espiritual do povo era tamanha que eles pediam
justiça a Deus, pois estavam cegos e não percebiam que a própria justiça de
Deus estava atuando na comunidade para quebrantar os seus corações. Deus
conhece o nosso coração, conhece nossas intenções, ele esquadrinha a nossa
alma, pedir justiça á ele pode ser algo arriscado. Pede-se justiça ao Senhor em
dois casos, e os dois casos identificam exatamente como está o nosso coração:
1° pedimos justiça a Deus por que estamos preocupados com o seu Nome e sua
reputação entre as nações. 2° Pedimos justiça a Deus porque estamos preocupados
com o nosso nome e a nossa reputação. Se algo foge do nosso controle, como
fugiu do povo de Israel quando o povo começou a passar por uma instabilidade
financeira, apelamos para a justiça de Deus. Mas a grande pergunta é? Você está
pronto pra Ele fazer justiça em sua vida? Você tem mesmo coragem de pedir a
Deus que derrame sobre a sua vida o que é justo sobre você? Era justo o povo
pedir justiça? Deus estava usando de misericórdia para com o povo, mas eles, de
forma cega e inconsequente, estavam pedindo a ira de Deus sobre suas próprias
cabeças e não sabiam.
5° Estavam roubando de Deus (3:7-12)
Quando vemos o povo dialogar com Deus podemos até pensar que
eles eram “santinhos”. Questionaram, colocaram em descredito a palavra do
Senhor, reivindicando sua justiça. Ao analisar o texto de Malaquias cap. 3
temos um retrato de como estava as atitudes morais e éticas do povo: Estavam
roubando de Deus em seus dízimos e ofertas!
Pense comigo por instante. O dizimo e as ofertas eram
necessários para a manutenção de teocracia, usados para sustentar os levitas,
realizar as festas nacionais e religiosas e atender as necessidades dos pobres.
Quando Malaquias da a exortação sobre o roubo dos dízimos e ofertas, o profeta
está lembrando-os que ao fazer isso o povo estava roubando de si mesmo também.
Este é o ponto chave para os dízimos e ofertas. Damos a Deus o que lhe é de
direito, mas somos nós mesmos que somos beneficiados com isso! Ao roubar de
Deus o povo estava pecando contra si mesmo, uma terrível consequência da
cegueira espiritual que estava instaurada no meio do povo.
Que desastre o povo se encontra. É lastimável ver a condição
humana quando este se encontra distante de Deus. Podemos pintar um quadro que
retrata a condição que o povo se encontrava. O povo se encontrava cego, surdo,
sujo podre. De suas bocas só saiam palavras arrogantes, cínicas e com tom de
ironia.
Conclusão
Para concluir quero leva-los a conhecer um pouco mais do nosso
Deus misericordioso. O Deus que se revela com misericórdia abundante, que se
revela com uma graça poderosa que se rebaixa e nos socorre!
Para dar uma resposta definitiva e final ao povo corrupto. Deus
promete:
O seu mensageiro da aliança, o Santo remédio para os corações
vacilantes (3-4)
Aqui está umas das mais claras referencias da vinda de Cristo no
antigo Testamento. O mensageiro da Aliança, ou o “Anjo da Aliança” como algumas
traduções interpretam esse texto, fala exclusivamente da vinda de Jesus Cristo
a terra. É auto explicativa a narrativa de Malaquias porque que o anjo da
aliança virá: O pecado estava instaurado no coração do povo! Deus não pode ser
neutro nessas horas. Deus não age como o povo! Ele não está cego. Ele não está
surdo. Ele não está aparte do que está acontecendo com o seu povo. Ele deve
agir com justiça. O peso da sua palavra deve ser também vista em ações, pois um
dos seus atributos é JUSTIÇA e JUSTIÇA PLENA.
Entender a justa condenação dos homens é entender a gravidade do pecado
para com Deus. Deus não é brasileiro. Ele não trabalha com jeitinhos, ele não
trabalha com favoritismo. Ele trabalha com JUSTIÇA!
E é com essa justa justiça que Malaquias descreve o anjo da
Aliança. Ele virá para purificar os pecados do povo.
Cristo é retratado como dois agentes de purificação: O fogo que queima a escória, a escória do pecado e o
sabão que lava toda a iniquidade. Todos os homens devem passar por esta
limpeza. Todo homem deve passar pelo crivo da justiça do Mensageiro da Aliança.
Hoje 2.400 anos depois das profecias de Malaquias, sabemos que o
Mensageiro da Aliança já veio, nasceu, cresceu. Nunca cometeu um pecado. Como
uma garça andou em meio á lama e nunca sujou as suas vestes brancas. Comeu com
pecadores. Andou com prostitutas. Visitava publicanos. Sua vida foi envolvida
de alegria. De beleza e ternura. Sua morte foi envolvida de terror, angustia e
solidão.
Toda a vida de Cristo, tanto a sua morte quanto a sua vida foi
em prol da profecia de Malaquias: A purificação dos pecados daqueles que são
seus.
Os seus muitas vezes se encontram distantes, caídos, desanimados
e em completo estado de escória. Mas aqueles que são seus jamais passaram
despercebidos pelo fogo que queima, pelo sabão que lava. A palavra para o povo
de Israel era uma palavra de Peso. E por que ela vem com este peso? Por que nós
somos seus! Ela vem com peso em nossas vidas para nos fazer refletir o real
estado do nosso coração.
Mas este é o Deus que nos ama. Sua palavra tem peso sim, mas no
final ela nos faz tão leve como uma pena levada pelo vento. Se Deus tratou
dessa forma com Israel e trata da mesma forma com nós é porque ele os amava.
Ele quer lavar você com o seu santo sabão e queimar toda a escória do pecado
para a glória do seu Santo Nome.
A última palavra, da ultima frase do ultimo livro do Antigo
Testamento: MALDIÇÃO.
E esta é a condição que se encontra aqueles que rejeitarem
passar pela purificação do Mensageiro da Aliança.
Você esta sobre benção ou maldição? Você esta sendo fiel ou infiel
a Deus? Você passou pelo fogo que queima toda a escória da iniquidade? Você
teve seus pecados lavados pelo sabão do Senhor? A resposta dessa pergunta você
não pode dar em palavras, assim como o povo também não pode. Você deve
responder a essas perguntas na prática da adoração ao Senhor.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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