POSSESSÃO DEMONÍACA DENTRO DAS IGREJAS...
Vamos iniciar demonstrando a possibilidade do Diabo fazer alguns
servos de Deus sucumbirem a um ataque, a partir dos nossos primeiros pais.
Lemos em Gênesis 3, quando a serpente incitou externamente a Eva e depois a
Adão, para que comecem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus
havia determinado, “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás” (2:16,17).
A questão em si não era o fruto, mas sim a palavra de Deus, ou
seja, a expressão de sua vontade. O pecado não foi terem comido o fruto, mas
sim, terem desobedecido a ordem do Senhor. Vemos então, que o Diabo consegue
atingir em cheio aos nossos primeiros pais. Um outro caso, foi o de Saul, o
primeiro rei de Israel. Após ter entristecido o Espírito do Senhor, este
retirou-se dele e então um espírito maligno passou a atormentá-lo (cf. I Sm
16:14) e chegando algumas vezes a possuí-lo (Cf. I Sm 18:10,11). É mais um
exemplo de demonização. Temos também a história de Jó, o homem na Bíblia que em
minha opinião padeceu da maior opressão espiritual descrita em todo texto
sagrado. Jó foi abordado especificamente por Satanás embora isto tenha
acontecido por uma permissão soberana de Deus. Ele foi tocado em seu corpo,
família, bens, ou seja, em praticamente tudo quanto possuía. Há outras
passagens no Antigo Testamento, onde percebemos outras alusões à opressão
espiritual. O Salmista pede ao Senhor que lançasse luz em suas trevas (cf. Sl
18:28) e em outra ocasião ele pede para que Deus o tire da prisão espiritual
(Cf. Sl 142:7), para que desse graças ao Senhor e conquistasse o respeito dos
justos. Em último lugar, temos também uma passagem em Zacarias 3, onde vemos
Satanás opor-se ao Sumo Sacerdote Josué.
No Novo Testamento, Jesus em uma de suas parábolas alerta aos
seus discípulos, “se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso;
mas se forem maus, o teu corpo ficará em trevas. Repara, pois, que a luz que há
em ti não sejam trevas” (Lc 11:35). O mais preocupante, é que em Judas 6 lemos
a respeito de demônios que estão confinados numa região de trevas (gr.
tartaroo). A Bíblia sempre associa ‘trevas’ com ‘abrigo de demônios’. Será
também que se abrigarmos trevas em nossos corações, automaticamente não
estaríamos dando guarida para que demônios habitem em nós? É uma questão para
se pensar. Paulo parece compartilhar desta idéia, quando disse aos Efésios,
“Nem deis lugar ao Diabo” (4:27). Lugar no grego é topos, que quer dizer,
posição, local, região, quarto, chance. Será que quando o crente peca, não
estaria cedendo áreas em sua vida para que os demônios se alojem? Se sim, até
que ponto iria a profundidade deste alojamento? Seria na medida da intensidade
e extensão de tempo em que peca? É outra coisa para ponderarmos. Pedro parece
ser mais dramático quando escreve aos cristãos dispersos pelo mundo, e lhes
traz um forte alerta, “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar;
resisti-lhe firmes na fé” (I Pe 5:8). A advertência aos crentes é para que
fiquem alertas e atentos, pois o Diabo lhes estaria procurando para devorar.
Este verbo devorar em grego é katapino, que também quer dizer, tragar, ser
afogado, engolido. Esta expressão aparece também na passagem onde Jesus exorta
aos fariseus dizendo, “Guias cegos, que coais o mosquito e engolis (katapino) o
camelo!” (Mt 23:24). Partindo destas observações, também questionamos: O diabo
pode mesmo devorar o crente conforme Pedro está advertindo? A lógica não nos
levaria a crer que o objeto devorado está sujeito ao devorador? Esta então é
mais uma passagem que nos desafia.
Paulo também escrevendo aos Coríntios, instrui-lhes a que não
participassem e nem comessem de comidas sacrificadas aos ídolos e lhes adverte,
“Antes, digo que as cousas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam
e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios” (I Co
10:20). Alguém então, que desobedecesse a ordem paulina, estaria então mantendo
‘sociedades’ com o Diabo. Ainda na sua primeira carta aos Coríntios, Paulo
entrega o corpo de um jovem a Satanás, ‘a fim de que o espírito seja salvo no
dia do Senhor” (5:5) e também em sua segunda carta, escreve sobre a necessidade
de se perdoar este mesmo irmão, ‘para que Satanás não alcance vantagem sobre
nós, pois não lhe ignoramos os desígnios” (2:11). Mais adiante, o apóstolo
também escreve ao seu filho na fé Timóteo, ordenando que se não ordenasse
neófitos espirituais ao episcopado, pois caso contrário, poderiam cair no ‘laço
do diabo’ (I Tm 3:7). Um outro fato interessante e semelhante ao caso de Jó,
foi Paulo ter escrito aos Coríntios dizendo que por permissão divina foi lhe
posto um espinho na carne, um mensageiro de Satanás (2 Co 12:7). Mensageiro no
grego é angelos, ou seja, um anjo; aqui no caso, um anjo de Satanás. O objetivo
de tal provação foi para que Paulo não se engrandecesse com tudo aquilo que
Deus o havia concedido sobrenaturalmente.
Temos ainda no Novo Testamento, o relato de personagens que
experimentaram da graça divina (talvez até da salvação) e ainda assim,
padeceram opressões espirituais. O primeiro caso é o de Pedro. Em Mateus 16,
após ter dito pelo Espírito acerca de quem era Jesus e de ter recebido do
Mestre um elogio por isso, trouxe uma palavra ou um conselho em nada
verdadeiro. Pedro foi instrumentalizado pelo Diabo que quis desviar Cristo do
seu propósito divino de ir até a cruz e levar os pecados de todo o mundo. Veja
o que Pedro disse, “Tem compaixão de ti, Senhor, isso de modo algum te
acontecerá” (v.22). Agora veja a réplica de Jesus, “Arreda, Satanás! Tu és para
mim pedra de tropeço, porque não cogitas das cousas de Deus e sim das dos
homens” (v.23). Este episódio nos ensina que o diabo pode engendrar pensamentos
e sentimentos no coração do homem e até no do cristão, que podem estar
contrapostos à vontade divina para nós. Como disse Mark Bubeck, nosso
adversário espiritual procura impor sua vontade, pensamentos e sentimentos em
nós, se lhe dermos oportunidade para isto. Em segundo lugar, temos o episódio
de Ananias e Safira em Atos 5. Era costume inicial dos cristãos primitivos
venderem suas propriedades e com isto viverem uma vida em comum. Tudo isto se
fazia num contexto de culto ao Senhor. Estes casal, que fazia parte desta
comunidade cristã, imbuídos de uma aparente generosidade foram também levar sua
oferta aos pés dos apóstolos. Mas o Espírito Santo compartilhou com Pedro que a
oferta deles carecia de autenticidade e temor ao Senhor. Eles retiveram parte
do que deveriam entregar. Por isto, Pedro disse a Ananias, “por que encheu
Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do
valor do campo?” (5:3) e mais adiante também falou: “Como, pois, assentaste no
coração este desígnio?” (5:4). Aqui então temos mais um exemplo de Satanás
tentando impor sua vontade sobre os cristãos. No caso anterior de Pedro em
Mateus 16, ele cochichou em seu ouvido e aqui, encheu o coração de um casal. E
finalmente, temos o caso do discípulo Judas. Atualmente as pessoas sempre se
referem a Judas como alguém que sempre pecou e descumpriu os propósitos
divinos. Nada mais longe da verdade. Na minha ótica Judas representa nos nossos
dias qualquer cristão que um dia caminhou e experimentou o poder de Deus, mas
que em determinado momento de sua vida, começou a abrir as guardas para o Diabo
e caiu em desgraça. Judas chegou ao cúmulo de trair o próprio mestre e depois
apercebendo-se do mal que fizera, tirou sua própria vida. Há também muitos
casos de cristãos atualmente que traem a Jesus (quando se afastam do seu
caminho ou então o negam com a vida que levam) e sucumbem em suas vidas
espirituais e em alguns casos, alguns têm chegado ao suicídio assim como Judas.
Não faz muito tempo que escutei falar do suicídio de um pastor
presbiteriano em Recife. Acho que não há coisa mais terrível quando vemos algum
cristão tendo tal comportamento rente à vida. Realmente, o que Judas fez não
deveria ser tão incomum para os nossos dias. Mas se olharmos desde o início
para a trajetória espiritual deste homem nos impressionará. Em Mateus 10, o
vemos sendo escolhido junto com os demais discípulos e recebendo autoridade
sobre os demônios e enfermidades. Judas pregou o evangelho, curou os enfermos e
libertou os cativos de Satanás assim como os outros. Mas Jesus já havia
alertado, “Repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas” (Lc 11:35).
Pois é, se observamos o desdobramento dos fatos, vamos perceber que Judas
começa a ceder lugar ao Diabo. O seu ponto fraco era a ganância financeira. Por
não ter vigiado, teve um final trágico. Mas o processo de dominação satânica é
gradativo. Primeiro o Diabo coloca em seu coração a ideia de trair a Jesus,
“tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que
traísse a Jesus” (cf. João 13:2) e após encontrar um espaço maior ainda, diz o
texto, “E, após o bocado, imediatamente entrou nele Satanás” (cf. João 13:27).
Observe bem, primeiro ele atua externamente, através de uma sugestão e então,
se o campo espiritual e emocional se abrem mais ainda, ele entra na pessoa.
Assim aconteceu com o discípulo Judas.
Talvez eu tenha sido longo demais nas minhas citações de casos
onde vemos clara alusão ao fato do Diabo estar oprimindo alguns cristãos, mas
assim o fiz, objetivando primeiramente rechaçar a idéia da ‘intocabilidade
cristã’. Está tem sido uma interpretação cristã sustentada por muitos teólogos
que às vezes estão profundamente alienados da realidade e intensidade da guerra
na qual estamos envolvidos. Quando Paulo diz que a nossa “luta não é contra o
sangue e a carne e sim contra os principados e potestades” (Ef 6:12), ele
estava querendo que compreendêssemos a violência deste combate nas regiões
celestiais. O mais interessante é o significado da palavra luta no grego, pále,
que serve para designar uma luta corpo a corpo. Não é uma luta à distância como
alguns têm pensado, mas corpo a corpo. É por causa disto, que às vezes acabamos
por nos ferir no fragor desta batalha e por isto precisaremos como disse o
apóstolo, “nos fortalecermos no Senhor e na força do seu poder” (6:10) e nos
revestirmos constantemente de toda armadura de Deus (6:11,13). Mas uma outra
coisa que gostaria de enfatizar e eu acredito que isto ficou claro nos textos
analisados, é que o Diabo só encontrará base para nos atingir através do
pecado. O pecado legaliza biblicamente falando a ação demoníaca em nossas
vidas. Com exceção dos casos onde vemos claramente Deus permitindo o seu toque
em alguns, visando seus sábios propósitos, todo ataque demoníaco se faz porque há
uma base legal que foi dada.
Crentes Podem ficar Endemoninhados?
Um grande questionamento que as pessoas nos fazem é se há
possibilidade do crente ficar endemoninhado. O termo endemoninhado no grego é
diamonizomai, que quer dizer, estar com demônios ou ter demônios. Neste grau de
demonização, os demônios já não estão apenas por fora influenciando, como é no
caso da opressão, mas estão dentro da pessoa. Sendo assim, podem tomar o corpo
e a consciência da vítima quando, por exemplo, são confrontados com o poder de
Deus e se veem obrigados a sair. Nestes casos de incorporação, ou seja, quando
os espíritos se manifestam no corpo da vítima, costumamos chamar isto de
possessão, embora saibamos que tal termo inexiste no grego neotestamentário. A
palavra correta para descrever a invasão (e também a manifestação) de demônios
no Novo Testamento é endemoninha mento e não possessão.
Agora voltamos a nossa pergunta: Pode um crente ser invadido por
demônios ou está somente sujeito à opressão? De antemão, gostaria de dizer que
eu creio na possibilidade de crentes serem invadidos por demônios. Como eu já
disse o domínio satânico sempre é progressivo. Se um cristão vai abrindo portas
e mais portas para o pecado, pode ser que um dia o Diabo não veja mais
empecilho para invadir sua vida. Mas este processo não é imediato, leva tempo e
em muitos casos, o endemoninha mento não chega a acontecer.
Se você analisar com o seu coração aberto todas as referências
bíblicas que citei anteriormente verá margem para acreditar na possibilidade de
crentes tornarem-se endemoninhados. Tenho pesquisado também várias outras
literaturas que abordam o problema do endemoninha mento e parece haver quase
uma concordância universal entre os autores cristãos acerca de tal
possibilidade. Mas é bom lembrar que estes autores citados estão envolvidos
diretamente com o ministério de libertação; ou seja, não são apenas teóricos.
O campo prático tende a ser um laboratório onde iremos comprovar
ou não as nossas teorias. Não estou querendo dizer que a Bíblia se interpreta a
partir de uma via pragmática, mas que, em algumas vezes, nossas interpretações
podem não estar de acordo com aquilo que Deus quis dizer em alguns textos. A
Palavra de Deus nunca se chocará com verdades factuais consistentes. Deixe-me
dar alguns exemplos para melhor elucidar o que estou querendo dizer. Alguém que
queira emitir um parecer sobre como é o ministério pastoral, sua prática,
modos, ética, formas erradas e certas de proceder, como fazer uma igreja
crescer, etc., terá além de buscar todo embasamento bíblico possível, colocar
em prática o que pesquisou e estudou, para ver se realmente sua hermenêutica
bíblica está correta ou se ela contraria a experiência vivencial. Quantas vezes
já ouvi pessoas que estão fora do pastorado querendo ‘ensinar o pastor como
deve pastorear’ e depois quando se depararam com a atividade do pastoreio
passaram a perceber que a prática é bem diferente do que ensinavam. Igualmente,
ensinar sobre casamento, relação conjugal, além de se ler todas as passagens
bíblicas que falam sobre o assunto e ler todos os livros disponíveis no
mercado, é preciso também que se tenha a experiência do casamento. Falar também
do cristianismo apenas como um teórico, sem ter experimentado a graça do
evangelho através de Cristo Jesus, é produzir um discurso fadado ao descrédito.
De igual forma, falar de libertação espiritual, sem estar envolvido com a
prática de libertar pessoas dos demônios, é perigoso, pois novamente pode se
incorrer no erro de produzir um discurso teórico pouco conectado à realidade
prática. A própria Filosofia faz uma distinção acentuada entre ‘falar sobre’ e
‘falar desde’. Aquele que só teoriza acerca de algo, sem importar-se com o
aspecto prático de que ensina, fala sobre, ou seja, fala de fora da coisa que
analisa. Mas falar desde é falar de dentro, isto é, experimentando o que se
diz. Em suma, o que quero advogar é a necessidade que temos de difundir uma
teologia prática, um ensino que está alicerçado substancialmente na Bíblia, mas
que ao mesmo tempo pode comprovar-se na prática, através da experiência cristã.
Concordo com Peter C. Wagner quando ele diz que “as melhores teorias são
aquelas que funcionam”.
Com isso, estou querendo dizer que a maioria daqueles que estão
envolvidos com o ministério de libertação em todo o mundo percebem que o
endemoninha mento de crentes é uma possibilidade. Veja por exemplo, o
comentário que o Dr. Ed Murphy, vice –presidente e diretor da International
Ministry Team da Overseas Crusades, faz a respeito disto:
“ Acredito que seria acurado afirmarmos que qualquer indivíduo,
em qualquer lugar do mundo, que realmente esteja envolvido em um ministério que
ajude a libertar os demonizados, concordará que crentes verdadeiros podem ser
demonizados. Somente aqueles que não estão ativamente envolvidos em tal
ministério é que advogam a opinião contrária”
O Dr. Kurt Kock, teólogo alemão, considerado o maior estudioso
da demonologia em toda Europa, também esta de acordo com a opinião de Murphy,
quando diz:
“Soube que um missionário de um campo africano foi mandado de
volta ao seu país pelo fato de crer na possessão de crentes. Doutra feita,
deparei na África com um missionário, o qual esteve, ele mesmo, possesso por
dezoito meses. Ele também havia negado a possibilidade da possessão de crentes.
Por causa de sua própria experiência mudou de opinião e de posição teológica.
Foram também muito significativos para mim os meus diversos encontros com o Dr.
Edman, o antigo diretor da faculdade Wheaton College, dos Estados Unidos.
Contou-me exemplos de sua antiga atividade missionária na América do Sul. Ele
também estava convencido de que crentes podem se tornar possessos. Além disso,
foi bastante esclarecedora para mim a opinião do Dr. Evans, que já deve ter
seus 90 anos, se é que ainda está vivo. Vi-o, pela última vez, em 1962. Esta já
idosa testemunha de Deus foi fruto do despertamento de Gales. Ele também
defende a opinião de que crentes desobedientes podem tornar-se possessos. Eu
mesmo, em minhas inúmeras viagens missionárias, tenho vários casos que parecem
apoiar essa ideia. (…) Uma coisa que tive oportunidade de observar é que quem
defende dogmaticamente a doutrina de que é impossível que crentes se tornem
possessos, geralmente não tem experiência com casos de possessão. Quem trabalha
em campos missionários onde abundam os possessos, geralmente concorda com a
opinião do Dr. Edman, do Dr. Evans e de outros missionários. O missionário, que
antes defendia a doutrina rígida de que crentes não ficam possessos, afirmou
depois do seu próprio período de possessão: ‘Deus me ensinou uma lição e me
curou do meu dogmatismo’”
Os testemunhos de Murphy e Koch concordam com milhares de outros
espalhados em várias partes do mundo, por pessoas que estão lidando com casos
de libertação. É interessante também a forma como os reformadores protestantes
veem o ataque do Diabo contra os crentes. Embora não abordem diretamente a
possibilidade de crentes ficarem endemoninhados, veremos que a ideia da
‘intocabilidade cristã’ não está presente nos seus comentários. Veja o que diz
Lutero:
“Pois, visto o diabo não ser apenas mentiroso, senão ainda
homicida, também atenta, ininterruptamente, contra a nossa vida e desafoga a
sua danação onde nos pode infligir acidentes e danos corporais. Vem daí que a
muitos quebra o pescoço ou os leva à insanidade, a alguns afoga em água e a
muitos impele ao suicídio e a muitos outros casos horríveis. Por isso não temos
outra coisa que fazer na terra senão rezar incessantemente contra esse inimigo
principal. Pois se Deus não nos protegesse, nem por uma hora estaríamos em
segurança contra o diabo”
E agora Calvino falando da intensidade da nossa guerra,
“Tudo quanto a Escritura nos ensina sobre os seres diabólicos,
vem parar nisto: que tenhamos cuidado para guardar-nos de suas astúcias e
maquinações, e para que nos armemos com armas tais que bastem para fazer fugir
a inimigos tão poderosos (…) Assim, pois, temos de concluir de tudo isto que
devemos estar de sobre aviso, já que continuamente temos um inimigo nos
ameaçando, e um inimigo mui atrevido, robusto em forças, astuto em enganos, que
nunca se cansa de perseguir seus propósitos, está munido de quantas coisas são
necessárias para a guerra, mui experimentado na arte militar; e não consintamos
que a preguiça e o descuido se assenhorem de nós, senão, pelo contrário, com
bom animo estejamos prontos para resistir-lhe (…) por isso afirmo que os fieis
nunca jamais podem ser vencidos nem oprimidos por ele. É verdade que muitas
vezes desmaiam, mais não se desanimam de tal maneira que não voltem a si; caem
pela força dos golpes, mas não com feridas mortais. Finalmente, lutam de tal
maneira durante sua vida, que ao final conquistam a vitória” .
Se fizermos também uma análise dos primeiros anos da igreja,
veremos que os pais apostólicos criam na possibilidade de cristãos convertidos
terem ainda resquícios de demônios. Mesmo após a conversão alguns demônios
poderiam persistir em ficar na pessoa, por isso, adotou-se a prática do
exorcismo como parte da preparação para o batismo. Veja o comentário que E.
Glenn Hinson faz acerca disto,
“Quando uma pessoa se tornava cristã, deveria quebrar o jugo dos
espíritos e não deixar nenhum vestígio do controle deles, para que ela pudesse
se submeter totalmente a Cristo e participar em seu reino. O jugo de Satanás
era tão firme sobre os mágicos, por exemplo, que no terceiro século, o
cismático bispo Hipólito, de Roma, não permitia sequer que eles recebessem
instruções preliminares. No geral, entretanto, a igreja aceitava todos que
quisessem mudar seus hábitos e ocupações, certa que Cristo poderia
verdadeiramente transformar a vida deles. (…) Mas, uma vez que a igreja
aceitava um dos escravos de Satanás, investia com toda a sua força para
liberta-los dos espíritos. (…)Então, recebiam Instrução diária e exorcismos até
serem batizados. Os exorcismos eram importantes porque expulsavam as hostes
satânicas que oprimiam os catecúmenos até que o Espírito Santo os libertasse de
uma vez por todas. Na quinta-feira antes do batismo, no domingo de páscoa, os
catecúmenos passavam por uma lavagem e purificação preparatória. Na sexta-feira
e no sábado, jejuavam. Ainda no sábado, havia um último exorcismo; o bispo
fazia um selo com o sinal da cruz e, então, se iniciava uma vigília que durava
a noite inteira”
Acredito que estes comentários e citações bíblicas, são suficientes
para alertar-nos sobre a possibilidade de cristãos poderem estar debaixo do
jugo satânico.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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