O CORDEIRO E A
NOIVA...
A figura do casamento é usada frequentemente nas Escrituras para
representar a relação entre Deus e seu povo. No Velho Testamento, Deus é o
marido e o povo de Israel, a mulher. No Novo Testamento, Cristo é o noivo e a
igreja, a noiva. Ao compreender a riqueza desse símbolo, daremos mais
importância à obediência no dia-a-dia.
A linguagem figurada de Ezequiel descreve o casamento de Israel
com Deus:
Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era
tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua nudez;
dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz o Senhor Deus; e passaste a
ser minha. Então, te lavei com água, e te enxuguei do teu sangue, e te ungi com
óleo. Também te vesti de roupas bordadas, e te calcei com couro da melhor
qualidade, e te cingi de linho fino, e te cobri de seda. Também te adornei com
enfeites e te pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu pescoço. Coloquei-te
um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas e linda coroa na cabeça. Assim,
foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e de
bordados; nutriste-te de flor de farinha, de mel e azeite; eras formosa em
extremo e chegaste a ser rainha. Correu a tua fama entre as nações, por causa
da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em
ti, diz o Senhor Deus. (Ezequiel 16:8-14)
O mesmo simbolismo aparece em várias passagens no Novo
Testamento, incluindo na carta de Paulo aos efésios:
Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a
si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por
meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem
defeito....Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.
(Efésios 5:25-27,32)
Costumes de Casamento na Época da Bíblia
Antes de examinar alguns outros trechos bíblicos, observemos
algumas informações históricas sobre costumes de casamento nos tempos bíblicos.
O processo do casamento envolvia várias etapas, incluindo:
O Desposório. O primeiro passo oficial ao casamento foi um
compromisso assumido pelo casal (muitas vezes arranjado pelos pais) em que se
prometeram um ao outro. Assim Maria foi desposada com José (Mateus 1:18).
Presentes foram dados à noiva e à sua família pelo noivo ou sua
família (veja Gênesis 24:52-53). Esta prática é semelhante ao pagamento do dote
em alguns países até os dias de hoje. Jacó serviu seu sogro durante sete anos
para poder casar-se com Raquel (Gênesis 29:18-20).
Um Intervalo de Espera antecedeu o casamento. Durante este
tempo, era importantíssimo manter a pureza e que a noiva se preparasse para o
seu noivo. Caso contrário, poderiam romper o relacionamento sem completar o
processo do casamento (veja Mateus 1:18-19).
As Bodas ou Banquete Nupcial começava quando o noivo chegou à
casa da noiva para levá-la para sua casa. A noiva esperava a chegada dele, usando
roupas e joias especiais, e era acompanhada pelas donzelas e por outros
convidados. A festa das bodas tipicamente durava uma semana (veja Gênesis
29:21-23,27; Juízes 14:17; Mateus 25:1-13). A partir das bodas, os dois, agora
uma só carne, morariam juntos.
Consideremos essas etapas em relação ao simbolismo bíblico.
O Casamento de Cristo e a Igreja
Podemos relacionar a linguagem bíblica com as fases do casamento
citadas acima. Jesus veio ao mundo e fez grandes promessas ao povo. Nós,
também, prometemos ser fiéis a ele quando nos convertemos ao Senhor. Dessa
forma, tanto Cristo como o povo dele assumem o compromisso do desposório.
Da mesma forma que o noivo dava coisas de valor à noiva e à
família dela, Jesus pagou um valor altíssimo para casar-se com a igreja. Ele
comprou a igreja com o seu próprio sangue (Atos 20:28). “Cristo amou a igreja e
a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25).
A nossa situação atual bem se descreve como um intervalo de
espera. Mesmo se já tenhamos entrado em comunhão com o Senhor, ainda não fomos
levados à habitação eterna na presença dele. Por esse motivo, diversos trechos
no Novo Testamento enfatizam a necessidade de nos preparar para a vinda do
noivo. Jesus quer voltar e encontrar a sua noiva “gloriosa, sem mácula, nem ruga,
nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5:27). Ele se
sacrificou para santificar e purificar a igreja (Efésios 5:26), e quer que os
seus discípulos se mantenham santificados (João 17:17,19). Se ele nos achar
infiéis, não nos levará às bodas, nem ao lar eterno com ele.
Ainda esperamos a chegada do noivo para nos levar ao banquete
nupcial. João, um dos apóstolos de Jesus, confortou os cristãos primitivos em
um período de perseguição com a esperança de participarem do casamento do
Cordeiro:
Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são
chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe
foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho
finíssimo são os atos de justiça dos santos. Então, me falou o anjo: Escreve:
Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro.
(Apocalipse 19:7-9)
Ele falou da noiva preparada e da esperança de morar eternamente
com Deus, o perfeito marido:
Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu,
da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi
grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens.
Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.
(Apocalipse 21:2-3)
Como a noiva esperando a chegada do noivo, a igreja hoje aguarda
a vinda de Jesus. Ele levará os fiéis às bodas, e depois habitará com sua
esposa para sempre.
A Noiva Adornada para o Seu Esposo
Todo o simbolismo do casamento do Cordeiro com a igreja
apresenta um belo conto romântico, mas há muito mais nessa história. As
Escrituras servem para nos habilitar “para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).
Toda essa história de uma noiva esperando a chegada do noivo serve, também,
para nos instruir. A ênfase de textos como Ezequiel 16 e Efésios 5 está no
adorno da noiva. Consideremos algumas mensagens importantes:
A beleza da noiva vem do noivo! Não é assim nos casamentos
humanos que nós conhecemos. A noiva escolhe o vestido, arruma os cabelos e faz
tudo para chegar à cerimônia adornada para agradar o noivo. Mas toda a beleza
da noiva de Ezequiel 16:1-14 veio do marido. Deus encontrou Israel como uma
menina recém-nascida abandonada pelos próprios pais. Ele cuidou dessa menina
durante anos e, quando ela cresceu, casou-se com ela. Ele a lavou, e a vestiu
com as melhores roupas. Colocou nela enfeites e joias finas. Deu-lhe os
melhores alimentos, e ela se tornou absolutamente linda. Deus disse “...pois
era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti” (Ezequiel 16:14).
Esse fato é fundamental na doutrina bíblica da salvação pela graça. A beleza da
noiva depende do noivo. Leia, de novo, Efésios 5:25-27. A beleza da igreja vem
de Cristo. Ele se entregou para santificar e lavar a igreja, “para a apresentar
a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém
santa e sem defeito” (Efésios 5:27).
Jesus quer uma igreja composta de pessoas santas. Numa cerimônia
de casamento, o momento mais especial é a entrada da noiva. O noivo espera ver
a sua noiva resplandecente entrar para fazer um pacto solene com ele. Imagine a
noiva entrando usando um vestido sujo e rasgado, com seus cabelos totalmente
desarrumados, e com lama no rosto. O noivo, provavelmente, sairia correndo! E
se Jesus voltar e encontrar a sua noiva suja e usando roupas rasgadas e
manchadas? Ele quer um povo santo (1 Pedro 1:13-16) que demonstra a sua
santidade no seu proceder no dia-a-dia (1 Pedro 2:11-23).
Nem todas as igrejas agem como uma noiva pura. Considere as
igrejas da Ásia. A congregação em Éfeso não aceitava homens maus e mentirosos,
mas abandonou o seu primeiro amor e caiu (Apocalipse 2:2-5). Em Pérgamo, a
igreja conservava o nome do Senhor e não negou a fé, mas tolerava os que
ensinavam falsas doutrinas (Apocalipse 2:13-15). A igreja de Tiatira era
dedicada e ativa em obras, mas tolerava a falsa profetisa, Jezabel (Apocalipse
2:19-20). Em Sardes, a igreja tinha uma reputação de ser viva, mas estava morta
(Apocalipse 3:1-4). A congregação de Laodicéia tornou-se morna (Apocalipse
3:15-19). O livro de Apocalipse contém cartas aos anjos de sete igrejas. E se
tivesse mais uma: “Ao anjo da igreja em _______” [coloque aqui o lugar onde
você congrega], o que diria esta carta? Jesus elogiaria a fidelidade e dedicação
da igreja, ou teria uma lista de queixas? Coletivamente, a congregação prega e
pratica a verdade? Louva a Deus conforme a palavra dele? Rejeita doutrinas
falsas? É uma igreja “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e
sem defeito”? Antes de dar uma resposta definitiva, lembre-se de que a igreja é
composta de pessoas. Individualmente, falamos e vivemos conforme a verdade?
Somos seguidores de Cristo ou seguidores do mundo? Buscamos a prosperidade
espiritual ou material? Usamos a palavra de Deus como espelho para corrigir as
nossas vidas, ou imitamos o mundo? Somos santos, como Deus é santo?
“Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do
Cordeiro... São estas as verdadeiras palavras de Deus” (Apocalipse 19:9).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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