AUTORIDADE EM O NOME DE JESUS CRISTO
A Bíblia fala de autoridade espiritual primeiramente apontando para o senhorio de Deus. Somente Deus é quem possui autoridade absoluta sobre todas as coisas. Ele é a própria fonte da autoridade, de modo que qualquer autoridade exercida por suas criaturas é derivada dele e subordinada a Ele.
Então qualquer conceito de autoridade espiritual inerente à própria criatura é equivocado. No Novo Testamento a palavra básica para autoridade é o grego exousia que transmite o significado de poder, direito legítimo e liberdade para agir, controlar, possuir e usar. Há também a aplicação da palavra dynamis, mas seu significado denota especialmente habilidade ou força física.
Nenhuma palavra hebraica semelhante ao grego exousia é usada no Antigo Testamento com relação à autoridade divina. Mas isso não significa que a autoridade de Deus não é anunciada no Antigo Testamento. Muito pelo contrário! A autoridade de Deus como Senhor Soberano de todo universo é claramente ensinada. Ele é o Juiz de toda a terra (Gênesis 18:25; cf. Salmos 66:7; Daniel 4:17; etc.).
A autoridade delegada por Deus
Em certa medida Deus exerce sua autoridade por intermédio de suas criaturas. Nos tempos do Antigo Testamento, por exemplo, Deus levantou e estabeleceu líderes sobre seu povo. Então Ele exercia Sua autoridade na nação de Israel através dos sacerdotes, reis, juízes, anciãos e profetas. Essas pessoas eram capacitadas pelo Espírito Santo de Deus e com sabedoria deviam liderar os israelitas de acordo com a vontade divina. Por serem representantes de Deus diante do povo, esperava-se que essas pessoas fossem respeitadas.
A autoridade de Deus no governo civil dos homens não estava somente limitada ao povo da Aliança. O profeta Daniel diz que Deus muda as épocas e as estações; Ele estabelece e destrona reis (Daniel 2:21).
No Novo Testamento o apóstolo Paulo aprofunda esse conceito. Ele chama os governadores civis do Império Romano de exousiai, e explica que eles eram autoridades a serviço de Deus para promover a justiça punindo os malfeitores (Romanos 13:1-7). Isso significa que os cristãos devem se sujeitar às autoridades civis (Tito 3:1; 1 Pedro 3:13-17); mas claro, desde que elas não exijam algo incompatível com os mandamentos de Deus (Atos 4:19; 5:29).
Dentro da unidade familiar Deus também delegou Sua autoridade. Os homens foram chamados para exercerem a liderança sobre o lar, e as mulheres para serem suas adjutoras (1 Coríntios 11:3; Efésios 5:22,23; 1 Timóteo 2:12; 1 Pedro 3:1-16). Dessa forma os filhos também devem se sujeitar a autoridade dos pais (Efésios 6:1-3; Colossenses 3:20; 1 Timóteo 3:4-12).
A autoridade espiritual exercida pelos anjos também é derivada da autoridade de Deus (cf. Efésios 1:21). Por exemplo: quando Satanás confrontou o arcanjo Miguel, o líder do exército do Senhor deixou claro que não tinha qualquer autoridade espiritual de si mesmo, e apelou para a autoridade divina (Judas 9).
Mesmo a autoridade espiritual de Satanás e de seus demônios não existe à parte da autoridade de Deus. Satanás é um usurpador que se opõem a Deus e ao Seu povo. Porém, ele só possui a autoridade que lhe foi entregue; ele só age dentro dos limites permitidos por Deus (Lucas 4:6; cf. Jó 1:12; Apocalipse 2:10; 13:5-15).
A autoridade espiritual na Igreja
Jesus declarou que lhe foi dado todo o poder no céu e na terra e delegou autoridade para que seus discípulos pudessem cumprir a grande comissão. Então todo cristão verdadeiro possui autoridade espiritual dada por Cristo para anunciar o Evangelho e trabalhar eficazmente em prol do Reino de Deus (Mateus 28:18-20). Portanto, mediante a obra redentora de Cristo todos os crentes são sacerdotes reais que proclamam as grandezas de Deus (1 Pedro 2:9; Apocalipse 5:10).
Também é verdade que Deus designou algumas pessoas para servirem como líderes de sua Igreja na terra. Primeiramente ele estabeleceu o colégio apostólico. Os apóstolos eram testemunhas comissionadas pessoalmente pelo próprio Cristo para serem seus representantes.
Por isso eles receberam autoridade espiritual singular para lançar os fundamentos da Igreja e regular sua doutrina (cf. Mateus 16:18,19; Efésios 2:20). Essa autoridade espiritual apostólica ficou restrita apenas aos doze apóstolos e a Paulo, e nesse sentido eles não tiveram substitutos.
Além disso, pelo poder do Espírito Santo alguns apóstolos e pessoas como Lucas, Tiago, Judas e o escritor de Hebreus, produziram Escritura que deve ser recebida por todos os crentes como Palavra de Deus infalível, inerrante e autoritativa (cf. 1 Coríntios 2:9-13; 5:4; 14:37; 2 Coríntios 10:8; 13:10; Gálatas 2:7; 2 Tessalonicenses 2:13; 3:6; 1 Timóteo 3:16; 5:18; 2 Pedro 3:15-17; etc.).
Mas para a sequência da história da Igreja na terra, o Senhor também tem designado pessoas para exercerem ofícios de liderança. Essas pessoas recebem autoridade espiritual da parte de Deus para prezar pela conduta e organização de Seu povo à luz de Seus mandamentos revelados nas Escrituras. Desde seus primeiros anos a Igreja Cristã tem contato com a liderança local de pessoas chamadas por Deus ao exercício do ministério (cf. Atos 14:23; 20:28; Efésios 4:11; 1 Tessalonicenses 5:12; Tito 1:5-7; etc.).
Infelizmente tem se tornado cada vez mais comum a distorção do conceito bíblico de autoridade espiritual. Falsos líderes reivindicam uma suposta autoridade espiritual que lhes confere o direito de dominar sobre os crentes.
Em certas comunidades os fieis chegam ao ponto de depender da aprovação desses líderes aproveitadores para toda tomada de decisão em suas vidas diárias. Além disso, qualquer pessoa que se levanta para confrontar suas práticas, rapidamente esses líderes as amaldiçoam alegando que elas estão se levantando contra a autoridade espiritual.
Na verdade esses falsos líderes defendem um tipo de autoridade espiritual interior que chega ao ponto de colocar Deus na figura de um servo pronto a atender os caprichos que eles “decretam” e “determinam”. Mas é claro que isso está errado! O que acontece é que essas pessoas tentam usurpar a autoridade de Deus.
Mas veja o que o apóstolo Pedro escreve aos verdadeiros líderes das comunidades cristãs: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1 Pedro 5:2,3). Além disso, todos os líderes estão subordinados ao Supremo Pastor (1 Pedro 5:4).
Os líderes cristãos jamais devem ser vistos como pessoas que experimentam um contado superior com Deus; jamais devem ser vistos como super-crentes intocáveis e perfeitos; bem como a autoridade espiritual que possuem nunca deve ser confundida com um tipo de poder místico que pode abençoar ou amaldiçoar alguém.
Os líderes instituídos por Deus à Igreja são simplesmente tutores locais que com bom exemplo devem guiar e cuidar do rebanho do Senhor na terra através do ensino genuíno das Escrituras e de sua aplicação na vida prática cristã. Então a congregação deve respeitar e reconhecer a autoridade espiritual que Deus confiou a essas pessoas, valorizando a exposição das Escrituras através delas e orando ao Senhor para que Ele lhes conceda sabedoria no pastoreio de Seu povo (Hebreus 13:17).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante