Texto Básico: Mateus 7.24-27
No Brasil, cresce cada vez mais aqueles que se dizem cristãos evangélicos. Mais e mais, vemos profissões de fé se realizarem, supostas conversões ocorrerem, até mesmo dentre artistas e pessoas públicas. No entanto, apesar do crescente número de pessoas que afirmam ser crentes no Senhor Jesus, notamos que pouca coisa tem mudado em nossa sociedade.
Isso deve nos fazer pensar. Basta professar a fé em Cristo Jesus? Ser um frequentador de culto evangélico, ouvir de Cristo e de sua Palavra? Isso resolve, faz alguma diferença? O que está faltando?
Jesus, ao final do Sermão do Monte, adverte seus ouvintes quanto a uma fé nominal. Para Jesus, não basta apenas professar a fé nele, ouvir suas palavras. É preciso, acima de tudo, que seus ouvintes sejam praticantes de sua Palavra, para que tenham sucesso na vida cristã. O cristão genuíno tem sua vida edificada sobre a prática da Palavra de Deus. O cristão nominal, porém, ignora isso e consequentemente arruinará sua vida.
I. UMA PARÁBOLA SOBRE CONSTRUTORES
O Senhor Jesus, por diversas vezes, ao apresentar seus ensinamentos, fez uso de parábolas. Algumas vezes seu objetivo foi manter escondidas as verdades que, em particular, pretendia transmitir apenas a seus discípulos (Mt 13.10-16). Outras vezes, a parábola foi direcionada a todos os seus ouvintes, com o fim de elucidar e tornar práticos seus ensinamentos; como foi o caso da parábola dos construtores. As parábolas são ilustrações tiradas de situações do cotidiano dos ouvintes.
1. Que expressões de Mateus 13.10-16 demonstram que Jesus, naquele momento, desejava revelar a verdade somente a seus discípulos?
Ao final do Sermão do Monte, Jesus comparou seus ouvintes a dois tipos de construtores. Não há um terceiro tipo ou um intermediário. Assim, não há um terceiro tipo de ouvintes. Eles são prudentes ou insensatos. Ou são ouvintes que praticam suas palavras ou ouvintes negligentes, que ouvem e não praticam. Jesus está sempre dividindo seus ouvintes em duas classes. Nesse sermão, ele fez isso algumas vezes. Por exemplo, em 7.13-14, ele fala das duas portas, a estreita e a larga. Há os que entram por uma e os que entram por outra. Em 7.17-18, o Senhor fala da árvore boa, que dá bom fruto, e da árvore má, que dá fruto ruim. Assim ocorre em outras passagens (Mt 10.39; 13.12-16,19-30,36-43,47-50).
2. Como os textos de Mateus 10.39; 13.12-16,19-23, 24-30,36-43 e 47-50 apresentam as duas classes de ouvintes?
Jesus conclui seu sermão com a parábola dos construtores, demonstrando a importância e gravidade de seus ensinamentos. Ele não está brincando. Seus ouvintes precisavam saber da seriedade do que ensinava. Se colocassem em prática seus ensinamentos, seriam bem-sucedidos. Caso contrário, sofreriam as consequências de negligenciar seus ensinamentos. Primariamente, essas palavras se aplicam ao Sermão do Monte, mas não somente a ele. De maneira ampla, elas se aplicam a toda Palavra de Deus, contida nas Escrituras. Desse modo, nenhum ensinamento bíblico pode ser negligenciado.
Para Jesus, viver é como construir ou edificar casas. Aquilo que fazemos, falamos, pensamos, planejamos, executamos e cada obra que realizamos é, por assim dizer, um tijolo que assentamos em nossa construção. Cada um deve considerar a maneira como edifica sua vida, pois, o sucesso na vida cristã dependerá do modo como ela é edificada. Tudo o que fazemos encontra-se em conformidade ou em oposição ao ensino de Cristo. Percebemos então que somos responsáveis pelas nossas ações, sendo que cada uma delas será provada.
II. SEMELHANÇAS ENTRE OS DOIS CONSTRUTORES
Embora fique demonstrado que os dois construtores se distinguem basicamente na escolha do solo em que alicerçam suas casas, no entanto, há algumas semelhanças entre eles.
A. Semelhança no tipo de casa que constroem
Na época de Jesus, as casas eram bastante frágeis, devido ao tipo de material utilizado. As paredes eram facilmente atravessadas por ladrões (Mt 6.19). O teto, geralmente feito de barro e palha, podia facilmente ser aberto. Os quatro amigos do paralítico abriram um buraco no teto da casa onde Jesus estava, para que o homem tivesse a chance de ser curado (Mc 2.4). Portanto, no caso dos dois construtores, suas casas eram semelhantes na maneira como foram construídas. A técnica para a construção foi a mesma, bem como o material utilizado. Jesus não destaca a diferença entre o tipo de material ou a arquitetura. Não são nessas coisas que os dois construtores se diferenciam, sendo um chamado prudente, e o outro, insensato.
B. Semelhança quanto ao local escolhido para a construção
Aí também não há diferenças entre eles, pois ambos constroem próximo ao leito seco de um rio. Enquanto a estação das chuvas não vem, ambas as casas permanecem sem sofrer risco algum. As coisas mudam quando chegam as chuvas, quando aquele leito de rio seco se transforma em um rio com fortes correntezas. Só então, a diferença entre os dois construtores é colocada em relevo.
C. Semelhança quanto às circunstâncias enfrentadas
Ambas as construções estarão sujeitas às mesmas circunstâncias climáticas. Em certas áreas da Palestina, as tempestades não são frequentes, no entanto, elas podem vir repentinamente e transformar drasticamente a paisagem. Ambas as casas sofrerão com as tempestades. Os ventos baterão com força contra suas paredes. A chuva fará com que os rios transbordem e coloquem em perigo a ambas. Não há diferença entre esses dois construtores, quanto às circunstâncias que haverão de enfrentar, pois, segundo o texto, as construções de ambos sofrerão os ataques das tempestades.
As tempestades são figuras das provas que todos nós enfrentamos. As provas podem chegar de várias maneiras, tais como tribulação (exemplo de Jó; Sl 46); tentação (Gn 39.7-18; Mt 26.69-75); luto na família (Jó 1.18-22; Lc 7.11-17; Jo 11.1-46); morte que se aproxima (At 7.59, 60), como também, conforme o contexto de nossa passagem, o dia do juízo (Mt 7.22). São diversas as circunstâncias que servem para nos provar. Para que serve, ou que diferença faz, uma fé que ainda não foi provada? Em outras palavras, é diante das provações que o valor de nossa fé é testado e aprovado (Gn 22.1-19; Rm 5.1-5; Tg 1.2-4). É na provação que a diferença entre os ouvintes de Jesus é realçada. As provações vêm sobre todos – ouvintes prudentes ou insensatos. Mas é diante delas que se sabe quem é quem.
3. Qual é o resultado do crente passar por tribulações, segundo Romanos 5.1-5?
III. A DIFERENÇA ENTRE OS DOIS CONSTRUTORES
Jesus demonstra que a diferença entre os dois construtores está em como lançam os alicerces de suas casas. O construtor prudente lança o alicerce de sua casa sobre a rocha, enquanto o construtor insensato lança-o sobre a areia.
A. O construtor prudente
O construtor prudente sabe que, no futuro, aquele leito de rio seco poderá, com a chegada de uma tempestade, transformar-se em um rio com forte correnteza.
Por isso ele é prudente, lançando o alicerce de sua casa num local que ofereça segurança. Conforme o registro de Lucas, o construtor prudente “abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha”. Como resultado de sua prudência, em vindo a forte tempestade, a sua casa permanece em pé.
Alicerçar a casa sobre a rocha significa, conforme diz Jesus, ouvir e praticar a sua Palavra. Notem que não existe diferença entre os ouvintes de Jesus, até que cheguem as tempestades e as provas da vida. Não há como distinguir entre o cristão professo genuíno do cristão professo falso, pois, frequentemente se parecem. O joio se parece com o trigo, até que chegue a colheita. A árvore boa é distinguida da ruim, quando chega a época de dar frutos. Distinguir um cristão de um não cristão é mais fácil, mas distinguir um cristão verdadeiro do falso é muito mais difícil. Chegando as provas da vida, porém, fica evidente quem construiu sua casa sobre a rocha. As tempestades colocam em descoberto os alicerces. Quem ouve e pratica as palavras de Jesus, em chegando as lutas e tribulações, permanece com sua vida inabalada, firme e segura.
As palavras que procedem da boca de Cristo (ou seja, as Escrituras em sua totalidade) quando praticadas, constituem-se um firme alicerce sobre o qual podemos edificar nossa vida. O sucesso na vida cristã depende disso. É claro que, com isso, Jesus não está dizendo que o sucesso na vida cristã dependa de nosso esforço. Definitivamente não. O sucesso depende de praticarmos sua Palavra. A capacidade para o sucesso na vida cristã tem seu fundamento no próprio Jesus. Ele é a rocha e sua Palavra também é rocha para nossa vida (1Pe 2.4-6).
4. Como podemos relacionar o texto de Mateus 7.24-27 com 1Pe 2.4-6?
Nas dificuldades e desafios que enfrentamos na vida cristã, seja no âmbito familiar, da igreja ou em qualquer outra área, a Palavra de Cristo, se praticada, nos dará sustentação. Jesus não disse que os ouvintes praticantes de sua Palavra não teriam problemas, mas disse que eles permaneceriam firmes.
Josué recebeu a incumbência de conduzir o povo de Israel à terra prometida. O Senhor disse que ele seria bem-sucedido em sua tarefa, se não se desviasse nem para a direita nem para a esquerda, mas se fizesse tudo o que a lei de Deus ordenava. Ele deveria falar, meditar dia e noite e fazer tudo o que estava ordenado na lei de Deus (Js 1.1-9).
Segundo o salmo 1, o homem bem-aventurado é bem-sucedido, pois é governado pela Palavra de Deus. Sua vida não é dirigida pelos padrões mundanos, antes é orientado pelos padrões divinos.
Segundo os Salmos 127 e 128, o sucesso na vida familiar é determinado, não pelas posses, realização profissional ou ausência de dificuldades, mas pela confiança e pelo temor de Deus. Isto implica ouvir e praticar toda palavra de Cristo Jesus.
5. Como é abençoado o homem que teme ao Senhor, segundo Salmos 128?
Paulo advertiu Timóteo de que ele seria bem-sucedido em seu ministério pastoral, se permanece nos ensinamentos bíblicos que havia aprendido desde a infância. Em outras palavras, se em cada aspecto de sua vida praticasse a palavra de Cristo, ele seria abençoado (2Tm 3.14-17).
Aqueles que edificam sua vida sobre a rocha, não só são bem-sucedidos, mesmo nas provações, mas ainda e definitivamente na última prova, a do juízo final (cf. Mt 7.22-23 “naquele dia”). “Naquele dia”, aqueles que praticam a palavra de Cristo receberão o convite: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34).
6. Tomando por base o texto de Mateus 7.22-23, podemos dizer que todos os que realizam milagres e profetizam em nome de Deus são verdadeiramente filhos do Pai? Por quê?
B. O construtor insensato
O construtor insensato é diferente do prudente, pois não pensa no futuro. Embora construa sua casa como o outro, utilizando-se dos mesmos materiais, e construindo sua casa perto do curso de um rio seco, ele não toma providências para que sua casa permaneça segura, livre de desmoronamento. Ao contrário, o insensato constrói sua casa sobre a areia. Ele não tem o cuidado de cavar até encontrar um solo rochoso, para edificá-la. Enquanto o dia permanece calmo e o tempo estável, sua casa permanece segura. Mas vindo repentinamente as tempestades, transformando-se o curso seco do rio em forte correnteza, batendo-se os ventos e a chuva, bem como as águas contra sua casa, ela vem a ruir, pois foi edificada sobre a areia. Esse construtor é comparado àquele que ouve as palavras de Cristo e não as pratica.
Jesus demonstra que não basta ouvir sua Palavra, é preciso praticá-la. Diante das provações que virão – e elas chegam, tanto para o ouvinte prudente, como para o insensato –, ouvir as palavras de Cristo e não praticá-las é loucura, insensatez, falta de prudência. O nominalismo cristão é um grande mal. Professar a fé em Cristo, pertencer nominalmente a uma igreja, mas não se comprometer com a prática da Palavra de Deus conduz a ruína espiritual.
Tiago, em sua carta, fala sobre a importância da prática da Palavra de Deus e exorta: “Tornai-vos… praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22). Aquele que ouve e não pratica a palavra é como alguém que olha no espelho, vê como está sua aparência, mas logo se retira e nada faz, esquecendo-se de como era (Tg 1.23).
7. Como se relacionam o “enganando-vos a vós mesmos” do versículo 33 de Tiago 1, com o olhar no espelho, do versículo 23?
É verdade que, muitas vezes, até mesmo aqueles que professam uma fé verdadeira em Cristo sofrem as consequências de abandonar a prática da Palavra de Deus, em algum momento. Na verdade, todas as vezes que fazemos isso, colhemos consequências dramáticas. A Bíblia tem vários exemplos de servos que, em algum momento, não praticaram a Palavra de Deus e sofreram as consequências.
Podemos citar o exemplo de Jacó (Gn 37–50). Ele ignorou os preceitos de Deus no que se refere à administração de sua grande família. Como consequência, vários problemas familiares ocorreram.
Davi também, em dado momento de sua vida, pecou contra o Senhor (2Sm 11–18). Ele adulterou com Bate-Seba e planejou a morte de Urias, marido dela. Até ser confrontado pelo profeta Natã, ele agia como se nada tivesse acontecido. Em consequência de não ter praticado a Palavra de Deus, Davi colheu sérias consequências em sua vida e família. Deus o perdoou, mas disse que, em razão de seu pecado e desobediência, sofrimentos viriam. O filho gerado com Bate-Seba morreu. Seu filho Amnom cometeu incesto com sua meia-irmã Tamar. Absalão, outro filho de Davi, vingou sua irmã, matando Amnon. Tempos depois, Absalão voltou-se contra Davi, usurpou seu trono e deitou-se, a vista de todos, com as concubinas de Davi. Depois Absalão foi morto pelo exército de Davi.
O insucesso e a ruína não são apenas consequências colhidas nesta vida por aqueles que não praticam as palavras de Cristo. Cristãos nominais colherão, na última prova, a do juízo final, a maior e definitiva ruína. Jesus dirá aos cristãos nominais “naquele dia”: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.22-23). Assim como uma tempestade pode vir repentinamente e pegar desprevenido um construtor insensato assim virá o dia do juízo. Como ocorreu no dia do dilúvio, diz Jesus, assim será na sua vinda. Antes do dilúvio, as pessoas viviam normalmente, sem ter sua rotina alterada, ou seja, comiam, bebiam e se casavam. Elas não estavam preparadas quando o dilúvio chegou e destruiu a todos (Mt 24.36-39). “Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mt 24.44).
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus nos adverte do perigo de um cristianismo nominal e aponta o caminho da felicidade e do sucesso espiritual. Aquele que ouve e não pratica a sua Palavra, mais dia menos dia, sofrerá as consequências de sua insensatez. Ele está edificando sua casa (vida) sobre a areia. Verá ruir sua vida e colherá sérias consequências no último dia. Ao contrário, aquele que ouve e pratica a Palavra de Cristo, será alguém bem-sucedido espiritualmente, e no futuro colherá a vida eterna. Este está edificando sua casa (vida) sobre a rocha.
No Brasil, só fará alguma diferença o crescente número de evangélicos, quando eles se tornarem, em sua maioria, praticantes da palavra de Cristo. Deixaremos de ter um cristianismo nominal e teremos um cristianismo genuíno.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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