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sábado, 22 de agosto de 2020

                                                

                                                        A FOLHA EM BRANCO

A nossa herança de Adão nos leva à desobediência e à falsa crença de que somos capazes de cuidarmos da nossa vida, das nossas escolhas e do nosso destino. Essa herança nos cega a ponto de crermos na enganosa propaganda da maldita serpente, que diz que após a desobediência não há punição e, sim, libertação. A serpente, a mesma que seduziu Adão e sua esposa, ainda seduz e macula as orientações de Deus, a ponto de dizer que, após a desobediência, a consequência seria sermos como deus (com “d” minúsculo mesmo).

Nós, à semelhança de Adão, queremos ser como Deus. Queremos o poder de decidir, e achamos mesmo que podemos controlar e conduzir nossa vida. Nutrimos, a partir da desobediência, uma fé em nós mesmos. Acreditamos que não precisamos de Deus, o Criador, e vivemos como se Ele não existisse. Pensamos que nos bastamos, que encontraremos nossa felicidade idolatrando nosso ego, que seremos imbatíveis. A partir dessa visão equivocada, pensamos que somos o centro do mundo e nosso ego está no altar da adoração. Nosso egoísmo é a celebração dessa fé que temos em nós mesmos. Pensamos e vivemos como donos de nós mesmos. Que absurdo! Ter fé em si mesmo é o cúmulo da desobediência e da rebeldia contra Deus e Seus planos eternos.

Fomos criados por Deus para o louvor de Sua Glória e só nos satisfazemos, e encontramos o sentido da vida, quando voltamos nossa vida para Deus e priorizamos os planos eternos que Ele tem para nós. Só quando olhamos para Jesus Cristo, como autor e consumador da nossa fé, como o único caminho, a única verdade e a única possibilidade de vida, é que entendemos para quê nascemos.

Diferentemente da fé em nós mesmos, onde o egoísmo é celebrado, a espiritualidade cristã nos ensina a nos esvaziarmos e nos enchermos mais do Espírito de Deus. A espiritualidade cristã nos ensina a mortificarmos nosso eu e a nos revestirmos de uma nova postura de vida. A espiritualidade cristã nos leva para Jesus como o modelo de filho de Deus. Adão errou feio o alvo dos propósitos de Deus e nós também. Adão, como o primeiro filho criado, é uma antirreferência e Jesus, como o segundo filho, é a referência. Adão errou, Jesus acertou. Adão desobedeceu, Jesus foi obediente até a morte, e morte de cruz. A nossa herança cristã nos leva para o centro da vontade de Deus, nos reeduca a vivermos para a glória de Deus e nos mostra quais são os valores e princípios a serem seguidos pelos filhos de Deus.

O teólogo Agostinho dizia: “ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser”. Tentamos escrever nossa história a partir de nós mesmos e ficou uma história feia, mal escrita, cheia de buracos e falhas, nada cativante. Nossa história escrita por nossa fé em nós mesmos não é digna de ser lida. Graças a Deus as boas novas de Jesus são o poder de Deus que transforma o ser humano arrependido.

Paulo, o apóstolo que foi a base de Agostinho, disse: “já não sou quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou” (Gálatas 2:20). Paulo disse que sua fé está em Cristo e assim ele não se preocupa mais com sua história. Em Cristo, nossa história é remodelada pela graça e misericórdia de Deus. Ela passa ser cativante e atraente a partir do perdão de Deus, da transformação que o Evangelho produz.

Só o Evangelho de Jesus pode reescrever nossa história, pode nos transformar e nos fazer novas criaturas. Ter fé é descansar no cuidado de Deus, é obedecer com prazer e deixar Deus escrever o que Ele quiser em nossas vidas. Que você seja uma carta digna de ser lida. Deixe Deus (re)escrever sua história!
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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