SEXUALIDADE E ESPIRITUALIDADE
Efésios 5.22-33
A moral e a ética parecem cada vez mais escassas em nossos dias. A sexualidade tem sido tratada como mero elemento hormonal e como promotor de satisfação pessoal. O relaxamento dos valores familiares e, principalmente, da espiritualidade, nos desperta para estudar esse tema à luz das Escrituras.
Não há como negar a importância da sexualidade na vida do homem ou da mulher, porque Deus nos criou como seres sexuados. Em contrapartida, não podemos deixar que a sexualidade nos conduza a uma vida constante de pecado. A sexualidade, quando entendida corretamente e associada à espiritualidade, produz união e relacionamento saudável entre as partes. Mas quando corrompida e deturpada gera impureza e separação. Qual dos dois caminhos seguir? Como associar sexualidade e espiritualidade? Vejamos quais respostas encontramos na Bíblia para questionamentos como esses.
1. A sexualidade humana
Nossa fonte de fé e prática é a Bíblia (2Tm 3.16-17), por isso nela está a base dos argumentos apresentados. Sendo assim, o primeiro passo é definir a sexualidade humana como criação de Deus com o propósito de abençoar o relacionamento entre homem e mulher.
“A sexualidade humana é uma bênção concedida pelo Criador para ser desfrutada pela criatura em temor e obediência, para sua alegria e realização pessoal.
1.1 Homem e mulher
Deus criou os seres humanos como seres sexuados, ou seja, macho e fêmea. Em Gênesis 1.27, podemos ver claramente a distinção entre macho e fêmea na criação. Nesse versículo, a primeira vez que aparece a palavra “homem”, o termo hebraico é: “´adam”, que significa: humanidade (designação da espécie humana – homem e mulher). Porém na segunda vez que lemos a palavra “homem”, o termo hebraico muda para “zakar”, que significa: macho. A palavra hebraica para “mulher” é: “nêqebah”, que significa fêmea. Deus criou os seres humanos macho e fêmea tendo como propósito a união sexual (Gn 2.18-25).
1.2 Um homem e uma mulher
Deus criou o homem (macho) e, posteriormente, a mulher com a finalidade de uni-los, tornando-os “uma só carne”. Gênesis 2.24 “enfatiza a completa identificação das duas personalidades no casamento. A passagem nos diz que Deus instituiu o casamento e que este deve ser monogâmico e heterossexual, a união completa entre duas pessoas (homem e mulher)” (Charles C. Ryrie, A Bíblia Anotada e Expandida, Editora Mundo Cristão, p.10). Deus reafirma esse padrão em Marcos 10.7-9 e Efésios 5.31. Notem também em 1Coríntios 7.2 a ênfase que Paulo apresenta: “Cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido”. Deus efetivamente excluía a poligamia de qualquer tipo que fosse. A afirmação de Paulo também implica que, uma vez consumado o casamento, a união é permanente até que a morte os separe (1Co 7.39-40; Mc 10.7-9).
1.3 Nus e năo envergonhados
“Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam” (Gn 2.25). Aqui temos um cenário extremamente íntimo e ao mesmo tempo sem corrupção. Um casal cuja sexualidade estava integrada à espiritualidade, impedindo qualquer pensamento indecoroso.
Richard Foster diz assim: “Você percebeu que o erotismo não contaminado pela vergonha existia antes da queda? A queda não criou ‘eros’ (erotismo) apenas o perverteu. Na história da Criação, vemos o homem e a mulher atraídos um para o outro, nus e não envergonhados. Sabem que masculinidade e sua feminilidade são obra das mãos de Deus, assim como o afeto apaixonado de um pelo outro. Também suas diferenças os unem; são homem e mulher, mas são também uma só carne. Os dois num relacionamento, em amor – por que deveria estar presente a vergonha? Sua sexualidade é criação de Deus” (DSP, p.101-102).
1.4 Celebraçăo do amor
Deus, desde a criação, vem relacionando-se com a humanidade por meio de pactos, alianças (Gn 3.15; 9.1-17; 12.1-7; Êx 20-23; Dt 28-30; 2Sm 7.10-16; Gl 3.8; Jr 31.31-34). O casamento, relacionamento entre as criaturas de Deus, não pode fugir às primícias da aliança. Um casamento só é cristão se realizado na dimensão cristã; na perspectiva da aliança. Aliança que, nesse caso, significa, além de compromisso entre as partes, a celebração do amor.
Assim como o livro de Gênesis nos oferece uma visão clara e definida sobre a sexualidade, o livro de Cantares (Cântico dos Cânticos) nos oferece elementos importantíssimos que nos esclarecem como o “eros” (amor conjugal) deve ser. Destacamos que o livro de Cantares apresenta a sexualidade como celebração do amor conjugal.
Cantares mostra tudo o que envolve a celebração do amor, desde a fase da conquista (Ct 1.1-3.5), passando pela cerimônia do casamento (Ct 3.5-11), seguindo com a noite de núpcias (Ct 4.1-5.1) e a vida matrimonial (Ct 5.2-6.13). Até mesmo após os conflitos comuns do casamento se vê a celebração do amor por meio da reconciliação (Ct 7.1-13) e, por último, a demonstração da essência do amor (Ct 8.1-14). “O amor deles é contínuo e forte. Ele transcende o calor e a frieza das flutuações da paixão erótica. É tão forte quanto a morte; não pode ser comprado a preço algum. De fato, essas palavras de fidelidade e permanência no trazem à mente o hino do amor do apóstolo Paulo, registrado em 1Coríntios 13: ‘O amor nunca perece’.” (DSP, p.105).
A criação de Deus é perfeita como perfeito é Deus. Infelizmente o pecado que nos rodeia perverteu a beleza da sexualidade criada por Deus, transformando-a em caminho de perdição. Não deixe que o conceito pervertido do mundo manche o seu entendimento da perfeição da sexualidade criada por Deus.
2. Sexualidade e espiritualidade
De fato não podemos separar os dois temas, a beleza da sexualidade só poderá ser percebida de verdade se houver também espiritualidade.
Infelizmente, o sexo, no aspecto negativo e pecaminoso, tem dominado nossa cultura de forma destrutiva para o homem. As sociedades (moderna e antiga) transformaram a beleza da sexualidade em uma deusa, que é adorada, e a quem pessoas servem cotidianamente.
O crente precisa entender, em primeiro lugar, que foi Deus quem criou a sexualidade (partes “sexuais” no homem e na mulher), criando-os com um sistema nervoso para que possam desfrutar de prazeres delicados e saudáveis. Em segundo lugar, a sexualidade faz parte do indivíduo, mas ela não é o maior alvo de vida para o homem, e sim a Salvação em Cristo. Em terceiro lugar, o prazer sexual foi projetado por Deus para ser desfrutado somente no casamento.
Para uma clara compreensão do quanto intimamente estão ligados sexualidade e espiritualidade, examinemos os ministérios de Paulo e do próprio Senhor Jesus Cristo.
2.1 Jesus e a sexualidade
A dimensão do conhecimento de Cristo sobre sexualidade é tão nítida que transcendeu o conceito básico judaico sobre o assunto. Para os escribas e fariseus, se o indivíduo se afastasse do adultério físico, estaria em santidade. Mas Cristo expandiu o conceito desse pecado. Disse Jesus: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28). Cristo deixa claro que a intenção do coração é capaz de corromper a sexualidade pura. Para Cristo, a santidade moral vai além do contato físico; é necessário que haja santidade no pensar (Fp 4.8).
Jesus também deixou claro seu alto conhecimento sobre casamento em Mateus 19. Mais uma vez os fariseus armam uma cilada questionando Cristo sobre o que poderia justificar o divórcio. “Jesus respondeu, apelando para o ensinamento de ‘uma só carne’ da narrativa da Criação, acrescentando: ‘Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem’ (Mt 19.6). Nestas palavras de Jesus, somos confrontados com o grande mistério da realidade unificadora de vidas que é o conceito de ‘uma só carne’. Há uma união de dois que, sem destruir a individualidade, produz unidade. Os dois tornam-se uma só carne! Que maravilha! Que mistério! É uma realidade espiritual para a qual desejaremos olhar inúmeras vezes.”
Os ensinamentos de Cristo deixam claro que a sexualidade não é um tema oposto à espiritualidade.
2.2 Paulo e a sexualidade
Embora não tenhamos certeza do estado civil de Paulo, não podemos colocar em dúvida sua autoridade para tratar do assunto uma vez que o próprio Senhor era quem o instruía.
Paulo honrou com excelência o matrimônio quando o comparou ao relacionamento entre Cristo e a igreja (Ef 5.22-33). Ele não só cita o texto de Gênesis 2.24, mas adiciona: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.32). Fica claro que há uma ligação muito íntima e espiritual entre o relacionamento do homem e da mulher com o relacionamento da igreja com Cristo. Não poderia deixar de citar o fato de Paulo ter indicado o celibato (1Co 7.1,8), porém, no mesmo capítulo 7 de Coríntios, ele se preocupou em reafirmar o valor do casamento nos padrões bíblicos.
O que vimos até agora é que a celebração do amor, ou da sexualidade, está intimamente ligada à nossa vida espiritual. Conforme diz Richard Foster: “a vida espiritual realça a nossa sexualidade e a direciona. Nossa sexualidade dá inteireza natural à nossa espiritualidade. Nossa espiritualidade e nossa sexualidade entram em uma harmonia operacional na vida do Reino de Deus. É esse o testemunho bíblico” (DSP, p.107).
Sexualidade e espiritualidade não podem ser tratadas como uma dicotomia, pois verdadeiramente não são. A sexualidade só será bem entendida e praticada se houver espiritualidade. Sua pureza depende do entendimento que tiver de sexualidade e espiritualidade. Leia Hebreus 13.4 e discuta em classe: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.”
Conclusăo
Sexualidade faz parte do projeto de Deus, e o sexo é bênção de Deus no casamento, expressão de amor e forma de comunicação – ambos se tornaram uma só carne (Mc 10.8).
O que Deus projetou para o homem (Gn 2.24) cumpre-lhe obedecer. O padrão de Deus determina caráter santo e piedoso. O rompimento desse padrão implica punição (Rm 1.26-27). Seja com relação ao ato sexual, ou outra área da vida, melhor é obedecer a Deus que seguir as práticas do mundo (1Jo 2.15-17).
0 comentários :
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.