RELIGIOSIDADE NA ÉPOCA DE
JESUS CRISTO...
Mateus 5.2
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a
dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
O ministério terreno de Jesus foi cercado por movimentos de
grupos filosóficos, políticos e religiosos que exerciam forte influência na
vida do povo. Quando examinamos as páginas das Escrituras, mais especificamente
os evangelhos, deparamo-nos com vários grupos religiosos. Alguns são bem
conhecidos, como escribas, fariseus, sacerdotes e saduceus. Além desses, houve
outros que, apesar de não terem o mesmo destaque, participaram de alguma forma
da vida e ministério de Jesus, como herodianos, samaritanos, publicanos e
zelotes.
Vamos estudá-los separadamente, observando seus ensinamentos,
sua influência e os perigos que representaram para o verdadeiro evangelho de
Jesus (Gl 1.6-9).
I. Escribas
Os escribas ficaram conhecidos nas páginas do Novo Testamento
como doutores da Lei (Mt 13.52) por serem profundos conhecedores das Escrituras
(Ed 7.12). Eles não podem ser estritamente definidos como uma seita, mas sim,
membros de uma espécie de “academia” dos tempos bíblicos; por isso, se sentiam
no direito de interpretar a Lei para o povo judeu (Mt 23.1-7).
Por que a influência dos escribas pode ser considerada
prejudicial ao evangelho?
1. Monopolizavam a interpretação da palavra de Deus (Mc
12.28-34)
Eram tão audaciosos que chegavam a afirmar que os seus
mandamentos excediam em dignidade os mandamentos de Deus. Diziam eles: “As
palavras dos escribas são mais amáveis que as da Lei; entre as palavras da Lei,
existem as importantes e as banais; as dos escribas, todas são importantes.
2. Determinavam as regras para liturgia do culto (Mt 23.13
Por ocuparem uma posição de destaque, os escribas decidiam quem
deveria participar das reuniões.
3. Negligenciavam o mandamento de Deus e guardavam suas próprias
tradições (Mt 23.2-3)
“Não tinham escrúpulos em equiparar seus ensinamentos e
preceitos humanos (Mc 7.7) aos mandamentos do próprio Deus”
Aplicação
Os escribas difamavam Jesus publicamente e jogavam o povo contra
Ele, acusando-O de expulsar demônios pelo maioral dos demônios (Mc 3.20-22).
II. Fariseus
“Fariseu” deriva de um vocábulo hebraico que significa
“separado”. Denomina um grupo de judeus extremamente apegados à Torá, o livro
sagrado dos judeus ( Jo 3.1; Mt 22.34-40). Formavam, entre o povo judeu, uma
espécie de comunidade à parte (Mt 22.15). Eram a elite do povo. Não se misturavam.
Escribas e fariseus eram simpatizantes entre si. Há fortes indícios de que
alguns escribas eram também fariseus.
Lucas nos dá uma ideia exata de como era o procedimento dos
fariseus (Lc 16.14-15; 18.9-14) e registrou que Jesus os considerava condutores
cegos e falsos guias (Lc 11.37-44). Jesus os reprovou por várias razões.
Insultavam Jesus repetidas vezes, pois não toleravam vê-Lo
realizando milagres no sábado (Lc 6.7; Mt 12.1-8; Jo 9.13-16).
Levantaram-se contra Jesus de comum acordo com os saduceus (Mt
16.1 e 6). Por outro lado, eram bastante otimistas quanto a uma intervenção
divina na redenção final da nação judaica.
Afastavam pessoas que a princípio haviam crido em Jesus. Com
evidente ódio e calúnia, instigavam o povo contra Jesus.
Agiam com hipocrisia e ostentação. A piedade de muitos deles não
passava de orgulho e fingimento (Mt 23.1-12).
Aplicação
Os escribas e fariseus vivem ainda hoje e estão presentes em
algumas de nossas reuniões. São os que aceitam a lei como uma carga e os que
agem por interesse e por ostentação. Somos advertidos por Jesus a acautelar-nos
do fermento dos fariseus (Mt 16.6).
III. Sacerdotes
A palavra “sacerdote”, em português, vem do latim sacer e
significa “sagrado”, “separado”. Os sacerdotes eram ministros religiosos, habilitados
para participar e conduzir as cerimônias religiosas de culto. Estavam divididos
em três categorias: os sumos sacerdotes, os sacerdotes e os levitas.
Vejamos a distribuição e função dessa classe religiosa. “Os
sacerdotes haviam sido distribuídos por Davi em vinte e quatro classes (1Cr
24.1-19). Em Lucas 1.5, lemos que esta organização subsistia ainda na época de
Jesus” (Luis Claude Fillion, Enciclopédia da Vida de Jesus, p.95).
Os evangelhos só mencionam dois sumos sacerdotes: Anás e Caifás
(Mt 26.57 e Jo 18.13-14). Em geral, o sumo sacerdote era uma figura importante,
religiosa, social e política (Mt 21.23-27). “Esperava-se do sacerdote que
servisse de mediador entre algum poder divino e os homens, e também que fosse
capaz de pronunciar-se sobre questões éticas e legais, além de prever o futuro”
Aplicação
Os sacerdotes, por serem membros do Sinédrio (Mc 14.53-56) e por
serem influentes, não perdiam uma oportunidade para questionar a autoridade de
Jesus.
IV. Saduceus
“Os saduceus compunham uma das mais importantes e influentes
seitas judaicas, muitas vezes em oposição tanto política quanto teológica aos
fariseus. Esta seita era amplamente constituída pelos elementos mais ricos da
população. (…) Entre seus componentes se encontravam os sacerdotes mais
poderosos, mercadores prósperos e a classe aristocrática da sociedade” – Mt
22.23 (R.N. Champlin, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 6,
p.30).
Os saduceus rejeitavam as interpretações dos escribas e fariseus
sobre a lei mosaica e apegavam-se à sua interpretação literal (Mt 22.23-33).
João Batista, percebendo os perigos que os saduceus
representavam para a religião judaica, os tratava com certa rigidez (Mt
3.7-10).
Os saduceus, no início, temeram Jesus, mas depois passaram o dia
a odiá-Lo. Chegaram a fazer aliança com os inimigos antigos para eliminá-Lo.
Aplicação
Os saduceus perseguiram com violência a igreja nos seus
primeiros anos de vida, conforme Lucas registra (At 4.1-4 e 5.27).
V. Herodianos
Os herodianos formavam mais um partido político do que um grupo
religioso. Eram assim chamados por serem partidários assalariados da dinastia
de Herodes. Herodes, o Grande, tentou romanizar a Palestina em sua época.
O grupo formado pelos herodianos acreditava que era possível uma
aliança política com os romanos.
Os herodianos acreditavam que os melhores interesses do judaísmo
estavam na cooperação com os romanos.
Devido às tendências greco-romanas e adesão a Herodes, os
herodianos logo se somaram aos adversários do Salvador (Mt 22.16; Mc 3.6).
Mesmo sendo caracterizados como uma associação ou grupo político
e tendo a antipatia do povo, os herodianos mantinham contato direto com os
saduceus numa manobra política para eliminar Jesus (Mc 12.13-17).
Aplicação
Deus quer que todos os líderes sejam servos, agindo com
humildade e justiça para com os outros e reconhecendo o Senhor como Aquele que
governa sobre todos (At 2.36).
VI. Samaritanos
Os judeus excomungavam os samaritanos, considerando-os escória
da raça humana. As fortes objeções dos judeus eram: a insistência dos
samaritanos em considerar o monte Gerizim o principal local de culto e a
rejeição destes a Jerusalém como cidade sagrada ( Jo 4.20).
Havia, entretanto, pontos em comum na doutrina seguida por
ambos, judeus e samaritanos: o Pentateuco, como a principal linha de doutrinas
e práticas; a exigência absoluta da circuncisão; a manutenção do sábado
sagrado; a esperança messiânica e o julgamento futuro dos homens bons e maus.
O samaritanismo, exaltava Moisés a tal ponto que eram comparados
aos cristãos em seu louvor a Jesus, o Cristo. Ainda hoje há um pequeno grupo de
samaritanos vivendo em Nablo e Jafa, subúrbios de Tel Aviv. Embora poucos, eles
ainda representam uma significativa seita religiosa.
Aplicação
Apesar da forte rivalidade entre samaritanos e judeus (Jo 4.9),
Jesus não enfrentou acentuada resistência dos samaritanos; pelo contrário, teve
boa aceitação de Sua mensagem redentora pelos samaritanos (Jo 4.39-42; At
8.14-25).
VII. Zelotes
Zelote é uma palavra grega que significa “zeloso”. Os zelotes
tinham um intenso zelo por Deus (At 21.20). Era um grupo religioso com marcado
caráter militarista e revolucionário que se organizou opondo-se à ocupação
romana de Israel. Também eram designados sicários (sanguinários), devido ao
punhal que levavam escondido e com o qual atacavam os inimigos. Não hesitavam
em usar a força, a violência e as intrigas para alcançar seu objetivo, que era
libertar a nação de Israel do jugo estrangeiro.
Temos o registro bíblico de que antes de ter-se convertido e ter
sido chamado ao discipulado cristão, um dos doze apóstolos de Jesus, Simão, o
Zelote, havia pertencido a esse partido revolucionário, que se caracterizava
pelo fanatismo religioso (Lc 6.15 e At 1.13).
O fato de Jesus ter convidado um membro desse grupo não
significa que tinha intenção de promover uma revolta contra o império, mas sim
de mostrar ao povo da época, bem como das gerações posteriores, que Sua
mensagem era dirigida a todas as classes, fossem elas políticas, econômicas ou
étnicas (Lc 5.29-32; 6.17-19).
Aplicação
Deus deseja que todos os homens, em todas as épocas, sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1Tm 2.4)
VIII. Publicanos
Costumava-se dizer: “Só os publicanos são ladrões”. Podemos
afirmar sem medo de errar que na época de Jesus a profissão de publicano era a
pior. Eles eram comparados aos pecadores da pior espécie. Quando um judeu
exercia esse triste ofício, e, sobretudo, quando cobrava de seus irmãos o
imposto destinado a Roma, era tratado com enorme desprezo.
Há várias passagens dos evangelhos nas quais os publicanos são
equiparados aos pecadores.
Jesus comia com os publicanos e pecadores, por isso os
discípulos foram questionados pelos fariseus (Mt 9.13).
Jesus foi acusado de ser um glutão e bebedor de vinho, além de
amigo de publicanos e pecadores (Mt 11.19).
Jesus deixava os escribas e fariseus irritados ao vê-Lo na
companhia dos pecadores e publicanos (Mc 2.16).
Os escribas e fariseus inconformados, murmuravam contra os
discípulos de Jesus, perguntando por que eles comiam e bebiam na companhia dos
publicanos e pecadores (Lc 5.30; 15.1-2).
Entre os doze discípulos, havia um ex-publicano (Mt 9.9).
Aplicação
A resposta para tais questionamentos pode estar na parábola do
fariseu e do publicano (Lc 18.9-14). E ainda nos próprias palavras de Jesus:
“Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim
pecadores ao arrependimento” (Lc 5.31-32).
Conclusão
Aprendemos nesta lição que vários movimentos, seitas e partidos
políticos estavam presentes na época e no ministério terreno de Jesus, e que
muito influenciaram para revelar a postura e a atitude do Mestre. Concluímos
com algumas lições práticas, a partir da vida e experiência de Jesus.
Em nenhum momento, Jesus mudou o foco do cumprimento de Sua
missão. Ele cumpriu o propósito do Pai até o fim.
Jesus não Se deixou intimidar apesar da pressão externa que
sofreu durante todo Seu ministério terreno.
Somos advertidos a não nos deixarmos envolver por movimentos e
grupos que se levantam contra a igreja, na tentativa de apresentar outro
evangelho (Gl 1.6-9).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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