Ó LÍNGUA MALDITA...
Tiago 3:1-12
Certa vez William Shakespeare comentou, "Quando palavras são
raras, não são gastas em vão."
Outro erudito disse, "Homens sábios falam porque têm algo para
dizer; tolos, porque gostariam de dizer algo." Um ditado filipino aconselha, "Na boca
fechada, não entra mosca." Os
árabes oferecem esta joia de sabedoria: "Tome cuidado que sua língua não
corte seu pescoço." Salomão em
Provérbios nos adverte, No muito falar não falta transgressão, mas o que modera
os seus lábios é prudente (Pv. 10:19)
Capítulo 3 de Tiago nos coloca na parede e nos desafia a viver uma
fé genuína, verdadeiramente cristã. No
final do cp. 2, Tiago nos mostrou como a fé verdadeira manifesta-se
inevitavelmente em obras. Agora, no cp
3, ele mostra que “obras” não são somente o que fazemos, mas também o que
falamos. E não somente o que falamos,
mas o que NÃO falamos!
A língua é um músculo com sua origem no coração. Por isso a língua talvez revele o verdadeiro
estado do nosso coração mais rápido que qualquer outra prova de fé genuína listada
por Tiago. A língua sou eu. Eu sou o que a língua fala! Às vezes, soltamos uma palavra tão pesada,
que cheira mal, e depois exclamamos, “De onde veio aquilo?” Mas o fato é que somos assim mesmo. Abaixamos a guarda e revelamos o verdadeiro
eu, mesmo que só por um instante. Assim
como Jesus disse, a boca só fala do que o coração está cheio (Mt 12:34). A língua é o dreno do coração! A língua serve como escape daquilo que está
borbulhando no coração. Por isso,
dizemos que
É impossível domar a língua
Se Jesus não domar o coração!
Essa é uma mensagem tão
simples, mas que precisamos ouvir todos os dias de nossas vidas. O propósito de Tiago é que sejamos mais
sensíveis ao poder incrível da língua, e deixemos que Jesus peneire nossas palavras, filtre nossa fala e lacre os
nossos lábios. Veja o poder da língua em
Tiago 3.1-12:
I. A Língua tem Poder para
Dirigir (3:1-4)
A língua é poderosa. Esse
poder pode ser para o bem ou para o mal.
Talvez, por ser tão potente, Deus prendeu a língua atrás de duas
fileiras de dentes e dentro de uma caverna fechada. Tiago nos lembra que a língua tem um enorme
potencial para direcionar vidas.
A. Por quem muito é falado,
muito será julgado (3:1,2)
No contexto destas palavras a Igreja primitiva lidava com a valorização e poder dados a quem ensinava
e direcionava os novos grupos de crentes
que se formavam. Mas isso representava
um perigo. A nova liberdade em Cristo,
que incluía liberdade para falar em culto público, precisava ser bem manejada
(1 Co 14:26-34). Assim como Tiago nos
lembrou no cp 1, “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar .
. . “(vs 19).
Quem presume dizer, “Assim diz o Senhor,
Deve fazê-lo com temor e tremor.”
Tiago não quis minimizar ou desencorajar os dons de falar na igreja
(Hb 5:12, Ef 4:11,12; 1 Pe 4:10,11). Sua
advertência é totalmente coerente com o princípio ecoado em Mateus
12:26,27 “De toda palavra frívola que
proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas
palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.”
Há duas razões porque devemos pensar bem antes de assumir a posição de mestre:
1) (Vs 1) O mestre, pela
natureza do serviço, tem que falar muito.
Por isso, haverá mais palavras para serem pesadas, mais potencial para
derramar palavras frívolas, inúteis, pecaminosas, enganadoras.
2) (Vs 2) O mestre tem
maior responsabilidade, pois influencia a muitas outras pessoas pelo que fala,
e facilmente tropeça no falar. Tem poder
para dirigir, ministrar graça, ou enganar para toda a eternidade.
O mestre que não controla sua língua acaba tropeçando sobre a
mesma. No mundo da política vemos
isso. Um representante do FMI tropeça
sobre sua língua e um país inteiro é colocado em descrédito. Um político num momento de descuido fala um
antissemitismo e perde uma eleição.
A mesma coisa pode acontecer com os mestres (professores) na
igreja. Temos que medir toda palavra
quando ensinamos ou pregamos. Por isso
ensinar e pregar são tarefas tão exaustivas.
As vidas de homens e mulheres estão na balança.
Mas o que ele quis dizer com “maior juízo”? (1 Co 3:10-15, 2 Co 5:10, Rm 14:10-12)—Todos
nós compareceremos diante do tribunal de Cristo. Não para sermos condenados (Rm 8:1 diz que
isso não existe mais) mas para recebermos os prêmios de Jesus por um ministério
fielmente cumprido. Haverá perda de
galardão assim como houve perda de oportunidade para ministrar graça em nome de
Jesus. Não desista! Seu trabalho não é vão. Mas leve a sério esse trabalho de conduzir os
rebanhos do Senhor para pastos verdejantes!
b. A língua freada implica
em vida controlada (2b-4)
Tanto no caso do “freio na boca do cavalo” quanto a do “leme no
navio”, vemos que uma parte pequena mas estratégica é capaz de direcionar algo
poderoso e até grande. O freio se coloca
num ponto estratégico, na boca do cavalo.
Mesmo pequeno e fraco, consegue direcionar o cavalo com pouco esforço,
até de uma criança. Também, o leme é
infinitamente menor em proporção ao
navio, mas assim mesmo , por ficar num ponto estratégico, é capaz de direcionar
um transatlântico como Titanic ou um porta-aviões conforme a vontade de um
timoneiro.
Assim é nossa língua, pequena porém estratégica. Conforme vs 2b, se conseguirmos refrear a
língua, somos capazes de controlar o corpo inteiro. Mas como isso é difícil! Quantas vezes eu já
quis frear minha língua quando já era tarde demais! Tantos “foras” que já dei! A nuvem de palavras
mortíferas tende a pairar sobre nós até hoje, como uma nuvem preta. Mas uma vez que as palavras escapam de nossa
boca, é impossível chamá-las de volta.
É realmente desesperador soltar palavras e depois ficar impotente enquanto assiste o
estrago que elas fazem. Por isso temos
que freá-las o quanto antes. Palavras como. . . *Fofoca *Um “corte” no meu irmão*Ódio *Obscenidade *Piadas sujas *Ira *Palavrão *Blasfêmia *Vingança *Inveja
Nosso desespero, é semelhante ao daquele motorista no volante de um
carro que de repente começa a derrapar,
perde o controle. Ele tenta
frear, mas já é tarde demais.
II. A Língua Tem Poder para Destruir (5-8)
A. Quem a língua solta causa
grande revolta. (5,6)
A Palavra de Deus nos adverte contra a destruição causada pela
língua. Ao mesmo tempo nos encoraja pelo
potencial que esta mesma língua tem para transmitir vida e graça para pessoas
desanimadas.
A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto. A língua serena é árvore de vida, mas a
perversa quebranta o espírito (Pv.
18:21, 15:4).
Em algumas épocas do ano encontramos ao longo das nossas rodovias
incêndios quase todos os dias. Isso
devido ao descuido de alguns, que sem
querer ou não jogam seu cigarro pela
janela. Uma pequena faísca acaba
destruindo hectares de floresta e terras gramadas.
Em Chicago, nos Estados Unidos, no ano de 1871, um lampião num
celeiro deixou 125.000 pessoas sem-teto, destruiu 17.500 prédios e matou 300
pessoas. Já na Coréia, em 1903, 2,6 km2
foram queimados quando algumas brasas na cozinha causaram um incêndio que
destruiu 3000 edifícios.
Uma vez que a faísca da língua ascende o fogo, é extremamente
difícil pará-la, até que tenha destruído tudo em seu caminho. É assim com as nossas palavras. Uma pequena palavra mal colocada, na hora
errada, pode destruir uma vida. Uma
palavra de crítica destrutiva; uma fofoca; uma colocação verídica, mas cruel,
sem tato, pode desmontar uma pessoa, uma família, uma igreja. Pior,
a língua alimenta a si
mesma. E assim como a língua, o fogo só precisa
de oxigênio e combustível para queimar incessantemente. Com um pouquinho de fôlego, nossa fofoca,
nossa reclamação, nossa murmuração, encontra bastante respaldo para queimar
palavras para sempre. Precisamos evitar este fogo antes que comece!
Pois este fogo, provocado pela nossa língua, começa rapidamente e
quando percebemos já se alastrou. Ela é descrita como fogo, consumindo. É um
mundo de iniquidade, que causa a maioria dos problemas que enfrentamos na
igreja hoje, pois contamina todo o corpo, incendiando, destruindo a vida das
pessoas. É influenciada e incendiada pelo próprio inferno, porque o diabo é
fofoqueiro, mentiroso e acusador. Nenhum
membro do corpo humano tem tanto potencial para o mal! Será que minha língua
tem sido instrumento de desencorajar, desestimular, ridicularizar, gozar, e
destruir? Meu cônjuge? Meus filhos?
Meus pais? Meu pastor? Meus vizinhos? Meu patrão?
Será que já incendiei vidas pelo poder destrutivo da minha língua?
B. A língua venenosa é muito
perigosa (7,8);
Viver com a língua é como dormir com uma cascavel. Pode até parecer que está tudo sob controle,
mas na hora em que você menos espera, ela dá o bote. A natureza da língua é
venenosa, mortífera, indomável. Mesmo
que o homem consiga domar animal, ave, réptil e peixe, ninguém de nós é capaz
de conter nossa língua. Mas aqui entram
as boas notícias. Jesus pode domar a
língua porque Ele transforma o coração.
O mesmo Jesus, que habita em nós pelo Seu Espírito, quer converter nossa
boca! Já ouvi histórias de homens
profanos, que cada palavra que saía de seus corações era palavrões ou piadas
sujas, mas que Jesus transformou completamente.
Famílias desmontadas foram reconstruídas por Jesus.
Cristo vive em nós. Ele deseja usar nossa boca como um instrumento
para a glória dEle e edificação de vidas.
Não para destruir, mas para edificar. Pense: “O que Jesus falaria?”
Enquanto escrevo esse livro, fico triste pensando sobre quanta
conversa em minha família não reconhece a seriedade que [a Bíblia] dá [à
língua]. Não, não temos brigas feias,
mas há muitas palavras impensadas, cruéis, irritantes e de reclamações faladas
todos os dias. Creio que somos como muitas
famílias cristãs—minimizaram esses “pequenos” pecados da fala porque nosso lar
está livre de abuso físico e verbal, e realmente nós nos amamos. Mas . . . Palavras que ” mordem e devoram”
são palavras que destroem. Não são “tudo
bem”. Então precisamos fazer tudo
possível para dar às nossas palavras a importância que a Bíblia as dá,
lembrando que Deus diz que prestaremos contas de cada palavra frívola. (202)
Peça a Deus que peneire as palavras da sua família, especialmente
ao redor da mesa, no carro, naqueles momentos de confraternização. Desafio aos pais que vigiem o que é falado em
sua casa essa semana, clamando a Deus que transforme toda fala em casa.
III. A Língua tem Poder para Dividir (9-12)
A língua dividida significa fonte corrompida, e que algo está
errado com o coração!
A língua é a fonte que jorra hipocrisia e falsidade; é o auge da
esquizofrenia verbal. É incoerente,
dividida, como língua de cobra. Da mesma
boca podemos cantar louvores na igreja e destruir nosso cônjuge no caminho para
casa. Podemos dar uma aula de EBD e logo
em seguida detonar a vida de um filho.
Isso é errado! Mas esse tipo de
incoerência é típica da língua. Não
significa, necessariamente, que não somos convertidos. Significa que a conversão do nosso coração ainda
não alcançou os lábios.
Seria impossível para uma fonte natural produzir água doce e
amargosa ao mesmo tempo (11). Seria
impensável colher azeitonas de uma figueira (12), ou fonte de água salgada dar
água doce. Mas a língua pode. A mesma língua, como no caso de Pedro, pode
declarar uma revelação celestial para Jesus, “Tu és o Cristo, o filho do Deus
vivo” e na próxima sentença ser reprovado pelo próprio Jesus por ter falado
palavras do inferno, “Arreda! Satanás” (Mt 16:17, 23).
Fico imaginando se Tiago, meio-irmão do próprio Senhor Jesus,
lembrava-se da sua juventude, e a
maneira pela qual ele e seus outros irmãos tratavam o irmão mais velho,
Jesus. Imagine como seria ser irmão mais
novo de Jesus! Quantas palavras
desgraçadas teriam escapado de sua boca, quando ainda não acreditava que Jesus
era o Cristo. Palavras venenosas,
diabólicas, talvez um “dedo-duro”, com acusações falsas, ciúmes, vingança,
ódio. Afinal de contas, não teria sido
fácil ser um irmão de Jesus. Imagine
seus pais falando, “Tiago, por que você não pode ser como Jesus?”
Mais tarde, tudo mudou. A
fonte poluída foi transformada. Água
salgada virou doce. O meio-irmão
incrédulo, zombador, se tornou líder da igreja em Jerusalém e autor dessa
epístola maravilhosa. Tiago destaca que
uma fé genuína implica em mudanças radicais (literalmente) na língua! A mudança “radical” significa uma mudança de
raiz, ou seja, do coração. O coração
controla a língua. Quando Jesus
transforma o coração, mudanças têm de acontecer na língua. Às vezes, essas mudanças demoram. Significa
que ainda existem sujeiras no encanamento.
Mas geralmente uma fonte cristalina tem que produzir palavras
cristalinas.
Você já reparou no poder das palavras para fazer bem ou mal? Consegue se lembrar de uma vez em que você
foi desmontado por uma palavra desgraçada?
Por outro lado, lembra-se de alguma vez em que alguém falou uma palavra
de encorajamento que mudou toda a sua perspectiva de vida?
Somos pecadores por natureza, e a tendência natural é de fofocar,
resmungar, criticar, falar mal, blasfemar.
Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo-- para resgatar a língua
do homem. Para isso, precisava fazer um
transplante--não da nossa língua, mas do nosso coração, pois a língua só fala do que o coração está cheio. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram
como alvo transformar o coração daqueles que depositam sua confiança (fé) nele
(e só nele) para a vida eterna. O
resultado deve ser uma transformação de vida, a começar com a raiz (o coração)
até o fruto (a língua)!
Como, então, desativar esta bomba entre nossos lábios? A resposta bíblica é de pesar, pensar e
peneirar nossas palavras. Em outras
palavras, falar pouco e falar bem o que falamos. É impossível domar a língua, se Jesus não
domar o coração.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr.
Edson Cavalcante.
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