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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

SOFRIMENTO

 

SOFRIMENTO

O sofrimento é sem dúvida o “calcanhar de Aquiles” na teologia de muitos cristãos. É sempre um ponto de dúvida, discórdia, até mesmo de rejeição. Há normalmente muita confusão quanto a esse tema.

Por exemplo, há cristãos que acreditam que pelo fato de Cristo ter sofrido em seu lugar e serem “mais que vencedores”, eles não deveriam sofrer. Para eles, todo sofrimento é obra maligna e uma de suas causas pode ser a “falta de fé”.

Eu me lembro que quando minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer (cerca de dez anos atrás), eu fui aconselhado a pensar dessa forma. Eu vivia em conflito e com grande culpa, pois me esforçava muito para ter esse tipo de “fé” curadora. Fazia jejuns e orava constantemente, mas ela nunca foi curada.

Há outros cristãos que até entendem que o sofrimento nessa vida é normal, mas vivem se perguntando o “porquê”. Não veem propósito algum nisso.

Há também os especialistas em sofrimentos, aqueles que precipitadamente julgam toda a situação e logo acham as causas específicas: “é retribuição divina”; “é o diabo”; “é porque seus pais foram assim ou assado”. São como os discípulos em João 9.2: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego”. Veja que para os discípulos, havia uma causa específica para o sofrimento do cego – um pecado específico. Mas Jesus supreendentemente responde: “Nem ele nem seus pais pecaram…” (v. 3). Aprendemos, portanto, que não é nosso papel se colocar no lugar de Deus como oniscientes em causas do sofrimento humano.

Mas o que a Bíblia tem a nos dizer sobre esse tema? O que o evangelho tem a nos ensinar sobre o sofrimento? Gostaria de mencionar somente alguns pontos:

1) O evangelho é uma mensagem que inclui sofrimento.
Paulo descreve o evangelho em 1Co 15.3-4 e o resume como a história da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus. “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1Co 15.3), ou seja, Cristo sofreu! Nesse sentido o evangelho é a história do sofrimento do nosso Salvador.

2) Por causa desse evangelho, temos um Deus que se compadece de nós quando sofremos.
Por pelo menos duas vezes o autor de Hebreus nos diz que Cristo pode nos socorrer e se compadecer por nós pelo fato de ter “sofrido” e ter sido “tentado”. Veja um exemplo:

“Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados.” Hb 2.18. (O outro exemplo: Hb 4.15).

C.S. Lewis retratou isso de forma brilhante no livro “O sobrinho do Mago”. O menino Digory recebe uma missão do Leão Aslam (que nas obras de Lewis é uma representação de Jesus), mas está indisposto em realizá-la, pois, sua mãe está enferma e ele quer cuidar dela. Enquanto está em conflito interno, ele olha para Aslam e se surpreende, pois, grandes lágrimas brilhavam nos olhos do Leão. Eram lágrimas tão grandes e tão brilhantes, comparadas às de Digory, que por um instante sentiu que o Leão sofria por sua mãe mais do que ele próprio.

– Meu filho, meu filho, eu sei. A dor é grande. Só você e eu nesta terra sabemos disso. Sejamos compassivos um com o outro” – diz o Leão.

Para Lewis, o Leão sofre e se compadece com o sofrimento de Digory. Pondere isso por um instante. O nosso Deus, Jesus Cristo, sofreu como nós, sabe exatamente o que sentimos, entende perfeitamente a nossa dor. Que consolo temos ao recorrer ao Senhor em nossas piores horas. Nossa situação não lhe é estranha e ele não é indiferente quanto ao que passamos.

3) O sofrimento de Cristo nos serve como exemplo para essa vida.
Ao contrário do que alguns ensinam de que não há mais sofrimento na vida cristã, a bíblia ensina que pelo fato de Cristo ter sofrido sem pecar, ele é o nosso exemplo de como viver em meio ao sofrimento. Veja o que Pedro diz:

“Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos.” (1Pe 2.21)

Veja que a Bíblia desconhece a ideia de que os cristãos estão isentos ao sofrimento, mas assume essa realidade nos oferecendo direção

4) Houve propósito no sofrimento de Cristo e há propósito no nosso sofrimento.
Acerca de Cristo é dito que “por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2.9). Cristo sofreu com um propósito, ele tinha de provar a nossa morte e ser coroado por isso.

Da mesma maneira a bíblia nos oferece os “para que” quanto ao nosso sofrimento:

“De fato, tivemos em nós mesmos a sentença de morte, para que não confiássemos em nos mesmos, e sim no Deus que ressuscita os mortos…” (2 Co 1.9).

Somos “vasos de barros, para que se veja que a excelência do poder provém de Deus, não de nós…” (2Co 4.7).

“Levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida dele se manifeste em nosso corpo” (2Co 4.10).

“Nem ele pecou, nem os pais dele; mas isso aconteceu para que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9.3).

O ponto aqui é importante: sofremos com propósito. Não estamos lidando com o acaso, não estamos sob ação última do diabo, mas sim do nosso Deus soberano que está usando dessas adversidades para realizar seus planos! Termos essa consciência de que Deus está fazendo algo em nossa dor, muda a maneira de experimentarmos o sofrimento.

5) Graças ao evangelho, o sofrimento deixará de existir.
Estejamos certos de que por meio do sofrimento de Cristo, Deus resolveu o problema do nosso sofrimento. Há de chegar um dia em que o mal não mais existirá e estaremos livres das consequências do nosso pecado e da interferência do diabo.

Se de um lado temos “os sofrimentos do tempo presente” (Rm 8.18), de outro lado temos a esperança de que a “criação será libertada do cativeiro da corrupção” (Rm 8.21).

Concluímos, portanto, que a Bíblia nos ensina que até o fim de nossa existência nessa vida, sofreremos. Mais do que isso, ela nos diz que há graça e misericórdia de Deus em Cristo para todos os nossos dias, bons ou ruins. Não cabe a nós investigar causas específicas do sofrimento humano, mas descansar e nos alegrar nos propósitos já revelados nas Escrituras.

Para reflexão
1) Veja no ponto 4 alguns propósitos divinos para o nosso sofrimento. Você tem experimentado algum deles de maneira prática em sua vida? Gostaria de compartilhar isso com o grupo?

2) Você já pensou que pode recorrer a Cristo em sua dor pois ele sabe exatamente o que sentimos e nos oferece graça para cada momento?

3) Tire um tempo em oração, entregue a Deus a sua ansiedade, descanse e se alegre nas promessas divinas.
Apóstolo. Capelão/\juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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