AS MULHERES QUE SERVIAM A JESUS.
Aconteceu que, algum tampo depois, Jesus percorria cidades e aldeias, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Acompanhavam Jesus os Doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Suzana e muitas outras, que o serviam com seus bens. (Evangelho de Lucas, cap. 8, vv. 1 a 3).
O Evangelho de Lucas foi resultado de informações oriundas especialmente da mãe de Jesus, Maria de Nazaré. Provavelmente, devido às informações de Maria, Lucas destaca que não apenas os doze apóstolos acompanhavam o divino Messias em sua missão de esclarecer e de curar em inúmeras cidades e aldeias, mas também faziam parte dessa comitiva um número expressivo de mulheres, algumas das quais depois de terem sido curadas por Jesus.
Lucas destaca Maria Madalena, Joana de Cuza e Suzana, como sendo exemplos de mulheres que foram curadas por Jesus e depois passaram a acompanhá-lo, inclusive colaborando com ajuda material em muitas dessas peregrinações. Eram apóstolas do Cristo que representaram a vivência da caridade, ajudando, com os seus bens, na manutenção da comitiva e especialmente na ajuda humanitária para inúmeras famílias que viviam na penúria nos lugares por onde passavam.
No colegiado apostolar masculino do Mestre, os doze apóstolos também dispunham de recursos satisfatórios para as viagens, mas ao encontrarem a fome, a enfermidade e toda espécie de carência, a união de todos também se fazia necessária. Desse modo, praticavam os ensinos do Mestre, o que lembra o convite de Jesus ao moço rico e virtuoso, mas ainda apegado à vida material: “Uma só coisa te falta. Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. “O moço, preocupado com essa palavra, retirou-se cheio de tristeza, porque era possuidor de muitos bens” (Mt 19:16-22; Mc 10:17-22 e Lc 18:18-23).
Maria, chamada Madalena, encabeça a lista dessas mulheres curadas por Jesus e que se dispuseram a ajudá-lo na missão de evangelizar e de socorrer com os seus bens. Lucas não relata as curas ocorridas em Joana de Cuza e em Suzana, mas divulga a natureza da cura de Madalena, “da qual tinham saído sete demônios”. Nesse sentido, surge a pergunta: Quem revelou que foram sete espíritos obsessores (daímôn)? Evidente que somente Jesus poderia passar essa informação. Mas disso não se deve concluir que ela fosse uma meretriz ou portadora de condutas censuráveis. Jesus curou inúmeros enfermos portadores de obsessões atrozes, alguns dos quais nem gozavam de lucidez, o que deve ter sido o caso de Madalena.
O nome de Maria, chamada Madalena ou Maria de Magdala, deriva de sua cidade natal, Magdala, hoje El Medjdel (significa torre de Deus), localizada em Israel. O nome Magdala deriva do termo hebraico migdal, que significa “torre”. Magdala era uma cidade da Galileia, que também era conhecida pelo nome Tariqueia, uma aldeia de pescadores, localizada na margem ocidental do mar da Galileia, ou seja, do lago de Genesaré ou de Tiberíades. Depois de ter sido curada por Jesus, Maria Madalena por inúmeras vezes se afastou de sua cidade, provavelmente com o apoio da família, para seguir os passos do profeta que a libertou de um longo e tormentoso sofrimento. Não há registros a respeito dos nomes dos pais de Madalena, se ela teve filhos, marido ou irmãos. É provável que tenha pertencido a uma família abastada de Magdala que empresariava a pesca. Teria sido a primogênita, filha única? Também não se tem registro. Mas deveria ser uma mulher jovem, carismática, portadora de legítima liderança e que gozava da confiança de todos. A presença de Madalena aos pés da cruz e ter sido ela a primeira pessoa que Jesus escolheu para anunciar o seu retorno depois da crucificação (João 20:15-16), demonstra ser uma discípula com laços especiais de afinidade com Maria de Nazaré e com o divino Messias à semelhança de João, o Evangelista, para quem o Mestre, do alto da cruz, confiou a sua mãe:
“Jesus, vendo sua mãe e ao lado dela o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe!” E desde essa hora o discípulo a recebeu em sua casa.” (João, 19:25-27).
A segunda mulher seguidora de Jesus mencionada por Lucas é Joana, mulher de Cuza, procurador ou administrador das propriedadesde Herodes Antipas, tetrarca ou governante da Galileia e da Pereia. O nome Cuza vem do aramaico, significando jarrinha.
O nome Joana é a forma feminina do nome João, que significa “favorecida por Yahweh”. Segundo a tradição, Joana é considerada uma das irmãs de Maria, mãe de Jesus, conforme explica o teólogo Carlos Torres Pastorino, em sua obra Sabedoria do Evangelho, volume terceiro. Pastorino também assevera que o oficial de Herodes que solicitou de Jesus a cura para o seu filho poderia ter sido Cuza (João 4:46-54). Os fatos de Joana e de seu filho terem sidos curados por Jesus, seu grau de parentesco com o Mestre e o apoio do marido motivado pela gratidão, são justificativas muito fortes para que essa venerável mulher seguisse os passos do Mestre até o fim de sua existência.
Também Joana estava entre as mulheres que seguiram a Jesus até Jerusalém, para a páscoa, e que foram testemunhas da crucificação. Conforme o relato de Lucas (24:1-18), juntamente com Maria Madalena, com Maria, mãe de Tiago, e com outras mulheres, Joana foi à cidade a fim de preparar especiarias para cuidar do corpo de Jesus para o sepultamento. Quando ela e as outras mulheres chegaram ao túmulo, verificaram que o sepulcro estava vazio e divulgaram o fato do ressurgimento do Mestre aos apóstolos e aos demais discípulos.
A terceira mulher mencionada por Lucas é Suzana, cujo nome significa “lírio”. Os evangelho não revelam qualquer informação a respeito de Suzana. No entanto, a escritora Marislei de Sousa Espíndula Brasileiro, doutora em Ciências da Religião, detalha a vida de Suzana na obra intuída A joia da Galileia.
De acordo com a Dra. Marislei, Suzana nasceu na cidade de Tiberíades, localizada às margens do lago de Genesaré, cinco quilômetros ao sul de Magdala, entre 6 e 4 a.C. . Ela afirma que alguns textos apócrifos relatam que Suzana era uma mulher de beleza singular e de personalidade marcante. Foi herdeira de relativa fortuna depois da morte de seus pais, quando foi cuidada desde a infância por sacerdotes. Depois de algum tempo, um dos sacerdotes do templo de Jerusalém tornara-se responsável por sua proteção e por seus bens até idade adulta. Em sua juventude, Suzana despertou o amor do então soldado Otávio, que servia o império romano. Depois de ver os seus bens dilapidados, a jovem Suzana fugiu em busca de seu amado e de conforto espiritual. Arrecadou o que sobrara de sua fortuna e partiu com alguns dos seus serviçais. Nessa fuga, encontrou a caravana de Jesus e passou a seguir o Mestre juntamente com outras mulheres, quando encontrou conforto e fortalecimento espiritual.
Lucas também relata que muitas outras mulheres seguiam a Jesus. O evangelho de Marcos (15:40) confirma essa informação porque, além de citar Maria Madalena, também menciona Maria, a mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé. Segundo Pastorino, a tradição informa que Salomé era uma das “irmãs” de Jesus, casada com Zebedeu, mãe de Tiago o maior e de João, o evangelista. Também a tradição defende que Maria, a mãe de Tiago, o menor, era casada com Alfeu, irmão de José, o pai de Jesus. A caravana de Jesus estava repleta de seguidores que faziam parte de sua família carnal. Todos reconhecidos a Deus por enviar aos descendentes de Abraão, um poderoso e generoso Messias.
Percebe-se que muitos espíritos superiores sintonizados com o divino Mestre reencarnaram naquele tempo para dar suporte ao seu trabalho redentor. Homens e mulheres, jovens e crianças, estavam reunidos em torno do trabalho do Cristo com alegria e abnegação. Fizeram viagens que ficariam nas lembranças de todos por toda a eternidade.
Mais tarde, aos pés da cruz, somente o jovem João, o Evangelista, permaneceu como único representante do colégio apostolar masculino, enquanto que não se deu falta de nenhuma das mulheres que acompanharam o Cristo em suas jornadas de caridade. As mulheres que seguiram a Jesus, devotadas apóstolas do Amor, nunca temeram as ameaças do mundo, sentiram a dor de seu Mestre e cantaram hosanas quando viram o sepulcro vazio como um majestoso sinal de vitória do bem sobre as sombras da ignorância, do medo e do desamor. Sem a coragem e o amor dessas apóstolas da Caridade, não teríamos as bênçãos da renunciação, o êxito completo das peregrinações, a perseverança diante do cansaço e dos dissabores, o consolo diante da cruz e o fortalecimento da fé e da esperança com o ressurgimento e a ascensão do nosso Senhor rumo às esplendorosas moradas do Pai.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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