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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

NEGANDO A CRISTO.

 

NEGANDO A jJESUS

“Então lhes disse Jesus: Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais! Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos”. (Marcos 14.27-31)

Os discípulos tinham acabado de cear com Jesus. Estavam em festa, era a Páscoa! Mesmo já tendo ouvido sobre a sua morte, e sabendo que um deles estava para o trair; neste momento estavam, todos, sob o efeito das delícias da ceia. Estavam em festa! Alegravam-se com as comemorações que lembravam a libertação dos judeus da escravidão no Egito! Além do mais, todos haviam sido testemunhas da entrada triunfal em Jerusalém: os mantos, os ramos e as palmas pelo caminho… Os gritos de Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem… Tá certo que ele estava montado num jumento, um burrinho, mas isto não diminuía a importância, o significado, e o impacto daquele momento!

Também havia os sinais, as maravilhas, os milagres realizados ao longo dos últimos três anos… E todos haviam visto com seus próprios olhos! Também tinham sentido na própria pele o toque, o afago, as virtudes que fluiam do Filho do Homem com tanta naturalidade! Momentos antes, durante a ceia, tiveram seus pés lavados por Seu Senhor; o ouviram falar sobre o Consolador, sobre a videira e os ramos, sobre as muitas moradas da casa do Pai, e, por fim, o ouviram numa oração muito especial, uma oração profética, e também com ele, cantaram… ao menos um hino!

Por tudo isso, e talvez mais, quando o Mestre os alertou de que logo todos o abandonariam, a resposta unânime foi: “Ainda que nos seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negaremos!”.

O mesmo acontece conosco! Em tempos de festa e alegria; nos momentos de intimidade e comunhão com o Senhor; quando vemos, sentimos e somos encharcados com o óleo da unção; quando a água é transformada em vinho; quando os sinais e maravilhas nos acompanham, quando a normalidade “sobrenatural” da vida da igreja corre solta; então afirmamos como aqueles discípulos, e como eles, não temos a menor dúvida de que jamais negaremos ao nosso amado Jesus, mesmo que isso implique em nossa morte!

Mas aí, somos levados pelo próprio Senhor ao Getsêmani: o lugar da angústia, o lugar da dúvida, o lugar do cálice amargo, o lugar da provação, o lugar da tentação, o lugar do sono… Sim, desapercebidos do que acontece nas regiões celestiais, ignorando o momento crítico por qual estamos passando, alheios à batalha espiritual na qual estamos inseridos, simplesmente adormecemos! Nossos olhos ficam pesados e não conseguimos vigiar junto com Jesus… Dormimos de tristeza!

O segundo passo, depois do sono espiritual, é a negação: “Não sou seu discípulo!” O pior é que o negamos não somente com palavras, como fez Pedro; o negamos com nossas ações, nossas omissões, nossas intenções e nossas motivações… E se não despertarmos do sono, se não cairmos em nós, se não lembrarmos das palavras do Mestre e não nos arrependermos, como fez Pedro, aí então, será o nosso fim.

Mas, afinal, por que somos levados ao Getsêmani, esse lugar de provações, quando tudo está indo tão bem, quando estamos tão perto da vitória?

A resposta está nas palavras de Jesus a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” (Lc 22.31). Noutra ocasião Jesus falou que o trigo e o joio estão sempre juntos, e que é difícil sabermos o que é um e o que é o outro! Aí a necessidade da peneira!

O nosso inimigo e acusador, muito interessado em separar o trigo do joio, muito preocupado em ‘limpar’ o celeiro de Deus, pede ao Senhor para nos provar e tentar, assim como fez a Jó. E o nosso amado Deus, desejoso de nos aprovar, de nos tornar alvos como a neve, de nos purificar como o ouro refinado, permite ao seu inimigo nos peneirar, mesmo correndo o risco de decepcionar-se conosco. Mas Ele é o amor, e o amor tudo suporta!

Em nada diferente do Pai, o Filho, nosso advogado e intercessor; aquele que por amor tomou o nosso lugar, sofreu as nossas dores, morreu a nossa morte, nos conforta com as palavras que disse a Pedro: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça […]” (Lc 22.32). Aleluia! Ele já providenciou o escape, já nos deu o livramento! Então Jesus profetiza a Pedro: “[…] tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22.32). Sim, é uma palavra profética, é uma palavra de bênção! Ele não tem dúvida e não diz “Se te converteres!”, Ele afirma: “quando te converteres!”. Este é o nosso Deus, aquele que tudo espera e tudo crê!

Mas o nosso tratamento não visa apenas a nossa limpeza, a nossa mudança, a nossa aprovação. Não! O nosso amado Pai sempre deseja mais e quer nos levar adiante. Ele quer que sejamos participantes da Sua glória, quer que sejamos cooperadores Seus: “[…] tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22.32). O Senhor quer nos capacitar, através das provações (Tg 1.2-4), para que, transformados, possamos ajudar a outros que vierem a passar pelas mesmas provas e situações que nós!

Como podemos vencer no Getsêmani? Ouvindo a Palavra de alerta do Senhor; Vigiando em oração, para não cairmos em tentação; Despertando do sono espiritual, estando vestidos para a guerra (Is 52.1-2); Permanecendo com Ele e nEle (Jo 15.1-11). O Getsêmani vai passar, o Calvário vai passar, o sepulcro vai passar… Ele já ressuscitou! Aleluia!

Se o temos negado, Ele nos diz: “Amas-me mais do que estes outros? Apascenta os meus cordeiros!” Ele insiste: “Tu me amas? Pastoreia as minhas ovelhas!” E mais uma vez nos pergunta: “Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!” Observe que para cada negativa há uma oportunidade para uma afirmativa. Isto é perdão, isto é amor! A princípio Pedro não entendeu o por quê da repetição, mas como ele havia negado três vezes, precisava de três oportunidades para afirmar seu amor e compromisso com Jesus!
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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