18 ESTRATÉGICA DE NEEMIAS PARA A RECONSTRUÇÃO DE JERUSALÉM.
O autor do livro de Neemias talvez seja Esdras, que o escreveu juntamente com o livro de Esdras por volta de 430 AC. É um livro que fala de restauração de ‘muros’, da personalidade, do equilíbrio emocional, de relacionamentos; enfim, do que já se perdeu na alma.
Os babilônios conquistaram Judá em 586 AC. A Pérsia, por sua vez, conquistou a Babilônia (539 AC) e depois permitiu que os judeus retornassem a Jerusalém. Em 445 AC os desafios da reconstrução da terra natal lhes haviam baixado o moral. Sob a liderança de Esdras, eles haviam reconstruído o templo (458 AC), mas os muros da cidade permaneciam em ruínas.
Susã era a capital de inverno do Império Persa, localizada cerca de duzentos e quarenta quilômetros ao norte do Golfo Pérsico, onde hoje é a fronteira entre Irã e Iraque. Susã ficava a sudoeste de Bagdá e distava de Jerusalém cerca de mil e seiscentos quilômetros. Foi também cenário da história de Ester. O mês de Quisleu corresponde a novembro-dezembro no calendário cristão.
Neemias era o copeiro do rei Artaxerxes, que corresponde hoje aos serviços secretos que os países mantêm para a proteção do seu presidente, ou seja, ele provava a comida e a bebida servida ao rei. Ele chorou quando soube da notícia sobre os muros destruídos e as portas queimadas, por isso orou e jejuou por quatro meses (o mês de Nisã descrito em Ne 2: 1 corresponde a março-abril no calendário cristão), pediu a direção de Deus e achou graça aos olhos do rei para voltar à sua terra e reconstruir. Da mesma forma, quando o Espírito nos mostra nossa alma e nossa vida destruída, choramos, oramos, pedimos a direção de Deus e nos dispomos a reedificar nossas portas e nossos muros. Quando falamos de muros, estamos falando biblicamente da proteção do nosso espírito e da nossa alma. Portas significam (neste caso de Neemias): poder e autoridade, limite ao avanço do inimigo, assim como coluna (que vemos em outros textos bíblicos) significa: vida de oração. O templo é o nosso espírito, assim como Jerusalém é a nossa alma, a cidade que precisa ser reconstruída. Torre significa: vigilância, lugar de comunhão com Deus, que nos avisa de ataques e estratégias.
Neemias obedeceu a alguns princípios básicos para reconstruir, e é o que vamos estudar com mais detalhes agora, pois são princípios a serem obedecidos para a nossa reconstrução interior:
1º) Humilhou-se diante de Deus e confessou os seus pecados e os do povo. Os pecados eram muitos, mas o mais grave de todos era a apatia para com os mandamentos, ou seja, o povo desobedeceu à palavra do Senhor e caiu na idolatria, motivo pelo qual Deus o entregara nas mãos do inimigo. Podemos ler isso em Ne 1: 5-11. Assim é com nossa vida. Quando olhamos para nossa alma destruída e decidimos reconstruí-la, precisamos inicialmente reconhecer nosso erro, pedir perdão a Deus pelos nossos pecados que deram brechas ao inimigo e pedir e liberar perdão de Deus para as pessoas que participaram dessa destruição de alguma forma.
2º) Pediu o que necessitava para realizar sua viagem e seu trabalho de reconstrução com sabedoria e certeza, pois estava instruído por Deus (Ne 2: 5-8). Neemias pediu ao rei persa o que estava necessitando para realizar a obra que tinha adiante de si, pois estava debaixo do seu domínio. Nós, entretanto, não vamos pedir licença ao inimigo. Depois que o Espírito Santo nos faz avaliar nossa situação com clareza, Ele mesmo nos dá sabedoria para entrarmos na presença de Deus e pedirmos a Ele o que necessitamos para executar nosso trabalho. Podemos pedir exatamente o que queremos.
3º) Declarou a carta do rei aos governadores liberando o trabalho, ou seja, depois que o rei lhe tinha dado cartas, ele só teve que entregá-las aos governadores das províncias como uma ordem real que não poderia ser revogada (Ne 2: 9). Da mesma forma é conosco. Quando Deus nos autoriza a reconstruir, passamos a profetizar Sua palavra para que ela se cumpra. Ela vai à nossa frente preparando o caminho para que executemos Sua vontade no mundo natural. É claro que ao profetizarmos nossa vitória, o inimigo vai ficar sabendo. Sambalá, o horonita, e Tobias, o amonita, ficaram sabendo e se opuseram. Sambalá poderia ser o governador de Samaria, região imediatamente ao norte de Jerusalém. Tobias, possivelmente, era governador de Amom, região a leste de Jerusalém, do outro lado do rio Jordão, e amigo e parceiro de Sambalá nos negócios. Embora sob jugo persa, esses homens haviam-se tornado poderosos e ricos, exercendo controle sobre Jerusalém e seus habitantes. É provável que não apreciassem a entrada de ninguém em seu território. Sambalá significa: ódio disfarçado, força, violência. Tobias significa: YHWH é Deus, Deus é bom. Figuradamente, representa: acomodação, ou seja, faz-nos achar boa a situação em que estamos. Mais adiante no texto, vamos encontrar outro personagem chamado Gesém, o arábio. Gesém significa chuva e, biblicamente falando, chuva é a presença do Espírito em nós, resposta de oração do céu. Gesém nos impede de receber as respostas de Deus e tenta apagar o fogo do Espírito Santo. Esses três personagens simbolizam demônios que são enviados para frustrar o projeto de reconstrução nas nossas vidas. O inimigo envia violência para destruir o que reconstruímos, nos faz sentir acomodados com nossa situação de fracasso, derrota e destruição, nos induzindo a pensar que é melhor deixarmos tudo do jeito que está, e tenta impedir a chegada da resposta de Deus às nossas orações com o objetivo de apagar o fogo do Espírito em nós. Não podemos nos esquecer também da nossa própria carne, cujos pensamentos limitantes também são um impedimento, tentando frustrar os planos de Deus, ou seja, nem tudo é demônio. Nossa imperfeição humana também age.
4º) Não falou com ninguém antes de inspecionar o estrago (Ne 2: 11-16). Isso pode ser devido a dois fatores. Com os muros destruídos, Jerusalém era povoada por não-judeus, portanto, sofria intrigas políticas, e espiões poderiam vender informações secretas aos inimigos de Israel. Em segundo lugar, ele não queria que aqueles judeus que já estavam fracos e desanimados desacreditassem nele e no plano de Deus para reconstruírem. Isso significa que depois de avaliarmos nossa situação e decidir reconstruir, precisamos reavaliá-la sozinhos e decidir se vamos ou não pedir ajuda ou se a pediremos para quem está ao nosso lado, ou seja, se os que estão ao nosso lado são pessoas de fé e disposição para nos ajudar ou se são esmorecidas e linguarudas, pois podem “nos vender” para o inimigo.
5º) Só depois de avaliar a destruição, pediu ajuda dos que queriam edificar com ele (Ne 2: 17-18). Podemos notar que, ao pedir ajuda, Neemias teve que dar a eles uma palavra de incentivo, força e fé em Deus. Um dos argumentos usados por Neemias e que pesou muito na decisão deles foi a vergonha pela qual estavam passando, pois a Cidade de Davi ainda era um ponto de orgulho para os judeus e, do jeito em que estava, os comprometia como nação diante dos povos ao redor. Assim é conosco. O inimigo destruiu o que para nós deveria ser motivo de orgulho, nos trazendo a vergonha diante das pessoas. Portanto, os que estão ao nosso lado devem ver a glória de Deus sobre esta situação, reconstruindo o que parecia impossível e sem solução. Os fortes e fiéis estarão ao nosso lado.
6º) Não deu atenção aos que zombavam (Ne 2: 19-20). Neemias deu uma resposta à altura das zombarias e provocações colocando Deus na frente de tudo, pois o que ele se propunha a fazer parecia impossível aos olhos humanos. Assim, nós devemos colocar Deus à frente do nosso projeto e não dar atenção àqueles que dizem que é muito difícil o que nos propomos a fazer, ou que têm visão carnal das coisas e se conformam com as fraquezas humanas, com as impossibilidades naturais, com as limitações ou com a destruição.
7º) Colocou mãos à obra (Ne 3: 1-32). Neemias separou o povo em grupos para reconstruir cada parte dos muros. Segundo parece, as partes norte e oeste do muro precisavam apenas de reparos. O muro leste, porém, deve ter sido completamente refeito. Se olharmos o mapa da cidade de Jerusalém do tempo de Neemias (no final da página) e o compararmos com o tempo da monarquia, nós poderemos notar que o lado oeste foi expandido. Os muros, com uma base de cerca de dois metros e meio de espessura, foram rudimentarmente construídos com pedras inteiras e com cascalho, explicando porque era alvo de zombarias. Talvez tivesse uma altura de seis a nove metros, com quase três quilômetros e meio de comprimento, numa circunferência de trezentos e sessenta e quatro quilômetros quadrados. Aqui, eu vejo um paralelo interessante com a nossa vida cristã. O Norte, na bíblia, significa: o trono de Deus, o que norteia nossa vida, Sua palavra e Sua vida plena para nós. O Sul significa: a nossa própria vida, nossa humanidade e imperfeição, em confronto com a majestade e plenitude de Deus. O Ocidente significa: o mundo material, as coisas naturais, o antigo; e o Oriente, o mundo espiritual, as coisas espirituais. Se notarmos o que nos acontece, a maior parte das destruições que ocorrem nas nossas vidas se inicia com a ação de demônios e com nossa fraqueza espiritual, pois geralmente nascemos sem noção das realidades espirituais e, muitas vezes, crescemos buscando erradamente a presença de Deus através da idolatria. Isso nos enfraquece, pois nos tira do centro e do alvo da nossa verdadeira adoração que deve ser Jesus. Por isso, nós devemos iniciar nossa reconstrução pela vida espiritual correta diante de Deus e com a visão exata das realidades espirituais, das armas verdadeiras a serem usadas, só assim teremos vitória. Outra atitude que devemos ter é a que Neemias teve: iniciou logo a obra, não arranjou desculpas para prorrogar a reconstrução; é pôr logo em prática o que Deus já nos falou, sem procrastinação.
8º) Vigiou e trabalhou ao mesmo tempo (Ne 4: 1-23), com ânimo, força e perseverança; mesmo debaixo das ameaças, eles não deixaram o trabalho por nada. Como o muro foi reconstruído em cinqüenta e dois dias, provavelmente não o largaram nem para tomar banho ou para se preocupar com outros afazeres. Com uma mão seguravam a pá; com a outra, a espada, a lança e o arco (eles trabalhavam em alternância, Ne 4: 16). Isso significa continuar orando, profetizando, mas agindo concretamente. É interessante que Neemias continuou incentivando o povo, lembrando-o do Senhor e de suas famílias, pois esses eram os verdadeiros incentivos para continuar a obra. No versículo 20 ele faz menção do som da trombeta para que o povo se ajudasse mutuamente quando necessário. Isso quer dizer que devemos pedir reforço de oração quando for preciso, para que tenhamos força para continuar o trabalho. No versículo 23 ele faz outra advertência: não largar as vestes, ou seja, não deixarmos a proteção da armadura de Deus (Ef 6: 10-20).
9º) Não se rendeu ao inimigo nem tirou vantagem dos que o ajudavam (Ne 5: 1-19). Deus esperava que Seu povo ajudasse os pobres concedendo-lhes empréstimos sem juros. Algumas vezes, os povos antigos sem muitas propriedades para hipotecar eram forçados a usar os membros da família como garantia de empréstimos. Se o empréstimo não fosse saldado, o credor ganhava a pessoa prometida como escravo pelo tempo necessário para saldar a dívida. Esse tipo de escravidão não era necessariamente cruel e esses escravos não eram obrigatoriamente afastados de suas casas, mas tinham de servir aos novos senhores. Por isso, Neemias repreendeu os nobres e magistrados e os fez jurar diante dos sacerdotes que liberariam os empréstimos para sustento do povo, sem que ele tivesse que ser novamente vendido aos povos de outras terras. Neemias os fez restituir as posses a cada um do seu povo sem lhes pedir nada em troca. Ele, do seu próprio dinheiro sustentou os que o ajudavam, por isso deu o exemplo. Isso quer dizer que o líder deve ter temor de Deus e se doar, não tirar vantagem dos fracos nem de sua posição de liderança. Quando reconstruímos, devemos receber a ajuda que cada um pode nos dar, sem pedirmos mais do que cada um tem disponível.
10º) Pediu discernimento a Deus para não cair nas ciladas do inimigo e não se deixou distrair por coisas fúteis e sem importância que foram colocadas em seu caminho para que ele largasse a obra (Ne 6: 1-14). Os adversários de Neemias fizeram de tudo para tirá-lo do seu lugar e do seu projeto: chamaram-no para uma conversa, usaram de acusações falsas e até de astúcia para incorrer na ira do Senhor. Ele sabia que não era sacerdote e, portanto, não poderia entrar livremente no templo. Através do discernimento espiritual, percebeu que era cilada e que não fora Deus quem enviara a Semaías, o falso profeta. Da mesma forma conosco, devemos resistir às provocações do inimigo e nos revestir do Espírito Santo para termos discernimento espiritual e não cairmos em ciladas.
11º) Manteve vigilância para evitar roubo e invasão até que Deus enchesse plenamente o lugar (Ne 7: 1-14). Devemos manter guardas para evitar roubo e invasão até que Deus nos encha plenamente, ou seja, até que sejamos restituídos. Ele manteve os porteiros, os cantores e os levitas. Devemos, da mesma forma, colocar os anjos do Senhor guardando nossos muros e nossas portas, isto é, mantendo Sua proteção ao nosso redor; continuar cuidando do que construímos (os levitas cuidavam da Casa do Senhor em todos os sentidos) através da nossa oração e da leitura da Palavra e manter o louvor nos nossos lábios para fortalecer nossa alma e nosso espírito. Neemias manteve os cantores, pois os cânticos de louvor mantinham o povo fortalecido.
12º) Deixou a glória do trabalho para Deus (Ne 6: 16). Neemias reconheceu que por intervenção de Deus é que completou a obra, portanto, é por Sua ajuda e intervenção que conseguimos reconstruir. A glória é toda Dele, pois se torna evidente para nós que humanamente falando não temos condições de fazer nada do que foi feito.
13º) Depois de reconstruir, viveu como nova criatura (Ne 8 e 9). Neemias chamou Esdras, o sacerdote e escriba, para ler ao povo a Lei do Senhor e, assim, lembrá-lo dos preceitos divinos que eles tinham esquecido no cativeiro; também para ensinar os que nasceram em terra estranha o que nunca ouviram ou conheceram do verdadeiro Deus e da história de Israel. Ouvindo tudo, choraram e se arrependeram dos seus pecados e do pecado de seus pais e passaram a se alegrar. Da mesma forma é conosco. Depois de reconstruída nossa cidade, devemos perseverar nos mandamentos e nas direções do Senhor, viver como nova criatura, perdoada e curada. A partir de agora, passamos a viver uma vida de alegria, porque a direção de Deus não nos pune, mas nos protege. A Festa dos Tabernáculos servia para lembrar aos habitantes da Terra Prometida o que representava morar no deserto. No cativeiro, porém, os judeus não podiam celebrar a alegria de morar em terra própria. Agora que haviam retornado para casa, podiam comemorar novamente. Para nós, celebrar a Festa dos Tabernáculos significa que devemos nos lembrar com gratidão das maravilhas que Deus fez por nós na nossa caminhada com Ele e de onde Ele nos tirou.
14º) Consagrou o trabalho ao Senhor e manteve o louvor (Ne 12: 27-47). Louvar o Senhor é uma forma de manter nossos muros fortes, assim como Neemias manteve os levitas nos seus lugares.
15º) Deixou de fora a imundícia e manteve dentro somente o que era santo (Ne 13: 1-3). O espírito do mundo, com idolatria e obras da carne, não entra mais em “Jerusalém”. Só entra o que é santo e quem tem compromisso com Deus. Israel apartou de si todo elemento misto. Isso significa: aquilo que antes parecia uma maldição, Deus transformou em bênção na nossa vida.
16º) Não deixou mais o comodismo e a estagnação tomarem conta do seu espírito em relação à obra de Deus (Ne 13: 4-9). Neemias expulsou Tobias do templo, ou seja, não deixou que nada ficasse escondido no interior da Casa de Deus para depois servir de laço. Da mesma forma conosco, depois que reconstruímos devemos pedir ao Espírito Santo que vistorie o nosso interior para não deixar a acomodação tomar conta de nós. Devemos, sim, descansar para recuperar nossas forças, mas mantendo firme dentro de nós o pensamento de que agora temos uma nova vida e um novo motivo para existir, que é fazer a obra do Senhor, e a acomodação jamais pode entrar nesse projeto.
17º) Não carregou jugo nem fardo, não fez o trabalho de Deus, mas descansou nele (Ne 13: 15-22). Neemias restabeleceu a observância do Sábado para que o povo aprendesse a descansar no Senhor naquilo que só Ele pode fazer, e não mais depender das próprias forças para fazer as coisas. Nós, da mesma forma, não servimos mais o inimigo, portanto, nosso trabalho para o Senhor deve ser sem jugo e sem fardo, com alegria e por disposição própria, descansando na direção do Espírito Santo em nós.
18º) Não fazer acordo com o que é impuro (Ne 13: 23-31). Neemias condenou o casamento misto, como era da vontade de Deus para o Seu povo, para não acontecer o que tinha acontecido no passado. Deus espera que fujamos do meio-termo em nossos relacionamentos com pessoas não-crentes (2 Co 6: 14-18), mas deseja que preservemos a integridade espiritual e a santidade, entrando em contato com os “estrangeiros” com o propósito de conduzi-los ao Salvador. Neemias também pede a Deus que se lembre dele, o que quer dizer, que Ele continue lhe dando atenção e ouvindo-o nas suas orações. ‘Lembrar-se’, em hebraico, no Antigo Testamento, significa: ‘dar atenção’. Neemias também mencionou o fornecimento de lenha em tempos determinados, ou seja, devemos manter acesa em nós a chama do Espírito.
E você? Deseja reconstruir o que foi destruído em sua vida? Peça força ao Senhor e mãos à obra.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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