REBELDIA PIOR QUE FEITIÇARIA.
"Ai deles! porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré." (Jd v.11)
A epístola de Judas está dirigida a todos os crentes do evangelho. Sua intenção é resguardar aos crentes contra os falsos mestres que haviam começado a infiltrar-se na Igreja cristã, e a disseminar preceitos perigosos para reduzir todo o cristianismo a uma fé só de nome e a uma profissão externa do evangelho. Tendo negado assim as obrigações da santidade pessoal, ensinavam a seus discípulos a viver em sendas pecaminosas e, ao mesmo tempo, os bajulavam com a esperança da vida eterna. Demonstra-se o vil caráter destes sedutores e se pronuncia sua sentença, e a epístola conclui com advertências, admoestações e conselhos para os crentes.
Nesta epístola fica claro algumas atitudes de rebeldia desses falsos mestres. Quando fala-se em rebeldia está se falando da ação de rebelar; qualidade do que é rebelde; oposição; insurreição; pertinácia. Assim, tem-se nesta epístola exemplos de pessoas que se opuseram a autoridade divina e de líderes da igreja, provocaram o povo a pecar e ainda eram insubmissos. Esse texto nos serve de alerta (1 Co 10:6)
Hoje não é diferente. Homens e mulheres precisam tomar cuidado para que não caiam nos mesmos erros que alguns caíram anteriormente. Veja o que Judas diz: Ai deles! porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré. (v.11)
I – CAMINHO DE CAIM - INTOLERÂNCIA
Caim era irmão de Abel. Foi “o primeiro assassino, e Judas talvez queira dizer que assim como Caim assassinou o corpo de Abel, assim também estes homens (os falsos mestres) assassinam as almas doutras pessoas” . A narrativa Bíblica relata que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim (Gn 4:1-14). Sua postura e posição diante de seu irmão e de Deus demonstrou que ele era um homem invejoso, intolerante e violento. Sua atitude de matar o irmão prova que Caim não suportou ver o êxito de seu irmão e de forma traiçoeira matou-o.
a) Intolerância – As Escrituras nos fala de “suportar uns aos outros em amor” (Ef 4.2). Esta atitude revela amor, cuidado e compreensão. Este texto nos ensina como devemos olhar para o próximo. Na realidade é uma admoestação para que exista paz e harmonia entre os cristãos. Porém, o que se percebe em muitos indivíduos é um coração rancoroso, cheio de ódio e que não suporta as outras pessoas. Estes estão no mesmo caminho de Caim. Não conseguem ver o sucesso do outro. Os holofotes devem estar todos voltados para ele senão não fica satisfeito. Não conseguem se alegrar em ver que o outro é bem sucedido. Há uma advertência para este tipo de pessoa: O que faz uma cova cairá nela; e a pedra voltará sobre aquele que a revolve. (Pv 26:27). Aquele que intenta mal contra seu próximo certamente colherá os frutos de sua ação. Além disso, as Escrituras adverte contra ações provenientes da carne. (Gl 5:19).
b) Atitude do intolerante – gera morte. Geralmente aqueles que dizem não serem tolerantes têm a tendência de gerar morte. Ferem as pessoas (emocional e fisicamente) e não se arrependem disso. Veja que Caim não demonstrou nenhuma atitude de arrependimento, pelo contrário, ao ser indagado por Deus acerca do seu irmão, Caim respondeu de forma arrogante e soberba (Gn 4:6). Há muitos na igreja que suas atitudes têm provocado feridas e morte. Sua intolerância tem destruindo vidas, esfacelando famílias e produzido tristezas. A única alternativa para sair dessa atitude é humilhar diante do Senhor e arrepender (Lc 3:8; At 3:19).
Afirma que Caim representa o caráter cínico e materialista que desafia a Deus e despreza aos homens. Está destituído de fé e amor. Como tal, é o protótipo dos homens com os quais Judas tem de lidar. Pela mesma forma, hodiernamente enfrenta-se homens e mulheres cujos corações enfrentam a Deus e desprezam as pessoas. São pessoas sem piedade, sem fé e sem amor verdadeiro. Pergunto então: Como você vê a seu irmão(ã) em Cristo? Você gera vida ou morte? Você é invejoso? Não se arrepende?
II – ERRO DE BALAÃO – APOSTASIA E ENGANO
Balaão era tido como profeta (Nm 23:11). Tornou-se um mercenário. Queria “vender” os serviços seus como profeta de Deus. Sua conduta era de um homem que apesar de conhecer a verdade de Deus procurou andar por outros caminhos, distorcendo a verdade de Deus e usando-a em benefício pessoal. Não havia nele ética. Não importava para quem trabalhava, ou como usava o que possuía.
a) Erro de Balaão – (Nm 22-24) Ele foi avarento. Sabendo que não poderia amaldiçoar o povo de Deus, intentou então corrompê-los. Preparou para que os israelitas adotassem idéia pagãs e envolverem-se com mulheres moabitas e assim tornaram-se idolatras e totalmente atolados em suas práticas contrárias a fé de Israel. A intenção de Balaão foi a procura de ganhos independente se isto envolvia ao povo de Deus. Não estava preocupado em conhecer a verdade. Queria levar vantagem e não importava com o que deveria ser feito para atingir seus objetivos. Ele foi ganancioso. Sua atitude errônea foi levar o povo a pecar. Foi responsável por enganar os israelitas. Ainda hoje há homens e mulheres cujo caráter é deformado, e assim como Balaão, usam de todos os artifícios para alcançarem lucro. Passam por cima das pessoas, de autoridades e da própria Palavra de Deus. Não tem temor a Deus e usam da obra de Deus para seu benefício. O obreiro é digno do seu salário (Lc 10:7), mas , quando alguém usa da obra de Deus para abusar das pessoas, para usufruir benefícios pessoais e lucro fácil está desviando o propósito do ministério e também de seu chamado. Este não terá como recompensa o galardão da justiça de Deus, mas colherá da ira de Deus. (2 Pe 2:15).
b) Prêmio de Balaão – Esse prêmio pode ser definido como o galardão daqueles que além de se corromperem, fazem de tudo por corromper a Palavra de Deus e a Igreja de Cristo. Seus ensinamentos são falsos, são enganadores e interesseiros. Seu fim é de apostasia, ou seja de total distanciamento da verdade de Deus e de sua salvação. A recomendação do apóstolo Pedro é de que a motivação para o ministério seja a recompensa vinda do sumo pastor (1 Pe 5:4) e não os lucros obtidos, a imposição e a ganância. Quem se deixa levar por este caminho colherá destruição. O resultado da vida de Balaão demonstra que deixou-se perder. Preocupou-se nos tesouros da terra e esqueceu dos tesouros do céu (Mt 6:21ss). Balaão achava que poderia ter o lucro amaldiçoando o povo de Deus e ainda agradar a Deus. Hoje, isto ainda acontece. Muitos têm uma vida totalmente fora da vontade de Deus, fazem coisas que não agradam ao Senhor e mesmo assim querem agradar a Deus. Deus não aceita este tipo de comportamento.
III – CAMINHO DE CORÉ – ORGULHO E DESOBEDIÊNCIA
Coré pertencia a tribo de Levi, e era um homem honrado. Além disso, era um líder respeitado (Nm 16). A atitude de Coré foi a de produzir divisão, contenda, cismas. Não respeitou a autoridade que Deus constituiu.
a) Levantar contra liderança – (Nm 16:3) Coré e os que com ele estavam levantaram-se contra Moisés. Não possuíam nenhuma fundamentação. Provocaram tumulto por nada. Não havia consistência em suas palavras. Mostrou se uma pessoa orgulhosa. Em suas palavras demonstrou falta de humildade e de reconhecimento de autoridade sobre si. Aqueles que querem andar pelos seus próprios caminhos e não aceitam a liderança estão entrando pelo caminho da rebeldia, e uma das características dessa rebeldia é o orgulho (achar que é melhor do que os outros). A desobediência também é chamada de pecado de feitiçaria (1 Sm 15:23) e isto implica na própria rejeição de Deus. Corá não soube reconhecer o líder que Deus havia estabelecido sobre o povo de Deus. Seu argumento é de que israel não precisava desse líder. O que a Bíblia afirma é que líderes são constituídos por Deus e devem ser respeitados e imitados na fé (Hb 13:7; 1 Tm 5:17).
b) Provocar divisão – Coré não estava satisfeito com seu serviço (Nm 16- ver contexto). Não reconheceu seu lugar diante de Deus e de seu povo. Ao se levantar contra Moisés provocou divisão no meio do povo de Deus. Divisão foi resultado da não submissão desse homem ao servo que Deus havia constituído sobre o seu povo. Esta atitude ainda hoje está presente. Pessoas provocam divisão pois não são submissas. Não reconhecem a autoridade de Deus na vida dos líderes. Infelizmente o resultado de alguém insubmisso e que provoca divisão é o julgamento de Deus. A recomendação bíblica é de unidade (Ef 4:1) de falar e pensar a mesma coisa (1 Co 1:10). Somos chamados para servir (Mc 10:45) e não para reivindicar posição e autoridade para nós. No entanto, quem deixar seu coração ser dominado pelo orgulho e desobediência certamente será uma pessoa marcada pelo fracasso, pois quem se levanta contra os servos de Deus se levantam contra o próprio Deus.
Conclusão:
Os exemplos que Judas tira do Antigo Testamento apontam assim para as características presentes nos falsos mestres de sua época. Eram homens destituídos de amor, estavam dispostos a, em troca de dinheiro, ensinar aos outros que o pecado não importava, e assim como Coré, descuidavam das ordenanças de Deus e eram insubordinados aos líderes da igreja.
Judas tinha a frente o desafio de alertar a igreja sobre indivíduos que eram intolerantes, enganadores e mercenários e desobedientes. Eles estavam infiltrados na igreja, foram chamados de nuvens em água, ondas furiosas, estrelas errantes. Isto significa, que eram superficiais, falsos, passageiros e sem real significado. O julgamento de Deus está determinado para aqueles que seguem estes caminhos. O chamado de Deus para seu povo é o caminho da santificação (Hb 2:14), do amor (Rm 12:10) e da obediência (At 5:29; Deut 30:8).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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