POR QUE EXISTE O SOFRIMENTO
Algumas perguntas iniciais: “o sofrimento é um enigma?”, “Por que sofremos?”, “Sofrimento e Deus combinam?”, “Deus apenas permite ou também o determina?”, “Se sofro é porque estou em pecado?”, “Há algo de bom no sofrimento?”. Perguntas como essas povoam a mente da maioria das pessoas, inclusive dos crentes em Cristo. Na realidade, para o crente em Cristo o sofrimento não é um enigma! Ele faz parte do plano de Deus para tratamento do seu povo durante sua caminhada. Pedro escreve: “não estranhem o fogo (sofrimento) que há entre vocês” (1 Pe. 4.12).
O paraíso do crente não é aqui, mas para quem é discípulo de Cristo, este curtíssimo espaço de tempo vivido na terra é a única experiência mais próxima do que poderíamos chamar de “paraíso”. Foi Jonathan Edwards quem disse: “A terra é tudo de melhor que o ímpio pode experimentar e tudo de pior que um cristão experimentará”.
Há um perigo em tentar racionalizar tudo que diz respeito ao sofrimento. Foi isso que fizeram os amigos de Jó, tentaram de todas as formas prová-lo que ele estava sofrendo por causa de algum pecado escondido em algum lugar de sua vida, quando, na verdade, não estava acontecendo nada disso. Impossível esquecer das perdas e sofrimentos que fazem parte da nossa vida e que muitas vezes nos assaltam, trazendo dor e angústia. Algumas vezes entendemos a razão da dor, outras não. Ficamos como nosso irmão Jó, sem saber a razão pela qual sofremos. Também gastamos muito tempo e energia tentando encontrar explicações para o sofrimento. Isso, às vezes, nos leva à exaustão e, não raro, à frustração e depressão. A tentativa de encontrar razões tem ofuscado o seu propósito. A Palavra de Deus afirma que não há discrepância entre sofrimento e alegria. Eles podem conviver no mesmo calendário, na mesma agenda.
Obviamente, o sofrimento faz parte da natureza humana, que é finita e limitada. Ninguém está imune à dor, ou à tristeza, ou à angústia, ou à pressão que é exercida sobre todo ser vivo deste planeta. Contudo, para o crente em Cristo há uma grande notícia: enxergar o sofrimento pela ótica divina.
Todos nós conhecemos o conceito que as pessoas normalmente têm sobre o sofrimento, a dor, a perda, as adversidades gigantes. Se estas situações puderem ser evitadas, ninguém titubearia em evitá-las. O Senhor Deus quer que seus filhos enxerguem o sofrimento por outro viés. Para Ele, os que sofrem estando no Caminho, em Cristo, são, de fato, bem-aventurados. Entretanto, o que pode ser visto atualmente é uma rejeição ao sofrimento. Isso é fruto da secularização da fé evangélica, da espiritualidade cristã.
O Apóstolo Pedro, em sua primeira carta, deu um lugar importante ao sofrimento na identificação do crente com Cristo (1 Pe 4.1-2). Para ele, o sofrimento de Cristo não foi apenas um fato relacionado à sua obra salvadora, mas também para ser um exemplo a ser seguido.
Os profetas que anunciaram o advento de Cristo não deixaram de falar sobre seus sofrimentos. Isaías, por exemplo, o descreveu como um servo sofredor (Is 53). E Pedro lembra-nos que na caminhada Cristã devemos ser coparticipantes dos sofrimentos de Cristo (1 Pe 4.13). Ele não inclui aqui o sofrimento de alguém como fruto do pecado ao qual está ainda amarrado, mas sim o sofrer como servo de Cristo. Falta visão do Eterno àqueles que maldizem os momentos nos quais enfrentam dificuldades e passam por sofrimentos. Sem dúvida, perdem oportunidades preciosas de serem identificados ainda mais com seu Mestre. Não estou dizendo, com isto, que devemos sair à procura de sofrimento. Não estou defendendo o masoquismo. O masoquismo é uma perversão e estamos falando de virtudes. A Bíblia não quer fazer com que tenhamos uma espiritualidade masoquista. Ou seja, não nos exorta a procurarmos o sofrimento. A exortação é não fugirmos dele. Sabemos que não precisamos procurar o sofrimento. Ele nos acha.
O sofrimento faz parte da boa vontade de Deus para os seus filhos. Isso mesmo! Por ser boa, a vontade de Deus pode ser confundida, quando o conceito de bondade está relacionado com o paladar humano. Por ser boa, ela está comprometida com o próprio Deus e não com os pensamentos, preferências e hábitos humanos. É importante crermos nesta verdade, caso contrário, teremos muitíssima dificuldade em conciliar o sofrimento humano com a bondade de Deus.
Quem é de Cristo não pode pensar que foi abandonado. Aliás, discipulado cristão e sofrimento caminham pela mesma estrada. Não há cristianismo sem cruz, Pentecostes sem Calvário, ressurreição sem morte, poder sem rendição, superação sem confronto, crescimento sem sofrimento, alegria sem lágrimas…
O fato de Cristo ter levado sobre Ele nossa dor e ter coberto nossos sofrimentos com suas feridas não implica em dizer que não sofreremos por causa disso. Quem pensa em seguir Jesus para se livrar do sofrimento encontrará decepção não muito depois do início da caminhada.
Muitas oportunidades perdidas para crescer na caminhada da fé têm explicação na dificuldade em enxergar a mão do Senhor em cada momento da nossa vida. O sofrimento é uma certeza, apesar de não ser desejado. O sofrimento é um ótimo professor para alguém que deseja aprender mais sobre a vontade do Senhor. Nenhum sofrimento na vida de um filho de Deus tem poder suficiente para pôr um fim no amor de Deus.
Em tempos de sofrimento, vale muito mais quem Deus é do que Ele é capaz de fazer. Seu silêncio não é sinônimo de ausência. No livro “Um mês para viver”, os autores escreveram: “Deus muitas vezes nos responde com sua presença, não com seus presentes”.
O sofrimento não é um enigma! O sofrimento é uma oportunidade para uma pessoa desfrutar do cuidado especial de Deus em circunstâncias mais adversas. Com Cristo, sofrer é um privilégio, não um castigo.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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