AZEITE DE DEUS
“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo” (1Jo 2.20)
“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1Jo 2.27)
Introdução
Este é um assunto controverso e difícil. E, cabe aqui uma análise teológica sobre as práticas da Igreja quanto a este assunto, levando em conta primeiro e especialmente o que nos informam as Escrituras Sagradas, depois olhando para a história da Igreja, de modo a que possamos ver de que forma este assunto foi tratado no decorrer do tempo, de modo a que possamos avaliar com maior propriedade o que hoje é praticado, e com conhecimento de causa, possamos estabelecer o que deve ser feito quanto à esta importante questão.
A unção nas Escrituras Sagradas
Em vários locais das Escrituras Sagradas encontramos o ato de ungir. Não há como ignorá-lo. Mas, é importante notarmos que invariavelmente o ato de ungir, quando se referindo à área espiritual, sempre teve o objetivo de separar e consagrar.
Há também outros usos para a unção, os quais iremos analisar mais à frente em nosso estudo. Um importante detalhe que pode ser observado nas Escrituras Sagradas é que em momento algum, nenhuma mulher foi ungida para uma tarefa na área espiritual. Não há nenhuma referência a mulheres sendo ungidas seja para o serviço sacerdotal ou para reinar.
Unção de Objetos
Muitos objetos foram separados para serem utilizados no tabernáculo, e como o próprio tabernáculo, eram também ungidos de modo a consagrá-los ao Senhor. A ritualística da unção era usada para se separar e consagrar estes objetos ao uso no culto a Deus.
“E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção. (26) E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, (27) E a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. (28) E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. (29) Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo.” (Êxodo 30.25-29 ACF)
“Também cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. (37) Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; tudo o que tocar o altar será santo.” (Êxodo 29.36-37 ACF)
O claro entendimento dos textos acima é que os objetos ungidos se tornavam santos, ou santificados, e também santificadores, pois, tudo o que neles tocasse se tornaria também santo. Hoje temos vários objetos separados para uso específico, durante os cultos a Deus em nossas Igrejas , como púlpitos, mesas, cadeiras, genuflexórios, cálices para a ceia, etc., contudo, não os ungimos para torná-los santos, ou santificadores. Isto se deve à teologia do Novo Testamento, que afirma categoricamente que desde a vinda do Senhor Jesus Cristo, santos são aqueles que são salvos através da redenção pelo Seu sangue derramado na cruz, e pela Sua ressurreição dos mortos:
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (17) Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” (I Coríntios 3.16-17 ACF)
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (20) Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (I Coríntios 6.19-20 ACF)
O Templo de adoração passou a ser o coração do salvo, não mais um local de tijolos e pedras. O véu do antigo Templo se rasgou no momento em que Jesus Cristo cumpriu sua missão na cruz:
“E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras;” (Mt 27.51)
Neste momento se estabeleceu uma Nova Aliança: Através de Jesus Cristo passamos a ter acesso direto ao Pai, sem a necessidade de qualquer outra intermediação, sem a necessidade de qualquer sacrifício físico, sem a necessidade de quaisquer obras humanas:
“Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. (19) Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; (20) Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; (21) No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. (22) No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.” (Efésios 2.18-22 ACF)
Nenhuma carne é justificada pelas obras da lei. Não cabe, portanto, qualquer ação humana, como a unção de objetos de modo a nos tornarmos santos ou santificados:
“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo , temos também crido em Jesus Cristo , para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2.16 ACF)
Partindo deste princípio, claramente estabelecido pelas Escrituras Sagradas, qualquer objeto que tenha sido feito “santo” através de um processo de unção, ou através de qualquer outro meio ou ação humana, passa a ser objeto de idolatria, e abominação ao Senhor, pois, vilipendia o sacrifício de Jesus Cristo. Sacrifício este feito, de uma vez por todas, na cruz. Ato completo e perfeito na Sua ressurreição, não restando qualquer outra obra a ser feita, não necessitando de qualquer ação adicional.
Deste modo, atribuir-se poder a qualquer objeto inanimado, a qualquer produto ou alimento, é ato de misticismo, sendo deliberado desrespeito para com a divindade do Senhor Jesus, ao qual foi dado todo o poder no céu e na terra:
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.” (Mateus 28.18 ACF)
Tudo o que desejamos ou precisamos, devemos levar diretamente a Deus, em oração:
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.” (Filipenses 4.6 ACF)
Pedindo sempre em nome de Jesus Cristo, e nunca utilizando fetichismos ou superstições, nada de águas, ou óleos “santos” ou mágicos, ou pedras, ou madeiras, ou qualquer outra coisa criada. Nada deve ser colocado como meio de obtenção de graça, pois o nosso único meio de graça é o Senhor Jesus Cristo:
“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” (João 15.16 ACF)
Unção de Pessoas
A unção de pessoas era feita, quando com propósitos espirituais, com o objetivo de separar-se esta pessoa para uma tarefa específica, seja enquanto rei, sacerdote ou profeta. É importante também notar que todas estas tarefas eram realizadas em conjunto com o objetivo de guiar o povo de Deus tanto espiritualmente quanto secularmente. Também é importante ver que estas tarefas foram todas assumidas por Jesus Cristo, o ungido de Deus. Assim, Cristo é Sacerdote, Profeta e Rei. Já no Novo Testamento esta ação, a unção de pessoas, foi substituída pela imposição de mãos, a qual outorga autoridade para ministrar, educar e servir, como até hoje é feito na ordenação de pastores e diáconos. Há que se entender, entretanto, que este processo não tem exatamente a mesma significação da unção com óleo de outrora, não há qualquer santificação sendo conferida através deste ato, pois, a santificação ocorre no momento da conversão quando o salvo é selado pelo Espírito de Deus, e não há também qualquer transferência de poder, pois, todo o poder está nas mãos de Jesus Cristo (Mateus 28.18), mas, este ato indica com firmeza que aquele que está sendo ordenado, é reconhecido pela Igreja como tendo sido separado por Deus para esta obra.
Unção de Reis
Os reis eram ungidos como libertadores para o povo de Israel e para governar sobre o povo como seu pastor:
“Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para o meu povo; porque o seu clamor chegou a mim.” (I Samuel 9.16 ACF)
Unção de Sacerdotes
Deus instruiu Moisés a ungir sacerdotes, de modo a consagrá-los e reconhecê-los como pessoas separadas para servir a Deus através do sacerdócio. Os sacerdotes julgavam sobre as diferenças entre as pessoas do povo, faziam expiação, santificavam o povo perante Deus, ouviam confissões de pecados, faziam sacrifícios de ação de graças e supervisionava os trabalhos no tabernáculo, entre outras tarefas.
“E vestirás a Arão as vestes santas, e o ungirás, e o santificarás, para que me administre o sacerdócio. (14) Também farás chegar a seus filhos, e lhes vestirás as túnicas, (15) E os ungirás como ungiste a seu pai, para que me administrem o sacerdócio, e a sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo nas suas gerações.” (Êxodo 40.13-15 ACF)
Unção de profetas
O ofício profético era estabelecido pelo ato da unção:
“O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; (2) A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; (3) A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado.” (Isaías 61.1-3 ACF)
Não há uma descrição clara nas Sagradas Escrituras sobre como, ou qual, seria o ritual para a unção de profetas, mas, este fato está razoavelmente estabelecido através do texto de Isaías acima citado.
Produtos utilizados
Azeite
O azeite de oliva simboliza uma vida útil e vibrante, sendo símbolo de regozijo, saúde e de qualificações de uma pessoa para o serviço do Senhor:
“Porém tu exaltarás o meu poder, como o do boi selvagem. Serei ungido com óleo fresco.” (Salmo 92.10 ACF)
Ungüento
Gordura misturada com perfumes especiais que lhe davam características muito desejáveis.
Era utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada daquele hóspede, e desejando-lhe boas vindas:
“E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.” (João 11.2 ACF)
Também como era utilizado no cuidado pessoal com o corpo, pois, é um excelente hidratante:
“Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas. (3) Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas.” (Daniel 10:2-3 ACF)
“Lava-te, pois, e unge-te, e veste os teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber.” (Rute 3.3 ACF)
Óleos curativos
O óleo tem poderes curativos, permitindo amolecer feridas e purificá-las. O óleo quando misturado a certas ervas, pode proporcionar medicamentos poderosos para vários males. Não é de surpreender que os médicos em Israel tivessem desde tempos antigos conhecimento destas ervas e da forma de utilizá-las no processo curativo de doentes.
“Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo.” (Isaías 1.6 ACF)
“E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;” (Lucas 10.34 ACF)
Unguento fúnebre
Este ungüento era utilizado na preparação do corpo para o sepultamento, como parte de um processo de embalsamamento:
“Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento.” (Mt 26.12)
“E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo. (56) E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento.” (Lucas 23.55-56 ACF)
Modos de aplicação
Na cabeça
O derramamento de óleo sobre a cabeça de um homem indicava que este homem havia sido separado para uma determinada tarefa a serviço do Senhor.
“Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?” (I Samuel 10:1 ACF)
“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.” (Salmo 23.5 ACF)
“Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.” (Eclesiastes 9:8 ACF)
Também era usado sobre a cabeça com efeitos cosméticos:
“Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.” (Eclesiastes 9:8 ACF)
No rosto
A unção do óleo no rosto tinha como objetivo a hidratação, e a proteção contra as forças da natureza:
“E o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração do homem.” (Salmo 104.15 ACF)
Nos pés
Como já foi dito, este ato estava normalmente relacionado com uma recepção digna e alegre de um hóspede bem-vindo:
“E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o unguento.” (Lucas 7.38 ACF)
Sobre as feridas
Neste caso o óleo é utilizado como medicamento, sendo que através de suas propriedades curativas próprias, ou em combinação com ervas ou outros produtos era deitado sobre as feridas. Há muitos relatos deste tipo de procedimento na literatura talmúdica1, e alguns na própria Bíblia Sagrada, os quais já foram anteriormente citados.
“Volta, e dize a Ezequias, capitão do meu povo: Assim diz o SENHOR, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do SENHOR. (6) E acrescentarei aos teus dias quinze anos, e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e ampararei esta cidade por amor de mim, e por amor de Davi, meu servo. (7) Disse mais Isaías: Tomai uma pasta de figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou.” (II Reis 20.5-7 ACF)
Uso atual
Como vimos, fica, em nossos dias, descartado o uso da unção com óleo para objetos, de modo a torná-los sagrados ou santificados, já que nada mais pode ser considerado objeto sagrado, uma vez que o templo de Deus na Nova Aliança é o corpo daquele que teve seu coração transformado pelo sangue do Cordeiro de Deus. Também não há mais qualquer necessidade de unção para sacerdotes, reis ou profetas. Ocorrendo no caso daqueles que se dispõem a servir como oficiais da Igreja, o ato da imposição de mãos, figura substituta da unção, mas, com significação distinta. Resta então apenas um tipo de unção a ser analisado em termos de uso nos dias atuais: a unção de enfermos com fins medicamentosos. Não restou nenhum tipo de unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada pelos crentes em Jesus Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança.
Análise Histórica
É interessante que venhamos a analisar a prática da Igreja, desde os seus primórdios até os dias atuais, para que possamos formar também nosso pensamento através do testemunho daqueles que no decorrer do tempo estudaram e buscaram o conhecimento bíblico, bem como daqueles que deturpando o verdadeiro significado dos ensinos bíblicos torcem seu entendimento de acordo com suas conveniências momentâneas.
Os pais apostólicos
Não há praticamente nenhuma referência à unção com óleo de enfermos, entre os escritos de Tiago (± 46-49 d.C), e de Hipólito de Roma (± 200 d.C.). Isto provavelmente se deve ao fato de estarem os Cristãos deste período lutando com tantas e tão variadas formas de heresias, como o gnosticismo, o arianismo, o sebastianismo, o monarquismo, os judaizantes, entre outros tantos, que não deve ter havido tempo para dedicarem-se a este assunto em seus escritos.
Justino de Roma (± 140 d.C.)
Há, contudo a exceção de Justino de Roma, que por volta de 140 d.C. defendia a posição de que todo e qualquer tipo de unção praticada ou ministrada no Velho Testamento aponta para Cristo. E que assim em Cristo todas as unções cessaram, conforme podemos ver pelo trecho de seu trabalho a seguir:
“Tendo Jacó derramado óleo no mesmo lugar, o próprio Deus que lhe aparecera dá testemunho de Ter sido para ele que ungiu ali a pedra. Também já demonstramos, com várias passagens das Escrituras, que Cristo é chamado simbolicamente “pedra” e que também a ele se refere toda unção, seja de azeite, seja de mirra ou qualquer outro composto de bálsamo, pois assim diz a palavra: “Por isso, o teu Deus te ungiu, o teu Deus, com óleo de alegria, de preferência aos teus companheiros”. É assim que dele participaram os reis e ungidos, todos os que são chamados reis e ungidos, da mesma maneira como ele próprio recebeu de seu Pai o fato de ser Rei, Cristo, Sacerdote.”
Hipólito de Roma (± 200 d.C.)
A mais importante obra teológica de Hipólito de Roma é intitulada a “Tradição Apostólica”. É um dos mais antigos documentos com instrução litúrgica que podemos encontrar, tendo sido usado como base, pela igreja católica romana, para consubstanciar sua herética doutrina sacramental da “extrema-unção” e é também a base utilizada pelos neopentecostais para confirmar que a Igreja Cristã pós-apostólica era praticante da “unção de enfermos”. Vamos ao texto de Hipólito:
Se alguém oferecer azeite, consagre-o como se consagrou o pão e o vinho, não com as mesmas palavras, mas com o mesmo Espírito. Dê graças, dizendo: “Assim como por este óleo santificado ungiste reis, sacerdotes e profetas, concede também, ó Deus, a santidade àqueles que com ele são ungidos e aos que o recebem, proporcionando consolo aos que o experimentam e saúde aos que dele necessitam.”
Por estas palavras podemos claramente entender que este ensinamento está muito distante da verdade bíblica. Não há nenhuma instrução na Palavra de Deus no sentido de se consagrar pão e vinho. A Bíblia inclusive não trata o líquido da ceia do Senhor como sendo vinho. Há uma única referência, feita pelo Senhor Jesus registrada em Mateus, referindo-se ao conteúdo do cálice como “fruto da vide”, ou seja “uva”, ou seu suco:
“E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai.” (Mateus 26.29 ACF)
E em nenhum momento há qualquer ritual de consagração. Há sim oração em ação de graças a ser proferida durante o cerimonial da ceia do Senhor, conforme instruções encontradas em Mateus 26.26-30 e em I Coríntios 11.23-30. Se não se consagra o pão e o vinho, também não se consagra azeite. Se não se consagra azeite toda a teologia e toda a instrução litúrgica derivada desta linha de raciocínio é biblicamente inválida e deve ser considerada espúria e anátema. Aprofundando-nos no estudo dos ensinos de Hipólito de Roma podemos encontrar vários tipos de óleos, como o óleo consagrado, o óleo de exorcismo, o óleo de ações de graças, o óleo santo ou santificado, entre outros, como o queijo da caridade e a azeitona consagrada. (Será que as semelhanças com a IURD são meras coincidências?) Assim, quaisquer ensinos provenientes desta fonte, ou de qualquer outra que nela se baseie devem ser considerados espúrios e anátemas.
Orígenes (± 210 d.C.)
Orígenes, apesar de todas as suas tendências alegoristas e metafóricas, de suas heresias e descalabros, ao tratar da questão da unção com óleo, afirma, corretamente, que alguns Cristãos (neste caso Celso) teriam querido curar suas feridas através da ação divina, mas manter sua alma inflamada em seus vícios e pecados, rejeitando os remédios espirituais dessa mesma palavra, a confissão de pecados e o perdão. Querendo usar o azeite, o vinho e outros emolientes, e demais ajudas médicas que aliviam a enfermidade, como alívio para sua alma corrompida, ou ainda usar de supostos poderes mágico-espirituais conferidos aos medicamentos na cura das feridas, sem se apresentarem diante de Deus, para a cura da alma. Hoje em dia a medicina nos apresenta vários novos recursos curativos, além do azeite e do vinho, aos quais podemos recorrer, contudo não podemos em momento algum, nos esquecer da dependência de Deus, através de uma vida de oração. Este é o ensinamento de Orígenes: que muitos querem ser curados, querem ser aliviados, mas não querem deixar seus pecados. Portanto, na teologia de Orígenes não existe espaço para uma unção de enfermos com fins curativos mágicos. O azeite e outros emolientes são importantes do ponto de vista medicamentoso, mas sempre associados à dependência de Deus pela oração, e se for para a Sua glória, Deus restabelecerá o enfermo.
Idade Média
Durante a Idade Média houve grande luta entre o poder secular e o poder da Igreja, trazendo como conseqüência direta uma deturpação ainda mais exacerbada da já caquética e corrompida teologia da igreja de Roma. As interpretações das Escrituras visavam apenas dar respaldo a um misticismo mágico-religioso que dominava as ações da igreja de Roma, e lhe conferia poder sobre as massas ignorantes e crédulas, além de controle sobre seus governantes, rendendo à igreja de Roma grandes frutos financeiros e políticos. Neste período há muito pouca discussão sobre a unção com óleo, pois esta já se havia instituído em sacramento, o sacramento da extrema-unção, para limpar de pecado aquele que estava à beira da morte.
Cesário de Arles (± 503~504)
Ele faz várias referências à unção de enfermos nos seus sermões. No sermão 13 ele escreve:
“Toda vez que sobrevier uma doença, o que a sofre receba o corpo e o sangue de Cristo; peça humildemente e com fé ao sacerdote a unção com o óleo bento a fim de que se cumpra nele o que está escrito”.
No Sermão 184, suplica às mães que não levem seus filhos aos “medicamentos diabólicos”, argumentando:
“Quanto mais justo e razoável seria recorrer à igreja, receber o corpo e o sangue de Cristo, ungir com fé, seja o próprio corpo ou o dos seus, com o óleo bento.”
Aqui vemos já uma completa deturpação do significado da ceia do Senhor, pois é esta um memorial, não conferindo qualquer tipo de bênção, graça ou cura. Pois, não há qualquer suporte nas Sagradas Escrituras para que assim pensemos. E assim da mesma forma também não há um “óleo bento pelos sacerdotes”. Pois, primeiramente, não há na Nova Aliança a figura do sacerdote, não há mais a necessidade de intermediação entre o povo e seu Deus. Cada um que tenha em si o selo da salvação, tem acesso direto ao Pai através de Jesus Cristo, nosso Mediador e Advogado para com o Deus. Não há também, como já vimos, sob a Nova Aliança, nenhum objeto ou material consagrado ou santificado, tornando, deste modo, a existência de um “óleo bento” simplesmente impossível. E se não há bênção nem na ceia, nem no óleo, não há razão para uma unção de enfermos, exceto quando ocorrer com caráter puramente medicamentoso, sem qualquer conotação mística ou espiritual.
Quanto à afirmação no sermão 184, não há qualquer fundamento ou razão para afirmar que medicamentos sejam “diabólicos”, ou de qualquer outra forma “impuros” ou “malévolos”. Há contudo, clara proibição bíblica, quanto a se buscar o auxílio de curandeiros e feiticeiros, mas, em nenhum ponto encontramos recomendação contra a busca por médicos ou por medicamentos em caso de doenças. Ao contrário, quando a mulher que sofria com fluxo de sangue procurou por Jesus, é-nos informado que ela já havia procurado por médicos, pratica esta que não foi recriminada por Jesus, apesar de no caso desta mulher não ter sido de eficácia. (Marcos 5.25-34)
Beda (± 720 d.C.)
Segundo o disposto através da teologia de Beda, podemos ver o andamento da deturpação do significado da unção de enfermos, conforme segue:
1°. Naquela época se pensava que a virtude da Unção estava no óleo consagrado pelo bispo, o óleo bento;
1. 2°. A Unção de Enfermos pertencia à categoria dos sacramentos permanentes, assim como a ceia do Senhor e o batismo;
2. 3°. A igreja de Roma cria que assim como na ceia do Senhor é o próprio ministro, o sacerdote, quem consagra o pão, e como também é o sacerdote quem batiza, é este mesmo quem também consagra o óleo para a unção de enfermos, e estes elementos depois de consagrados pelo ministro são repassados aos presbíteros para ministrá-los. Assim, toda a força da bênção do óleo está no pastor, isto é, no sacerdote;
3. 4°. Assim como o pão consagrado para a ceia do Senhor já tem em si a força do sacramento, também o óleo bento consagrado pelo bispo tem a mesma força e o mesmo poder.
Bonifácio (± 900 d.C.)
A partir da reforma carolíngia, a administração do óleo consagrado, ou bento, ficou reservada exclusivamente aos sacerdotes (bispos e presbíteros). Segundo os Statuta Bonifacii, do começo do século IX, os sacerdotes devem, em suas viagens, levar sempre consigo a eucaristia e o “santo óleo”; e lhes é proibido sob pena de deposição confiar aos leigos o “santo óleo”.
Neste ponto muda a igreja de Roma sua concepção do sacramento:
1°. De unção de enfermos passou a ser unção de moribundos (extrema-unção);
2°. Da consagração do óleo passou a ser a administração da unção;
3°. De sacramento com efeitos corporais passou a ser sacramento com efeitos espirituais;
4°. De sacramento autônomo passou a estar unido à penitência;
5°. A teologia escolástica do século XIII já herdara uma situação de fato: o ministro da unção é o sacerdote, o mesmo da penitência.
Deste panorama, tem-se o que hoje é entendido por unção dos enfermos. Uma ação de transferência de poder do sacerdote para o óleo e deste para o enfermo, “trazendo a cura”. Nada mais que uma ação de misticismo e feitiçaria, completamente destacada do contexto e do entendimento bíblicos, ação esta criada por séries de heresias e deturpações históricas, tanto no que se refere ao papel da igreja, quando no que se refere ao papel do ministro da igreja, o seu pastor.
Os reformadores protestantes
No decorrer da Idade Média, a igreja católica separou esse rito da unção de enfermos e o elevou à categoria de sacramento da extrema-unção, mediante o qual, segundo ensinavam seus teólogos, deveria ser ministrado aos fiéis da igreja que estavam moribundos, ou seja, à espera da morte.
Houve consenso entre os reformadores protestantes que assim apresentada, a unção com óleo, era uma falsa interpretação de Tiago 5.14 e de Marcos 6.13.
Segundo Lutero, em sua exposição do texto de Tiago 5.14, o uso da unção com óleo, já cessou:
“Por isso sou de opinião que essa unção é a mesma da qual se escreve, em Mc 6.13, a respeito dos apóstolos: ‘E ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.’ Trata-se, pois, de um certo rito da Igreja primitiva, pelo qual faziam milagres entre os enfermos. Já desapareceu há muito.”
Calvino de igual modo não aceita a contemporaneidade da prática da unção de enfermos, assegurando que esta prática já cessou na igreja, como também, todas as virtudes e os demais milagres que foram operados pelas mãos dos apóstolos, a razão é que este dom (unção de enfermos) era temporal.
Calvino e Lutero são unânimes em afirmar que o azeite era um ungüento utilizado na Igreja Primitiva com fins medicamentosos que associados à oração dos presbíteros, teria muito efeito.
Porque os reformadores não faziam unção de enfermos?
1. Por que o princípio gerador da cura em Tg 5.14 é a fé do doente e as orações dos líderes da igreja;
2. Por que longe de sustentar a extrema-unção ou o crisma (confirmação), a passagem de Tiago 5.14 trata de presbíteros (e não de sacerdotes) orando pela cura do enfermo; O azeite é então um óleo medicinal, e não um preparado mágico para a morte.
3. Por que a unção Veterotestamentária apontava para o Messias, o Ungido de Deus, cumprindo em Cristo a unção final de sacerdote, profeta e rei;
4. Por que no processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção aponta para o ministério do Espírito Santo, Aquele que unge, isto é, separa, capacita, credencia o cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção;
“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo” (1Jo 2.20)
“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1Jo 2.27)
Analisando o pensamento de Calvino sobre a unção dos enfermos, especialmente em sua exposição do verso em Tiago 5.14, podemos entender o seguinte:
1. Para Calvino esta prática já cessou na Igreja;
2. A unção aponta para a obra e os dons do Espírito Santo; e se nós vivemos hoje no desenvolvimento ministerial do Espírito Santo, com certeza, não há qualquer sentido na prática da unção de Enfermos ou qualquer outro tipo de unção;
3. A unção não tem o efeito das virtudes espirituais apostólicas;
4. A unção não é canal de bênçãos para o crente; canal de bênção é a doutrina Bíblica, as orações (intercessão dos Santos) e a comunhão;
5. A unção não é privativa do pastor da igreja;
6. A unção não tem qualquer efeito de sacramento;
7. A unção não perdoa pecados;
8. A unção não é sinal de cura;
9. A unção não tem poderes mágico-religiosos;
Considerações atuais sobre a unção com óleo
Como conseqüência da situação pela qual vem passando o povo brasileiro, devido às conjunturas políticas, sociais e econômicas, muitos têm encontrado grande dificuldade de acesso à medicina pública, ou nela não têm confiança, recorrendo a uma medicina popular, principalmente através de curandeiros, benzedeiras, e/ou concepções mágico-religiosas. Alguns líderes carismáticos são muitas vezes solicitados a realizar curas divinas através de rituais, e afirmam estar em contato com o Espírito Santo, com anjos, demônios e com o espírito da própria enfermidade. E através de seus “poderes”, tentam realizar a “cura”, e quando esta não vem, alistam variadas razões, entre elas, e principalmente, o fato de o enfermo, ou seus familiares, terem falta de fé. Assim, todo o procedimento de unção assumiu um papel fundamental dentro do simbolismo religioso que se formou nestes dias, sendo este procedimento utilizado para combater doenças tanto do corpo quanto da alma. E só obtêm a “graça” aqueles que são ungidos com óleo consagrado; para estes haverá saúde, emprego, riqueza, e a cura de diversas moléstias e males demoníacos.
Logo tudo passa a ser ungido, a rosa, o barbante, o sal, as fotos, as roupas, a água, o manto, a madeira, e finalmente a própria pessoa é ungida, e caso esteja possuída por demônios estes se manifestam e podem então ser expulsos, através do óleo do exorcismo e da “oração forte”.
Saindo da confusão
Como pudemos perceber perfeitamente através da exposição da história deste procedimento vale aqui de modo especial o que nos é dito pelo texto do salmo 42: “Um abismo chama outro abismo…”.
E é desta confusão teológica que precisamos sair. E a única forma de fazê-lo é através de uma análise exegética da palavra de Deus, à luz de todo o ensino apresentado pela própria palavra de Deus, conforme já vimos anteriormente neste estudo. Vamos seguir então analisando o verso que é usado por base de toda esta “teologia”.
Mas, tenhamos em mente tudo o que já estudamos, e em especial a conclusão a que chegamos através da análise sincera e dedicada da palavra de Deus:
“Resta então apenas um tipo de unção a ser analisado em termos de uso nos dias atuais: a unção de enfermos com fins medicamentosos. Não restou nenhum tipo de unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada pelos crentes em Jesus Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança.”
Exposição de Tiago 5.14
Analisemos o texto em si, dentro do seu contexto:
“Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. (14) Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; (15) E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. (16) Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” (Tiago 5.13-16 ACF – destaque acrescentado)
É fundamental entendermos que o texto nos fala de oração. Tiago está tratando, por praticamente toda a sua carta, deste tema. Não podemos entender que ele tenha criado um novo ritual místico-mágico, ou que tenha sido criada uma nova teologia, o que invalidaria esta carta como texto bíblico. Como exemplo, analisemos o que houve recentemente em uma pequena cidade americana próxima de Los Angeles: – Lá ocorreu uma enorme tragédia, quando um pai, jogou fora a insulina que seu pequeno filho diabético necessitava tomar, após pedir ao pastor que realizasse em seu filho a “unção com óleo” e a “oração forte de poder”. Como resultado desta ação irresponsável, seu filhinho morreu. Devemos entender que nem todos os crentes que ficam doentes, recebem cura! Muitas vezes Deus os quer assim, doentes mesmo, de modo que testemunhem de Sua graça mesmo em meio ao sofrimento, ou então para que seja aprendida alguma lição que Deus queira ensinar. O fato é que se todos os crentes recebessem cura, nenhum morreria, pois, a cada doença se seguiria a cura divina! E a história testemunha que não é assim.
Bom, com isto em mente sigamos analisando o texto. A palavra “ungir” em português significa:
1. untar(-se) ou friccionar(-se) com óleo, ungüento ou qualquer substância gorda; fomentar
2. untar ou friccionar com perfumes ou substâncias aromáticas
3. investir de autoridade por meio de unção ou sagração; sagrar
Em grego os dois primeiros sentidos apresentados da palavra “ungir” são entendidos da palavra “aleifw” (aleipho). Já o terceiro sentido, é entendido pela palavra “xriw” (chrio) da qual se deriva a palavra “xristov” (christos), cristo, de onde temos a designação de Jesus como “O Ungido de Deus”, “O Cristo”.
Neste sentido, a primeira (aleipho) é uma palavra que denota uma ação corriqueira e desprovida de qualquer conotação religiosa ou espiritual. Enquanto a segunda (chrio) indica uma ação espiritual, uma consagração divina. E neste verso encontramos a palavra [aleipho] e não a palavra [chrio]!
Considerando, portanto, o significado da palavra e do texto em seu contexto, entendemos que somente o que pode operar qualquer cura é o poder do Senhor, muitas vezes em resposta à oração de um justo. O uso do azeite neste texto se refere então à sua aplicação com vistas a uma ação medicamentosa. Dando-nos instrução que não devemos, como fez aquele infeliz pai americano, deixar de aplicar o medicamento pelo fato de estarmos em oração pela cura, mas, inversamente, devemos aplicar o medicamento e orar confiantemente ao Senhor, clamando pela cura, tanto física, quanto espiritual, em caso de haver pecado envolvido. E o Senhor dentro dos Seus propósitos, irá agir. O poder é do Senhor, e não de uma mandinga qualquer ou de qualquer objeto que supostamente tenha quaisquer poderes curativos.
Conclusão
Diante de tudo o que foi exposto, podemos então afirmar:
1°. A unção de enfermos não é um sacramento, já que não há nenhum sacramento, pois para tal exigir-se-ia um sacerdote para intermediar sua aplicação. E na Nova Aliança, cada crente em Jesus Cristo tem acesso direto ao Pai através Dele, sendo portanto, seu próprio sacerdote, dispensando qualquer tipo de intermediação humana. Além deste fato, não há como se complementar a obra do Senhor Jesus Cristo, ou tomar-se qualquer ação que resulte em graça. A obra de Cristo é completa e perfeita, e a obtenção de graça se dá através do poder do Senhor mediante oração e fé.
2°. Os pais da Igreja não praticaram a unção com fins espirituais na Igreja, entendendo que esta ação não deveria ocorrer no cerne da Nova Aliança.
3°. A instituição da unção dos enfermos durante a Idade Média, (que veio posteriormente a se tornar a extrema-unção católica, e que após o concílio Vaticano II voltou a ser, para os católicos romanos, a unção de enfermos) foi obra de “cristãos” que não tinham uma teologia séria, embasada na Palavra de Deus, mas, ao contrário, desejavam apenas mais um meio de controle sobre as massas.
4°. Conforme pudemos ver da exposição de Tiago 5.14, o óleo não tem em si nenhum poder curativo sobrenatural, além de seu próprio poder como medicamento. O verdadeiro poder está no Senhor, e pode vir a ser derramado sobre o enfermo, em atendimento às orações de verdadeiros crentes no Senhor Jesus Cristo, aqueles que foram justificados pelo Seu sangue.
5°. O azeite em Tiago 5.14, não é expressão do Espírito Santo, nem de Sua ação, pois, este fato viria de encontro a todas as doutrinas apostólicas. A unção que se relaciona com o Espírito Santo é obtida na conversão, quando o crente é Nele batizado e selado para o dia da redenção.
6°. Qualquer pensamento quanto a um valor semimágico da unção com óleo, fere os princípios do Novo Testamento, especialmente no que diz respeito ao objeto da fé, que não pode em nenhuma hipótese ser algo material sob pena de idolatria e paganismo:
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.” (Mateus 28.18)
Em nada devemos por a nossa fé, a não ser naquele que verdadeiramente nos pode salvar!
7°. No processo evolutivo da revelação de Deus, o óleo da unção apontava para o vindouro ministério do Espírito Santo, que é Aquele que unge, ou seja, Aquele que separa, capacita, credencia o Cristão a fazer a obra de Deus. Os que são ungidos com o Espírito Santo não necessitam de nenhum outro tipo de unção espiritual, em nenhum outro momento de suas vidas!
E que Deus nos abençoe e nos permita permanecer sendo fiéis à Sua palavra e à Sua vontade em cada momento de nossas vidas, deixando e abandonando tudo quanto não provém de Deus! Amém!
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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