UM HOMEM
CHAMADO SIMEÃO...
O menino de oito dias que Simeão estava segurando, além de ser a
consolação de Israel, era a Luz prometida a Abraão que trouxe bem-aventurança a
todos os povos "Disse mais: Pouco é que seja o meu servo, para restaurares
as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei
para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da
terra" ( Is 49:6 ).
Introdução
O evangelista Lucas é o único a registrar que um homem de nome
Simeão tomou Jesus nos braços e louvou a Deus.
De Simeão nada sabemos, pois o evangelista não teve por
importante informar o seu interlocutor Teófilo se possuía algum título
nobiliárquico ou se desenvolvia alguma atividade especifica no templo.
Justo e temente
Segundo o médico Lucas, Simeão morava em Jerusalém e era justo e
temente a Deus ( Lc 2:25 ).
Porque Simeão era justo e temente a Deus? Porque ele
compartilhava da mesma fé que o crente Abraão! Como Simeão aguardava a
consolação de Israel e esta consolação estava atrelada ao Descendente prometido
a Abraão, em quem todas as famílias da terra seriam bem-aventuradas ( Gn 12:3
), a esperança de Simeão lhe foi imputada por justiça assim como foi imputada a
Abraão ( Gn 15:6 ).
Simeão não era justo e temente a Deus pelas obras da lei, visto
que pela lei ninguém é justificado "E é evidente que pela lei ninguém será
justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé" ( Gl 3:11 ). E
qual era a fé de Simeão? Que Israel haveria de ser consolado, pois esta era a
promessa: "Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe
tornarei a dar consolação, a saber, aos seus pranteadores" ( Is 57:18 ).
Por esperar a ‘consolação’ do seu povo, Simeão era um
pranteador, um triste, portanto, bem-aventurado, pois ao ser declarado justo
foi sarado e guiado por Deus “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão
consolados” ( Mt 5:4 ).
Diferente dos seus compatriotas, Simeão tinha sobre si o
Espírito Santo. Por que o Espírito Santo estava sobre Simeão? Porque ele
tornou-se árvore de justiça, plantação do Senhor, consolado do pranto, visto
que esperava no Descendente prometido que, por sua vez, seria o Consolador do
seu povo ( Is 61:2 -3) .
Simeão era temente e justo porque esperava o Descendente. Pois
todos que esperam no Senhor são bem-aventurados "Por isso, o SENHOR
esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se
compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos
os que nele esperam" ( Is 30:18 ; Gl 3:9 ).
Sendo Deus um Deus de equidade, certo é que, se Abraão creu em
Deus e isto lhe foi imputado por justiça, Simeão também foi justificado, pois
cria em Deus como a consolação de Israel. Como Simeão esperava a consolação do
seu povo, era bem-aventurado como o crente Abraão, pois TODOS que no
Descendente esperam são bem-aventurados ( Is 30:18 ).
Na frase: ‘Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados’, temos um paralelismo (recurso próprio à poesia grega) entre os
termos ‘pranteadores’ e ‘consolação’. Os que esperam em Deus são: os tristes,
os contritos, os pranteadores, os necessitados, os pobres, que por sua vez, são
consolados, justificados, bem-aventurados, felizes.
O temente não é o que pratica as obras da lei ( Gl 3:10 ), antes
aqueles que são filhos de Abraão, como o apóstolo Paulo disse: “Sabei, pois,
que os que são da fé são filhos de Abraão” ( Gl 3:7 ), visto que ‘o justo vive
da fé’, e Simeão era justo em função da fé que havia de se manifestar ( Gl 3:23
).
O louvor de Simeão
Simeão recebeu uma revelação do Espírito Santo de que não
morreria antes de ver o Cristo prometido nas Escrituras ( Lc 2:26 ). Certo dia,
impelido pelo Espírito, Simeão foi ao templo e, quando José e a mãe de Jesus
trouxeram o menino para cumprirem com os deveres da lei, ele pegou Jesus em
seus braços e passou a louvar a Deus, dizendo:
“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua
palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste
perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, e para glória de
teu povo Israel” ( Lc 2:29 -32).
‘Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua
palavra’ - No verso 29, Simeão faz
menção da revelação que tivera, pois o Espírito Santo lhe havia prometido que
não morreria antes de contemplar o Cristo ( Lc 2:26 ). Com estas palavras
Simeão deu testemunho de que Deus cumprira sua palavra;
‘Pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu
preparaste perante a face de todos os povos’
– Simeão estava com um bebe de 8 dias em seus braços e confessou: -
“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os
meus olhos viram a tua salvação”. Simeão não viu nenhum sinal, antes viu um
infante frágil que estava posto em seus braços, porém, testemunhou que aquela
criança era a salvação de Deus;
‘... A tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de
todos os povos’ – Simeão declarou que
aquele pequeno bebe nos seus braços era a salvação que Deus preparou diante de
todos os povos;
‘Luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo
Israel’ – Aquela criancinha era a luz
que iluminaria as nações e a glória de Israel.
Simeão não precisou lançar mão de instrumentos musicais como
saltério, harpa, címbalos, antes bastou confessar que aquela criança em seus
braços era o Cristo para louvar a Deus.
O que isto demonstra? Que o louvor a Deus não está vinculado às
emoções humanas, às liturgias, aos cânticos, às músicas, às reverências, aos
sacrifícios, às ofertas, antes decorre da salvação que Deus preparou perante as
nações – Cristo.
Basta admitir, crer, confessar, que Jesus é a luz que ilumina as
nações que louva a Deus. Basta confessar como Simeão que estará produzindo o
fruto que Deus criou para louvor da sua glória "Eu crio os frutos dos
lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o SENHOR,
e eu o sararei" ( Is 57:19 ), pois Cristo é o fruto dos lábios
estabelecido por Deus “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de
louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” ( Hb 13:15 ).
Não podemos confundir ‘bendizer’ com ‘louvor’. Quando bendizemos
a Deus, bendizemos com as emoções, as liturgias, os cânticos, as músicas, as
reverências, os sacrifícios, as ofertas, etc., pois ao bendizer noticiamos as
maravilhas que Deus faz ( Sl 103), ou proclamamos a sua majestade ( Sl 104).
Os apóstolos bem divisavam esta verdade, pois Pedro e Paulo
bendiziam ao Senhor pelas bênçãos recebidas ( Ef 1:3 ; 1Pe 1:3 ). No entanto, o
apóstolo Paulo deixa claro que o louvor é proveniente das realizações do
próprio Deus “...que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade;
com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em
Cristo” ( Ef 1:11 -12).
Enquanto o profeta Isaías predisse de um dia em que se diria:
“Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos e ele nos salvará” ou, “Este
é o Senhor, a quem aguardávamos”, Simeão estava regozijado porque estava vendo
o seu Deus que o salvou. Simeão deixa claro que agora podia descer à sepultura,
pois viu o Senhor que aguardava "E naquele dia se dirá: Eis que este é o
nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem
aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos alegraremos" ( Is 25:9 ).
Há muito, Deus havia designado que em Israel estaria a sua
glória, e Simeão estava segurando em seus braços a glória do Senhor "Faço
chegar a minha justiça, e não estará ao longe, e a minha salvação não tardará;
mas estabelecerei em Sião a salvação, e em Israel a minha glória" ( Is
46:13 ).
O menino de oito dias que Simeão estava segurando, além de ser a
consolação de Israel, era a Luz prometida a Abraão que trouxe bem-aventurança a
todos os povos "Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para
restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel;
também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à
extremidade da terra" ( Is 49:6 ).
Simeão estava vendo e segurando o Santo Braço do Senhor, que ao
ser introduzido no mundo foi revelado a todos os povos "O SENHOR desnudou
o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da
terra verão a salvação do nosso Deus" ( Is 52:10 ; Is 53:1 ).
A profecia
José e Maria estavam abismados com tudo que era dito acerca do
menino ( Lc 2:33 ), quando Simeão os abençoou e profetizou para Maria, a mãe do
menino, dizendo: “Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em
Israel, e para sinal que é contraditado (E uma espada traspassará também a tua
própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” ( Lc
2:34 -35).
Simeão não profetizou melhora financeira para o casal. Simeão
não antecipou (adivinhou) que o casal adquiriria em breve um novo meio de
transporte. Como é comum em nossos dias prometerem casas e carros, por certo
esta era uma necessidade básica do casal. Mas, Maria e José não ficaram
maravilhados porque deixariam de utilizar um burrico como meio de transporte
para terem uma carruagem puxada por juntas de cavalos, antes ficaram
maravilhados acerca do que era dito do menino.
O profeta nada disse se havia pessoas com inveja do casal e nem
lhes foi ministrado que haveriam de ter um futuro promissor dali por diante.
Com relação ao futuro terreno do casal nada foi revelado.
Como é próprio das Escrituras:
a) a profecia nunca foi produzida por vontade de homens, antes
os homens de Deus falavam segundo o Espírito Santo ( 2Pe 1:21 ), e;
b) nenhuma profecia é de particular interpretação ( 2Pe 1:20 ),
Simeão passou a falar acerca do menino, pois Ele é o tema das
Escrituras "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam" ( Jo 5:39 ).
É temerário dar ouvidos a profetas que tem por alvo o indivíduo,
pois o apóstolo Pedro deixa claro que nenhuma profecia tem por alvo um
indivíduo em particular, antes a profecia tem por tema o Cristo e o seu
evangelho. É temerário dar ouvidos a profetas de agoiro, pois Deus mesmo
instruiu o povo dizendo: "Não agourareis nem adivinhareis" ( Lv 19:26
).
Simeão passou a declarar acerca do menino que Ele foi
estabelecido para queda e elevação de muitos em Israel. Para muitos seria pedra
de tropeço e, para outros, a pedra angular, de esquina, sobre o qual seriam
edificados como templo santo a Deus “Por isso também na Escritura se contém:
Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem
nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa,
mas, para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a
principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles
que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram
destinados” ( 1Pe 2:6 -8).
O menino foi estabelecido por sinal que produziria contradições
em meio ao povo, pois muitos ao ouvirem as suas palavras haveriam de professar
que Ele era o Cristo de Deus, porém, a despeito dos sinais e milagres operados,
outros rejeitariam a Luz do mundo, não creriam que aquele homem simples era o
Messias, o Filho de Davi.
O profeta Isaías já havia antecipado que um menino concebido por
uma virgem seria o sinal “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a
virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. Manteiga
e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem” ( Is 7:14
-15). Diante do menino que haveria de nascer, os homens deveriam reconhecê-Lo
como o Emanuel, ou seja, Deus conosco.
Mas, como o menino que estava nos braços de Simeão era o filho
de Davi, o erro de Davi, o seu pai segundo a carne acabou por alcança-Lo, pois
conforme predito uma espada haveria de traspassa-lo "Agora, pois, não se
apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a
mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher" ( 2Sm 12:10 ).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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