DO
LITIGIO A RECONCILIAÇÃO, APÓSTOLO PAULO, BARNABÉ E JOÃO MARCOS...
Atos 15.36-41
1 Pedro 5.5-14
“Estou plenamente certo e
que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo
Jesus” Versículo chave: “Estou
plenamente certo e que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até
ao Dia de Cristo Jesus”.
Mostrar que uma pessoa que falha uma vez não precisa ser um
fracasso permanente.
Introdução
João Marcos era parente de Barnabé e filho de Maria, em cuja casa a
igreja primitiva se reunia em Jerusalém. Talvez Maria fosse uma mulher
relativamente rica, pois tinha pelo menos uma empregada, Rode.
João era seu nome hebraico e Marcos seu nome romano. Provavelmente
ficou conhecido como Marcos após sua conversão ao cristianismo. Seu desejo era
espalhar o evangelho entre os gentios.
É interessante estudar a vida desse homem que aparentemente
fracassou na obra do Senhor, mas com a graça de Deus conseguiu superar suas
falhas.
I. O jovem que fugiu desnudo (Mc 14.51-52)
A maioria dos estudiosos do Novo Testamento acredita que Marcos é
esse jovem que “fugiu desnudo” (Mc 14.52), por dois motivos. Primeiro, somente
ele registra esse episódio. E, segundo, é provável que Marcos estivesse
dormindo quando soube do que acontecia com Jesus no jardim. Só teve tempo de se
cobrir com a capa e partir para o Getsêmani. Com isso, Marcos poderia estar
dizendo que não era mais corajoso que o resto, mas pelo menos viu tudo
acontecer” .
É impressionante que João Marcos, mesmo mal vestido, seguia a
Jesus, na via crucis; quem sabe olhando de longe, mas o seguia. Mesmo sem
preparo ou mal vestido, disfarçado, ele procurou seguir a Jesus. Mostrando
dessa forma o seu amor pelo seu Mestre, que no momento estava enfrentando uma
das horas mais difíceis e decisivas do Seu ministério, a chamada hora do Filho
glorificar o Pai.
Aplicação
E nós, como acompanhamos Jesus? De longe? Mal equipados?
Disfarçados? Ou com as armaduras da fé (Ef 6.13)?
II. Um lar abençoado (At 12.9-17)
Em meio à perseguição e hostilidade enfrentadas pelos judeus não
cristãos, que bom haver um lugar onde se pudesse orar e ter comunhão com irmãos
na fé! Esse lugar era a casa de Maria, mãe de João Marcos, que no meio de tanta
oposição nos deixa um legado de princípios a imitarmos hoje: o da comunhão e da
oração. Aqueles irmãos estavam aflitos com a prisão de Pedro e, mesmo assim,
estavam juntos em oração. Isto vem mostrar que no meio de tanta adversidade,
havia unidade. Pregar o evangelho e testemunhar de Cristo em Jerusalém não era
tarefa para um grupo que não tivesse fé firme em Jesus Cristo, pois o contexto
nos mostra que muitos sacerdotes abraçavam a fé (At 6.7). Se o povo judeu
encontrava muita dificuldade em aceitar Jesus como Salvador, imagine os seus
líderes (sacerdotes)! Aprendemos que quando somos testemunhas fiéis, Deus faz a
obra seja no coração de quem for (Rm 9.14-18)!
III. Seu fracasso como missionário (At 12.25 – 13.13)
Em companhia de seu tio Barnabé, João Marcos acompanhou Paulo em
sua primeira viagem missionária até Perge, de onde Marcos voltou, por motivos
não declarados (At 13.13). Rejeitado por Paulo para a segunda viagem
missionária, ele e Barnabé partiram para Chipre (At 15.38-40).
Ignoramos o que aconteceu realmente com João Marcos em relação ao
seu fracasso como missionário. Mas podemos inferir que talvez fosse falta de
experiência com Deus, ou de conversão; falta de convicção do seu chamado, ou
saudades de casa, ou medo das dificuldades. Mas não devemos julgar! “Não
julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1). Por ser bem jovem, o mais
provável é que sua hora não havia chegado. O que aconteceu com Marcos tem se
tornado um fenômeno que se repete, hoje, em nossas igrejas: pessoas querendo
servir o Mestre, mas seguindo-O bem de longe, sem determinação e convicção
verdadeira, e alguns até sem experiência de conversão. Ser um seguidor de Jesus
é algo além do desejo de ser missionário ou acompanhante de uma caravana.
Aplicação
Tanto Marcos como qualquer um de nós que almejamos o ministério,
antes de tudo precisamos ser crentes firmes, e ter estrutura (física,
psicológica, espiritual) para pagar o preço do ofício (Mc 8.34).
IV. Sua segunda chance (At 15.36-39; 2Tm 4.11)
1. João Marcos e Barnabé
Graças a Deus, Barnabé deu uma segunda chance a João Marcos. Paulo
e Barnabé estavam prontos a iniciar sua segunda viagem missionária, e Barnabé
quis levar consigo o jovem que tinha fracassado na primeira viagem, porque
podia enxergar o grande potencial na vida dele. Mas Paulo não tinha a mesma
convicção. O resultado foi que Paulo e Barnabé se separaram por causa de João
Marcos. Barnabé, “filho da exortação”, levou-o na sua viagem missionária a
Chipre (v.39), dando-lhe a segunda chance. Não ouvimos mais nada negativo sobre
a atuação de João Marcos. Parece que Barnabé fez um bom trabalho ao discipliná-lo.
O preço de acompanhar o Mestre de longe e talvez a falta de quem o
apoiasse, no início de sua carreira, fez de Marcos um crente volúvel. Contudo o
nosso Deus é fiel, ainda que sejamos infiéis. Deus nos leva de volta ao lugar
dos nossos fracassos e nos ordena a começar tudo outra vez. Ele pode
transformar a nossa falta de êxito em sucesso, porque é Ele quem nos dá o
ministério (Jo 15.16). Foi assim com Moisés na volta ao Egito, e com Jacó na
sua luta com Deus.
Aplicação
Na sua igreja os crentes mais experientes discipulam os mais novos
na fé?
2. João Marcos e Pedro
João Marcos também gozava de relacionamento bem íntimo com o
apóstolo Pedro. Talvez fosse “filho na fé” dele (1Pe 5.13). Sem dúvida alguma,
Deus operou uma grande obra na vida de João Marcos.
3. João Marcos e Paulo
A recusa de Paulo de levar Marcos na Segunda Viagem Missionária
poderia ter causado um distanciamento permanente entre os dois, mas
felizmente isto não aconteceu. Durante os últimos anos da vida de Paulo,
Marcos, aquele que foi rejeitado pelo apóstolo, lhe fez companhia, permanecendo
ao seu lado nas horas mais difíceis.
a. Na carta aos Colossenses, Paulo escreveu que Marcos, primo de
Barnabé, estava com ele em Roma e possivelmente visitaria a igreja em Colossos
(Cl 4.10).
Paulo disse que Marcos e Jesus, conhecido por Justo, “são os
únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus” (Cl
4.11). Eles tinham animado Paulo na prisão.
b. Quando Paulo escreveu para Filemom, colocou Marcos na lista dos
seus cooperadores (Fm 24).
c. Paulo, escrevendo para Timóteo sua última carta antes de morrer,
pediu que trouxesse Marcos, “pois me é útil para o ministério” (2Tm 4.11). Que
mudança! Marcos passou a ser uma bênção na obra do Senhor.
Dessa forma, entendemos que Marcos valorizou a segunda chance
recebida, e que o seu ministério foi importante no começo da igreja.
V. Autor do segundo evangelho
João Marcos contribuiu muito para o crescimento da igreja no
primeiro século, embora não tenha se destacado na liderança como Paulo, Pedro
ou Tiago. Ele impactou a igreja e, mais tarde, o mundo inteiro com seu
evangelho – o primeiro dos quatro que foram escritos. Quem podia imaginar que
aquele rapaz seria o autor do primeiro relato da vida, morte e ressurreição
de Cristo?
Apesar de ser o menor texto em comparação com os demais, o
evangelho de Jesus escrito por Marcos segue narrativa rápida, dinâmica e
progressiva. Parece que as informações nele contidas fluem com maior rapidez,
mas sem perder a essência, nem detalhes importantes e até diferentes dos
demais. Esse evangelho, de acordo com a tradição e vários comentaristas, foi
direcionado ao povo romano e apresenta Cristo como O Servo do Senhor, enviado
para realizar uma obra específica de Deus (cf. Is 24.41; 16.1-4). Marcos mostra
como Cristo cumpriu as profecias a Seu respeito contidas no Antigo Testamento
(Is 42.1-5; 49.1-7; 50.4-11, etc.). Ainda que Cristo seja apresentado em Marcos
com o caráter de servo, o relato dos milagres realizados aponta para Seu poder
como Filho de Deus.
Conclusão
Depois do que aprendemos da vida de João Marcos, cabe a cada um de
nós fazer uma reflexão muito séria sobre nossa atitude em relação às pessoas
que aparentemente fracassaram na obra do Senhor. Estamos dispostos a dar uma
segunda chance a elas? E quando nós falhamos, estamos dispostos a dar a volta
por cima e nos firmar no Senhor, no serviço do Mestre.
Apóstolo. Capelão/Juiz, Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr.
Edson Cavalcante.
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