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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

AS DUAS TESTEMUNHAS DO LIVRO DE APOCALIPSE QUEM SÃO...


                     AS DUAS TESTEMUNHAS DO LIVRO DE APOCALIPSE QUEM SÃO...
As Duas Testemunhas (Ap 11)
O capítulo 11 de Apocalipse, que trata do ministério das duas testemunhas, pode ser dividido em quatro parágrafos principais:
a) identificação (11.1-3);
b) autoridade (11.6);
c) morte (11.1-8);
d) ressurreição (11.11) .  
Identificação e ministério das duas testemunhas (11.3)
Existem diversas opiniões não conclusivas a respeito da identidade das duas testemunhas. Antes, porém, é necessário identificarmos que se tratam de profetas enviados por Deus, cuja identificação externa se encontra na peculiaridade das vestimentas, característica dos profetas veterotestamentários (Ap 11.3). Por esta razão alguns tem identificado estes dois profetas como Elias e Moisés, Enoque e Elias. Em síntese, as razões apresentadas são:
1) Elias:
a) Representando os profetas do Antigo Testamento;
b  Porque  através de seu ministério evitou que chovesse (1 Rs 17.1 cf. Ap 11.6);
c) Devido a profecia de Malaquias 4.5,6;
d) Porque não morreu e precisaria para cumprir Hb 9.27.
2) Moisés:
a) Representando a Lei;
b) Porque por meio de seu ministério transformou a água em sangue (Êx 7.19 cf. Ap 11.6);
c) Seu corpo foi escondido do diabo a fim de que Deus pudesse usar seu corpo contra o Anticristo;
Por essas razões alguns consideram que será Elias e Moisés, visto estes terem aparecido na transfiguração de Cristo (Mt 17.3).   
3)  Enoque:
a)   Pelo fato de não ter morrido e a necessidade de se cumprir Hb 9.27  .
Por essa razão pensam certos comentaristas de se tratar de Elias e Enoque.
Todavia, acreditamos na identificação anônima ou incógnita destas duas testemunhas e de que não se trata de nenhum destes profetas, mas de dois personagens cristão, segundo se depreende do versículo 8 que afirma:
E os seus corpos jazerão na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, ONDE O SEU SENHOR TAMBÉM FOI CRUCIFICADO.
As cenas que estão descritas na primeira parte do capítulo 11 do livro de Apocalipse (ver Apocalipse 11:1-14) é uma continuação do período histórico da sexta trombeta. O texto faz referência ao último período profético, quando ocorreram as mais cruéis perseguições contra o povo de Deus (ver Apocalipse 11:2 e 3). Durante este período a Palavra de Deus descreve a exaltação das duas testemunhas. Elas iniciaram o seu testemunho em 538 d.C., quando o povo de Deus foge para o deserto, e terminaram em 1798 d.C., data em que houve o aprisionamento do líder da igreja romana. A respeito desse período é nos dito o seguinte: “E concederei às minhas duas testemunhas que, vestidas de saco, profetizem por mil duzentos e sessenta dias” Apocalipse 11:3.
As ações do povo de Deus em defender os ensinamentos dos profetas e preservar a eterna lei do Senhor durante esse período, também conhecido como “idade média”, foram comparadas à atuação destas duas testemunhas, identificadas como “profetas”, conforme Apocalipse 11:10, as quais no passado atormentaram os habitantes da terra. Não foi por um acaso que as duas testemunhas tiveram destaque durante o ministério de Jesus, ao serem vistas por três de Seus apóstolos em uma visão do futuro reino milenar de Cristo (ver Mateus 16:28; 17:1, 3 e 9). Com os mesmos ideais que as duas testemunhas tiveram quando enalteceram a eterna lei de Deus e quando combateram a idolatria, assim também o povo de Deus prossegue anunciando o verdadeiro Evangelho aos que habitam sobre a Terra.
Estas duas testemunhas foram:
ELIAS – Esta testemunha teria o “poder para fechar o céu, para que não chova durante os dias da sua profecia; ...” Apocalipse 11:6 (primeira parte). Comparar com I Reis 17:1 – “Então Elias, o tisbita, que habitava em Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor, Deus de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não haverá orvalho nem chuva, senão segundo a minha palavra.” O profeta Elias tenazmente combateu a idolatria e a adoração aos falsos deuses.
MOISÉS – Esta testemunha teria o poder “sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem.” Apocalipse 11:6 (última parte). Comparar com Êxodo 7:19 – “Disse mais o Senhor a Moisés: Dize a Arão: Toma a tua vara, e estende a mão sobre as águas do Egito, sobre as suas correntes, sobre os seus rios, e sobre as suas lagoas e sobre todas as suas águas empoçadas, para que se tornem em sangue; e haverá sangue por toda a terra do Egito.” O profeta Moisés recebeu as duas tábuas da LEI (Dez Mandamentos), escritas pelo próprio dedo de Deus e durante a sua vida defendeu o seu cumprimento.
Após as duas testemunhas serem exaltadas nos é dito: “E passado o segundo ai; o terceiro ai cedo virá.” Apocalipse 11:14.
Este texto bíblico deixa muito claro, portanto, que entre os toques da sexta trombeta (segundo “ai”) e a sétima trombeta (terceiro “ai”), haveria um período de espera. Tudo se encaixa perfeitamente, pois, de acordo com Apocalipse 10:11, haveria um tempo em que o remanescente povo de Deus receberia a incumbência de profetizar novamente a muitos povos, e nações, e línguas, e reis.
Durante esse período de espera, fatos de grande relevância deveriam ocorrer, os quais teriam como objetivo sinalizar o breve retorno de nosso Senhor Jesus Cristo.
A segunda parte do capítulo 11 do livro de Apocalipse (ver Apocalipse 11:15-19) faz referência às majestosas cenas que ocorrerão ao toque da sétima trombeta. Ela anunciará a queda de todos os reinos do mundo e a tão esperada volta de Cristo. Esta é a maravilhosa e inconfundível certeza: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos.” Apocalipse 11:15.
No auge da última e decisiva guerra do Armagedom (sexta praga), todos os inimigos de Deus serão aniquilados e os reinos do mundo serão entregues ao nosso Senhor Jesus Cristo. O Apocalipse confirma a presença e atuação do dragão, da besta e do falso profeta nesta última batalha (Apocalipse 16:13 e 14; 19:11-21).
O apóstolo Paulo diz: “Eis aqui vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis. E nós seremos transformados.” I Coríntios 15:51 e 52.
Aos tessalonicenses o apóstolo Paulo tem declarado o seguinte: “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” I Tessalonicenses 4:16.
Portanto, ao soar a última trombeta, os justos mortos serão ressuscitados e os justos vivos serão transformados.
O profeta Daniel assim descreve esse grandioso evento, ao revelar o sonho do rei Nabucodonosor:
“Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se podia achar nenhum vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua se tornou uma grande montanha, e encheu toda a terra. ...Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre.” Daniel 2:34, 35 e 44.
Diz também a Palavra de Deus que, ao soar a sétima trombeta “abriu-se o santuário de Deus que está no céu, e no seu santuário foi vista a arca do seu pacto; e houve relâmpagos, vozes e trovões, e terremotos e grande saraiva.” Apocalipse 11:19. Esta cena é descrita novamente quando o sétimo anjo derramar a sua taça no ar: “...e saiu uma grande voz do santuário, da parte do trono, dizendo: Está feito. E houve relâmpagos e vozes e trovões; houve também um grande terremoto, qual nunca houvera desde que há homens sobre a terra, terremoto tão forte quão grande; ...e sobre os homens caiu do céu uma grande saraivada, pedras quase do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraivada, porque a sua praga era mui grande.” Apocalipse 16:17-21.
Os textos de Apocalipse 11:19 e Apocalipse 16:17-21 tratam do mesmo evento. Ao som da sétima trombeta dar-se-á a volta de nosso Senhor Jesus, a queda total das nações, a recompensa dos santos e a implantação do Reino Milenar de Cristo.
A citação sobre as duas testemunhas se encontra em Apocalipse 11,3-12. Trata-se, sem dúvida, de personagens extraordinários. As suas ações são descritas em 3 fases: a pregação acompanhada pela capacidade de realizar prodígios; a sua perseguição e morte por parte daqueles que se sentiam atingidos pela pregação; a sua ressurreição e assunção aos céus, onde os inimigos lhes contemplavam. Trata-se, como se pode logo intuir, de um esquema típico que encontramos também na vida de Jesus. Por isso poderíamos dizer que o autor pretende que imaginamos que estas personagens são semelhantes ao próprio Cristo. É exatamente por isso que provavelmente são chamadas de “testemunhas”, pois encarnaram em suas vidas o objeto de seus testemunhos, isto é, o ensinamento e o mistério pascoal de Cristo.
O fato de serem dois tem a ver com a autenticidade de seus testemunhos. Nos processos era necessário que as testemunhas de acusação fossem ao menos duas ( cf. Números 35,30; Deuteronômio 17,6; 19,15; Mateus 18,16; Gv 8,17; Hebreus 10,28). Da mesma forma, aqui nesse texto, o número dois indica a credibilidade das suas palavras.
Outro elemento que dá autoridade a eles é o fato que lhes são atribuídos alguns poderes típicos dos profetas Elias (não fazer chover) e Moisés (transformar a água em sangue e infestar o território com pragas) e que da boca deles sai fogo, como daquela de Jeremias, a quem o Senhor diz “Porquanto disseste tal palavra, eis que converterei as minhas palavras na tua boca em fogo, e a este povo em lenha, eles serão consumidos” (Jeremias 5,14). Diz isso para indicar o poder divino e ‘destruidor’ da palavra divina que sai da boca dos profetas (trata-se da ‘potência destrutiva’ que esta palavra opera quando entra em contato com a vida das pessoas e que pode provocar uma tremenda oposição que leva a matar ao profeta).
Por último, temos o elemento de credibilidade por excelência que é a ressurreição/assunção aos céus das testemunhas, que – como na morte – têm o mesmo destino de Cristo também na glória, uma realidade que aparecerá aos olhos de todos e que será ‘contemplada’ (com um sentido de reflexão sobre aquilo que se vê) pelos seus próprios perseguidores.
Agora abordemos especificamente a pergunta: ‘as duas testemunhas estão entre nós’? A resposta que dou em seguida dá a oportunidade de introduzir um princípio que é muito importante para compreender o mecanismo dos símbolos nas narrações bíblicas.
O aspecto simbólico das imagens usadas no Apocalipse (assim como em outros lugares na Bíblia) nos permite poder sempre identificá-los com pessoas e acontecimentos do nosso tempo. O Apocalipse, que é – como se traduz o grego apokalypsis – ‘revelação’, nos fornece chaves e critérios que nos ajudam a distinguir, dentro duma realidade, algo de negativo ou positivo e nos auxilia no discernimento diante de pessoas e suas ações e da história. Para poder ter esse efeito, porém, o símbolo deve também transcender a realidade que temos diante de nós. Deve valer agora e no futuro. Não podemos dar nome e sobrenome para as duas testemunhas (como também não podemos dá-lo à Besta ou a outras imagens simbólicas do Apocalipse), pois, se fizéssemos isso, anularíamos o símbolo, transformando-o em algo não mais aplicável a ninguém no futuro. Uma pessoa, um reino, uma nação podem ter, na história, nomes diferentes, mas também aspectos positivos e negativos que reaparecem.
Falando em perspectiva inversa, no símbolo temos características típicas do bem – beleza, convivência pacífica, harmonia, amor, etc. – ou também do mal – confusão, violência, guerra, humilhação, etc. – que na história podem assumir traços físicos diferentes em períodos diversos. Aquilo que importa não é identificar anagraficamente isto ou aquilo, mas é ter em mãos os instrumentos para se comportar conforme a maneira que o Apocalipse nos ensina, que é típico do cristão: exercitar o nosso juízo crítico em relação à realidade em que vivemos e seus protagonistas, para permanecer atentos, para abraçar com confiança aquilo que é bom e, igualmente com confiança, afastar-se do mal.
Mas certo com a vinda de Jesus Cristo essa duas testemunhas será Enoque e Elias, pois ambos não viram a morte.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante

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