COMO
SE ORIGINOU O DIABO E QUAL A ESTRATÉGICA DELE PARA TER BILHÕES DE SEGUIDORES
DURANTE TODA A EXISTÊNCIA DA HUMANIDADE, POIS ATÉ QUE CONHECEU A VERDADE POR
JESUS CRISTO, ALGUNS SE DESVIARAM É SEGUI O NOSSO ADVERSÁRIO...
Abra qualquer número de obras de referência bíblica usadas
comumente e olhe para o verbete "Satanás". Você encontrará,
provavelmente, uma história familiar. Eu cito, como típico, o Complete Bible
Handbook (Manual Completo da Bíblia), de L. O. Richards:
"O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus
como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho
levou Lúcifer a se rebelar contra Deus (conforme Isaías 14:12-14; Ezequiel
28:12-15). Torcido agora pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que
quer dizer `inimigo´ ou `adversário´ ...Satanás é um poderoso anjo decaído,
intensamente hostil a Deus e antagonista do povo de Deus." (páginas 245,
801).
Pergunte à maioria das pessoas que crêem na Bíblia de onde veio
Satanás e nove entre dez lhe darão uma versão da história citada acima. A idéia
de que Satanás é um anjo decaído a quem Deus expulsou do céu e que caiu na
terra é tão espalhada que muitas pessoas acreditam que a Bíblia a ensina.
Pode surpreendê-lo descobrir que a Bíblia não ensina tal coisa.
É certo que há passagens na Bíblia que falam de seres caindo do céu, mas não
são sobre Satanás e usam linguagem figurativa. Somente por uma leitura
descuidada destes textos pode alguém chegar à história popular relativa à origem
de Satanás. Examinemos as passagens bíblicas relevantes, no contexto.
Quem é Satanás?
O nome "Satanás" é uma transliteração do hebraico
satã, indicando um acusador no sentido legal, um queixoso que tem uma acusação
a apresentar. Em Zacarias 3:1 lemos "Deus me mostrou o sumo sacerdote
Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita
dele, para se lhe opor." Numa palavra, Satanás se opõe a nós, trabalha
contra nós, ou "nos persegue", na tentativa de nos derrotar espiritual
e moralmente. Jesus chamou-o homicida e mentiroso, em João 8:44. Em Apocalipse
12:9, João retrata Satanás como um grande dragão, uma representação que
ressalta sua terrível natureza. Esse mesmo versículo identifica-o como a
serpente (uma referência a Gênesis 3) e como o diabo, que é outro nome bíblico
comum para ele. Talvez 1 Pedro 5:8 nos diga o que mais precisamos saber a
respeito dele: "O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que
ruge procurando alguém para devorar".
A ênfase bíblica está no que Satanás é em relação conosco (um
inimigo). Algumas pessoas, contudo, pensam que certos textos bíblicos vão mais
além e nos dizem como Satanás veio a se tornar assim. Examinemos estes textos
cuidadosamente.
Isaías 14:12-14
Esta passagem diz: "Como caíste do céu, ó estrela da manhã,
filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu
dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei
o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo."
Você notará imediatamente que esta passagem não menciona Satanás por nenhum de
seus nomes bíblicos comuns. Pode-se extrair deste texto uma teoria da origem de
Satanás somente assumindo que esta passagem descreve-o, e ignorando o contexto
desta passagem na mensagem de Isaías.
Isaías não estava discutindo Satanás em Isaías 14, nem a origem
de Satanás de modo nenhum faz parte desta mensagem do profeta. Se dissermos que
este texto é sobre a origem de Satanás, isso simplesmente torna sem sentido o
contexto mais amplo. Isaías profetizou durante os reinados dos reis hebreus
Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias (Isaías 1:1). Seu ministério abrangeu
(aproximadamente) os anos 750 - 686 a.C., uns 65 anos, no máximo. Este foi um
tempo quando o povo de Deus tinha se tornado corrompido pela idolatria. Deus
enviou Isaías para pregar o arrependimento ao seu povo e para adverti-lo de que
um fracasso em voltar-se da idolatria significaria desastre em escala nacional.
Isaías pregou a ambos os reinos de Israel e Judá, cumprindo sua missão dizendo
aos povos desses reinos que eles sofreriam terrivelmente se recusassem
arrepender-se. Isaías 10:5-6 resume a mensagem ao reino do norte. Há linguagem
semelhante (13:3-6) reservada para o reino do sul, o reino contra o qual Deus
enviaria os babilônios.
A mensagem de Isaías não era completamente de desânimo e
condenação. Os assírios e os babilônios, ele pregou, eram simplesmente
instrumentos que Deus usaria para punir o seu povo. Uma vez que Deus tivesse
usado essas nações para seus propósitos, Ele se voltaria e aplicaria seu
julgamento sobre eles, pela impiedade deles próprios. É uma mensagem da
soberania de Deus em ação que causa reverência e temor nos ouvintes. A Babilônia
cairia, e depois disso Deus renovaria e reuniria seu povo e lhes daria uma
gloriosa e nova existência. Isaías 14 é sobre a queda do império babilônico.
Isaías diz aos habitantes do reino sulista de Judá que, depois que eles
tivessem sofrido o castigo, viria o dia quando eles poderiam ver a queda de seu
opressor e escarnecer de Babilônia do modo como esta tinha escarnecido de Judá.
Veja os versículos 4 e seguintes. Isto é sobre Babilônia.
Ora, porque Isaías começaria o capítulo falando sobre a queda de
Babilônia, interromperia com uma descrição da origem de Satanás, e então
recomeçaria a falar sobre a queda de Babilônia? Simplesmente não faz qualquer
sentido aqui no contexto ver 14:12-14 como sendo sobre a origem de Satanás. O
fato é que Isaías estava descrevendo para povo de Judá o que eles estariam
dizendo quando zombassem do rei de Babilônia que tinha sido rebaixado e decaído
do poder (versículo 4). As mesas virariam, e Isaías está descrevendo a ironia
de tudo isso. Até mesmo a leitura corrida da passagem revela que a linguagem
aqui é poética e figurativa, e temos que tratá-la de acordo. "Céu" no
versículo 12 é linguagem figurativa para o que é alto e exaltado, e Isaías está
aqui descrevendo a alta consideração em que o rei de Babilônia era tido. O profeta
descreve sua queda do poder figurativamente, como uma queda do céu. Então ele
chama o rei de Babilônia, também usando linguagem figurada, a "estrela da
manhã". Na sua glória, durante algm tempo, o soberano de Babilônia era
como uma estrela brilhante no céu. Contudo, seu reinado e seu poder cairiam, e,
mantendo as imagens, Isaías pinta sua extinção como uma estrela cadente.
Parte da incompreensão popular desta passagem resulta do
aparecimento da palavra "Lúcifer" em algumas versões do versículo 12.
A palavra hebraica em questão aqui é helel, que significa "estrela da
manhã" e não tem nenhuma ligação com Satanás. "Lúcifer" é uma
velha palavra latina que originalmente significava "portador da luz"
e era o nome do planeta Vênus sempre que aparecia no céu matinal. Na época que
esta palavra foi usada nas traduções deste versículo, "Lúcifer" não
significava Satanás. Infelizmente, para muitas pessoas, hoje em dia, Lúcifer é
o nome de Satanás (porque Isaías 14:12-14 é aceito como sendo sobre Satanás!).
Não é porque os tradutores erraram, mas porque pessoas de tempos posteriores,
ou esqueceram o que Lúcifer significava ou concluíram erradamente que era o
nome de Satanás, ou ambos.
Isaías 14:13 recita a jactância arrogante do rei babilônico.
Certa vez ele pensou que era o maior do mundo, que tinha poder e autoridade
igual à do próprio Deus. Uma das características do retrato profético de
Babilônia é seu grande orgulho. Contudo, Deus rebaixaria seu rei ao mais baixo
nível imaginável para a mente hebraica: o Sheol, o reino dos mortos (versículo
15). Os versículos 9-11 descrevem como os habitantes do Sheol ficariam
surpresos porque alguém que pensava ser tão "alto" estava agora entre
eles, num lugar tão "baixo". O ponto é que o rei babilônico foi do
extremo da exaltação mundana para a extrema humilhação, e isto era um feito de
Deus, o julgamento de Deus. A coisa toda é um quadro, uma imagem, e não uma
narrativa histórica literal. A ênfase está no contraste entre as condições do
soberano babilônico "antes" e "depois". As pessoas, então,
olhariam para o fracasso do rei babilônico e perguntariam: "É este o homem
que fazia a terra tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto,
derrubava suas cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para
casa?" (versículos 16-17).
Você vê, então, que quando examinamos Isaías 14:12-14 em seu
contexto, ele não nos diz nada sobre a origem de Satanás. É uma descrição
figurativa da queda do rei de Babilônia.
Ezequiel 28:12-16
Outra suposta passagem sobre a origem de Satanás é Ezequiel
28:12-16, onde se lê: "... Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da
perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de
todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o
berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se
fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles
preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no
monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus
caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti. Na
multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e
pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer,
ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras."
A referência ao Éden é, para muitos, um indicador seguro de que
esta passagem tem que ser sobre a origem de Satanás. Não importa que Satanás já
fosse o inimigo do homem no Éden! Mas, novamente, é somente aceitando que esta
passagem é sobre Satanás (a própria coisa que precisa ser provada) que podemos
lê-la desse modo. O contexto aqui argumenta em outra direção.
As palavras de Ezequiel aqui dizem respeito ao rei de Tiro. Os
versículos 1 e 11 tornam isto claro. O capítulo 27 é sobre a queda da nação, e
o capítulo 28 é especialmente sobre a queda do rei dessa nação. Prestar um
pouco de atenção ao contexto esclarece muito! Exatamente como na passagem de
Isaías, tomar as palavras do profeta como descritivas de Satanás e sua
"queda" é fazer deste capítulo um completo contra-senso.
Aqui a mensagem está em duas partes, mas cada uma delas
apresenta a mesma mensagem. Os versículos 1-10 descrevem o rei de Tiro do ponto
de vista de Deus. Como o rei de Babilônia, o rei de Tiro era orgulhoso,
arrogante e jactancioso. Ele se achava divino, e assim declarava ter uma glória
que não lhe pertencia (versículos 2,6,9). O profeta descreve sarcasticamente a
grandeza do monarca nos versículos 3-5. Pela sua arrogância, o orgulhoso rei
colherá o julgamento de Deus. O julgamento sobre ele é que Deus o abaterá
(versículos 7-10). Os versículos 11-19 repetem esta mensagem. O retrato
sarcástico que o profeta faz do rei reaparece nos versículos 12-16. O aumento
no nível de imagens e figuras na linguagem aumenta o sarcasmo. O rei pensava de
si mesmo em termos absolutamente altos, mas para Deus isto era pura loucura. A
referência ao Éden no versículo 13 não é literal, mas significa que o rei
imaginava-se privilegiado acima de todos os outros. Ele pensava que era
especial, como querubim ungido de Deus ou como algém que vivesse na própria
montanha de Deus (versículo 14). Ele se retratava nos termos mais gloriosos.
Pela sua arrogância, Deus o julgaria severamente (versículos 16-19). Novamente,
portanto, quando lemos esta passagem no seu contexto, vemos que não tem nada a
ver com a origem de Satanás.
Lucas 10:18
Em Lucas 10:18, Jesus diz: "Eu via Satanás caindo do céu
como um relâmpago." Aqueles que pensam que Satanás é um anjo rebelde
decaído acreditam que este versículo estabelece o assunto convincentemente.
Contudo, de novo, precisamos olhar para esta afirmação no seu contexto.
Em Lucas 10:1 e seguintes, Jesus tinha enviado setenta
discípulos numa missão de pregação. Realmente, era mais do que apenas uma
missão de pregação, pois Jesus também os enviou para curar e expulsar demônios
(versículos 9,17). É importante entender exatamente o que estes setenta
discípulos cumpriram e o que o próprio Jesus cumpriu em seu ministério.
Enquanto Jesus estava nesta terra, ele guerreou contra o reino de Satanás.
Antes que Jesus pudesse estabelecer seu reino (o reino de Deus), ele tinha que
invadir o território do inimigo, vencê-lo e tornar o inimigo (Satanás)
impotente e fraco. Isto ele fez pregando o evangelho e demonstrando
visivelmente seu poder. As curas miraculosas, e especialmente a expulsão de
demônios, não eram atos casuais de bondade; elas eram em vez disso assaltos
diretos sobre o reino de Satanás. Proclamando a "libertação dos
cativos" no evangelho (veja Lucas 4:18), Jesus estava proclamando a
derrota de Satanás e do pecado. Jesus veio libertar o homem do domínio de
Satanás, um domínio esumido em pecado e morte.
É no contexto desta guerra espiritual que temos que entender os
milagres associados com o ministério de Jesus e, mais tarde, dos apóstolos. Os
milagres associados eram físicos, demonstrações visíveis, exemplos, ilustrações
do que Jesus pode fazer pelos homens espiritualmente. Em nenhum lugar isto fica
mais claro do que na expulsão de demônios. A possessão por demônios era uma
manifestação óbvia do domínio de Satanás sobre pessoas. Que maior domínio sobre
uma pessoa Satanás poderia ter do que invadir seu corpo, através de um demônio,
e comandar seus atos? Quando Jesus expulsava demônios ele estava libertando
pessoas da garra de Satanás, Ele estava destruindo o domínio do Maligno sobre
elas. Era uma demonstração especialmente clara, ao nível físico, do poder do
evangelho, e era uma ilustração de como Jesus podia libertar os homens do reino
de Satanás e pô-los sob o reino de Deus.
O mesmo é verdade também quanto às curas milagrosas de Cristo.
Doença e morte eram manifestações do poder de Satanás sobre o homem. Curando os
doentes, Jesus estava livrando pessoas do poder de morte exercido por Satanás,
assim vencendo-o. Observe o que Jesus disse sobre a mulher que tinha uma doença
causada por um espírito em Lucas 13:16: "... esta filha de Abraão, a quem
Satanás trazia presa há dezoito anos" não deveria ela ter sido libertada,
no sábado? Jesus estava demonstrando, em suas curas milagrosas, seu poder sobre
Satanás, seu poder para livrar os homens do domínio de Satanás. A cura era uma
ilustração do que Jesus pode fazer por nós espiritualmente, através do seu
evangelho. Assim, não é coincidência que Mateus ligue as atividades de pregar o
evangelho e a cura dos doentes em Mateus 4:23: "Percorria Jesus toda a
Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda
a sorte de doenças e enfermidades entre o povo." Estas duas atividades iam
juntas muito naturalmente.
Quando os setenta discípulos retornaram, relataram seu grande
sucesso a Jesus. regozijando porque "... os próprios demônios se nos
submetem pelo teu nome!" (Lucas 10:17). Jesus os havia enviado como um
exército para invadir o território de Satanás e guerrear. Sua campanha tinha
tido um tremendo sucesso. Satanás sofreu uma derrota com cada demônio que eles
expulsaram. Jesus respondeu com um reconhecimento: "Ele lhes disse: Eu via
a Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para
pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada
absolutamente vos causará dano". (versículos 18-19). Observe a menção de
Jesus a "... sobre todo o poder do inimigo". Satanás estava sendo
derrotado no ministério de Jesus. Os setenta discípulos tinham compartilhado
esse ministério, e isso culminaria na maior vitória sobre Satanás: a morte e a
ressurreição de Cristo que decisivamente derrotaram o poder de Satanás de
pecado e morte, respectivamente. Assim, quando Jesus diz: "... eu via a
Satanás caindo do céu como um relâmpago", ele estava descrevendo quão
grandemente seu ministério estava derrotando o poder de Satanás sobre os
homens. O poder de Satanás não mais seria incontestável e absoluto. Em sua obra,
Cristo estava destruindo o aparentemente invencível poder do pecado e da morte.
Em linguagem que relembra Isaías 14:12-14, Jesus compara o poder anterior de
Satanás a uma estrela, e essa estrela agora caiu. Apocalipse 9:12 e Mateus
24:29 também usam a imagem de uma estrela cadente para descrever a derrota do
poder.
Portanto, novamente, o texto que alegremente prova a origem do
diabo não é sobre a origem de Satanás de modo nenhum. É somente introduzindo
tal ideia no texto que ele pode prestar algum serviço a tal doutrina.
Apocalipse 12:7-9
Talvez a passagem mais popular quando se fala sobre a origem de
Satanás seja esta, Apocalipse 12:7-9. Ela diz: "Houve peleja no céu.
Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e
os seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar
deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e
Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele,
os seus anjos".
Quem quer que alguma vez tenha olhado para o Apocalipse de João
sabe que nele abundam estranhos símbolos. É somente pela violência de tratar a
linguagem simbólica literalmente, e por ignorar o contexto, que podemos tirar
uma história da origem de Satanás deste texto.
Apocalipse 12 é uma descrição simbólica das circunstâncias
espirituais que causaram e conduziram à perseguição que os leitores de João
enfrentaram. João escreveu o Apocalipse para dar aos seus primeiros leitores
uma visão de seu sofrimento, para vê-la num contexto mais amplo. Eles foram
apanhados numa tremenda luta entre Deus e Satanás. O diabo estava tentando
destruir a igreja, usando Roma como seu agente. João, assim, estava dando aos
seus leitores uma perspectiva de sua situação que poderia ajudá-los a
suportá-la. Como uma descrição simbólica e figurativa não devemos, certamente,
lê-la literalmente, nem devemos tratá-la como alguma espécie de narrativa
cronológica e histórica do que tinha acontecido.
Apocalipse 12 é admitida como uma passagem difícil, mas os
estudantes que veem o livro do ponto de vista de seu contexto histórico
geralmente concordam que ele é sobre a vitória do povo de Deus e a derrota de
seu inimigo, Satanás. A primeira parte do capítulo (versículos 1-6) apresenta
diante de nós uma história de nascimento de uma criança do sexo masculino que
se torna o dominador das nações. Esta imagem representa Cristo (a alusão ao
Salmo messiânico, Salmo 2, em Apocalipse 12:5 confirma isto). Contudo, um
grande dragão (Satanás) imediatamente desafia seu aparecimento. O aparecimento
de Jesus desencadeia uma grande guerra espiritual (versículo 7). O domínio de
Satanás sobre a situação humana tinha, até agora, ficado indisputado. Quando
Cristo aparece, o poder de Satanás sobre o homem é efetivamente destruído, e
Satanás sofre uma derrota esmagadora (versículo 9). A história básica que João
apresenta aqui nos versículos 7 e seguintes é que Satanás perdeu sua tentativa
de ganhar domínio sobre a humanidade. Ee e suas forças não são adversários para
Deus e suas forças. Ele não pode derrotar Deus e seu Filho. Numa grande
destruição, Satanás é lançado abaixo, simbolizando sua ruína.
Que Satanás tenha sido atirado à terra é, eu penso,
significativo. É uma mudança na frente de batalha. Desde que Satanás não pôde
derrotar Deus no reino espiritual, ele então volta sua atenção para o reino
físico, onde ele espera ser vitorioso. É a mesma batalha pelo domínio
espiritual sobre o homem, mas agora é uma batalha espiritual travada na terra.
Agora, em vez de tentar destruir o Filho de Deus (tentativa que fracassou), ele
tenta destruir o povo de Deus que vive na terra. Satanás inunda a terra com
suas mentiras, enganos, tentações, etc., em seu esforço para destruir o povo de
Deus, mas isto também fracassa (versículos 11,17).
Apocalipse 12:7-9 é sobre como Satanás recebeu uma derrota
esmagadora pelo aparecimento e obra de Jesus. João escreveu isto para encorajar
seus leitores que estavam sofrendo por causa do ataque de Satanás através de um
poder mundial perverso, Roma. Eles poderiam suportar se soubessem que a vitória
era deles. Conhecer a origem de Satanás não teria feito nada para encorajá-los
a perseverar sob provações severas.
Então, donde veio Satanás?
Se nenhuma das passagens que são comumente citadas como relatos
da origem de Satanás são realmente sobre sua origem, então donde ele veio? Bem,
não estou certo de que a Bíblia revela a resposta para nós exatamente. Podemos
ter uma curiosidade sobre o assunto, mas temos que não permitir que tal
curiosidade nos instigue a encontrar respostas que ali não se encontrem.
O melhor que podemos fazer, eu penso, é inferir umas poucas
coisas sobre Satanás. Primeiro, somente Deus (o Altíssimo) é incriado. Tudo o
mais e todos no universo são criados. Portanto, Satanás é um ser criado. A
Bíblia, em nenhum lugar diz que ele é um ser eterno como Deus. Segundo, a
Bíblia atribui onipotência somente a Deus (o Soberano). Portanto, Satanás não é
um ser onipotente. Ainda que ele tenha grandes poderes, Deus limita seu uso
deles (conforme 1 Coríntios 10:13; Jó 1-2).
Terceiro, há seres que foram feitos e que existem acima do nível
humano. Podemos chamá-los seres espirituais por falta de um termo melhor. Entre
estes seres espirituais estão os anjos, mas estes aparentemente não são os
únicos tipos de seres espirituais (conforme Efésios 6:12; Apocalipse 4-5). A
respeito desta ordem de seres, conhecemos mais sobre anjos do que quaisquer
outros. O quadro que obtemos pela palavra de Deus é que seres espirituais são
muito mais interessados em negócios da terra e, às vezes, estão envolvidos
neles. Por exemplo, anjos mediaram a Lei de Moisés (Gálatas 3:19), anjos
anunciaram a ressurreição de Cristo (Mateus 28:5), e anjos desejaram ver o
cumprimento do plano de Deus de salvação (1 Pedro 1:12). Embora isso possa ser
uma especulação, também parece que seres espirituais, conquanto sejam criados,
não obstante não são ligados em sua existência às limitações de tempo ou idade.
A Bíblia em lugar nenhum identifica Satanás como um ser humano.
Ele é, obviamente, um dos seres espirituais sobre os quais lemos na Bíblia.
Isto não quer dizer que Satanás seja um anjo. De fato, teria sido muito fácil,
em qualquer dos contextos e para qualquer dos escritores, dizer que Satanás era
um anjo, mas eles nunca o disseram. Ele é, não obstante, um ser espiritual e a
Bíblia o descreve como, entre outras coisas, "o príncipe da potestade do
ar" (Efésios 2:2). Vemos Satanás, pela primeira vez, no Jardim do Éden
(Gênesis 3), justo no começo da história humana, e ele tem existido
continuamente desde então.
Quinto, seres espirituais, como seres humanos, têm livre
arbítrio. Judas descreve o castigo dos anjos rebeldes no versículo 6 de sua
epístola, e Pedro fala de anjos pecando em 2 Pedro 2:4. Portanto, Satanás se
opõe a Deus porque ele decide fazê-lo. Deus certamente não o criou para o mal
ou como um ser mau, pois a Bíblia nos diz claramente que não há mal associado
com Deus (Tiago 1:13; 1 João 1:5).
Parece que o máximo que poderíamos dizer sobre a origem de
Satanás é que ele é um ser criado, mas espiritual, que decidiu opor-se a Deus,
e que ele recruta outros seres espirituais e seres humanos em seus esforços.
Mais do que isto é só especulação.
Conclusão
Num sentido muito significativo, não importa de onde Satanás
veio. A ênfase na Bíblia cai, em vez no que ele faz. Não é como ele veio a
existir que preocupa. É o fato que ele existe que nos preocupa. Ele continua a
trabalhar contra nós em sua tentativa de dominar a humanidade, e para nós Jesus
deixou a continuação da guerra. "Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor
e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes
ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o
sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestes" (Efésios 6:10-12).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
dr. Edson Cavalcante.