ESTUDO BÍBLICO SOBRE O APOSTOLO LUCAS...
Desde os primeiros cânones da Bíblia Sagrada, como
o Cânon Muratório (170-180 d.C.), que é uma das listas mais antigas que se
conhece do Novo Testamento, que o terceiro Evangelho é reconhecido como de
autoria de Lucas. Irineu, um dos pais da Igreja, já citava o Evangelho Segundo
Lucas em seus escritos, por volta do ano 180 d.C.
Esse Evangelho forma um par com o livro de Atos dos
Apóstolos, a linguagem e a estrutura desses livros mostram que ambos foram
escritos pela mesma pessoa. São endereçados ao mesmo indivíduo, Teófilo, e a
segunda obra faz referência à primeira (At 1.1).
QUEM ERA LUCAS
Lucas era companheiro e grande amigo do apóstolo
Paulo. Único autor gentio incluído entre os escritores do Novo Testamento.
Embora não tenha sido testemunha ocular do ministério terreno de Jesus, o
escritor nos informa no prefácio do livro que investigou cuidadosamente os
fatos e que ouviu aqueles que foram testemunhas oculares e servos do Senhor
(1.1-3).
Lucas era um médico (Cl 4.14), que se converteu ao
cristianismo e se tornou colaborador permanente do apóstolo Paulo. Culto,
dominava o grego clássico.
Com relação à cidade em que nasceu, existe uma
polêmica. Alguns teólogos e historiadores defendem que Lucas nasceu em
Antioquia da Síria e outros acham que foi em Filipos.
DATA E OCASIÃO
Lucas pode ter sido escrito por volta de 63. Alguns
intérpretes argumentam a favor de uma data entre 75 e 85 d.C., afirmando que
algumas passagens de Lucas pressupõem a destruição de Jerusalém, fato ocorrido
em 70 d.C. (ex. 19.43; 21.20, 24). Mas essas passagens falam daquilo que era
costumeiro quando um exército sitiava uma cidade da época, e não se podem
acrescentar novas conclusões além daquilo que foi profetizado por Jesus. Jesus
profetizou que as políticas em vigência levariam à ruína da nação no devido
tempo. Alguns poucos críticos argumentam a favor de uma data no século II, mas
parece não haver boas razões para isso. Com as informações que dispomos a data
mais razoável é no inicio dos anos 60.
DESTINATÁRIO E
PROPÓSITO
Esse Evangelho tem um destinatário específico,
Teófilo (1.3). Esse nome se refere a uma pessoa e o emprego do adjetivo
“excelentíssimo” junto com o nome, revela que se trata de alguém de posição
importante. Teófilo era possivelmente o patrocinador de Lucas, responsável por
mandar copiar e distribuir seus escritos. Dedicatórias como essa da abertura do
livro de Lucas eram comuns naquela época.
Teófilo, no entanto, era mais que um patrocinador.
A mensagem desse Evangelho visava à instrução não só daqueles entre os quais o
livro iria circular, mas também ao próprio Teófilo (1.4). O fato desse Evangelho
ter sido inicialmente dirigido a Teófilo não reduz nem limita o seu propósito.
Foi escrito para fortalecer a fé de todos os crentes e para reagir aos ataques
dos incrédulos contra Jesus. O Evangelho de Lucas foi apresentado para
substituir relatórios desconexos e infundados a respeito de Jesus. Lucas queria
demonstrar que o lugar ocupado pelo gentio convertido ao Reino de Deus
baseia-se nos ensinos de Cristo. Queria recomendar a pregação do Evangelho ao
mundo inteiro, não apenas aos judeus.
PROVAS
ARQUEOLÓGICAS
Sempre houve dúvidas quanto à
precisão do evangelho den Lucas, mas quando os arqueólogos examinaram
detalhadamente o que ele escreveu, o consenso geral, tanto entre os estudiosos
liberais quanto entre os conservadores, é de que o historiador Lucas é muito
preciso. Ele é erudito, eloquente, seu grego é próximo do clássico, escreve
como um homem estudado. As descobertas arqueológicas demonstraram reiteradas
vezes que Lucas apresenta com exatidão o que tem a dizer.
São diversos os casos em que os
estudiosos inicialmente pensaram que Lucas tivesse se enganado em determinada
referência, descobertas posteriores, entretanto, confirmaram a correção de seu
texto.
Em Lucas 3.1, por exemplo, o
evangelista refere-se a Lisânias como tetrarca de Abilene por volta de 27 d.C.
Durante anos os especialistas citavam essa passagem como prova de que Lucas não
sabia do que estava falando, uma vez que todo mundo sabia que Lisânias não fora
tetrarca, e sim governador de Cálcis cerca de meio século antes. Se Lucas não
era capaz de acertar um detalhe tão elementar quanto este, diziam, não se pode
confiar em mais nada do que escreveu.
Mais tarde descobriu-se uma
inscrição da época de Tibério, de 14 a 37 d.C., em que Lisânias aparece como
tetrarca de Abila, perto de Damasco, exatamente como informara. Acontece que
havia dois governadores chamados Lisânias.
ESTILO
LITERÁRIO
Lucas tinha notável domínio da
língua grega. Seu vocabulário é amplo e rico, e seu estilo muitas vezes se
aproxima do grego clássico, ao passo que em outras ocasiões é bem semítico,
sendo muitas vezes semelhante à Septuaginta, tradução do Antigo Testamento em
grego. Seu vocabulário parece revelar sensibilidade geográfica e cultural, por
variar conforme o país ou povo a ser tratado. Quando Lucas se refere a Pedro
num contexto judaico, emprega mais linguagem semítica que quando se refere a
Paulo num contexto helenístico.
COMPARAÇÃO
COM A GENEALOGIA DE JESUS EM MATEUS
A genealogia de Jesus em Lucas é
dada em conjunto com seu batismo, e não com o seu nascimento (3.23). Há
consideráveis diferenças entre a genealogia de Lucas e de Mateus.
- Em Mateus temos a genealogia real do filho de Davi, já que Mateus apresenta Jesus como Rei e da família de Davi.
- Em Lucas a genealogia de Jesus é traçada pelo lado de Maria.
- Em Mateus a genealogia é traçada desde Abraão até José.
- Em Lucas ela vai de José até Adão.
- Mateus quer mostrar a relação de Jesus com os judeus, por isso só vai até Abraão, pai da nação judaica.
- Em Lucas, Jesus aparece relacionado com a raça humana, daí sua genealogia chegar até Adão, pai da humanidade.
- Em Lucas, a linha ancestral de Jesus recua até Adão e é sem dúvida, a linha ancestral de Maria.
A grande importância nas duas
genealogias é que elas afirmam que Jesus é da descendência de Davi, para se
cumprir as profecias que diziam que o Messias seria filho e herdeiro de Davi
(1Sm 7.12-13). Ele deveria ser literalmente descendente de carne e sangue da
raiz de Davi. Daí Maria e José serem membros da casa de Davi (1.27).
CARACTERÍSTICAS
E TEMAS
Diferentemente dos outros três
Evangelistas, Mateus, Marcos e João, Lucas é o único que inicia seu texto com
um prólogo, ou seja, fornece os dados prévios que nortearam a elaboração de seu
trabalho. Lucas se comporta como um historiador, incluindo fatos e acontecimentos
da época para poder situar a história de Jesus em um momento que possa vir a
ser comprovado (3.1-2).
Graças às pesquisas e
investigações citadas por Lucas, podemos conhecer fatos importantes a respeito
do nascimento de João Batista e de Jesus, bem como a única informação confiável
sobre a infância de Jesus (Caps. 1 e 2). Apenas Lucas registra os cânticos de
Zacarias e Maria. Apenas Lucas narra a visita dos pastores, a circuncisão e
apresentação de Jesus no templo de Jerusalém.
Nesse evangelho aprendemos que,
como menino Jesus se desenvolveu naturalmente (2.40-52). Como criança Jesus era
sujeito a seus pais (2.51). Somente
Lucas narra a visita de Jesus ao templo aos 12 anos.
Temos aqui o primeiro registro das
primeiras palavras de Jesus: “E ele lhes disse: Por que é que me
procuravam? Não sabem que me convém tratar dos negócios
do meu Pai?” (2.49). É a primeira vez que Jesus
revela sua divindade. Depois desse fato seguem-se dezoito anos de silêncio
sobre a vida de Jesus.
O Evangelho de Lucas apresenta as
obras e os ensinos de Jesus sempre apontando para o caminho da salvação. Sua
abrangência é completa, desde o nascimento de Cristo até sua ascensão. É um
relato ordenado na sua disposição e tem atrativos para os judeus e gentios
igualmente. A redenção se caracteriza pela excelência literária, por pormenores
históricos e pelo modo caloroso e sensível de apresentar e Jesus e os que com
Ele conviviam.
Lucas enfatiza a importância da
oração e registra que Jesus orou antes de ocasiões cruciais de seu ministério.
Nove orações de Jesus são incluídas nos Evangelhos, sete das quais são
encontradas somente em Lucas. Acrescente-se ainda parábolas sobre oração que
são encontradas somente em seu Evangelho.
Como os Evangelhos sinóticos
relatam muitos dos mesmos episódios da vida de Jesus, seria mesmo de se esperar
muita semelhança em seus relatos. As diferenças revelam a ótica característica
de cada autor. Entre os temas próprios de Lucas estão:
1- Universalidade – o reconhecimento dos judeus e gentios no plano de Deus.
2- A importância da oração.
3- Alegria ao anunciar o Evangelho.
4- Preocupação especial com o papel desempenhado pelas mulheres.
5- Interesse especial pelos pobres (alguns ricos se achavam entre os seguidores de Jesus, mas Ele parecia mais próximo dos pobres).
6- Preocupação com os pecadores (Jesus era amigo de pessoas dominadas pelo pecado).
7- Destaque ao circulo familiar.
8- Uso repetido do título “Filho do Homem”
9- Realce dispensado ao Espírito Santo.
Lucas é o evangelho dos
desprezados. Ele nos conta sobre o bom samaritano (10.33-37), o publicano
(18.13), o filho pródigo (15.11-32), Zaqueu (19.2-10) e o ladrão na cruz
(23.39-43). O Evangelho de Lucas dá grande destaque as mulheres, algo incomum
na época. Ele nos revela que eram as mulheres que sustentavam financeiramente o
ministério de Jesus (8.2,3). É o Evangelho do misericordioso Filho de Deus, que
oferece Salvação a toda humanidade (19.10). Apenas neste evangelho está
registrado que Jesus chorou quando contemplou a cidade de Jerusalém. Só ele
menciona o Filho de Deus suando sangue no Getsêmani; sua misericórdia dirigida
ao ladrão moribundo na cruz ao lado (23.39-43).
É o Evangelho mais longo e inclui
grande quantidade de informações não encontradas em outros textos.
O
ESPÍRITO SANTO
Lucas destaca a obra do Espírito
Santo. Ele revela que João Batista seria cheio do Espírito Santo desde o ventre
da mãe (1.15). O Espírito Santo desce sobre Maria, a fim de que ela
miraculosamente venha dar a luz ao Filho de Deus (1.35). Quando Maria
visita Isabel, esta fica cheia do Espírito Santo, exclamando: "Bendita és
entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre" (1.42). Quando
João Batista nasce, o pai Zacarias fica cheio do Espírito Santo e profetiza
(1.67). O Espírito Santo repousa sobre Simeão, e informa-lhe
que ele contemplará o Messias antes de sua morte e impulsiona-o
para que vá ao templo para ver o menino Jesus (2.25-27). Jesus recebe o
Espírito Santo por ocasião do Batismo e foi levado para o deserto (4.1). E
Jesus antes de sua ascensão promete que o Espírito Santo virá revestir os
discípulos de "poder" proveniente do alto (24.49). Por isso o
Evangelho de Lucas faz tantas referências a alegria.
PARA
QUEM FOI ESCRITO
O Evangelho de Lucas foi escrito
para os gregos, por isso Jesus é apresentado como o Homem Perfeito, já que os
gregos sempre buscaram a perfeição. Os gregos inventaram a matemática, a
ciência e a filosofia; foram os primeiros a escrever histórias em lugar de
meros anais; especularam livremente sobre a natureza do mundo e as finalidades
da vida, sem que se achassem acorrentados a qualquer ortodoxia herdada. Foi
para esses intelectuais que Lucas descreveu a vida e a obra de Cristo, o Homem
e o Salvador Perfeito. Lucas o descreveu como um homem cheio de simpatia para
com toda a humanidade, Salvador de todos os homens, sem distinção de qualquer
espécie.
Embora os Evangelhos fossem
destinados em última análise à totalidade da raça humana, parece que Mateus
tinha em vista os judeus, Marcos os romanos e Lucas os gregos. Lucas escreveu
especialmente para o povo grego, símbolo da cultura, da filosofia, da sabedoria
e da educação, a fim de apresentar a gloriosa beleza e perfeição de Jesus, o
Homem Perfeito.
VERSÍCULO
CHAVE
O versículo chave de Lucas está no
capítulo 19.10 “Porque o Filho do Homem veio para buscar e salvar
o que se havia perdido”...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e
Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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