O CUIDADO DE DEUS.
Mateus 6.25-34
Introdução
Os inimigos de nossa alma são insistentes. Eles não desistirão até nos ver rendidos, sem forças e derrotados. Sabemos que, pela graça de Deus, isto não acontecerá, pois desistir não é uma opção para os cristãos, não para os que foram chamados para perseverar até o fim, rumo à coroa de glória.
I. Dizemos isso porque neste mundo sempre haverá uma grande insistência para que nossa atenção seja cativada por alegadas evidências, que são contrárias à Palavra de Deus. Por isso é importante sermos igualmente insistentes em fortalecer nossa fé no conhecimento que vem de Deus. Por isso, na lição de hoje retomaremos o texto do Sermão do Monte no qual Jesus fala sobre ansiedade. Há mais riquezas contidas lá, e continuaremos a explorá-las.
Mateus 6.25- 34. Existe uma enorme diferença entre ver e observar. Quando elevamos nossos olhos aos céus ou contemplamos a natureza, não é muito difícil encontrar pássaros e flores ao alcance da visão. Estamos tão acostumados com sua presença que lhes damos pouca atenção. Jesus, porém, ao abordar diretamente a questão da ansiedade, convida-nos a olhar com outros olhos. Nosso Senhor nos convida não apenas a ver, mas a observar com atenção as aves e os lírios. Comuns na Palestina, essas duas figuras serviriam aos propósitos pedagógicos do Senhor para ensinar sobre ansiedade.
II. O que Jesus diz sobre a ansiedade
Sabemos que aqui a frase “Não vos inquieteis”, repetida com frequência, constitui o ponto central. Podemos dizer, parafraseando, que Jesus enfatizou a seguinte ideia: “se vocês estão ansiosos, parem com isso; se ainda não estão ansiosos, não fiquem”.
Eis a razão pela qual Cristo promete satisfazer nossas necessidades: onde está o seu tesouro estará também o seu coração (Mt 6.21). A ansiedade é uma rude desconfiança do poder e do amor de Deus. Apesar de sua falta de sutileza, incorremos nela com facilidade e frequência. Como fazemos isso? Ao observar as coisas com as quais costumamos nos preocupar, fica claro e temos de admitir que a excessiva preocupação é uma tentação em nossa vida. Mateus 6.25 registra que o Senhor Jesus disse que eles se preocupavam com o que iriam comer, beber e vestir. Como normalmente desejamos legitimar desejos ansiosos, nada melhor do que expressá-los nestes termos: “Ora, não estou ansiando por coisas extravagantes, estou me preocupando com coisas básicas”. Mas é isso mesmo que é vetado ao cristão.
Como podemos compreender melhor a advertência de Jesus? Ainda que o Brasil não seja um país miserável, há muitas regiões em que a pobreza se alastra. A incerteza de uma colheita, a possibilidade de queda do preço do produto no mercado ou uma economia regional mais frágil sempre gera preocupação acerca da alimentação e de outros gêneros de primeira necessidade. Os palestinos do tempo de Jesus tinham preocupações dessa ordem, e as palavras do Senhor sobre não ter ansiedade por coisa nenhuma são cheias de significado no contexto em que ele viveu, tanto quanto são para nós hoje.
A. Deus cuida de você como um pai
Em Mateus 6.26 somos ensinados que Deus cuida de nós e considera que temos muito mais valor do que a criação de modo geral. Esse cuidado diuturno devotado a nós pelo Senhor Deus deveria ser mais bem valorizado. Esse cuidado deve ser um fator motivador para a vida humana, e fundamental para derrotar a ansiedade. Em outras palavras, a ansiedade é desnecessária por causa do nosso Pai.
Como filhos que conhecem a seu Pai, e sabem não só do que ele é capaz, mas de suas boas intenções para com nós, filhos de Deus, deveríamos desenvolver a mesma confiante tranquilidade das aves. A confiança plena em nosso Pai celestial dissipa a ansiedade. Quanto mais o conhecemos, mais confiamos nele. Se o seu conceito de Deus está correto e você o vê como seu Possuidor, Controlador e Provedor, e, além disso, seu Pai amoroso, você sabe que não tem nada com que se preocupar (Mt 7.9-11). Jesus ilustra o cuidado paternal de Deus com duas observações sobre a natureza.
1. Deus sempre alimenta suas criaturas
Deus não apenas criou a vida, ele também a sustenta, como vemos em Mateus 6.26. Note que os pássaros não se agrupam, preocupados, nem arquitetam maneiras de sobreviver. O caráter nômade do fluxo migratório das aves claramente evidencia uma dependência franca da providência do Criador e Sustentador da criação. Embora não encontremos pássaros em galhos de árvore com seus bicos abertos, esperando que minhocas caiam do céu, Jesus nos diz que embora eles não semeiem, nem ceifem, ou ajuntem o excedente em celeiros, Deus os alimenta por meio do instinto que lhes deu, o qual eles usam para encontrar alimento.
Os pássaros não ficam ansiosos para encontrar comida, apenas repetem sua tarefa diária, e eles sempre encontram alimento, porque Deus está cuidando deles. Quando Deus diz que proverá, ele não está tratando da questão com meios-termos. Repare, contudo, que a confiança em Deus não isenta ninguém de trabalhar, pois esse é o meio instituído por Deus para prover o sustento. À semelhança do pássaro, temos de trabalhar, porque Deus ordenou que o homem ganhasse seu pão com o suor de seu rosto (Gn 3.19). Se não trabalhamos, não temos o direito de nos alimentar (2Ts 3.10). Assim como Deus provê para os pássaros por meio do seu instinto, igualmente ele o faz para o homem, por intermédio do seu próprio trabalho.
Então, cada vez que você vir um pássaro, deixe que ele sirva de lembrete para você quanto à copiosa provisão de Deus. Que isso afugente qualquer ansiedade que possa haver em seu coração.
2. Deus sempre adorna sua criação
Para algumas pessoas, o lugar mais importante em todo o mundo é o guarda-roupa. Em vez do medo de não possuir roupa para vestir – uma grande preocupação nos tempos bíblicos – pessoas presunçosas temem não poder causar a melhor impressão quanto à sua aparência. A ambição de ter as roupas mais caras é um pecado comum em nossa sociedade. Muitos fazem da moda um deus. Consentem em gastar regaladamente para cobrir seus corpos com coisas que nada têm a ver com a beleza de caráter: (1Pe 3.3-4). No entanto, Jesus diz que o melhor que este mundo tenha a oferecer nem se compara ao que ele oferece na própria natureza (Mt 6.28-29). Ao observar as flores mais simples ao nosso redor, o que vemos é uma beleza espontânea. Jesus estava usando o lírio para se referir à imensa variedade de flores.
O que Jesus quer nos ensinar com esse exemplo? Um Deus que valoriza essa beleza, cujo desfrute é tão temporário e efêmero, com certeza proverá o agasalho necessário para seus filhos. O texto compara o esplendor de uma singela flor com a reconhecida majestade do rei mais rico de Israel, Salomão.
O texto causa constrangimento ao coração ansioso, diante de amor e cuidados divinos tão intensos. Assim, ele deve buscar eliminar todo e qualquer sinal de ansiedade de seu temeroso coração.
III. O problema da ansiedade segundo Jesus
A. É incompatível por causa de nossa fé
Este é um ponto de máxima importância: a ansiedade não expressa apenas idolatria, mas atesta a fragilidade de nossa fé. Em Mateus 6.25-34, ela é apresentada como fruto da incredulidade que ainda habita em nós. Para o cristão, a ansiedade surge da dúvida que ainda reside em seu coração.
Que tipo de fé você está demonstrando sendo ansioso? A ansiedade atesta o quê a respeito da sua fé? Ela revela o Deus que você tem e a confiança que deposita nele? Cristãos que vivem ansiosos creem que Deus pode redimi-los, que ele pode quebrar as algemas de Satanás, tirá-los do inferno e conduzi-los ao céu, colocá-los em seu reino e dar-lhes vida eterna. No entanto, infelizmente, muitos não consideram, na prática, que ele possa supri-los no dia a dia. Acreditamos em um Deus que concede uma dádiva maior e, no entanto, tropeçamos em não crer que ele pode nos dar algo comum.
Jesus não se limita a proibir a ansiedade, mas apresenta razões para o cristão não se preocupar, razões que estão centradas no caráter e nas promessas de Deus. Ficar ansioso é negar, de maneira prática, o poder, a sabedoria e o amor de Deus para com você nas situações que você possa enfrentar. Ao agir assim, você está esquecendo que foi escolhido e adotado pelo Pai, e é profundamente amado como filho.
Nos versículos 25 a 30, Jesus lembra que o mesmo Deus que cuida das aves e das flores, atribui a você muito mais valor do que a elas. Se Deus cuida das plantas e dos animais, ele não cuidará de você, cristão, que foi criado à imagem dele, comprado pelo seu Filho, recriado com a vida de Cristo e selado pelo Espírito Santo?
Que este é um assunto de fé fica ainda mais claro quando Jesus atribui, nos versículos 31 e 32, a ansiedade ao típico comportamento dos pagãos, aqueles que não pertencem ao Pai celestial. Ainda que Jesus se dirija aos seus, não como incrédulos mas como “homens de pouca fé” (v.30), ele não se furta ao dizer que os pagãos “ idólatras e incrédulos – eram os que procuravam avidamente as coisas temporais. Os cristãos, porém, têm um Pai que conhece as suas verdadeiras necessidades e as atende em seu tempo e maneira. Quando a incredulidade passa a ter o domínio do nosso coração, um dos efeitos é a ansiedade. Assim, aquela tranquilidade que deve ter um filho de Deus, se esvai. A raiz da ansiedade é a desconfiança quanto ao que Deus prometeu nos dar em Jesus.
O antídoto para a ansiedade, portanto, é crer nas promessas de Deus e orientar a vida de acordo com as prioridades do Senhor (Mt 6.33). Nenhuma das boas promessas de Deus falhou, nem falhará.
B. É insensato por causa do nosso futuro
O texto de Mateus 6.34 traz a mensagem de que não devemos ficar ansiosos a respeito do futuro. Embora ele possa trazer problemas, no tempo certo estes serão resolvidos. Devemos cuidar deles à medida que vão chegando, pois não há como resolvê-los antecipadamente. Ninguém morre antes da hora Ninguém deve sofrer por antecipação. Aprendemos das palavras de Jesus que a preocupação nada pode fazer para melhorar nosso futuro. Ela acaba por nos desviar de nossas responsabilidades atuais, drenando nossa energia e minando nossa vida. Acabamos perdendo as alegrias da provisão de Deus no presente. Não devemos nos concentrar no futuro, privando-nos da alegria presente. O hoje é tudo que realmente possuímos, pois Deus não permite que nenhum de nós viva o amanhã até que ele aconteça.
Em Lamentações 3.22-23, lemos que as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã. Lembrando-nos da experiência de nossos pais no deserto, podemos dizer que haverá “maná” suficiente para cada dia (Êx 16.4 e 20). O amanhã pertence sempre a Deus. Toda vez que tentamos nos apoderar dele, tentamos roubar o que é dele. O Senhor nos proíbe terminantemente de ficar ansiosos pelo que está por vir. Os ansiosos não apenas desejam o que foi proibido a eles, mas também falham em usar o que recebem. Deus nos dá aquilo de que precisamos no momento certo.
IV. A ofensa decorrente
Mais importante do que o que a ansiedade faz a você, é o que ela faz a Deus. A ansiedade é um golpe contra a pessoa e o caráter do Criador e Sustentador. Repare que as perguntas retóricas feitas por Jesus apontam a direção de que a ansiedade conduz a uma ofensa a Deus, por causa de tudo o que é dito sobre seu caráter e seu relacionamento conosco (v. 25,27-28,30-32). A ansiedade é uma ofensa a Deus porque é desconfiança nas Escrituras, que são a Palavra de Deus. É uma incongruência afirmar que acreditamos na Bíblia e vivermos preocupados, imaginando se Deus vai mesmo cumprir o que promete nela.
Quando estamos ansiosos, não confiamos em nosso Pai celestial. Isto significa que não o conhecemos suficientemente bem. Não se alimentar da Palavra de Deus e não procurar conhecer ao Pai por meio de sua Revelação vai abrir um espaço suficiente para que a tentação faça o seu trabalho. Satanás não vacilará, se tiver a chance colocar a ansiedade em seu coração. Por isso, é importante nos assegurarmos de que, orientados pelas Escrituras, a ansiedade é desnecessária, por causa da generosidade de Deus. A ansiedade é inútil, pois deixa o indivíduo impotente para fazer coisas produtivas em relação ao futuro, e incrédula, porque essa é a característica dos descrentes. Retomando novamente o trecho final do discurso sobre a ansiedade (Mt 6.33-34), temos de insistir na mudança de foco. Em outras palavras, devemos dirigir nossos pensamentos para o alto, e Deus cuidará de todas as nossas necessidades. De todas as prioridades da vida, buscar o reino de Deus tem de ser a número um.
Conclusão
Com o que seu coração se preocupa? Se você puser qualquer outra coisa na frente de Deus, de seu reino e de sua justiça, mesmo que seu desejo seja somente se afastar de um medo terrível, vai descobrir que terá falhado em alcançar esse objetivo.
Deus não ficará em segundo lugar, mesmo diante de uma preocupação legítima. Quando ficamos ansiosos, estamos nos deixando levar pelas circunstâncias e não pela verdade de Deus.
Procure observar as numerosas evidências ao seu redor do cuidado abundante de Deus para com você. Desafie sua fé a ser mais confiante nas promessas e nas providências de Deus, seu Pai celestial. Tenha em mente o caráter ofensivo da ansiedade e comece, hoje mesmo, sua luta contra ela, com fé e esperança.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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