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quarta-feira, 21 de julho de 2021

OS MILAGRES DO PROFETA ELISEU

 

OS MILAGRES DO PROFETA ELISEU

2 Rs 8:4

“Ora, o rei falava a Geazi, moço do homem de Deus, dizendo: Conta-me, peço-te, todas as grandes obras que Eliseu tem feito” (2Rs 8:4).

INTRODUÇÃO
O ministério de Eliseu foi ratificado pelos milagres que Deus realizou por sua instrumentalidade. Foram 14 (quatorze) milagres ao longo de seu ministério, a saber: (1) dividir as águas do Jordão (2Rs 2:14); (2) sanear uma fonte (2Rs 2:19-22); (3) amaldiçoar zombadores (2Rs 2:24); (4) encher os poços com água (2Rs 3:15,26); (5) multiplicar o azeite de uma viúva (2Rs 4:1-7); (6) predizer uma gestação (2Rs 4:17); (7) fazer voltar à vida um jovem morto (2Rs 4:32-37); (8) neutralizar veneno (2Rs 4:38-41); (9) multiplicar pães (2Rs 4:42-44); (10) curar a lepra de Naamã (2Rs 5:1-19); (11) amaldiçoar Geazi com lepra (2Rs 5:20-27); (12) preparar armadilha para a força militar Síria (2Rs 6:8-25); (13) revelar um exército de anjos (2Rs 6:15-16); e (14) predizer o alívio para a sitiada Samaria (2Rs 6:24-7:20). De forma geral, esses milagres foram manifestos em momentos de angústia, onde apenas Deus poderia intervir, como foi o caso da predição da abundância de alimentos para Samaria sitiada e faminta, e a volta à vida do filho da Sunamita, que havia morrido.

Nesta Aula, trataremos apenas 08 (oito) dos 14 (quatorze) milagres que Deus realizou por instrumentalidade de Eliseu. Dividiremos aqui as narrativas desses milagres em quatro grupos, tornando o ensino mais didático: milagres de provisão, restituição, restauração e julgamento. Todas essas intervenções divinas operadas por Eliseu tinham como único propósito não exaltar as virtudes do profeta, mas evidenciar a graça e a glória do Todo-Poderoso.

I. OS MILAGRES DE PROVISÃO
1. A multiplicação dos pães(2Rs 4:42-44). ”E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada e espigas verdes na sua palha, e disse: Dá ao povo, para que coma. Porém seu servo disse: Como hei de eu pôr isso diante de cem homens? E disse ele: Dá-o ao povo, para que coma; porque assim diz o SENHOR: Comer-se-á, e sobejará. Então, lhos pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do SENHOR“.

Este é um milagre de Provisão. O milagroso poder de Deus se manifestou através da pequena quantidade de alimento que se multiplicou e se tornou mais do que suficiente para cem homens. Essa era a forma de Deus demonstrar que Ele proveria aos seus profetas. Quando Jesus esteve aqui na Terra, em sua forma encarnada, Ele operou um milagre com a mesma dinâmica, mas em maior proporção (cf Lucas 9:10-17). Em ambos os acontecimentos, é assaz evidente a graça de Deus em prover o necessário para os carentes.

2. Abundância de víveres (ler 2Rs 7:1-18). O contexto histórico desta narrativa bíblica refere-se à época do rei Jorão, filho de Acabe. Tal qual o seu pai, fez o que era mau aos olhos do Senhor Deus de Israel (2Rs 3:1,2). Ele aderiu aos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, que fizera pecar a Israel; não se apartou deles (2Rs 3:3). A consequência de suas ações pecaminosas foi o cerco à cidade de Samaria pelo rei da Síria, Ben-Hadade. Com a cidade sitiada, a consequência natural foi a escassez de alimentos. Por causa do cerco e, por conseguinte, a fome severa, até canibalismo foi praticado: as mães comiam seus próprios filhos (2Rs 6:28). Esse reprovável ato dessas mulheres é uma demonstração clara que Israel perdera a fé e se afastara da confiança em Deus. Um dos resultados principais do repúdio a Deus e à sua Palavra é a perda do amor e da afeição à família (cf. Dt 28:15,53-57).

Eliseu profetizara que a falta de alimentos chegaria ao fim e que seus preços cairiam, até chegar ao normal (2Rs 7:16). E foi o que aconteceu. Foi realmente um grande milagre, que aconteceu de forma sobrenatural e fora da lógica humana. Com esse acontecimento, os israelitas compreenderam que a palavra do Senhor era realmente a verdade, e que Deus, na sua misericórdia, salvara a nação apóstata, da calamidade, para que se arrependesse e voltasse a Ele; e que a incredulidade e a recusa em obedecer a palavra de Deus resultaram em mais castigos(veja o caso do capitão – vv. 2,17-20).

É Deus, não os ídolos sem valor, quem nos dá nosso alimento cotidiano. Apesar de nossa fé às vezes ser fraca ou bem pequena, jamais nos tornemos céticos quanto à provisão do Senhor. Quando nossos recursos estiverem reduzidos e nossas dúvidas forem muito fortes, lembremo-nos de que Deus pode abrir as comportas do Céu.

II. OS MILAGRES DA RESTITUIÇÃO
1. A restauração do filho da sunamita (2Rs 4:32-37). ”E, chegando Eliseu àquela casa, eis que o menino jazia morto sobre a sua cama. Então, entrou ele, e fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao SENHOR. E subiu, e deitou-se sobre o menino, e, pondo a sua boca sobre a boca dele, e os seus olhos sobre os olhos dele, e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre ele; e a carne do menino aqueceu. Depois, voltou, e passeou naquela casa de uma parte para a outra, e tornou a subir, e se estendeu sobre ele; então, o menino espirrou sete vezes e o menino abriu os olhos. Então, chamou a Geazi e disse: Chama essa sunamita. E chamou-a, e veio a ele. E disse ele: Toma o teu filho. E veio ela, e se prostrou a seus pés, e se inclinou à terra; e tomou o seu filho e saiu”.

Na cidade de Suném (4:8), perto do Mar da Galiléia, havia uma senhora casada com um próspero fazendeiro que se mostrou generosa para com o profeta, dando-lhe boa acolhida em sua casa e até construindo um quarto extra, especialmente para hospedá-lo em suas passagens por lá. Ela tinha tudo o que precisava, mas não tinha o que mais desejava – um filho.

Em Israel a ausência de filhos era sempre motivo de chacota e desprezo, e ainda que o marido fosse estéril ou demasiadamente velho, a culpa sempre era da esposa. A sunamaita, apesar da tranquilidade financeira, carregava sobre si esse imenso desconforto. Eliseu, por sua vez, retribuiu a generosidade intercedendo pelo milagre de um filho, e Deus concedeu-lhe essa graça.

Passados alguns anos aquela criança adoeceu gravemente e acabou falecendo nos braças da mãe. Ela, que no início duvidara da promessa de Eliseu, agora, amadurecida na fé, pôde crer na restituição miraculosa de seu filho morto. Agiu rapidamente no sentido de encontrar o profeta e nem contou ao marido o que havia ocorrido, na certeza de que Deus resolveria a questão antes que a tragédia viesse à tona. Eliseu deixou tudo o que estava fazendo para vir em socorro da mulher e da criança, e ao chegar na casa fez duas coisas: clamou a Deus e tentou aquecer aquela pequena vítima.

O método de Eliseu funcionou. Deus ouviu o seu clamor e, com isso, a confiança daquela mãe, que mesmo em meio às lágrimas, foi surpreendentemente recompensada. Prostrou-se aos pés de seu benfeitor, cheia de júbilo, e saiu com o filho nos braços glorificando a Deus.

Aquilo que cabe a nós, isso devemos fazer, pois Deus mesmo concedeu os meios naturais que nos ajudam a sobreviver. Porém, há coisas que só pela força sobrenatural de Deus podemos obter.

2. O machado que flutuou (2Rs 6:1-7). ”E disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão, e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar, para habitar ali. E disse ele: Ide. E disse um: Serve-te de ires com os teus servos. E disse: Eu irei. E foi com eles; e, chegando eles ao Jordão, cortaram madeira. E sucedeu que, derribando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou e disse: Ai! Meu senhor! Porque era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu? E, mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez nadar o ferro. E disse: Levanta-o. Então, ele estendeu a sua mão e o tomou“.

O fato do machado de ferro ou de bronze, que havia afundado, ter subido à superfície foi um completo milagre. Foi uma demonstração do poder de Deus. Um machado de ferro ou bronze, naqueles dias, era uma ferramenta muito cara, e esse pobre homem ficou aflito ao pensar na sua responsabilidade pela ferramenta emprestada. O milagre serviu para enfatizar aos jovens profetas que, no conflito com a adoração a Baal, Deus trabalhava a favor deles. Também serviu para mostrar o cuidado e a provisão de Deus para aqueles que confiam nele, mesmo nos acontecimentos mais insignificantes da vida cotidiana. Deus está sempre presente. Ele está pronto a restituir o que perdemos, mas precisamos ter consciência disso.

III. OS MILAGRES DE RESTAURAÇÃO
1. A cura de Naamã (ler 2Rs 5:1-19). Algumas coisas nos chamam a atenção no relato desse milagre.
a) O testemunho da fé (2Rs 5:1-8). Naamã, general do exército da Síria, era um grande homem diante do seu rei, do seu povo, e de muito respeito…porém, leproso. Na vida de um grande homem, por mais importante e destacado entre o seu povo, há sempre um “porém“. Não adianta ensoberbecer, há sempre um “porém”. Este general havia conquistado tudo que desejava, “porém, havia perdido aquilo que mais prezava – sua saúde, tornara-se leproso. A menina israelita, por sua vez, perdera tudo que mais amava, mas manteve saudável a sua fé. E apesar da indignação de ser raptada, de perder o contato com a amada família, de ser reduzida à vil escravidão, de perder a sua infância, de ter de servir a um tirano, inimigo de seu povo, e pior ainda, um leproso, apesar de tudo isso manteve firme sua confiança em Deus. Mostrou-se disposta a testemunhar de sua fé naquele ambiente hostil, oferecendo uma benção àquele que a ofendeu: “tomara o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra” (2Rs 5:3). A atitude e a fé dessa menina israelita nos dá a seguinte lição: nem sempre o ambiente onde vivemos, estudamos e trabalhamos vem a ser aquilo que gostaríamos, mas nunca deixará de ser um lugar de oportunidade, onde nossa fé, mesmo com lágrimas, poderá ser semeada e mudanças alegres poderão ser colhidas (veja Salmo 126:6).

As boas novas logo se espalharam chegando até o trono do rei da Síria, Ben-Hadade. Aquele reino próspero e poderoso nada podia fazer em benefício de seu herói, mas o “fraco” reino de Israel, por eles saqueado, possuía homens com grande poder espiritual. O opressor agora dependia do oprimido, o forte precisava do fraco, e dessa forma o nome de Deus foi exaltado entre as nações. Ben-Hadade enviou seu general favorito ao rei de Israel, com uma grande comitiva, um batalhão fortemente armado e uma considerável fortuna, a fim de encorajar a cooperação do rei Jorão – “encontrar o tal profeta milagroso”. A abordagem de Naamã foi direta e honesta, mas o rei de Israel interpretou mal aquele pedido, confundindo com um pretexto para provocar uma nova guerra (cf. 2Rs 5:7). Sua cegueira espiritual o impedia de enxergar a grande oportunidade que Deus havia proporcionado. Imaginem a repercussão internacional que seu reino poderia obter se o grande Naamã fosse socorrido pelos “poderes de Israel”? O rei Jorão sabia que Eliseu tinha esse poder, mas a desprezível idolatria que maculava sua alma o impedia de raciocinar com clareza.

Naamã levou à presença do rei Jorão, como retribuição à sua petição, a exorbitante quantia de 10 talentos de prata (350 kg), 6.000 siclos de ouro (68 kg) e dez vestes festivais (trajes de luxo adornados com pedras preciosas). Certamente uma parte daquele tesouro caberia ao profeta que o curasse. Não tardou a que as noticias chegassem aos ouvidos de Eliseu, o qual repreendeu a estupidez do rei Jorão e sua incredulidade: “Porque rasgastes as tuas vestes? Deixa-o vir a mim e saberá que há profeta em Israel” (2Rs 5:8).

b) O exercício da fé (2Rs 5:9-19). Chegou Naamã, com sua comitiva, seu exército, seu poder e sua carga preciosa à casa do profeta, mas Eliseu não se deixou impressionar com toda aquela ostentação, de modo que nem ao menos se deu ao trabalho de ir saudá-lo ou festejá-lo. Conhecia o objetivo de sua visita e, provando a sua fé, mandou o seu discípulo, Geazi, ao encontro de Naamã, no portão, com a seguinte instrução: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo” (2Rs 5:10). Perante Deus não há lugar para soberba; Naamã precisava aprender esta lição. Se alguém busca uma bênção de Deus, que busque isso com humildade e fé ou nada receberá – “pois todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado”(Lc 14:11).

O arrogante general começou a desanimar e a perder as esperanças de uma cura espetacular, em função do preconceito contra o método do profeta e pela maneira como foi tratado. Desejou voltar para casa imediatamente, mas seus assessores, munidos de um sincero desejo de vê-lo curado, convenceram-no com muita inteligência, cautela e lógica: “O senhor é homem valente e nunca se negou a uma tarefa por mais difícil que fosse. Temos certeza de que o senhor faria qualquer coisa que o profeta pedisse sem hesitar ou demonstrar temor. Por que, então, não poderia fazer algo tão simples?” (2Rs 5:13 – parafraseado).

A questão agora estava nas mãos de Naamã. Em seu desespero, já havia crido até nos conselhos de uma escrava estrangeira, percorrera grande distância rumo ao desconhecido e fizera um considerável investimento em busca da solução para o seu drama. Faltava-lhe agora o passo final – “agir com fé”. Finalmente, o grande estadista abriu mão do orgulho e mergulhou no “lamacento” rio Jordão. Posso até imaginar a expectativa de seus companheiros. “Mergulhou uma, duas vezes, e nada! Mergulhou terceira, quarta e quinta vez, e nada aconteceu! Mergulhou pela sexta vez e não houve sequer um vestígio de mudança. A angústia foi aumentando; teria o profeta passado um trote no general? Se desistisse ali teria perdido a grande oportunidade de sua vida, mas não desistiu; exercitou sua débil fé até o fim e, por isso, o resultado foi melhor que o esperado. Não apenas obteve a cura, como também ganhou uma pele rejuvenescida, tal como a pele de uma criança.

Naamã voltou à presença de Eliseu com seu corpo purificado, sua alma lavada e suas mãos repletas de dádivas. A transformação foi completa; Deus mudou-lhe o exterior e o interior, e fez dele um novo homem. O profeta, ao olhar tamanha alegria, alegrou-se também; não pela fortuna que lhe foi oferecida, mas pela preciosidade de uma vida transformada e agora consagrada ao verdadeiro Deus.

2. As águas de Jericó (2Rs 2:19-22). ”E os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que boa é a habitação desta cidade, como o meu senhor vê; porém as águas são más, e a terra é estéril. E ele disse: Trazei-me uma salva nova e ponde nela sal. E lha trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas e deitou sal nele; e disse: Assim diz o SENHOR: Sararei estas águas; não haverá mais nelas morte nem esterilidade. Ficaram, pois, sãs aquelas águas até ao dia de hoje, conforme a palavra que Eliseu tinha dito“.

Este texto narra a história das águas amargas de Jericó que foram restauradas por Deus através da instrumentalidade do profeta Eliseu. No acontecimento desse milagre, o profeta pede um prato novo e, dentro deste, se coloque sal. Feito isso, Eliseu profetiza, em nome do Senhor, que aquelas águas tornem-se potáveis. E assim aconteceu - “ficaram sãs aquelas águas“. Aqui, o “sal”simboliza um elemento purificador (Lv 2:13; Mt 5:13), enquanto o “prato novo” simboliza um instrumento de dedicação especial ou exclusiva para aquele momento. Na verdade, ao tornar saudáveis as águas salobras, usando um prato de sal, Deus quis mostrar aos “seminaristas”(os discípulos de Eliseu) que Ele tem total controle e autoridade sobre a natureza (veja o caso de Elias no ribeiro de Querite – 1Reis 17:4-6). Com esse milagre, Deus quis dar tranquilidade de provisões aos discípulos de Eliseu.

IV. OS MILAGRES DE JULGAMENTO
1. Maldição dos rapazes (2Rs 2:23-24). ”Então, subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns rapazes pequenos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo, sobe, calvo! E, virando-se ele para trás, os viu e os amaldiçoou no nome do SENHOR; então, duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois daqueles pequenos“.

No caminho entre Jericó e Betel, um dos centros de adoração ao bezerro, Eliseu se deparou com um grupo de rapazes arruaceiros que o chamaram de “calvo” e o desafiaram, em tom de escárnio, a subir ao Céu como Elias. Certamente, esses “rapazes pequenos” tinham ouvido seus pais rirem da notícia que Elias subira ao Céu, possivelmente dizendo: ‘Se Eliseu afirma isso, que então ele mostre como é feito e que ele, o velho calvo, suba também‘. Essa zombaria contra o profeta era um desdém pelo seu Senhor. Para desagravar a honra do Senhor, Eliseu pronunciou contra eles um julgamento divino, formulado na lei da bênção e da maldição, segundo o concerto (ler Lv 26:21,22; Dt 30:19). Após Eliseu amaldiçoá-los “em nome do Senhor […] duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois deles”. O próprio Deus julgou aqueles rapazinhos degenerados, enviando-lhes duas ursas. Não dá prá saber se eles morreram ou não.

Não sabemos como reconciliar completamente esse incidente com o caráter de Deus ou com a bondade do profeta. Se tal reconciliação for possível, devemos entender que os “rapazes” eram suficientemente crescidos para responder moralmente. Eliseu pronunciou essa maldição a fim de vingar a honra do Senhor que havia sido ofendida quando os jovens proferiram aquelas palavras para insultá-lo. Insultar um mensageiro de Jeová é o mesmo que ofender o próprio Deus.

2. A doença de Geazi (ler 2Rs 5:20-27). Nesta narração, observamos a razão principal pela qual Geazi foi julgado: o abandono da fé – a cobiça pelos bens terrenos o levou à maldição. A jovem escrava israelita exercitou sua fé, apesar da tristeza que ardia em seu coração. Naamã exercitou sua fé, mesmo com o preconceito arraigado em seu coração, mesmo com a decepção na corte do rei Jorão, mesmo não entendendo a lógica do profeta, e agora, depois de curado, exercitou mais uma vez a sua fé na convicção de que o “Deus de Israel” o acompanharia de volta a seu país (2Rs 5:17). Mas Geazi, embora conhecesse bem de perto os prodígios do Senhor, em lugar de exercitar, abandonou a sua fé, trocando o sustento de Deus por um modo “mais fácil” de prover o seu conforto. Geazi engendrou um plano diabólico para tirar o máximo proveito daquela situação. Certamente o fascínio do lucro fácil causou um desequilíbrio na mente daquele cobiçoso discípulo, a ponto de usar o santo nome de Deus para justificar sua cobiça: “ tão certo como vive o Senhor, hei de correr atrás dele e receberei alguma coisa” (2Rs 5:20).

Aproveitando-se da euforia e da boa fé do novo convertido Naamã, usou o nome do profeta, inventando a chegada de novos hóspedes como pretexto para ganhar um pouco do que Eliseu recusou. E ganhou mesmo, mais ainda do que pediu; angariou para si 68 kg de prata e duas vestes festivais (2Rs 5:21-23). Bem que a Palavra de Deus nos alerta: “porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6:10). E, como um pecado chama outro pecado, o jeito foi continuar mentindo para acobertar o seu deslize. Mas de Deus não se esconde nada. Deus fez com que Eliseu soubesse de tudo por meio de uma visão (2Rs 5:26).

Veja como são as coisas, um pagão estrangeiro foi curado, pela nobreza de sua fé, enquanto um israelita, um estudante de teologia, tomou o lugar do pagão, para a desonra de sua fé. Assim como Acã, Ananias e Safira, Judas Iscariotes….também Geazi vendeu sua alma por prazeres passageiros. A cobiça desse jovem só lhe trouxe maldição, pois com a prata que surrupiou de Naamã, herdou também a lepra que antes era dele (2Rs 5:27). Geazi foi à procura de Naamã em busca de “alguma coisa” e terminou sem “coisa alguma”. Foi em busca de valores materiais, mas perdeu os espirituais. É um perigo quando alguém troca o “ser” pelo “ter”.

CONCLUSÃO
Eliseu realizou milagres fantásticos, sim, mas era um dom de Deus; foram uma clara demonstração do poder de Deus, que teve como propósito específico demonstrar a graça de Deus e sua glória nas mais diferentes situações. Em nenhum momento Eliseu ensoberbeceu-se do dom que havia nele, e nem deixou transparecer que se tratava de algo que ele conseguia manipular através do domínio de alguma técnica. Não há dúvida nenhuma que em todos os milagres realizados estavam a unção de Deus.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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