ADORAÇÃO A DEUS.
Adoração é a expressão do relacionamento devoto e reverente da criatura para com a divindade. Mas esse tipo de definição é muito limitado para conceituar o que é a verdadeira adoração a Deus. Por outro lado, entender o significado da adoração a Deus é fundamental a todo cristão, pois o povo do Senhor é chamado à mordomia da adoração. Isso quer dizer que ser um cristão verdadeiro é essencialmente ser um adorador.
Contudo, grande parte dos cristãos possui uma visão no mínimo confusa do que é a adoração a Deus. Principalmente por falta de uma instrução bíblica sólida, muitos crentes adotam um significado de adoração completamente estranho às Escrituras. Mas então como podemos adorar a Deus de uma forma realmente bíblica?
O significado de adoração na Bíblia
O sentido de adoração é representado por várias palavras hebraicas e gregas no Antigo e Novo Testamentos, respectivamente. Isso significa que o vocábulo bíblico referente à adoração é realmente muito amplo. Mas de forma geral, o conceito essencial sobre adoração na Bíblia expressa as ideias de “serviço” e “reverência”.
No Antigo Testamento, os termos hebraicos ‘abad, “servir”, “trabalhar”; e shaha, que significa “curvar-se”, “prostrar-se”, são os mais frequentemente utilizados. Já no Novo Testamento, a prática da adoração é referida principalmente pelos termos gregos proskyneo, “prostrar-se”, “inclinar-se”; latreuo, “prestar serviço”; e sebomai e seus cognatos, significando “reverenciar”, “ficar admirado”.
Quando aplicados à adoração a Deus, esses termos expressam a atitude de profundo temor, reverência, admiração, veneração e devoção dos servos de Deus à luz da compreensão de Sua grandeza e das maravilhas de Suas obras. O entendimento desse significado é importante para uma correta definição da adoração a Deus.
A adoração a Deus no Antigo Testamento
O Antigo Testamento registra a adoração dos fieis tanto em seu aspecto individual quanto coletivo. Isso quer dizer que os textos bíblicos mostram algumas pessoas adorando a Deus numa instância individual (Gênesis 24:26s; Êxodo 33:9-34:8); mas também mostram a adoração publica por parte de toda a congregação de Israel (Salmos 42:4; 1 Crônicas 29:20).
Nesse contexto, o Antigo Testamento descreve como a adoração na Antiga Aliança era expressa através de um sistema ritualista organizado de acordo com os preceitos que o próprio Deus revelou a Moisés no Sinai. A adoração dos crentes judeus do Antigo Testamento incluía uma série de ofertas e sacrifícios corporativos e individuais. Essa ofertas e sacrifícios eram oferecidos por meio dos sacerdotes no Tabernáculo e depois no Templo.
Os sacrifícios na adoração a Deus no Antigo Testamento eram oferecidos regularmente. Isso porque Deus é santo e o homem é pecador. Então um adorador não podia se aproximar do Deus que é absolutamente santo, sem que o problema do pecado fosse tratado.
Além dos sacrifícios diários que faziam parte da adoração do crente judeu, havia também a celebração de algumas datas especiais, das quais as duas mais importantes eram o Dia da Expiação e a Páscoa.
A adoração a Deus no Novo Testamento
O Novo Testamento mostra que a essência da verdadeira adoração a Deus permanece imutável; porém os tipos na adoração sob a Antiga Aliança deram lugar aos seus antítipos na adoração sob a Nova Aliança. Isso quer dizer que todo o modelo cerimonial da adoração da Antiga Aliança que se valia do sistema de sacrifícios e do sacerdócio, deu lugar a uma realidade muito superior.
Todas aquelas coisas eram temporárias e apontavam para Cristo. Então uma vez que Cristo veio, aqueles rituais que caracterizavam a adoração do Antigo Testamento tornaram-se coisas do passado. O sacerdócio perfeito, o sacrifício definitivo e a intercessão de Cristo no Santuário Celestial, conduzem o crente a um novo nível de adoração; a um novo estágio no relacionamento com o Pai.
Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e é por meio dele que agora podemos nos aproximar de Deus com confiança (João 1:29; Hebreus 4:16; 10:26). O Novo Testamento mostra que a vida do crente – toda ela, em todos os seus aspectos – deve ser uma verdadeira adoração a Deus. Isso quer dizer que a adoração a Deus deve ser vista como um modo de vida no qual nos apresentamos como sacrifícios vivos, santos e agradáveis ao Senhor (Romanos 12:1; cf. 1 Coríntios 10:31).
Mas ao mesmo tempo em que o Novo Testamento destaca a adoração particular, ele também enfatiza a necessidade e importância da adoração pública; isto é, a reunião regular de cristãos na presença do Senhor. Isso significa que como parte do Corpo de Cristo, cada cristão deve se juntar aos seus irmãos na fé para juntos, em Cristo, adorarem a Deus (Colossenses 3:16,17).
Parte importante da adoração pública dos crentes da Nova Aliança é a celebração da Ceia do Senhor; quando os redimidos não somente rememoram a morte sacrifical de Cristo, mas também se alimentam espiritualmente d’Ele. A adoração a Deus, em seu aspecto congregacional, envolve cânticos, orações, e, sobretudo, a instrução da Palavra.
O apóstolo Paulo fornece algumas regulamentações sobre a adoração da comunidade cristã; especialmente quanto ao uso adequado dos dons espirituais (1 Coríntios 14-16).
A importância da adoração
Jamais um cristão deve negligenciar a importância vital da verdadeira adoração a Deus em sua vida. O reformador João Calvino está absolutamente certo quando diz que, incontestavelmente, o primeiro fundamento da justiça é a adoração a Deus.
Mas a adoração a Deus não é meramente um combinado de gestos e posturas; não é a entoação de belas músicas ou a declamação de palavras bonitas e frases de efeito. A verdadeira adoração a Deus é um serviço que envolve a pessoa do adorador por completo, em todo seu ser, o tempo todo, e não apenas nas manhãs e noites de domingo.
Uma adoração marcada simplesmente por externalidades é inútil diante de Deus (Mateus 15:8,9). Mas o Senhor Jesus ensina que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram o Pai em espírito e em verdade (João 4:23,24).
Como bons mordomos da adoração ao Senhor, devemos entender que não há adoração a Deus sem reverência pela santidade de Seu Nome; sem admiração pela grandeza de Seus atributos; sem alegria pelas maravilhas de Suas obras; sem humildade e confissão de pecados diante de Sua justiça; e sem gratidão diante de Seu extraordinário amor misericordioso manifestado em sua indescritível graça revelada na pessoa de Jesus Cristo.
Praticamos a boa adoração quando, em nome de Cristo, rendemos a Deus o nosso culto racional à luz da compreensão de seus atos redentores. Esse tipo de adoração busca destacar mais e mais a supremacia de Deus, reconhecendo Seu valor sobre todas as coisas. Como diz John Piper, a verdadeira adoração é a resposta do coração à compreensão da mente quando ela entende e valoriza Deus corretamente.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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