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terça-feira, 14 de julho de 2020

MELQUISEDEQUE O SACERDÓCIO REAL


MELQUISEDEQUE O SACERDÓCIO REAL

Para entendermos a identidade de Melquisedeque, devemos deixar a Bíblia interpretar a Bíblia.
Já vimos que Jesus Cristo é o Mediador entre Deus e a humanidade. O Seu sacrifício consentido pelas nossas faltas qualificou-O de modo único para essa crucial função. Mas o Verbo também exerceu esse ofício sagrado durante o tempo do patriarca Abraão.

E Ele o fez na pessoa de Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo. O livro de Gênesis menciona apenas brevemente esse misterioso personagem. Mas o Rei Davi, e muito especialmente a Epístola aos Hebreus no Novo Testamento, não deixam passar o Seu profundo significado.

Para entendermos a identidade de Melquisedeque, devemos deixar a Bíblia interpretar a Bíblia. A nossa capacidade de entendimento é enormemente aumentada quando juntamos esses três registos e os consideramos como um todo.

Primeiro vamos dar uma olhada no registo em Gênesis. Abraão encontrou-se com Melquisedeque depois de resgatar o seu sobrinho Ló do cativeiro onde estava. “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo” (Genesis 14:18-20).

É interessante notar que Melquisedeque recebeu Abraão com pão e vinho, coisas que mais tarde seriam símbolos do sacrifício da Páscoa de Cristo em representação do Seu corpo e do Seu sangue. Melquisedeque também se dirige a Deus e O trata como “o Possuidor dos céus e da terra”. Depois, passados uns dois mil anos, Jesus Cristo também se dirigiria ao Pai chamando-Lhe “Senhor dos céus e da terra”.

O Salmo 110, um dos Salmos de Davi, tem grande significado teológico. Como já referido anteriormente, ele apresenta o Pai e o Verbo no versículo de abertura: “Disse o Senhor ao meu Senhor [de Davi]: Assenta-te à minha mão direita … ” É Cristo quem agora está à mão direita do Pai (Hebreus 8:1; 10:12; 12:2).

Conservando em mente o contexto do Salmo 110:1, observemos o versículo 4: “Jurou o Senhor e não se arrependerá: ‘Tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque’” (salmos 110:4). Este é o mesmo Senhor que falou com o Senhor de Davi (o Verbo preexistente), no versículo 1, ainda falando do mesmo Ser. Certamente que isto ajuda a identificar esse misterioso personagem do Antigo Testamento. Contudo, é o livro de Hebreus que nos dá a evidência mais forte.

Comentário no livro de Hebreus sobre Melquisedeque
Este assunto básico é tão importante que no Novo Testamento há um capítulo inteiro dedicado a explicar o significado de somente três versículos do livro de Gênesis. O tópico é apresentado no último versículo de Hebreus 6. O autor diz que Jesus se tornara “eternamente sumo-sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”, como o Rei Davi profetizara há muito tempo em Salmos 110.

Então, no capítulo 7 de Hebreus, o autor considera os atributos e as qualidades fantásticas do sumo sacerdote de Deus dos tempos antigos. “Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém …

Primeiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz … permanece sacerdote para sempre” (versículos 1-3).

Observe que Melquisedeque significa “Rei de Justiça”. Certamente seria uma blasfêmia denominar com esse título qualquer ser humano “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Apenas um ser divino podia ostentar esse impressionante título apropriadamente.


Outro impressionante título de Melquisedeque é o de “Rei de Paz”. Obviamente, os seres humanos falíveis não conhecem o caminho da paz (Romanos 3:10, 17), e usar semelhante título para qualquer homem seria, outra vez, praticamente uma blasfêmia. O Próprio Jesus Cristo é o Príncipe da Paz (Isaias 9:6).

‘Semelhante ao Filho de Deus’
A semelhança entre esses dois grandes personagens torna-se visível conforme continuamos lendo Hebreus 7. O versículo 3 descreve Melquisedeque como um ser “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, [e que] permanece sacerdote para sempre”. O Seu sacerdócio nunca teve fim! O único sacerdote que se ajustaria a essas qualificações somente poderia ser o Verbo preexistente, o grande Ser que estava presente antes da própria criação (Jo 1:1).

A descrição “sem pai, sem mãe” significa muito mais do que apenas a suposição que os vínculos familiares de Melquisedeque foram simplesmente omitidos do relato de Gênesis. Ele não tinha pais humanos! No contexto, a frase “não tendo princípio de dias nem fim de vida” esclarece totalmente esse ponto.

Finalmente, a expressão “semelhante ao Filho de Deus” é mais uma forte evidência da identidade de Melquisedeque. Ele era “semelhante” ao Filho de Deus porque Ele ainda não era, na realidade, o Filho de Deus―isto é, ainda não tinha sido gerado como ser humano pelo Deus Pai através da intervenção do Espírito Santo.

Melquisedeque não podia ter sido o Pai porque ele era o “sacerdote do Altíssimo”. Ele só podia ter sido o Verbo eterno preexistente que mais tarde tornou-se Jesus Cristo, o Filho de Deus. “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (Hb 7.3).

Há apenas três livros que lhe fazem menções na Bíblia (Gn 14.18-20; Sl 110.4; Hb 5–7), e com informações não muito precisas, mas suficientes para afastarmos dele a possibilidade de ser uma manifestação cristofânica no Antigo Testamento.

A única menção histórica de Melquisedeque está em Gênesis, quando do encontro de Abrão que lhe ofereceu dízimos e a quem deu a sua benção sacerdotal.

As demais menções em Salmos e Hebreus são teológicas, nada acrescentando sobre o perfil de Melquisedeque (uma exceção, talvez, para Hebreus 7.3).

Segundo Gênesis 14.18-20 (em três versículos apenas!), Melquisedeque:

Era rei de Salém (provavelmente antigo nome de Jerusalém), numa época em que cada cidade costumava ter seu próprio rei e sua independência política
Era sacerdote do Deus altíssimo (portanto, primeiro sacerdote temente a Deus de que se tem informação, contemporâneo do patriarca Abrão, e que não pertencia aos descendentes de Levi, até porque mesmo este nem havia nascido ainda, e menos ainda Arão e seus filhos que constituíram o sacerdócio levítico de Israel).
Ofereceu pão e vinho a Abrão quando este voltava de uma peleja contra os reis que tinham tomado Sodoma e Gomorra e levado cativo a Ló, seu parente
Abençoou Abrão e reconheceu-o como servo do mesmo Deus altíssimo
Recebeu dízimos de Abrão dos bens que este havia recobrado dos inimigos
A menção a Melquisedeque no livro dos Salmos é messiânica e demonstra como a memória daquele homem que abençoou Abrão foi preservada e enaltecida por Deus:

“Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4).

A ninguém mais, senão a Jesus, este texto pode ser aplicado. Afinal, nem Davi foi sacerdote, e nem os sacerdotes de Israel foram “segundo a ordem de Melquisedeque”.

Se existiram outros legítimos sacerdotes reconhecidos por Deus na mesma ordem de Melquisedeque em seu tempo e antes do estabelecimento do sacerdócio levítico nós não sabemos. Mas sabemos com toda certeza que Jesus é “sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.10; 6.20).

A referência a Melquisedeque na carta aos Hebreus – único livro neotestamentário que o cita – é tipológica e tem tanto no texto de Gênesis quanto no de Salmos sua base histórica e teológica. Ou seja, Melquisedeque é tomado como um tipo de Jesus, alguém cujas características o assemelham a Jesus e o representa antecipadamente.

Todavia, como nenhum tipo (o que representa) é ao mesmo tempo o antítipo (o que é representado), então por aí já descartamos a possibilidade de Melquisedeque ser ao mesmo tempo um tipo de Cristo e o próprio Cristo.

Nenhum dos autores do Novo Testamento sequer cita Melquisedeque, a não ser o autor da carta aos Hebreus. E quando este o faz, jamais trata Melquisedeque como uma visão de Cristo pré-encarnado.

E há uma razão muito óbvia para isto: Melquisedeque era rei e sacerdote literalmente falando; Jesus, porém, jamais poderia ser rei e sacerdote sem antes passar pela cruz, em cuja morte ele cumpriu toda a justiça de Deus, e demonstrou submissão ao Pai, que “o exaltou soberanamente e lhe deu um nome acima de todo nome” (Fp 2.9,10).

Jesus sempre seria Deus, todavia seus ofícios de rei e sacerdote lhe são atribuídos em razão de sua perfeita obra vicária (Hb 2.10; Ap 5.9,10). Ademais, conforme Hebreus 7.3, Melquisedeque foi “…feito semelhante ao Filho de Deus”. Ou seja, SEMELHANTE, e não o PRÓPRIO Filho de Deus.

Melquisedeque foi Melquisedeque. Jesus é Jesus! E por ocasião da ressurreição dos justos, conheceremos pessoalmente ao nosso irmão Melquisedeque e, distintamente, ao nosso Senhor Jesus.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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