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sábado, 18 de julho de 2020

POBREZA




                                                                                POBREZA
Ao listar os tipos de pessoas que aos seus olhos são felizes, Jesus surpreendentemente começou pelas pobres (Mt 5:3). O fato desse tipo de pessoa encabeçar a lista já é motivo suficiente para nos debruçarmos sobre o tema e obter dele auxílio e referência.
Antes de tudo é conveniente esclarecer o tipo de pobreza a qual Jesus se referiu. Não se tratava de pobreza material. Jesus não estava tornando mais fácil o caminho daqueles que eram desprovidos de condições financeiras suficientes para a auto sobrevivência, que eram esquecidos pelos governantes ou socialmente excluídos. Sim, para esse tipo de pessoa tanto Jesus, quanto a Lei e os Profetas demonstraram profundo interesse (Ex 22, 20; Lv 25:23; Is 1). A questão era outra. Jesus falou de uma pobreza íntima: a de espírito.
Isso não significa dizer que garantidos no Reino seriam aqueles sem perspectiva de vida, que não sonham, que não se esforçam por atingir seus objetivos pessoais, familiares e até ministeriais, até porque o Evangelho não ensina isso. Comumente pessoas pobres de espírito são assim caracterizadas.
Pobreza de espírito, nesse contexto, significa profundo desapego a si mesmo; lamento pela auto e visível miséria, reforçadas pelo pecado e afastamento de Deus. Na verdade, Jesus estava sinalizando que o primeiro passo para se possuir o Reino dos Céus é a convicção, por parte do homem, da sua total incapacidade de obter alguma dádiva de Deus. Que dentro de si mesmo não é possível encontrar sentido para a vida ou mesmo a reconciliação com o Pai.
Para isso, penso, Jesus usou a palavra pobre. Se pensarmos bem em uma analogia com a pobreza material, poderemos entender melhor a atitude que Jesus espera de seus herdeiros. Como é possível ao pobre, em um mundo que louva a riqueza, ter orgulho de si mesmo? Como desejar o supérfluo se sequer o necessário lhe pertence? O que representa perda para alguém que não possui nada? De todas essas, talvez a maior nobreza de um pobre seja a capacidade de ver no outro, e não em si, a esperança de alguma bênção. Isto é, ele entende que de suas mãos não podem sair boa nova alguma. Um salvador é necessário. A salvação começa no arrependimento, após um conhecimento de si mesmo.
Por isso, é tão simples entender que ao longo dos evangelhos que a salvação, o perdão e a restauração foram destinados àqueles que não tinham nada de si mesmos; que estavam vazios e necessitavam de um Homem que os socorresse, que abrisse seus olhos, que lhes fizesse ouvir novamente, que lhes removesse a culpa por seus pecados. O que essas pessoas necessitavam era de Graça, que Jesus abundantemente oferecia.
Em um outro momento, Ele disse a seus discípulos que se quisessem entrar no Reino dos céus, deveriam ser como criancinhas. Considerando o contexto cultural e como as crianças eram vistas, é difícil imaginar que Jesus estava se referindo à inocência delas, como muitos comentam. Não que devemos manter uma mente impura. As crianças eram, junto com mulheres e idosos, considerados à parte na sociedade judaica daquela época. Um exemplo são os censos, que sempre separavam o homem adulto dessas classes de pessoas. Por não terem representação alguma e dependerem dos outros para tudo, Jesus as citou como exemplo daqueles que almejam o Reino. A genuína conversão é indicada pela verdadeira dependência a Jesus
Esses princípios são tão válidos hoje quanto o foram nos tempos de Jesus. O tempo de conversão, o nível de conhecimento adquirido, o trabalho desenvolvido pelo Reino e funções específicas devem nos levar a uma maior convicção de nossa miséria e não criar em nós a falsa sensação de poder e auto suficiência. É um grande equivoco achar que essas coisas podem servir como moeda de troca para possíveis bênçãos ou o perdão de possíveis pecados. Na verdade, no que diz respeito à base da nossa nova vida com Deus, elas são “como trapo de imundícias” (Is 64:6).
Devemos aceitar a Graça como único meio para obtermos salvação e relacionamento com Deus. E isso sempre implicará na certeza de que não há nada em nós que nos habilite a eles, sendo sempre necessário um intermediário, Jesus. A pessoas que obtiveram essa certeza, Jesus chamou de felizes; e a elas, Ele deu o Reino dos Céus.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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