Subscribe:

terça-feira, 15 de outubro de 2019

COMO CRIAR FILHOS NA PRESENÇA DE DEUS


                                  COMO CRIAR FILHOS NA PRESENÇA DE DEUS

Deuteronômio 6.4-9, 20-25

Introdução

“Em todos os relacionamentos da vida necessitamos de uma grande medida da graça de Deus para executar muitas das várias obrigações de nossos deveres relacionais; mas dificilmente precisamos de mais graça divina do que para ser pais e chefes de família. Ter filhos a nosso cargo, para serem criados para Deus e para a glória eterna em seu reino, é certamente uma situação de alta responsabilidade, cujos deveres não são desempenhados sem grande sabedoria, diligência e piedade.”

I. Criar filhos na admoestação do Senhor

Criar filhos para Deus e para a glória eterna é uma responsabilidade da qual só damos conta pela graça de Deus. É ele quem nos habilita a cumprirmos esses compromissos com seriedade e dignidade. É Deus quem nos dá sabedoria para que a admoestação do Senhor seja regra de vida prática na vida de nossos filhos.
Para bem desempenharmos nossos deveres para com nossos filhos, devemos ter uma fé viva nas promessas graciosas da aliança para que, ao entregá-los a Deus no batismo, a entrega seja total e para, daí em diante, termos firme confiança na bênção de Deus sobre eles.
Essa fé não é uma confiança vã de que o Senhor os salvará, quer sejamos fiéis ou não. Pelo contrário, é um reconhecimento tal da promessa e da fidelidade de Deus, que seremos constantemente induzidos a olhar para Deus e depender humildemente da sua graça. É uma fé que honra a Deus e atribui toda a glória da nossa salvação e da salvação de nossos filhos às riquezas da misericórdia de Deus.
Nossa preocupação com a salvação de nossos filhos é diretamente proporcional à nossa fé e piedade. Quanto maior, mais nos dedicaremos à oração por nossos filhos, e à instrução deles.
Nosso ponto de partida na criação de filhos é a Palavra de Deus. Daí podemos escolher uma variedade de métodos e ideias que vão nos ajudar a cumprir nosso propósito. É necessário, entretanto, cuidado para não fazer do método escolhido uma camisa de força, nem depositar no método escolhido uma confiança inadequada. É preciso ter sempre em vista as promessas e exigências pactuais, pois elas nos tornam gratos a Deus e dependentes dele.
Ao examinarmos a Bíblia, verificamos que são poucas as instruções específicas de como os pais devem agir na esfera da aliança. O modelo pactual passa um conjunto de princípios fundados na verdade e um modo de vida baseado nessa verdade. Esse modelo abrange a vida como um todo. Trata-se mais sobre quem somos, do que sobre o que fazemos. Trata-se mais da vida que vivemos diante de nossos filhos, do que das regras que forçamos nossos filhos a seguir.
a. O que significa criar
Há muito engano hoje a respeito da palavra criar. Para muitos homens, criar filhos significa sustentá-los financeiramente até que eles consigam emprego e passem a pagar as próprias despesas. Criar para eles é basicamente dar comida, sustento, educação e emprego para os filhos.
A Bíblia não conhece uma criação de filhos limitada apenas à alimentação do corpo, mas a que traz consigo a idéia de nutrir, sustentar, prover, em todas as áreas, na área material, na área psicológica, na área intelectual e especialmente, no relacionamento com Deus.
Particularmente, cremos que a mais importante tarefa que os pais crentes têm nesta vida é criar os filhos nos caminhos do Senhor. Ensinar os filhos a conhecer a Deus é mais importante do que educá-los física e intelectualmente. Aliás, a verdadeira cultura e o verdadeiro conhecimento são precedidos pelo conhecimento de Deus e de nós mesmos. O modelo cristão de criação de filhos fundamenta-se em educar os filhos nos caminhos do Senhor nosso Deus, utilizando-se para isto de todos os recursos válidos (ver Gn 18.19; Dt 4.9; 6.7; etc.). Os pais devem inculcar diariamente aos seus filhos todos os preceitos do Senhor. Deixar de fazê-lo seria, por contraste, negligenciá-los ou deixá-los entregues a si mesmo. Filhos entregues a si mesmos são órfãos de pais vivos.
b. O que significa disciplinar
A Palavra de Deus diz que devemos criar os filhos na disciplina e na admoestação do Senhor. A palavra disciplinar (paideia) empregada por Paulo é usada no Novo Testamento no sentido de “treinar”. No grego antigo, significava treinar uma pais, criança em grego. Aqui nós já vemos então algo muito importante quanto à disciplina de filhos. Disciplinar não é descarregar sobre eles a nossa ira e frustração pelo que fizeram, mas corrigi-los com o fim de treiná-los. Qualquer disciplina que é feita sem este propósito não é disciplina, segundo a Palavra de Deus, mas é provocar os filhos a ira. Se vamos corrigir fisicamente o nosso filho, devemos fazê-lo com a consciência de que o estamos treinando, para que ele aprenda a diferença entre o certo e o errado – e tudo isto para o bem daquela criança. A disciplina pode ser feita verbalmente, mas o conceito envolve particularmente a correção física.
Para muitas pessoas amar os filhos e discipliná-los fisicamente são duas coisas incompatíveis. Para elas, quem ama não faz isso. Punir os filhos fisicamente é sinônimo de agressão e ódio, nunca de amor. Mas há vários textos da Palavra de Deus, especialmente no livro de Provérbios, que nos mostram os benefícios para nossos filhos de usarmos a correção física: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15); “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24); “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe. Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29.15,17).
Notemos ainda que Paulo diz que devemos criar os filhos na “disciplina do Senhor”. Esta expressão significa a disciplina que vem do Senhor. Isto quer dizer que é o Senhor Jesus quem na verdade deseja disciplinar os nossos filhos – nós somos instrumentos dele e devemos nos colocar nas suas mãos para que, por nosso intermédio, ele ensine os nossos filhos no caminho em que devem andar.
c. O que significa admoestar
Paulo menciona não só a disciplina, mas também a admoestação do Senhor. Admoestar também traz a ideia de corrigir, embora não necessariamente de forma física. É corrigir os pensamentos e ideias da criança.
O instrumento pelo qual isso é feito, é a Palavra de Deus. Ela é o instrumento divinamente ordenado para orientar a criança na formulação correta das suas ideias, na aquisição de valores corretos que vão servi-la até o fim da vida. A ideia contida neste termo é que nós devemos, não apenas disciplinar fisicamente uma criança, mas conversar com ela e colocar as suas ideias em ordem. Admoestar a criança no Senhor significa mostrar-lhe pelo diálogo, instrução e encorajamento quais as implicações espirituais de suas atitudes, como as promessas e advertências de Deus se aplicam à sua vida. Os pais são instrumentos do Senhor deste aspecto também.

 II. Ensinar a criança

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele.” (Pv 22.6). Há três palavras nesse versículo que exigem especial atenção:
1ª) Ensina. A palavra hebraica para “treinar” é hanak. Em geral é traduzida como “dedicar”, mas uma tradução mais precisa seria “iniciar”. É quase certo que se refira a uma ação comunitária.
2ª) Criança. Apesar de hanak referir-se quase certamente a uma ação comunitária, o versículo não diz ‘treina as crianças’ (no plural). Esse treinamento exige conhecimento da singularidade de cada criança e sabedoria para encontrar métodos e estilos apropriados.
3ª) Caminho. O contexto de Provérbios 22.6 é o contexto do livro todo de Provérbios, que é parte da Literatura de Sabedoria do Antigo Testamento. Portanto, esse versículo refere-se ao caminho da sabedoria. A ideia essencial dos escritos de sabedoria da Bíblia é a de uma forma de pensar e atitude a respeito das experiências da vida, incluindo assuntos de interesse geral e de moralidade básica.
Está refletido nos ensinos do Antigo Testamento o ensino de um Deus pessoal, que é santo e justo, e que espera que aqueles que o conhecem mostrem seu caráter nos muitos afazeres práticos da vida. Portanto, a sabedoria hebraica não era teórica e especulativa. Era prática, baseada em princípios revelados de certo e errado, para serem vividos no cotidiano.
A Palavra declara categoricamente que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9.10). O uso do nome Senhor, o nome pessoal de Deus mais intimamente associado ao pacto, indica que o caminho da sabedoria é o caminho da vida pactual entre o povo de Deus. Paulo se vale dessas ideias em sua carta à igreja de Éfeso: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). A palavra traduzida por disciplina (instrução, na NVI), vem da palavra grega paideia, que significa disciplinar, punir e corrigir. Instrução, do grego nouthesia, compreende admoestação, instrução e aviso.
Necessário, portanto, estudar cada criança para descobrir como Deus criou a sua individualidade. Precisamos orar por sabedoria para canalizar e expandir as inclinações naturais da criança, sem restringir seu modo de ser. É preciso respeitar a maravilhosa criatividade de Deus ao criar cada criança para as coisas que ele mesmo propôs para cada uma delas.
Há muitas maneiras de se pôr esse princípio em prática, tais como:
  1. Ler o livro de Provérbios com frequência e escolher um provérbio por semana para ser decorado durante o culto doméstico, aplicando o verso às experiências de vida da criança ou adolescente. Por exemplo: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1); “Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto” (20.11); “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (3.5,6).
  2. Desligar a televisão e ler histórias bíblicas para as crianças, de modo que elas conheçam bem esses personagens e eventos. Pode ser planejada uma dramatização dessas histórias em reuniões de família. 

III. Mostrar e falar

O livro de Deuteronômio é um manual de sobrevivência familiar e nacional. É o registro dos discursos de despedida de Moisés aos israelitas, antes de sua morte e tomada de posse da terra prometida sob a liderança de Josué. O povo estava às margens dessa terra habitada por nações mais fortes e mais numerosas, mas Moisés não vacilou. Sua mensagem era cheia de esperança baseada nas promessas de Deus. Moisés deu instruções baseadas nos mandamentos de Deus.
Considerando Deuteronômio 6.1-9,21,24, observa-se que o povo de Deus deveria amar o Senhor de todo o coração. Deveria obedecer suas ordens. Então, deveria ensinar seus filhos, por palavra e por ação, a fazer o mesmo. Os pais são comissionados a serem os principais educadores de seus filhos. São os responsáveis diante de Deus pela administração do que lhes foi confiado. Ensinar é mais do que transmitir fatos e números. A responsabilidade dos pais é ensinar um modo de vida baseado nas palavras de quem disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6). Cabe aos pais dar aos filhos uma perspectiva bíblica do mundo e do nosso lugar nele.
A igreja também é responsável por ensinar as crianças. O salmo 78 é um chamado à comunidade pactual, para que passe a tradição da fé à geração seguinte (Sl 78.1-7). A Igreja é coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15); os pais crentes têm o recurso inigualável do ensino e relacionamentos providos ali.
Ao sentarmos em casa, ou andando pelo caminho, nossas conversas devem ser cheias da graça, conversa sempre agradável, temperada com sal (Cl 4.6). Nós ouvimos nossas palavras e nosso tom de voz saindo da boca de nossos filhos. O modo como você fala a uma criança é o modo como ela fala com um irmão ou irmã mais nova. Escute seus filhos e você vai ouvir aquilo que você diz.
Uma das lições mais práticas que podemos ensinar a nossos filhos é que devem pedir, a Deus, graça para verem seus pecados e graça para se arrependerem. Eles precisam aprender a assumir a responsabilidade pelo que fizerem de errado. Precisamos ajudá-los a desenvolver suas consciências e senso de justiça. A maneira de fazer isso é mostrar e falar: as crianças precisam que lhes ensinemos os princípios, mas o que elas mais vão aprender é o que elas nos vêem fazer.
IV. Ser adorador
A adoração é essencial para um viver santo. Todos os demais princípios subsistem ou fracassam, dependendo da observância desse princípio. A verdadeira adoração não é só um evento no domingo. É uma atitude do coração que reconhece Deus como rei soberano, digno da nossa inteira obediência. É lealdade para com ele. É uma vida que foi apresentada como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.2). Adoração é um modo de vida. Isso dá aos pais autoridade para ensinar e exigir obediência.
Os pais devem adotar práticas para educar seus filhos a adorar a Deus, tais como:
  1. Guardar o domingo;
  2. Orar com os filhos para que eles sejam incentivo a outros na família da igreja;
  3. Usar a hora das refeições para cada um contar o que aprendeu com a mensagem ou com a aula.
No caso de as crianças resistirem, é preciso lembrar que devemos temer mais o desprazer de Deus, do que o desprazer delas. Quando as crianças resistem, devemos orar por elas, mas não devemos ceder.

Conclusão

Refletindo sobre o que a Bíblia diz a respeito do agir dos pais na esfera do pacto, vemos que as admoestações bíblicas examinam a condição do coração de cada pai e mãe. A Palavra de Deus expõe nossa pecaminosidade, nos impele até a cruz em busca de misericórdia e chama-nos à obediência. Nós criamos nossos filhos de forma piedosa em proporção à nossa própria piedade e fé.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

0 comentários :

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.