QUANDO UM FILHO MATA O PAÍ
ESPIRITUALMENTE...
Absalão, meu filho, meu filho!
Absalão se tornou inimigo do próprio pai. Durante anos, agiu
como um filho rebelde, desrespeitando o pai, o rei de Israel e, pior ainda,
desrespeitando o próprio Senhor. Seu egoísmo e sua rebeldia chegaram ao ponto
de forçar uma guerra civil que custou a vida de 20.000 homens. Nesta guerra, as
forças do rei mataram Absalão.
Quando Davi recebeu a notícia da morte de Absalão, ele não se
gloriou na vitória sobre um inimigo. Ele lamentou a morte de um filho. “Então,
o rei, profundamente comovido, subiu à sala que estava por cima da porta e
chorou; e, andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão!
Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (2 Samuel
18:33).
Um filho perdido
Duvido que haja tristeza humana mais profunda do que o
sofrimento de um servo de Deus que perde para sempre um filho. Davi, talvez
mais do que qualquer outro autor do Antigo Testamento, valorizou as grandes
bênçãos de comunhão com Deus. Entre as muitas passagens nos Salmos nas quais
Davi falou da esperança e da comunhão com Deus está o último versículo do Salmo
23: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida;
e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.”
Davi desejava a comunhão eterna com Deus, e certamente queria a
mesma salvação para os seus filhos. Mas Absalão não deu valor à palavra de
Deus, e não buscou as bênçãos espirituais que seu pai tanto ansiava. Absalão se
mostrou um homem vão e carnal, e jogou fora a sua vida na busca por satisfação
passageira.
Quando Davi soube da morte de Absalão, toda a esperança por
aquele filho rebelde morreu. Até aquele momento, ainda alimentava a esperança,
como fazem todos os pais de filhos desobedientes, do arrependimento e volta de
Absalão. Mas a morte é o fim. Não teria outra chance. Não existe a
reencarnação, nem o purgatório, nem qualquer outra segunda chance após a morte:
“E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois
disto, o juízo” (Hebreus 9:27). A notícia da morte de Absalão sinalizou, para
muitos em Israel, o fim do conflito e sofrimento que ele causou. Para Davi,
trouxe as profundas emoções de um pai que perdeu, para sempre, um filho amado.
A culpa de Absalão
É comum, especialmente diante da morte triste de um filho como
Absalão, procurar explicações para justificar sua trajetória à destruição.
Muitos culpam a sociedade, os pais ou o próprio Senhor. Sem dúvida, outros
seres humanos, e até os próprios pais, frequentemente contribuem ao fracasso de
um filho. Mas tais fatores não podem servir como desculpas ou justificativas.
Apesar de qualquer circunstância de sua vida e independente das falhas dos
outros, Absalão foi desobediente e rebelde. Ele tomou as decisões que o levaram
ao fim trágico. Teve muitas oportunidades durante vários anos para arrepender-se
e reconciliar-se com seu pai, mas não o fez. Poderia ter humilhado-se diante de
Deus, diante Davi, e diante do povo de Israel, mas não venceu seu próprio
orgulho e egoísmo. Absalão foi perdido porque Absalão foi rebelde.
O fracasso de Davi
Em alguns casos, bons pais servem ao Senhor e fazem de tudo para
guiar seus filhos no caminho de Deus, mas o próprio filho, no seu livre
arbítrio, rejeita a instrução e se destrói. Mas em muitos outros casos, os pais
levam uma parcela de culpa. No caso de Davi, as falhas do pai certamente
contribuíram à perda do filho. Apesar de ser um homem que buscava ao Senhor,
Davi tropeçou diversas vezes. A falha mais marcante na vida dele foi o caso de
adultério com Bate-Seba, levando-o a cometer homicídio. Davi se arrependeu, mas
nunca recuperou totalmente a sua família. Como ele mesmo falou de exigir a
restituição de quatro vezes de um ofensor, Davi “pagou” pelo seu crime com a
vida de quatro filhos (2 Samuel 12:19; 13:32; 18:14-20; 1 Reis 2:23-25).
Davi falhou, também, na maneira de lidar com seu filho rebelde.
A compaixão de um pai falou mais alto do que a justiça de um rei e servo do
Senhor. Aplicou a lei com parcialidade, dando a Absalão uma certa liberdade
para pecar. Poucas exigências de Deus são mais difíceis, na prática, do que a
aplicação de disciplina dura aos próprios filhos. Na Antiga Aliança, os
próprios pais tiveram que entregar os filhos rebeldes ao julgamento e à morte.
Hoje em dia, não matamos filhos rebeldes, mas não podemos ser cúmplices dos
seus erros (Efésios 5:11). No caso de filhos cristãos que voltam ao pecado, os
pais têm obrigação de pôr a comunhão com Deus acima da relação com o filho, até
o ponto de se afastarem do filho rebelde (1 Coríntios 5:1-13; 2 Tessalonicenses
3:6-15). O amor verdadeiro confiará no Senhor para fazer tudo que ele exige na
tentativa de resgatar o filho rebelde. O mesmo amor porá Deus acima do homem,
acima do próprio filho (Mateus 22:37-40).
A esperança dos pais
Qualquer pai poderá chegar à tristeza que Davi sofreu, mas não
precisa acontecer. Enquanto temos vida, vamos mostrar um exemplo de pais fiéis
e fazer de tudo para instruir os nossos filhos. E vamos esperar que os filhos
que tropeçam aceitem a correção de Deus para voltar antes de ser tarde demais.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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