A GANÂNCIA DE ANANIAS E SAFIRA.
Na infância da igreja em Jerusalém, Deus matou um casal em uma reunião pública. Olhando de uma perspectiva teológica (ou seja, procurando entender mais sobre o próprio Deus), percebemos nesse ato um reforço da doutrina fundamental da santidade de Deus. Ele não mantém comunhão com o pecador, e o casal morto foi claramente culpado de pecado. O pecado traz a consequência da morte (Romanos 6:23), não apenas a morte física, mas a separação de Deus. O apóstolo Paulo falou do estado anterior dos cristãos nestes termos: mortos nos delitos, sem Cristo e sem Deus no mundo (Efésios 2:5,12). A morte física, a separação de corpo e espírito (Tiago 2:26; Eclesiastes 12:7), é um aspecto ilustrativo da principal consequência do pecado, a separação de Deus.
Outro fato frisado no caso de Ananias e Safira é o papel de Deus como Juiz. Enquanto homens podem e devem julgar no sentido de discernir entre certo e errado (Mateus 7:15-20), o julgamento condenatório é um direito reservado para Deus: “Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer” (Tiago 4:12). Devemos observar que o papel de Jesus como Juiz (João 9:39; Atos 10:42) é uma das abundantes evidências da sua divindade. No caso de Ananias e Safira, a morte súbita do casal pecador foi um ato divino. Deus foi radical em seu ato, procurando tirar as raízes do pecado na igreja primitiva, e oferecendo aos sobreviventes uma lição forte para que eles temessem seu Criador e Redentor.
Ignorar esses fatos sobre Deus no relato de Ananias e Safira seria um erro fatal por parte de qualquer estudante das Escrituras. Quando Deus age, devemos prestar atenção, pois seus atos revelam o seu caráter.
O caso de Ananias e Safira contribui a outro aspecto do estudo bíblico, o que é chamado hamartiologia (palavra formada de raízes gregas que significa o estudo do pecado). Encontramos nos atos desse casal um exemplo negativo que não devemos imitar.
Qual foi o erro fatal de Ananias e Safira? Antes de continuar, abra sua Bíblia e leia Atos 5:1-11.
Os cristãos em Jerusalém se mostraram generosos, suprindo as necessidades dos seus irmãos pobres por suas doações voluntárias. Um exemplo notável foi Barnabé, que posteriormente seria companheiro do apóstolo Paulo no seu trabalho evangelístico, o qual vendeu um campo e doou o valor total para ajudar os necessitados (Atos 4:32-37).
Ananias e Safira decidiram imitar parte do exemplo de Barnabé. Venderam uma propriedade e doaram dinheiro para ajudar os cristãos pobres. Eles fizeram de maneira diferente de Barnabé, porém: doaram parte do preço, mas afirmaram que estavam doando o valor integral da venda.
Muitos pregadores, ou por ignorância ou com propósito mesmo de enganar, têm distorcido a história de Ananias e Safira. Utilizam o caso para extorquir dos seus adeptos grandes doações, ou até para defender a aplicação da lei do dízimo (que fazia parte da Lei dada aos israelitas por meio de Moisés – Hebreus 7:5) na igreja do Novo Testamento. Nem Atos 5, nem qualquer outra passagem que fala sobre o dinheiro na igreja de Jesus, apresenta a obrigação de dar o dízimo, uma porcentagem estipulada de 10%. E, enquanto o exemplo de Barnabé seja louvável, nenhum trecho obriga os cristãos a venderem e doarem todo o valor dos seus imóveis.
O pecado de Ananias e Safira não estava no valor da sua doação. Pedro afirmou claramente que eles poderiam ter ficado com a propriedade e que tinham direito de decidir como usar o dinheiro proveniente da venda (Atos 5:4).
O erro fatal de Ananias e Safira foi a mentira! Não somente enganaram os homens, mas mentiram para Deus (Atos 5:3,4,9). A vida na presença de Deus não pertence aos mentirosos (Apocalipse 22:14-15).
Quem deve temer, ao estudar Atos 5, não são aqueles que doam mais ou menos de 10% à igreja. Quem deve temer são os mentirosos, inclusive os pregadores que pervertem a palavra de Deus para encher seus próprios bolsos. Cuidado com os falsos mestres (Mateus 7:15-20).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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