DIVERGENCIA FAMILIARES
Tiago 3.13-18
Introdução
“A família é o lugar onde se criam doenças psíquicas e psicossomáticas, e ela é a primeira rede de apoio que preserva de adoecer em consequência de uma crise” ( É fato que cada geração tem a sua maneira de agir, sentir, pensar e decidir. Entende-se por “geração”.
• o conjunto dos indivíduos nascidos na mesma época;
• o espaço de tempo (aproximadamente 25 anos) que vai de uma geração a outra (Aurélio).
Em uma família, várias gerações estão presentes: avós, pais, filhos e netos. Isso significa a presença de variados pensamentos, conceitos e valores. O que pode produzir competição, conflitos e inveja. É comum os mais velhos dizerem: “Ah! … no meu tempo eu não tinha essas facilidades, essas regalias que os jovens têm agora!” Ele está confessando um desejo não satisfeito na sua juventude, um privilégio não obtido. Então perguntamos: não é justamente este o sentimento e a atitude que as pessoas mais querem esconder das outras? O marido, com uma grave enfermidade, pode ter inveja da esposa porque ela está com saúde, trabalha e tem uma vida normal, enquanto ele fica isolado. Sendo assim, o caminho que escolhemos para trabalhar esta lição é duplo: os valores na família e como resolver conflitos entre gerações.
I. Os valores na família
1. O que são valores
Valor é algo desejável ou útil. As pessoas valorizam o que desejam, necessitam ou consideram interessante. Por causa disso, temos as nossas preferências, escolhas. Escolher supõe que preferimos o mais valioso ao menos valioso.
a. Existem objetos valiosos e atos humanos valiosos:
• Objetos valiosos: árvore, uma porção de terra, uma cadeira, um carro, um computador, uma obra de arte, um livro, um tapete, um móvel de casa, uma roupa etc.
• Atos humanos valiosos: ato moral, político, jurídico, cívico, econômico etc.
b. Os valores, de modo geral, podem ser:
• Positivos – Se alinham com os valores bíblicos
• Negativos – A desonestidade, a violência, o preconceito etc.
• Neutros – “Qual pé devo calçar primeiro, o direito ou o esquerdo?”
c. Principais tipos de valores:
• Extrínseco ou instrumental – É algo que tem valor por causa dos efeitos que produz, e não por causa daquilo que é em si mesmo. Ex.: uma casa confortável.
• Intrínseco ou final – Algo que é valioso em si mesmo. Ex.: a bondade, a lealdade, a justiça, etc.
De que maneira os valores estão presentes nas famílias e nas diferentes gerações que formam as famílias? Todos valorizam exatamente as mesmas coisas? Por que?
2. Como os valores se formam na família e nas gerações
a. Inovação. Alguém inventa algo, mostra seus valores e suas vantagens. Normalmente é algo que vem para tomar o lugar de outra coisa. Ex.: máquina de escrever e computador.
b. Aceitação Social. Acontece quando a sociedade aceita o que foi inventado. É também a assimilação de um comportamento novo. Ex.: mulher ser árbitro de futebol.
c. Eliminação Seletiva. Acontece quando a sociedade vai deixando hábitos antigos para contrair novos; os valores vão caindo em desuso até desaparecer.
d. Integração Cultural. É o último e definitivo passo. Os novos valores e comportamentos vão se ajustando cada vez mais, até serem parte integral da família ou sociedade.
Isso que acabamos de aprender é muito importante para entendermos a razão das mudanças culturais e dos valores na família. A igreja do Senhor Jesus Cristo vive sempre em uma sociedade, nunca fora dela (estamos em Cristo, mas vivemos também em Éfeso – Ef 1.1). Agora você entende a causa de muitos conflitos entre gerações. Entende por que o avô quer que o neto se comporte da mesma maneira que ele, quando era criança?
Isso não quer dizer que todas as mudanças na sociedade e na família sejam benéficas. Aliás, em se tratando de mundo, a maioria delas é degradação e não evolução. Colocamos o que segue apenas para “abrir a mente”.
3. Os verdadeiros valores da vida
O que é bíblico nenhuma cultura pode derrubar ou superar. A lista abaixo, que não é exaustiva, mas abrangente, tem por objetivo mostrar valores que, não importando a geração, são absolutos e permanentes; válidos para qualquer época.
a. O principal mandamento (Mc 12.28-31).
b. Ser uma nova criatura em Cristo Jesus ( Jo 3.3-5).
c. Salvar a alma ou ter a vida eterna (Mc 8.36).
d. Viver em paz (Pv 17.1).
e. Amar e ser amado (1Co 13.1-3).
f. Autenticidade (Mt 7.3).
g. Solidariedade, altruísmo e utilidade (Lc 10.30-37).
II. Resolvendo conflitos entre gerações
Para a mãe, que foi educada de forma a não poder sair sozinha com o namorado (a irmã ou alguém tinha de ir junto), a não poder beijar em público, fica difícil entender que sua filha possa ir a uma festa e chegar tarde da noite.
Um pai que foi educado aprendendo que “lugar de mulher é dentro de casa” também reluta em liberar a filha para trabalhar. Tudo pode se complicar quando o antigo e o novo acabam coexistindo dentro da mesma casa. Os filhos querem viver da forma dominante de sua época e acompanhar os valores atuais; os pais geralmente acabam tentando se modificar para compreender a forma de vida da nova geração, sem abrir mão dos valores que eles trouxeram do lar no qual foram criados. E quando o avô ou avó moram em casa, as diferenças de gerações são ainda mais evidentes. Evidentemente não temos uma “receita” pronta. Mas temos princípios que podem ser aplicados nos relacionamentos interpessoais, quando há atritos devido às diferenças de gerações.
1. Comunique o conflito
A Bíblia não recomenda o silêncio quando há problemas ou pecados. “Se teu irmão pecar contra ti, vai arguí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15). O verbo “arguir” pode ser traduzido como “trazer à luz”, “expor”, “mostrar a falta ou erro”, “mostrar a razão dos fatos”, “convencer alguém de sua falta ou erro”. “Vai arguí-lo” implica uma atitude, um movimento em direção ao ofensor, ao que está nos ferindo. “Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.” O verbo “ganhar” quer dizer “poupar alguém de um dano, perda ou prejuízo”. O que acontece é que muitas vezes falamos do conflito a todos, menos à pessoa que realmente precisa saber. No ensino do nosso Mestre, deve-se falar: “vai arguí-lo”!
2. Faça bom uso das “diferenças”
Se você puder entender a posição do outro apenas como uma posição diferente – nem melhor nem pior – a vida familiar ficará mais fácil e também mais rica e simples a convivência. Há um provérbio indiano que diz: “Não critique um homem antes de andar um quilômetro com seus sapatos”. Tente vivenciar o conflito sob o ponto de vista da outra pessoa. Dessa maneira, os avós ou sogros podem se transformar em valiosa fonte de aprendizagem, pois carregam uma bagagem de vida com ricas contribuições a dar aos demais. Portanto, se as diversas opiniões sobre uma mesma questão são usadas de modo a enriquecer a percepção pessoal e a percepção sobre os outros, o jovem pode abandonar suas posições inflexíveis para assumir um posicionamento que compreenda a opinião dos pais.
3. Faça diferença entre o essencial e o secundário
A palavra “secundário” vem do latim “secundu” que literalmente é “segundo”. Portanto, “secundário” é aquilo que é de menor importância em relação a outrem ou a outra coisa; algo de pouco valor, insignificante, inferior (Aurélio). Daí a necessidade de se identificar e discernir os conflitos, porque, muitas vezes, a causa maior não passa de interesse pessoal ou coisa de pouca importância. Você já ouviu falar do casal que brigava constantemente porque ao colocar o papel higiênico no papeleiro do banheiro a mulher gostava que o papel saísse por baixo, enquanto o marido insistia que deveria sair por cima? Incrível!
Há muitas coisas que são importantes, mas não são fundamentais. E muitos conflitos podem ser evitados com bom senso e tolerância, na medida que identificamos o que é essencial e o que é secundário; ou o que é inegociável e o que é tolerável. Quantas vezes brigamos por algo que daqui a pouco tempo não terá valor algum para nós mesmos!
Conclusão
A família que deseja que todos sejam réplicas uns dos outros e não assimila as diferenças acaba obstruindo o crescimento de todos. Na infância, tudo o que vem dos pais e avós geralmente parece correto, mesmo que a criança resista a obedecer – os pais são vistos como aqueles que já conhecem mais sobre o mundo.
Na adolescência, a tendência é de oposição, de polarização com os pais. O mundo bom parece ter princípios opostos. Na vida adulta, espera-se ter encontrado uma posição mais madura, onde o indivíduo tenha sido capaz não só de “peneirar” as experiências, reter consigo o que avaliou como uma boa contribuição da família, como também de elaborar algumas mudanças, dentro do que considera ser a maneira pessoal mais adequada para as necessidades atuais.”
Sendo assim, a família sadia é aquela que doou a seus membros uma provisão para a vida e, ao mesmo tempo, permitiu a sua diferenciação; que permitiu que cada um vivesse a sua individualidade sem ser individualista, sem abrir mão dos valores bíblicos (que são eternos) e sem esquecer de ensinar a fazer diferença entre o essencial e o secundário. Ao contrário do que se pensa, uma geração deve aprender com outra, havendo assim, uma integração de gerações.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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