Abigail (que significa: “alegria de meu pai”, ou possivelmente “aquela cujo pai é alegria”; “meu pai é alegria”), foi uma mulher habitante do Carmelo (local que fica ao sul do Hebrom), pertencente a tribo de Judá, esposa de Nabal, tido como homem rude e grosseiro. Sua primeira aparição na Bíblia dá-se no primeiro livro do profeta Samuel:
“Havia um homem em Maom que tinha negócios na região do Carmelo. Ele era muito próspero. Possuía três mil ovelhas e mil cabritos, era época de tosquiar as ovelhas no Carmelo. Ele se chamava Nabal (Tolo). Era descendente de Calebe, e sua mulher se chama Abigail. A mulher era inteligente e bonita, mas o homem era bruto e maldoso.” ( I Sm 25:2-3, Bíblia A Mensagem)
A história continua…
Ao lermos a trajetória desta mulher, várias indagações nos saltam à mente e é impossível não fazermos correlações com muitas mulheres dos tempos modernos. Quantas de nós não conhecemos (e até nos relacionamos fraternalmente) com mulheres que são belas e inteligentes, mas que têm pares que destoam totalmente desse perfil? Quantas de nós, infelizmente, não vivemos relacionamentos assim, com homens truculentos e de personalidade vil? Quantas mulheres, em meio a sua dor, calam-se e afundam-se na amargura de um relacionamento afetivo que não lhes satisfaz? Muita das vezes, essa dor perdura longo tempo e só se finda quando a morte chega – quer seja para esta mulher sofrida, quer seja para este homem que faz sofrer.
Com relação a essas questões, nossa personagem de estudo nos deixa algumas lições e demonstra que sempre é possível quebrar os paradigmas.
Primeira lição: Abigail foi proativa (I Sm 25:17-18).
“Faça alguma coisa logo, pois algo de ruim vai acontecer ao nosso senhor e a todos nós. Ninguém consegue convencê-lo. Ele é intratável! Abigail não perdeu tempo. Ela preparou duzentos pães, duas vasilhas de couro de vinho, cinco ovelhas preparadas e prontas para assar, cinco medidas de grão tostado, cem bolos de passas e duzentos bolos de figo e acomodou a carga sobre alguns jumentos (A Mensagem).”
O trecho acima relata o início da tensão entre Nabal e Davi. Este último estava recluso, fugitivo e perambulante pelo deserto (I Sm 25:4), junto a seiscentos homens (I Sm 25:13). Como era época de fartura (tosquiar das ovelhas), aproveitando o ensejo do momento festivo e ciente de toda prosperidade que alcançara Nabal, Davi solicita recursos deste homem abastado,e tem como resposta grande afronta e hostilidade! Após recusar insumos a Davi e seus seguidores, Nabal atrai para si (e toda sua parentela) a fúria daquele cuja descendência geraria Cristo.
Ciente disso, um dos funcionários de Nabal vai até sua esposa Abigail e intercede para que ela intervenha nesta situação de grande perigo. É interessante notar que o moço não vai até seu patrão e tenta dissuadi-lo do mal que cometera – tratar com falta de hospitalidade um peregrino mas recorre, prontamente, a Abigail. Mesmo a mulher tendo sua existência diminuída naquele tempo, nossa personagem destaca-se nesse impasse. Ela acolhe toda informação transmitida e, não obstante, toma uma atitude perante o fato. Abigail não titubeia, nem vacila e muito menos vai até seu esposo néscio (uma das traduções do nome Nabal). Ela age!
Quantas mulheres, em nossos dias, são assoladas pela invisibilidade, porém não se deixam abater por ela? Tomam uma postura ativa perante às adversidades e mudam todo quadro à sua volta.
Segunda lição: Abigail foi conciliadora (I Sm 25:23-27)
“Assim que viu Davi, Abigail desceu do jumento e se prostrou aos pés dele com o rosto em terra, dizendo: ‘Meu senhor, eu sou culpada! Deixe-me explicar. Ouça o que tenho a dizer. Não leve em conta a maldade de Nabal. Ele é o que o nome diz: Nabal, tolo. Dele só sai tolice. Eu não estava lá quando chegaram os rapazes que o meu senhor enviou; por isso, não os encontrei. Agora, meu senhor, assim como vive o Eterno e como o senhor vive, Deus o impediu de cometer esta vingança. Que todos os seus inimigos e todos que desejam o mal ao meu senhor tenham o mesmo destino de Nabal! Receba esta dádiva que eu, sua serva, trouxe ao meu senhor, e ofereça aos rapazes que seguem seus passos’. (A Mensagem)”.
Muitas e muitos, ao se depararem com esse trecho do relato bíblico, podem pensar: quanta humilhação! Esta mulher foi louca por fazer isso! Eu nunca me prestaria a esse papel.
Abigail, porém, não se preocupou com estigmas e interpretações de outrem sobre sua atitude perante a Davi. Além de enxergar e entender que a situação em que fora colocada por seu esposo inconsequente era grave e de iminente desgraça, ela não pensou que sua atitude conciliatória seria sinal de fraqueza, mas, pelo contrário, a conciliação foi um caminho de força!
Através de sua postura, totalmente despida de vaidade e soberba, ela pôde ser instrumento de salvação de muitas vidas. Sua ida até Davi apaziguou o intento de uma tragédia que, de certo, aconteceria.
Quantas mulheres, de nosso tempo, têm apaziguado “tempestades”? Com seus discursos de paz e atitudes conciliatórias têm evitado que muito sangue inocente seja derramado?
Que nos espelhemos no exemplo de Abigail e, em meio caos, sejamos proativas e conciliadoras. E que a paz se estabeleça ao nosso redor.
Terceira lição: Abigail foi agraciada (I Sm 25:32-35)
“Davi exclamou: ‘Bendito seja o eterno, o Deus de Israel! Ele enviou você para me encontrar! Seja abençoada pela sua sensatez! Seja bendita por me impedir de cometer esse crime e por se preocupar comigo. Juro pelo Eterno, o Deus de Israel, que me impediu de fazer mal a você: não fosse sua vinda aqui esta manhã, não restaria viva alma na casa de Nabal’. Davi aceitou a comida que ela trouxe e disse: “Volte em paz. Concordo com o que você disse e vou fazer o que me pediu’.” (A Mensagem)
Além da graça da conservação de sua própria vida, Abigail fora canal para a manutenção da existência de outras (poderíamos conjecturar que, com sua postura intercessora e colocando-se no lugar de outrem, ela seria como Cristo? Não sei…).
Nossa personagem, ao se levantar e ir até Davi, rompeu as estruturas de morte que já cercavam aos da casa de Nabal. A graça que ela recebera foi muito maior do que qualquer humilhação que alguém pudesse lhe atribuir. Você, também, já reverteu a aparente humilhação em honra?
A esposa do tolo não foi omissa, nem conivente com a postura de seu cônjuge. Pelo contrário, com suas obras demonstrou fraternidade, hospitalidade e amor para com o próximo.
É preciso salientar a importância dessa personagem num contexto bíblico. Numa época em que a mulher não era contabilizada nos censos (Nm 1:2; 26:2), era tida como propriedade do homem (Ex 20:17) e não tinha voz ativa nos ajuntamentos (I Co 14:34; I Tm 11-12), Abigail teve sua história registrada em, praticamente, um capítulo inteiro da Bíblia. Inegavelmente, mesmo inserida num contexto patriarcal, ela teve sublime destaque.
Mesmo em meio a um mundo patriarcal, a mulher submissa e subjugada pelo homem se levanta e toma uma atitude mediante à injustiça. E você, já rompeu o silêncio que te persegue?
Que tomemos como exemplo a vida desta personagem bíblica e nunca nos prostremos diante das estruturas paralisantes que são colocadas à nossa frente. Que rompamos as mesmas e sejamos vitoriosas nas batalhas cotidianas da vida, só assim seremos plenas e daremos alegria ao nosso Pai.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
0 comentários :
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.