CRISTOFOBIA
Quando nosso Senhor Jesus Cristo contou a parábola do bom samaritano para exemplificar para um judeu o que era o amor ao próximo, o que ele tinha em alvo, principalmente, era derrubar a barreira preconceituosa e religiosa que havia da parte dos judeus em relação aos samaritanos.
E o próprio Jesus pôde comprovar de modo prático que com a chegada do evangelho as barreira do preconceito devem ser derrubadas para a proclamação do amor de Deus por toda a humanidade, no diálogo que teve com a mulher samaritana e que a conduziu à salvação e a muitos no território de Samaria.
Mas agora, gostaríamos de citar um outro exemplo da vitória do evangelho sobre o preconceito, com o episódio havido entre Pedro e um centurião romano chamado Cornélio, conforme registro no décimo capítulo do livro de Atos.
A par de todo o avanço do evangelho entre os cristãos judeus de Jerusalém, Judéia, Galiléia e Samaria, e de outras partes do mundo, como por exemplo em Damasco, e Antioquia da Síria, não obstante não foi com certa relutância que a Igreja da circuncisão aceitou e entendeu que de fato o derramamento do Espírito Santo era para pessoas de todas as nações, mesmo aquelas que não eram israelitas.
O 10º capítulo de Atos, bem o demonstra, tanto na resistência inicial de Pedro para pregar o evangelho na residência de um centurião romano chamado Cornélio, quanto na forma como ele foi confrontado pela Igreja de Jerusalém pelo fato de ter estado na casa de um gentio, indo portanto contra uma prescrição cerimonial da Lei de Moisés, que tinha em vista evitar que os judeus se contaminassem com as práticas idolátricas e abomináveis das nações pagãs (Dn 1.8).
Mas os israelitas levaram aquela prescrição legal a um nível de mero preconceito racial, quando a própria Lei de Moisés continha outras prescrições relativas ao amor e misericórdia para com os gentios, sob o argumento de que os israelitas haviam vivido por muito tempo como estrangeiros no Egito.
Não importava se Cornélio era um homem piedoso e que buscava agradar a Deus. Ele seria considerado imundo segundo a interpretação que eles faziam da Lei e todo judeu que entrasse em sua casa seria considerado cerimonialmente impuro.
Daí a razão de Deus ter dado a visão do lençol que descia do céu com vários animais impuros ordenando a Pedro que os matasse e comesse, como que pretendendo lhe convencer que de fato havia revogado toda a lei cerimonial do Antigo Testamento, com a entrada em vigor da Nova Aliança com a morte de Jesus Cristo.
Se debaixo da Lei, os judeus deveriam evitar estar na companhia de pagãos, para que não fossem induzidos a praticarem as mesmas abominações que eles, agora, com a inauguração da dispensação do evangelho, da graça, do Espírito Santo, nenhuma aproximação seria considerada em si mesma um ato de impureza contra a Lei, porque o evangelho estava também destinado aos gentios, e a barreira de separação que era imposta pela Lei foi derrubada em Cristo, que fez dos dois um só povo de Deus, a saber, aqueles que se convertiam tanto entre os judeus quanto entre os gentios.
Deus não recusará na presente dispensação da graça a aproximação de nenhum pecador, de nenhuma nação da terra, por maiores que tenham sido os pecados praticados por eles no passado.
Cornélio queria encontrar o Deus verdadeiro, e por isso Ele proveu os meios necessários para tal encontro, enviando-lhe um anjo com instruções específicas para que chamasse a Pedro em Jope; e ao mesmo tempo em que preparou o coração e mente de Pedro para pregar o evangelho na casa de um gentio.
Tão forte era ainda a questão do preconceito racial em Pedro que ele começou o seu discurso procurando justificar o ato de sua presença na casa de Cornélio, que não deveria ser considerado por eles como uma desobediência explícita aos mandamentos da Lei, dizendo-lhes que eles bem sabiam que não era lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas que fora o próprio Deus que lhe ordenara a ir ter com Cornélio em sua casa, e que a ninguém mais deveria considerar comum ou imundo, segundo as prescrições cerimoniais da Lei de Moisés.
Pedro não atinava que deveria lhes pregar o evangelho porque isto não lhe foi revelado por Deus quando teve a visão do lençol, apesar de os mensageiros que Cornélio enviou para chamá-lo em Jope terem lhe declarado que Cornélio foi avisado por um santo anjo para lhe chamar para ir à casa do centurião para ouvir as palavras de Pedro.
Quando Pedro chegou em Cesaréia e esteve junto a Cornélio e às pessoas que ele havia reunido em sua casa para lhe ouvirem, perguntou por que razão lhe havia chamado.
Se ele tivesse se deixado conduzir pelo Espírito Santo em vez de somente obedecer à ordem de ir à casa do Centurião, ele não teria nenhuma dúvida quanto à sua missão naquele lugar e lhes exporia a Palavra no poder do Espírito.
Era de se estranhar que Pedro tivesse perguntado a Cornélio o que eles desejavam dele, quando o próprio Cornélio tinha fé suficiente que Deus lhe havia enviado Pedro para lhes dizer tudo quanto havia ordenado ao apóstolo (At 10.33).
Foi somente então que Pedro despertou para o seu dever de proclamar a Cristo a todos e em toda parte, conforme Ele lhes havia ordenado.
Pedro pôde reconhecer que Deus não fazia verdadeiramente acepção de pessoas e que lhe é aceitável qualquer pessoa de qualquer nação, que o tema e pratique o que é justo (At 10.34,35).
Foi somente então que o apóstolo começou a lhes fazer uma exposição do evangelho, concluindo que todo que crê em Jesus receberá remissão dos pecados pelo Seu nome.
Mal Pedro acabara de pronunciar esta grande verdade central do evangelho da remissão dos pecados pela fé em Jesus, sem que ele impusesse as mãos sobre qualquer pessoa na casa de Cornélio, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra, e começaram a falar em línguas e a magnificar a Deus.
Os cristãos que eram da circuncisão (judeus) e que haviam acompanhado Pedro até a casa de Cornélio ficaram maravilhados com o fato de terem testemunhado que até sobre aqueles que não eram judeus o dom do Espírito Santo havia sido derramado.
Diante da evidência do batismo do Espírito como poderia ser negado o batismo na água àqueles que haviam se convertido, e que tal como os apóstolos haviam recebido o Espírito Santo?
Foi esta a resposta que Pedro deu àqueles judeus que estavam com ele diante da perplexidade deles pelo que tinha ocorrido.
Pedro mandou que eles fossem batizados então em nome de Jesus Cristo, e eles rogaram a Pedro que ficasse ainda com eles por alguns dias, certamente para continuar lhes explicando melhor as coisas concernentes a Cristo e ao evangelho.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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