O SIGNIFICADO DA TRÊS EPÍSTOLAS DE JOÃO E PARA QUE ELAS FORAM DESTINADAS
Fiz uma leitura nas duas cartas de João, o Apóstolo amado, e descobri que o tema ou a preocupação de João era combater os falsos mestres. É interessante fazer um contraste entre a segunda e a terceira epístolas deste Apóstolo.
A segunda carta adverte a “senhora eleita”. Talvez a senhora eleita seja um título da igreja. Ele fala sobre os falsos mestres de fora da igreja como líderes com o comportamento de ditadores dentro da congregação.
Os falsos mestres na segunda carta de João valiam-se do amor para negar a verdade. Esta carta fala sobre três homens: Gaio, Diótrefes e Demétrio (V. 1,9-12). Na igreja visível há salvos e perdidos. Há cristãos verdadeiros e cristãos falsos. Há os que amam a Deus e buscam a Sua glória e aqueles que amam a si mesmos e estão interessados apenas na sua própria glória. Onde há pessoas, há problemas, mas também existe possibilidade de resolução dos problemas.
Consideremos agora os três homens desta carta, observando o perfil de cada um.
I. GAIO, UM ENCORAJADOR – VS, 1-8
1. Um homem amado
O apóstolo João o chama de “amado” por três vezes (vs. 1,2,5). É pouco provável que esse fosse um tratamento formal. Ele era um homem especial. Gaio era o tipo de pessoa que atraía as pessoas por sua bondade, amabilidade.
2. Um homem de vida espiritual saudável – vs.2
O texto nos indica que Gaio não estava bem de saúde, e João orava por sua restauração ( vs.2). É possível ser pobre materialmente e ser rico espiritualmente. É possível estar doente corporalmente e ser saudável espiritualmente. Isto é uma “tacada” nos seguidores da teologia da prosperidade, que enfatizam que o cristão não pode ter doença, padecer fisicamente. Aprendemos aqui que Gaio tinha a capacidade de cuidar do rebanho do Senhor.
Há muitos pastores (líderes) doentes emocionalmente no exercício da liderança. Deveriam estar sendo pastoreados, mas estão pastoreando. O ministério tem suas complexidades e exige obreiros bem resolvidos e saudáveis emocionalmente. O pastor (líder) lida com muitos problemas e, se ele não for uma pessoa centrada e equilibrada, pode gerar muitos conflitos e problemas no seu ministério. Gaio era um homem sadio espiritualmente, equilibrado, por isso poderia exercer a liderança na igreja.
3. Um homem de bom testemunho – vs.3,4
Gaio era reconhecido como um homem que obedecia a palavra de Deus e andava na verdade. As pessoas que iam visitar João davam bom testemunho do exemplo de Gaio. Será que as pessoas que nos conhecem podem dar bom testemunho a nosso respeito? Às vezes ficamos desconfortados quando alguém pergunta: “Fulano de tal é da sua igreja?” ou “Eu conheço um dos seus membros muito bem”.
O que levou Gaio a dar bom testemunho? A Verdade de Deus! A verdade estava nele e o havia capacitado a andar em obediência à vontade de Deus. Gaio leu a Palavra, meditou na Palavra, deleitou-se na palavra e praticou a Palavra em sua vida diária. O que é a digestão para o corpo, meditação é para a alma.
Gaio andava na verdade e isso trouxe grande alegria a João (v.4). Não havia dicotomia entre a profissão de fé e a prática. Gaio era um cooperador da verdade – Ou seja, ele ajudava as pessoas a fazerem a obra de Deus. Você faz a obra com os pés, indo; com as suas mãos, contribuindo; e com os seus lábios, falando e orando. Gaio abriu seu coração, seu bolso e seu lar para acolher os pregadores da palavra de Deus.
A segunda carta alerta para o perigo de exercer a hospitalidade com os falsos mestres (v.7-11). A terceira carta alerta para a necessidade de hospedar e receber os pregadores fiéis da palavra de Deus (v.5-8). Gaio era um encorajador não apenas para os domésticos da sua comunidade, mas também com estrangeiros (Hb 13.2).
Gaio não abriu apenas seu lar, mas ele também abriu seu coração e seu bolso para dar ajuda financeira aos seus hóspedes que pregavam a Palavra de Deus. Ele dava suporte financeiro para que outras pessoas fizessem a obra de Deus (I Co 16.6; Tt 3.13). Nossa fé deve ser expressa por obras (Tg.214-16) e nosso amor por ajuda e não por palavras apenas (I Jo 3.16-18). Qual é a motivação para essa prática de Amor a Gaio?
1. Dar suporte aos servos de Deus honra a Deus (v.6) – Nós nos assemelhamos a Deus quando nos sacrificamos para servir aos outros. Devemos viver de modo digno de Deus para o seu inteiro agrado. Servir aos servos de Cristo é servir a Cristo (Mt 10.40; 25.34-40).
2. Dar suporte aos servos de Deus é um testemunho aos perdidos (v.7) – Jesus ensinou claramente que os servos de Deus merecem suporte financeiro(Lc 10.7), mas esse suporte não deve vir dos incrédulos, mas do povo de Deus.
II. DIÓTREFES, O DITADOR – VS 9.10
1. Amantes dos holofotes – vs. 10
Há muitas igrejas que têm membros que insistem em ser “mandachuvas”, e fazer tudo a seu modo. Mas, na maioria das vezes, é o pastor que assume poderes ditatoriais e esquece-se que a palavra ministro significa “servo”. Em outras ocasiões, é um presbítero, diácono ou talvez um membro de longa data da igreja que pensa ter “direitos adquiridos por tempo de serviço”.
A motivação de Diótrefes era o orgulho. Os motivos que governavam a conduta de Diótrefes não eram teológicos, sociais ou sequer eclesiásticos, mas morais. Ele estava ávido por posição e poder. Ele não tinha dado ouvido às advertências de Jesus contra a ambição e o desejo de domínio (Mc 10.42-45; 1 Pe 5.3).
Diótrefes queria ser o centro das atenções. Ele era um daqueles que parava em frente ao espelho e dizia: “Quão grande és tu”. Ele era o oposto de João, o batista, que disse: “Convém que ele (Jesus) cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
O orgulho e a soberba são pecados intoleráveis para Deus. Na igreja de Cristo todos estamos nivelados no mesmo patamar: Somos servos. Não há espaço para ditadores, donos e chefes, “Caciques espirituais” Para buscar aplausos de homens. Diótrefes era um líder que tinha mania de glória. Como um ditador ele impunha sua liderança pela força e pela intimidação. Sua vontade era lei. Ninguém podia ocupar o seu espaço. Cada pessoa que chegava à igreja era uma ameaça à sua liderança. Por isso, ele não concedia hospitalidade a João.
2. Diótrefes mentiu sobre o apóstolo João – vs. 10 a
As palavras e obras más emanam do Diabo. Ele trazia falsas e vazias acusações contra João. Seu prazer era atentar contra a honra daqueles que eram ameaça ao seu orgulho e à sua posição de liderança. O texto no verso 10 diz: “...proferindo contra nós palavras maliciosas”. O que Diótrefes dizia a respeito de João era totalmente absurdo, e, no entanto, alguns gostavam de ouvir esse tipo de conversa e estavam dispostos a acreditar em tais mentiras! Além disso, Diótrefes falava mal de João pelas costas, quando João não estava presente para se defender.
Será que você está na igreja de Diótrefes? Quantas pessoas maliciosas há em nosso meio, que são especialistas em fofocas, mentiras, divisões? Estes são discípulos do Mestre de intrigas Diótrefes.
Os cristãos devem ter cuidado para não acreditar em tudo o que leem ou ouvem sobre os servos de Deus, especialmente os que exercem um ministério amplo e estão em destaque. Da próxima vez que alguém quiser falar com você, pergunte a esta pessoa se isto que ele ou ela irá falar passou pelas três peneiras:
As Três Peneiras
Um rapaz procurou certo sábio e disse que precisava falar sobre uma outra pessoa. Erguendo os olhos do livro que lia, o sábio perguntou: - O que você deseja falar-me já passou pelas três peneiras? – Três peneiras? Retrucou o rapaz, curioso. – Sim! Respondeu o sábio. A primeira peneira é a verdade. O que você quer conversar comigo a respeito dos outros é um fato, ou você ouviu alguém falar? Caso seja algo que tenha apenas ouvido alguém falar, vamos encerrar o assunto por aqui mesmo. – No entanto, sendo fato, devemos passar pela segunda peneira – a bondade. O que você vai contar é algo de bom? Ajuda construir o caminho, a fama do próximo? – Se o assunto é realmente coisa boa, ainda assim temos a terceira peneira – a necessidade. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Pode melhorar a qualidade de vida das pessoas? – E o sábio concluiu: Se passar pelas três peneiras, conte, estou pronto a ouvir, pois neste caso eu, você e nossos irmãos nos beneficiaremos. Todavia, se for reprovado em pelo menos uma peneira, esqueça tudo e encerre o assunto. Será uma fofoca que serviria apenas para envenenar o ambiente e levar rancor e discórdia entre irmão e amigos.
1. É verdade? (Ef 4.25)
2. Vai ajudar a pessoa de quem falamos? (Ef 4.29)
3. É preciso saber, ou seja, vai ajudar outros? (Ef 4.29)
3. Diótrefes disciplinou os que discordavam dele – vs. 10 c
”... e os expulsa da igreja”. Os membros da igreja que receberam os cooperadores de João foram expulsos da igreja! Diótrefes não tinha nem autoridade nem base bíblica para expulsar as pessoas da igreja. A disciplina que ele praticava era abusiva. As pessoas eram disciplinadas não porque havia pecado, mas porque haviam desobedecido a uma ordem autoritária dele.
A disciplina bíblica não é uma arma nas mãos de um ditador para proteger a si mesmo. A disciplina é uma ferramenta para congregação usar para promover a pureza e glorificar a Deus (Hb 11.30). A igreja não é uma delegacia. Ela não trata as pessoas com chibata. A disciplina deve ser exercida com amor. Os ditadores na igreja são perigosos. Eles julgam e condenam todos aqueles que discordam deles. Eles lutam não pela glória de Deus, mas pela projeção dos seus próprios nomes. E você leitor ou leitora, é um Diótrefes? Ou faz parte da igreja que há um Diótrefes?
Não é difícil reconhecer os “ditadores” da igreja. Eles gostam de falar a respeito de si mesmos e do que “fazem para o Senhor”. Também têm o costume de julgar e condenar os que discordam deles. São especialistas em rotular outros cristãos e classifica-los em categorias rígidas segundo suas próprias intenções. O mais triste é que esses “ditadores” são chamados de conservadores da doutrina santa. Que absurdo!
III. DEMÉTRIO, UM EXEMPLO – VS. 11-15
1. Demétrio, um homem digno de ser imitado – v. 11
De acordo com o dicionário, um exemplo é: “um ideal, um modelo, algo digno de ser imitado”. Demétrio era um cristão exemplar.
Quando um líder anda com Deus e vive de forma irrepreensível, ele é digno de ser imitado (Fp 3.17); (I Co 11.1). Ele tornou-se modelo, padrão, referencial. As pessoas estão olhando para nós. Eles estão nos copiando. Que tipo de crentes estamos sendo? Estamos influenciando para o bem ou para o mal? Não se pode ver Deus, mas é possível vê-lo operando na vida dos seus filhos. A vida piedosa e o serviço consagrado de um cristão sempre servem de encorajamento e de estímulo. O escritor aos Hebreus diz:
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obra” ( Hb 10.24)
2. Demétrio, um homem de bom testemunho dentro e fora da igreja – vs. 12
Todos os membros da igreja conheciam Demétrio, amavam Demétrio e agradeciam a Deus pela sua consistente vida e ministério. Sua vida era exemplo para os membros da igreja. Os de fora da igreja também lhe davam bom testemunho. Sua vida era coerente. Sua vida familiar, financeira, profissional era coerente com o seu testemunho. Será que as pessoas podem falar da mesma forma de nós?
3. Demétrio, um homem que têm bom testemunho da própria verdade – v. 12
Como Gaio, ele andou na verdade e obedeceu a verdade. A genuinidade cristã de Demétrio não precisava da prova dos homens; era provada por si mesma. A verdade que ele professava estava encarnada nele. Isso não significa que ele era perfeito, mas sim que levava uma vida coerente, procurando honrar ao Senhor.
Tanto a igreja quanto a Palavra davam testemunho da vida de Demétrio, e agora, o apóstolo faz o mesmo, isto significa que Demétrio teria problema para com o “ditador” Diótrefes. O apóstolo amado sabia por experiência própria e não se envergonhava de confessar que Demétrio era um homem de Deus.
Nobre irmão qual destes três homens você é?
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante