USOS E COSTUMES, O QUE SERÁ DOUTRINA E COSTUMES...
Muitas igrejas têm feitos todo tipo de proibições para com as
mulheres nas questões de maquiagem e adornos. Com o argumento de que as irmãs
devem ser simples como as pombas (Mt. 10:16), estas denominações proíbem e
disciplinam qualquer vestígio de enfeites feitos pelas mulheres.
É comum escutarmos alguns irmãos falarem “minha igreja tem
doutrina, lá mulher não usa maquiagem, brincos, pulseiras, etc.”. E falam isso
com orgulho de pertencer a uma igreja que tem “doutrina”. O que há nessas
afirmações é uma confusão entre as palavras “doutrina” e “costume”.
Às vezes pessoas são disciplinadas em certas igrejas por usar ou
praticar coisas que aquela igreja julga que é proibido nas Escrituras, quando
na verdade é apenas um costume local.
Mas, você pode perguntar: existem passagens que mostram como os
homens e mulheres da Bíblia se vestiam e o que usavam? Será que é correto hoje
usar tudo o que eles usavam? A Bíblia aponta um padrão para a vestimenta e
adornos cristãos? Podem os irmãos e as irmãs se adornarem ou é isso pecado? E
aqueles versículos que estas pessoas citam para proibir o uso de enfeites o que
querem dizer? Neste capitulo vamos estudar sobre este assunto com detalhes.
I- COSTUME E DOUTRINA.
1.a- Já foi dito aqui que muita gente faz confusão entre
“costume” e “doutrina”, a primeira coisa que devemos fazer é definir estes
termos, pois existe diferença.
· Costumes estão ligados a usos, a uma prática habitual
particular, se baseiam na cultura e na moda vigente naquele tempo e lugar.
· Doutrina. No Novo Testamento, a palavra mais usada para
doutrina é didachê e significa: ensino, instrução, tratado. Para uma idéia ser
doutrina cristã, é preciso que ela esteja exposta por todo o texto sagrado, e
seja válida para todos os cristãos, ou seja, não é apenas algo local ou
circunstancial, mas universal.
Observe a diferenças entre doutrina e costume.
Quanto à origem: A doutrina é divina. O costume em si é humano.
Quanto ao alcance: A doutrina é geral. O costume em si é local.
Quanto ao tempo: A doutrina é imutável. O costume em si é temporário
1.b- A doutrina bíblica gera bons costumes, mas bons costumes
não geram doutrina bíblica. Igrejas há que têm um somatório imenso de bons
costumes, mas quase nada de doutrina. Isso é muito perigoso! Seus membros
naufragam com facilidade por não terem a base espiritual da Palavra de Deus, se
confiam nas próprias obras e acham que estão mais perto de Deus por não fazer
ou não usar isso ou aquilo.
II- O QUE É VAIDADE.
2.a- Temos que definir também esta palavra e observar como ela
aparece nas Escrituras Sagradas. É importante a gente se dar conta de que o
termo ‘vaidade’, em português, não significa uma preocupação com a estética,
como as pessoas pensam e usam a palavra dizendo: “ah, ela é cheia de vaidades!”
O termo ‘vaidade’ em português provém do latim vanitas, o sentido básico desta
palavra é: ‘em vão’.
1- Vaidade no Antigo Testamento.
a) No AT temos algumas palavras sendo usadas para vaidade. A
expressão hebel (vaidade) usada no livro do Eclesiastes 1:2; 2: 11, indica:
brevidade e ausência de substância, vazio (Jó 7: 16); coisa vã, que não produz
efeito (Jó 9:29); engano (Jr. 16: 19; Zc. 10:2). [1] A The International
Standard Bible Encyclopedia nos ajuda aqui com esta palavra e diz que as
palavras "vão", "vaidade", "vaidades" são frequentes
na Bíblia. A ideia destas palavras é quase que exclusivamente de algo
"vazio” e também “falsidade”.
1- A palavra mais traduzida por "vaidades", ou
"vaidade" no AT é hebel, que significa um "sopro de ar, ou da
boca", muitas vezes é aplicada à idolatria (Dt. 32: 21; 1 Rs. 16:13; Sl
31:6; Jr. 8: 19); aos dias do homem e ao próprio homem (Jó 7:16; Sl. 39: 5,11),
e também aos pensamentos do homem (Sl. 94: 11); e a riqueza e tesouros (Pv.
13:11). No livro do Eclesiastes, onde a palavra ocorre muitas vezes, é aplicada
a tudo: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade" (Ec. 1:2; 12:8).
2- Awen, que significa também "sopro", é também
traduzida por "vaidade", mas em conexão com "iniquidade"
(Is. 58:9);
3- Shaw é outra palavra frequente, é traduzida por vaidade e tem
também a ideia de “falsidade, maldade” (Êx.20:7, Dt. 5:11; Sl. 31:6).[2]
2- Vaidade no Novo Testamento.
a) A palavra “vaidade” não ocorre frequentemente no NT, mas em
At. 14:15 temos a palavra grega mataios,[3] "vazio", traduzida como
"vaidades" (de ídolos); encontra-se também mataiotês, como
“transitoriedade” (Rm. 8:20): “A criação ficou sujeita à vaidade (fragilidade,
transitoriedade). É traduzida também como “vazio”, “loucura” (Ef. 4:17; 2 Pd.
2:18).[4] Observe que nenhuma vez estas palavras estão sendo aplicadas a
questões de se maquiar ou usar certos adereços como brincos, pulseiras, etc.
III- O QUE OS HOMENS E AS MULHERES DA BIBLIA USAVAM?
Os homens e as mulheres da Bíblia se enfeitavam e não era pouco.
Eles usavam muitos adornos em várias partes do corpo. A seguir listamos alguns:
3.a- Os homens usavam:
· Anéis e colares (Gn. 41: 42; Ex. 35: 22; Et. 8: 2; Dn. 5: 29;
Lc. 15: 22);
· Brincos (Ex. 32:2-3);
· Braceletes (Ex. 35: 22; 2Sm. 1:10);
3.b-As mulheres usavam:
Pendente, pulseira (Gn. 24: 22, 47);
Braceletes, colares (Ez. 16: 11);
Brincos, coroa na cabeça (Ez. 16:12);
Anéis no tornozelo (Is. 3 18);
Cadeias para os passos (Is. 3: 20).
3.c- Observe com atenção que as mulheres e os homens da Bíblia
usavam muitos enfeites, não havia a concepção de pecado para tal prática. Todos
podiam usar os seus adornos, se vestir bem e se enfeitar para o dia a dia. Nas
Escrituras isto nunca foi proibido. A relação de Deus e do povo de Deus com as joias
na Bíblia é muito interessante, preste atenção nessas passagens a seguir:
· Êx. 3: 21-22- Deus diz que quando os israelitas saíssem da escravidão
no Egito pedissem aos egípcios jias e roupas para seus filhos usarem. Isso não
aconteceria se os israelitas não usassem joias e se Deus fosse contra as
mesmas.
· Êx. 35 4-5, 20-22, 30- 36:3- Veja que os objetos do Santuário
que Deus mandou Moisés construir para ser sua casa de adoração, foram feitos cm
as joias do povo. Se joias fossem algo pecaminoso Deus as usaria na Sua casa?
· Nm. 31: 50- aqui encontramos as joias do povo sendo usadas
como oferta expiatória para Deus. Deus aceitaria como oferta algo pecaminoso?
· Jó 42: 11- Como presente dos seus amigos após sua restauração
Jó o homem justo e temente a Deus (Jó 1:1), recebe um monte de anéis. Para que
isso se ele não usasse?
· Pv. 1:8-9- O escritor de provérbios compara o ensino dos PIS
que é uma coisa muito boa, com diademas e colares, ou seja, compara com
adornos, enfeites. Isto mostra que para ele os enfeites eram coisas importantes
e boas. E não podemos esquecer que ele escrevia inspirado pelo Espírito Santo.
· Pv. 25:12- Uma pessoa sábia é comparada com joias e brincos de
ouro.
· Is. 61:10- Jerusalém é representada como se fosse uma mulher,
que está recebendo as bênçãos de Deus (3), e estas bênçãos são comparadas com
enfeites, com as joias de uma noiva.
· Ez. 16: 1-14- Este texto é maravilhoso e esclarecedor. Deus
compara Jerusalém com uma mulher, e como se Ele fosse um esposo que está feliz
com sua mulher, lhe dá todo tipo de joias, e ainda diz que ela enfeitada está
com a gloria dele refletida (14).
· Ap. 21: 1-2- a Nova Jerusalém, que é um símbolo da Igreja
glorificada, é comparada a uma noiva quando se enfeitava para o casamento.
3.d- Será que se as joias fossem algo que Deus abomina e que os
cristãos não deveriam usar o Senhor faria as comparações que acabamos de ler em
sua Palavra, e daria e receberia as mesmas de seu povo? É óbvio que não. Todas
estas passagens mostram que nas Escrituras nada existe de proibições com
respeito às joias, e que o povo da Bíblia as usava normalmente.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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