SEMEADOR DE CONTENDAS...
Aristóteles definia
ciúmes como o desejo de ter o que outra pessoa possui. Era originariamente uma
palavra boa e referia-se ao desejo de imitar uma coisa nobre da outra
pessoa. Mais tarde a palavra passou a
ser associada com um desejo lascivo daquilo que pertencia a outra pessoa. Salomão reconheceu a vaidade (inutilidade)
desse pecado quando disse: "Então
vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra
o seu próximo" (Eclesiastes 4:4).
Tentar "seguir o padrão de vida do vizinho" é um pecado que
não somente nos impedirá de ir para o céu, mas também mesmo nesta vida nos
tirará a satisfação (Filipenses 4:12-13).
Embora o ciúme
simplesmente cobice a riqueza e a honra
dos outros, a inveja é algo que se faz acompanhar de rancor. A inveja não é necessariamente querer para
nós mesmos, mas simplesmente querer que seja tirado do outro. A inveja é o sentimento de infelicidade
produzido por presenciarmos a vantagem ou a prosperidade do outro. Os invejosos se incomodam com os sucessos dos
amigos.
O ciúme e a inveja são
sempre seguidos da contenda na igreja (Romanos 13:13; 1 Coríntios 3:3). Quando nos magoamos por causa daquilo que
outros conquistaram, quer financeiramente, quer na reputação, a ambição egoísta
nos torna arrogantes contra o nosso irmão (Tiago 3:14). O ciúme dos coríntios para com os pregadores
gerou contenda e divisão (1 Coríntios 3:3-4).
Os irmãos ciumentos estão associados com a contenda, com a ira, com as
disputas, as maledicências, a difamação, a arrogância e as perturbações (2
Coríntios 12:20). O ciúme e a inveja
levaram os irmãos de José a querê-lo morto, geraram a rebelião de Coré, levaram
Caim a matar Abel, o Sinédrio a matar Jesus e aprisionar os apóstolos. Muitos hoje e no primeiro século pregam e
pregaram a Cristo movidos pela inveja (Filipenses 1:15). São zelosos pela causa de Cristo, mas esse
zelo é motivado pelo desejo de desacreditarem outros irmãos.
A contenda nasce da
inveja, da ambição e do desejo de prestígio, de posição e de destaque. É o espírito que nasce da competição
desmedida e ímpia. A contenda corre
solta quando os cristãos odeiam ser superados.
Domina quando o homem se esquece que só o que se humilha pode ser exaltado. Os irmãos invejosos e competitivos cobrem o
seu pecado com debates "consagrados" sobre as palavras e sobre as
questões controversas (1 Timóteo 6:4-5).
Que a nossa posição a favor da verdade não seja obscurecida com o motivo
pecaminoso da inveja que nos conduz à contenda.
Uma vez que a contenda
entra na igreja, o culto passa a ser inviabilizado. Os cristãos, e mesmo os presbíteros e
pregadores, ficam tão preocupados com os seus direitos, dignidade, prestígio,
práticas e procedimentos que fica impossível haver uma atmosfera que dê margem
ao louvor e à adoração. Com o ciúmes e a
inveja no coração, não podemos fazer julgamentos justos; o julgamento parcial
só gera mais contenda. A adoração a Deus
e as disputas dos homens não combinam.
O ciúme e a inveja
parecem ser os últimos pecados a desaparecer da vida do Espírito. Após a longa lista que Paulo apresenta de
pecados da carne e do fruto do Espírito em Gálatas 5, ele conclui o seu
pensamento com a advertência: "Se
vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não nos deixemos possuir de vanglória,
provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros" (5:25-26). Ninguém acusou os apóstolos durante o
ministério de Jesus de fornicação, impureza, sensualidade, idolatria,
feitiçaria, embriaguez e orgias mas na noite antes de Jesus morrer, eles eram
invejosos e cheios de contenda (Lucas 22:24).
Não é necessário participar do trabalho da igreja por muito tempo para
descobrir que fonte eterna de problemas é a inveja.
Como corrigimos o
espírito invejoso e ciumento em nós mesmos?
"Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Tende o mesmo sentimento uns para com os
outros; em lugar de serdes orgulhosos condescendei com o que é humilde; não
sejais sábios aos vossos próprios olhos" (Romanos 12:15-16). "Finalmente, sede todos de igual ânimo,
compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal
por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo" (1 Pedro
3:8-9).
"Ora, é em paz que
se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz" (Tiago
3:18). Todos estamos tentando ceifar uma
colheita resultante da boa vida, mas as sementes que produzem essa colheita
jamais podem brotar numa atmosfera que não seja aquela com os relacionamentos
corretos. O grupo em que há inveja e
contenda é um solo infértil, em que não pode crescer nenhuma colheita justa...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da religião Dr. Edson Cavalcante
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