MEU CASAMENTO ACABOU FUI TRAÍDA E NÃO
MAIS EXISTE AMOR MINHA VIDA É UM SOFRIMENTO...
O cristão pode se divorciar?
Vivenciar o divórcio pode ser uma das
experiências mais estressantes e dilacerantes da vida das pessoas. Vivenciá-lo
dentro da igreja, no entanto, pode ser ainda pior.
Isso porque muitos cristãos sinceros,
infelizmente ainda não obtiveram o conhecimento bíblico correto sobre o assunto
e, por causa disso, são reticentes na sua relação com irmãos divorciados.
Esse post tem como objetivo lançar
alguma luz sobre a questão. Primeiramente, é preciso que nos lembremos de que
"... a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram
por meio de Jesus Cristo" (Jo. 1.17).
A primeira pergunta que devemos nos
fazer, portanto, é se os que vivem tragédias matrimoniais como o divórcio, por
exemplo, também são dignos dessa "graça" e dessa "verdade"
trazidas por Jesus. Creio que uma consciência cristã experiente tem a resposta
certa para ela.
Um outro ponto importante é dizer que
a Bíblia fala apenas de um divórcio, no texto de Jeremias 3:8, que diz o
seguinte: "E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a
rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa
Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também ela mesma se prostituiu".
Nesse texto, Deus está advertindo a
Judá de que está procurando problemas. Ele, então, instruiu a Jeremias para que
alertasse a Judá de que ela havia sido testemunha da infidelidade de sua irmã
Israel, e que Ele a havia mandado embora e lhe dado carta de divórcio. Assim
mesmo, Judá não se arrependeu (Jr. 3.6-8).
POR QUE A FALTA DE COMPREENSÃO SOBRE
O DIVÓRCIO?
Quando Jesus foi questionado pelos
fariseus, no evangelho segundo Marcos, "se é lícito ao marido repudiar sua
mulher" ele respondeu, fazendo outra pergunta: "Que vos ordenou
Moisés?"
A resposta deles foi: "Moisés
permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar" (Mc. 10.2-4).Essa resposta
dada pelos fariseus se refere à lei à qual o historiador Josefo, que viveu um
pouco depois da época de Jesus, chama de "a lei dos judeus", e se
encontra em Deuteronômio 24.1-4.
Esta é a lei de que trata
Deuteronômio: "Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela
não for agradável a seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se
ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir de casa; e
se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem..." (Dt.
24.1-2).
Isso estava vigente na época de
Jesus, mas a situação em que os homens judeus viviam era bem diferente, pois
eles, na realidade, não a praticavam, e tomavam outras esposas, sem se
incomodar em pensar em divórcio.
Ora se não se divorciava, o que
fazia, então, um homem daquela época com a primeira esposa, quando tomava
outra?
Simplesmente, punha-a de lado, não
lhe dando documento algum. Assim, caso se arrependesse, tinha a esposa anterior
sempre à sua disposição! Isso era uma crueldade para com as mulheres, contra a
qual Jesus se insurgiu.
A palavra hebraica, usada no Antigo
Testamento, para descrever esse "pôr de lado" ao qual nos referimos é
shalach, diferente da palavra que significa divórcio (como utilizada em
Jeremias 3.8) que é keriythuwth que, literalmente significa excisão ou corte do
vínculo matrimonial.
Ora, shalach normalmente é traduzido
por "repudiar". Então, as mulheres que eram "colocadas de
lado" por seus maridos, sem carta de divórcio como mandava a lei, eram
"repudiadas" e era contra essa espécie de repúdio que Jesus se opôs.
Quando, em Lucas 16.18 ele diz:
"Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e quem casa
com a mulher repudiada pelo marido também comete adultério", ele está se
revoltando contra uma prática cruel e injusta, porém não está se referindo ao
divórcio.
Na verdade, no Novo Testamento, a
palavra grega utilizada para "repúdio" vem do verbo apoluo, e é
equivalente à palavra hebraica shalach ("deixar" ou
"repudiar"). Já a palavra hebraica utilizada para
"divórcio" é keriythuwth, cujo equivalente no grego (língua na qual
foi escrito o Novo Testamento) é apostasion.
Resumindo, para ficar mais claro:
shalach, no hebraico, corresponde a apoluo, no grego e significa
"repúdio", em português. Keriythuwth, no hebraico, corresponde à
palavra grega apostasion e significa "divórcio", de fato, em português.
A não compreensão dessa diferença é que provoca tanta confusão e tanta
incompreensão em nossos dias!
QUE PALAVRAS JESUS SE UTILIZOU PARA
TRATAR DO ASSUNTO?
As passagens bíblicas nas quais Jesus
tratou deste assunto incluem Lucas 16.17-18; Mateus 19.9, Marcos 10.10-12 e
Mateus 5.32. Nessas passagens, Jesus utilizou onze vezes a palavra apoluo, em
uma de suas formas e, em todas essas ocasiões, o que ele proibiu foi o apoluo,
ou seja, o repúdio. Ele jamais proibiu apostasion, a carta de divórcio exigida
pela lei judaica!
Isto posto, devemos traduzir a
palavra grega apoluo por divórcio? A tradução Revista e Corrigida de Almeida,
que é a mais antiga em língua portuguesa sempre usou "deixar" e
"repudiar". Do mesmo modo, emprega essas mesmas palavras a Revista e
Atualizada.
E Por Que As Pessoas Passaram a Ler
Diferente?
Essa é uma pergunta sobre a qual vale
a pena discorrer um pouco, pois, no meio evangélico, principalmente, começou-se
a ler: "aquele que divorciar sua mulher" nas passagens em que Jesus,
com muita clareza, disse: "aquele que repudiar ou abandonar sua
mulher"!
Ao que tudo indica, esse equívoco
começou em 1611, quando a rei Tiago encomendou a versão mais antiga e, hoje em
dia, mais popular da língua inglesa (a chamada King James Version). Nessa
edição ocorreu um problema: em uma das onze vezes que Jesus usou o termo, os
tradutores escreveram "divorciada", ao invés de
"abandonada" ou "repudiada".
Isso aconteceu em Mateus 5.32, onde
eles colocaram: "E aquele que se casar com a divorciada comete
adultério", embora a palavra grega não seja apostasion, mas uma forma de
apoluo - situação que não inclui carta de divórcio para a mulher, pois ela,
tecnicamente permaneceria casada.
A versão Standard Americana corrigiu
o erro em 1901, mas nunca chegou a ser tão popular como a King James Version.
Na verdade, tudo o que foi impresso depois (incluindo os léxicos gregos e
americanos) foi influenciado por essa ocorrência. De onde resulta o fato
incontestável de que a tradição nos ensinou a ter em mente
"divórcio", mesmo quando lemos "repúdio".
CONCLUSÃO
Tudo o que tivemos a oportunidade de
examinar, através deste post, não pode e nem teve a pretensão de defender a
prática do divórcio. Biblicamente falando, todos sabemos que o matrimônio foi
planejado para durar a vida toda.
Portanto o divórcio é um privilégio,
no sentido de servir como um corretivo apenas para situações intoleráveis.
Mesmo assim, não deixa de ser uma
tragédia: sentimento de culpa, perda da autoestima, um agudo senso de ter
falhado, solidão, rejeição, críticas dos familiares e do
Irmãos em Cristo, problemas na
educação dos filhos e uma série de outras graves consequências são os
resultados concretos que afligem os divorciados.
No entanto, a graça de Cristo é
abundante para eles também. Jesus sempre se identificou com os que sofrem e com
os que, reconhecendo o seu pecado, confessam-no e o deixam. A igreja foi
planejada para ser uma comunidade terapêutica, que cura as feridas; não que as
fazem doer mais.
Portanto, nosso desejo sincero é que
deixemos de serem juízes, pois não foi para isso que Cristo nos chamou. E que
tenhamos mais amor, mais compreensão e mais empatia por esses nossos queridos
irmãos divorciados. Por eles também Jesus derramou seu precioso sangue
purificador...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor
em Ênfase e Divindades Dr. Edson Cavalcante
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