ESTUDANDO
O LIVRO DO PROFETA NAUM...
No século VIII a.C. o
profeta Jonas foi à cidade de Nínive para proclamar um oráculo de julgamento
contra ela. Os ninivitas se arrependeram e Deus os poupou. Mas um século
depois, Naum também declarou o julgamento de Deus sobre a cidade perversa de
Nínive. Desta vez não houve jejum e pano de saco, e Nínive não foi poupada. A
cidade foi destruída quase um século depois, como predissera Naum.
AUTOR
Naum significa
“consolo”, e está relacionado com o nome Neemias, que significa “o Senhor
consola”. O nome Naum, é seguido da designação “o elcosita”, numa provável
referencia ao lugar onde ele nasceu ou de onde profetizou. Tudo que se sabe
sobre ele é que vivia em Judá, provavelmente em Elcose, cuja localização não
pode ser determinada com certeza, e também foi contemporâneo de Jeremias.
Segundo o historiador Jerônimo, Elcós ou
Elcose, é uma aldeia da Galiléia, que provavelmente é Cafarnaum, que significa
“cidade de Naum”.
Seu livro é considerado uma obra-prima da
literatura hebraica. Seu estilo é claro e simples, apesar de significativo e
enérgico.
DATA E OCASIÃO
A atividade profética
de Naum pode ser datada entre a conquista da cidade de Tebas pelo rei
Assurbanipal, da Assíria em 663 a.C., a qual Naum se refere como um
acontecimento passado (3.8), e a queda de Nínive em 612, que Naum previu
profeticamente. Nesse caso o profeta estaria situado no reinado de Josias,
sendo da época de Sofonias e de Jeremias, quando este ainda era jovem.
ORGANIZAÇÃO
O livro começa pelo
salmo descritivo que pretende colocar a visão na perspectiva adequada. Alguns
pesquisadores concluíram que o salmo era um acróstico parcialmente perdido na
transmissão ou adaptado por Naum. A ideia de que Naum teria adaptado um salmo
bem conhecido pela introdução não é problema e pode até ser considerada
provável. Se o salmo era acróstico é questão especulativa e não contribui para
a interpretação. A ênfase do salmo nos atributos de Deus e sua autoridade sobre
o cosmo afirmam sua tendência e capacidade de julgar Nínive.
A segunda parte do livro compreende discursos
alternados sobre Nínive e Judá. Isso deixa claro que, embora a mensagem
parecesse ser dirigida a Nínive, na verdade ela era dirigida a Judá. As
promessas anunciadas a Judá eram de que ela não estaria mais sob o jugo da
Assíria (1.12-13) e que teria paz e liberdade para celebrar suas festas (1.15).
Essa última se cumpriu quando o rei Josias restituiu a celebração da Páscoa, em
622 a.C., em associação com sua reforma (2Cr 35).
A parte final descreve o cerco e a pilhagem de
Nínive; o trecho de 2.3-12 é uma narrativa na terceira pessoa e o de 2.13 –
3.19 está na segunda pessoa. A canção fúnebre de 3.1 sugere os motivos da ação
de Deus contra eles, embora não haja acusação formal, o que não era necessário,
pois todo o público sabia que Nínive estava sendo tratada tal qual fizera com
os outros.
TEMA PRINCIPAL
O tema principal da
obra é avisar quanto ao juízo que Deus traria sobre a grande cidade de Nínive,
por causa do pecado em forma de opressão aos mais fracos, extrema crueldade,
idolatria e malignidade geral desse povo. De acordo com o apóstolo Paulo em
Romanos 11.22, Deus é amor, paciência, misericórdia e também justiça e
severidade. Segundo o profeta Naum, o Senhor não é somente bondoso, mas
igualmente é aquele que não deixa impune o culpado (1.3). Contudo a justiça e o
Reino de Deus finalmente triunfarão. Os reinos edificados tendo como base a
maldade e a tirania, mais cedo ou mais tarde ruirão e serão absolutamente destruídos,
como o poderoso Império Assírio.
A Assíria tem lugar de honra como maior vilã
do Antigo Testamento. Mesmo que os babilônios tenham sido responsáveis pela
destruição de Jerusalém e do templo, eles não se comparam aos assírios em
termos de brutalidade. A política militar e as práticas desumanas dos assírios
provocaram terror no Antigo Oriente Médio por mais de dois séculos. Os assírios
usaram uma propaganda bem desenvolvida para convencer as nações próximas, que
eles eram invencíveis. O medo que geravam é atestado em todo o Oriente Médio e
auxiliou sua expansão. A insubmissão tinha consequências e eles apreciavam
fazer dos rebeldes exemplos públicos.
A rendição desprezível era mais fácil.
Inimigos e prisioneiros eram sujeitos à tortura em público que incluía ser
esfolado, queimado vivo, amputado e várias outras atrocidades.
Além de seus feitos militares, Nínive foi
condenada por suas práticas comerciais impiedosas e por seu materialismo
insaciável (3.16).
Naum foi o porta-voz da intenção divina da
responsabilizar a Assíria por sua brutalidade desenfreada. Assim ele vindicou a
justiça de Deus e proclamou sua soberania. Nenhum poder terreno que tenha
desafiado a lei de Deus poderia escapar do seu julgamento.
NÍNIVE
Situada à margem leste
do rio Tigre, ficava a 960 quilômetros do golfo Pérsico e apenas 400
quilômetros da Babilônia. Foi uma das mais importantes cidades da Assíria
durante grande parte da sua história. No reinado de Senaqueribe (705-681 a.C.),
tornou-se capital da Assíria. Escavações em seus palácios trouxeram a tona
relevos de pedra que retratam a invasão e saque de Judá em 701. A biblioteca do
último grande rei assírio, Assurbanipal (668-627 a.C.) oferece aos eruditos
exemplares de muitas obras científicas e da literatura da antiga Mesopotâmia.
A grande cidade fortificara-se de modo que
nada pudesse prejudicá-la; suas muralhas, com mais de 30 metros de altura, numa
circunferência de 130 quilômetros, eram adornadas por centenas de torres. Um
canal de 50 metros de largura por 30 metros de profundidade a circulava.
Nínive era uma metrópole ímpia, imperialista e
desonesta, com desejo arrogante e inescrupuloso pelo poder e pela dominação,
que se manifestava num ímpeto desejo por guerras (3.1-4).
CONTEXTO DA ÉPOCA
Embora o Império
Assírio só tenha se expirado na última década do século VII, seu ponto de
ruptura se deu em meados desse século. Na época as rebeliões no império
começaram a cobrar seu preço e, até 640 e 630 a.C. o controle assírio começou a
entrar em descompasso, ruindo depois com a desintegração do império. Poucos
anos após a morte de Assurbanipal (627), os babilônios haviam conquistado a
independência; nas duas décadas seguintes eles junto com os medos, destruíram o
poderoso Império Assírio. O centro da derrota e fim do império foi a queda de
Nínive em 612 a.C.; e isso conforme a profecia de Naum.
Nínive foi transformada
em joia do Império Assírio por Senaqueribe (704-681 a.C.). Ele quase triplicou
o tamanho da cidade e a tornou sua capital, construindo um palácio magnífico e
embelezando a cidade com parques, um jardim botânico e um zoológico. Seu
esplendor só foi ultrapassado no mundo antigo pela Babilônia de Nabucodonosor.
Contudo, apesar de todo o esplendor, Nínive representava a perversidade brutal
dos assírios a quem o Senhor estava decidido a castigar. Esse castigo foi
profetizado por Isaías: “O SENHOR dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei,
assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a Assíria na
minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte
deles e a sua carga se desvie dos seus ombros” (Is 14.24-25).
COMPOSIÇÃO DO LIVRO
Naum, é um livro
repleto de contrastes, descreve o poderoso imperialismo de uma nação despótica
pagã e declara o triunfo final e certo da justiça e da soberania de Deus.
A parte mais
controvertida do livro de Naum é o salmo encontrado em 1.2-8. Não é comum
material profético apresentar um salmo introdutório, por isso existe
questionamento sobre a existência desse salmo no original.
Existe a teoria de que
o salmo foi acrescentado posteriormente. No entanto não há prova alguma que
impeça Naum de iniciar o oráculo profético com esse salmo.
Discute-se nos meios
acadêmicos, que Naum tem muitos textos paralelos com Isaías. Nota-se em especial
a expressão encontrada nos dois livros: “Vejam sobre os montes os pés dos que
anunciam boas notícias e proclama a paz” (Na 1.15 e Is 52.7). Isso apenas
demonstra que Naum seguia a tradição dos grandes profetas clássicos que lhe
precederam.
Este livro, frequentemente
esquecido e desprezado, nos fornece nos fornece uma chave importante para
compreensão da história passada, presente e futura. Os acontecimentos não se
sucedem como mero acaso, mas cada detalhe da história é determinada pela
vontade, propósito e poder de Deus. A rejeição de Deus e de sua lei levam não
apenas as consequências do caos na sociedade e na natureza, mas também
inevitavelmente provoca seu desagrado pessoal, resultando na justa retribuição.
O motivo imediato dessa
profecia foi a pressão da justiça divina. Uma poderosa nação com um exército
poderoso e grandes riquezas econômicas, a Assíria havia dominado os destinos
das nações vizinhas, incluindo Judá. Cobrando pesados tributos e infligindo
pesada escravidão, ela transformara Judá num estado vassalo. Para tentar se
proteger contra o poderio assírio, Judá fez aliança com outras nações, deixando
de confiar na promessa de Deus de sustentar e proteger seu povo.
A paciência de Deus
nunca deve ser erroneamente interpretada como fraqueza. O pecado coletivo ou
individual não ficará impune. Deus definitivamente decreta todos os eventos da
história. Naum anunciou a destruição iminente de Nínive como o justo castigo de
Deus e convidou seu povo, os judeus, a uma alegre celebração desse acontecimento
antes mesmo que ocorresse.
ESTILO LITERÁRIO
O conteúdo é
principalmente judicial (oráculos de juízo), com referências e vocabulário
condizentes, além de sensações, visões e sons intensos. A linguagem é poética,
com o emprego frequente de metáforas e símiles, retratos verbais de forte
impacto, repetições e muitas frases curtas. Perguntas de retórica pontuam o
fluxo do pensamento, que ressalta de modo marcante e indignação moral por causa
da injustiça.
ESBOÇO DE NAUM
I. Título
II. O veredicto de Deus
1.1-15
O zelo de Deus 1.2-6
A bondade de Deus 1.7
O julgamento de Nínive
1.8-14
A alegria de Judá 1.15
A vingança de Deus
2.1-13
A destruição de Nínive
2.1-12
A declaração do Senhor
2.13
IV. A vitória de Deus
3.1-19
Os pecados de Nínive
3.1-4
O cerco de Nínive
3.5-18
A celebração sobre
Nínive 3.19...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ênfase e divindades Dr.Edson Cavalcante
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