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sexta-feira, 3 de maio de 2019

CURANDO AS FERIDAS DA ALMA


                                           CURANDO AS FERIDAS DA ALMA
“José teve dois filhos que nasceram antes dos anos de fome. Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om, era a mãe. José deu ao primeiro o nome de Manassés, dizendo: Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e a casa dos meus pais. Ao segundo filho deu o nome de Efraim, dizendo: Deus me fez prosperar na terra da minha tristeza.” (Gênesis 41.50-52)
José foi um personagem bíblico que sempre me impressionou. Porém, relendo sua história, uma nova faceta desse personagem foi aberta aos meus olhos. Descobri um José tão semelhante a cada um de nós, com angústias, pressões, dores e abundantes lágrimas. Um José, fruto de uma família emocionalmente doente, cheio de reações com as quais nos identificamos no nosso dia a dia. Através das lágrimas de José, e em seus momentos mais dolorosos, somos levados a levantar a cortina para mostrar como as feridas da alma que nascem em casa não são escondidas pelo tempo e, quando começam a aparecer, trazem consequências absurdas.
A verdade é que as marcas deixadas pelo passado devem ser tratadas e devidamente curadas. Os dramas e conflitos de José permitem uma identificação com os conflitos de cada um de nós, e sua cura torna-se palavra de esperança para cada coração ferido. José é um exemplo claro de que na Bíblia as pessoas usadas por Deus eram passíveis de falhas, problemas e dificuldades. O coração de José era o próprio retrato do seu fracasso familiar. Porém, é impressionante a maneira tão especial como Deus tratou da ferida da alma de José.
José era um homem bem-sucedido em tudo o que fazia, era um homem temente a Deus e era um homem cheio do Espírito Santo. Mas, então, quais são os sinais de que a alma de José estava completamente ferida?
1º Sinal de uma alma ferida – O ABORTO da FAMÍLIA no CORAÇÃO
“José deu ao primeiro o nome de Manassés, dizendo: Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e a casa dos meus pais.” (Gênesis 41.51)
O nome Manassés quer dizer “aquele que faz esquecer”. Ele pega o seu garoto no colo, ele olha para o seu filho e diz: esse menino vai se chamar o desejo da minha alma! Eu quero me esquecer da minha história. Esse filho vai se chamar “esquecimento”. Então, ele espiritualiza o seu problema, ele faz essa confusão, ele coloca Deus na história, e diz: “porque Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai”. José estava ferido, mas não se dava conta disso. Para muitos, ele era um homem ideal, admirado por todos. Entretanto, o que ninguém sabia era que seu passado era triste e doloroso. Tudo isso estava vivo e, ao mesmo tempo, enterrado dentro de sua alma. Ele havia abortado sua família do coração.
2º Sinal de uma alma ferida – O uso de MÁSCARAS
“José reconheceu os seus irmãos logo que os viu, mas agiu como se não os conhecesse…” (Gênesis 42.7a)
Toda alma ferida não se deixa revelar. É uma alma muito bem maquiada. É uma alma muito bem vestida. É uma alma muito bem mascarada. E isso é sinal de uma alma ferida. Uma alma ferida, que não se permite tratar, é aquela que fica se escondendo atrás de cargos, atrás de ministérios, atrás de dons espirituais, atrás de revelações. Muitas vezes alguém que tem uma espiritualidade excessiva está tão preocupado em revelar os mistérios de Deus para os outros quando na verdade a sua própria vida deveria ser revelada. Está tão preocupado em revelar aos outros para que ele não se revele. Precisamos revelar quem somos de verdade!
3º Sinal de uma alma ferida – A Reação AGRESSIVA
“… e lhes falou asperamente: de onde vocês vêm? Responderam eles: da terra de Canaã, para comprar comida.” (Gênesis 42.7b)
José não via seus irmãos há muitos anos, entretanto, sua reação diante deles foi agressiva. Não vemos lágrimas, nem dor, nem saudade, mas um coração cheio de amargura e desejo de vingança. Ao contrário de emoção, saudade e choro, o que subiu ao coração de José quando viu seus irmãos foi amargura e raiva. José havia guardado dentro de si, por todos aqueles anos, tudo que seus irmãos lhe haviam feito. Como você reage quando se encontra com alguém que o feriu? Como é a sua reação diante de pessoas que fizeram mal a você? Você sempre reage na defensiva? A sua resposta revelará se a sua alma está ferida ou não.
4º Sinal de uma alma ferida – A vida PRESA ao PASSADO
“Lembrando-se dos sonhos que havia tido a respeito deles, José falou: vocês são espiões! Vieram ver os pontos mais desguarnecidos da nossa terra.” (Gênesis 42.9)
José lembrou-se do seu passado. Seu passado estava diante dele como um filme. Sua vida ainda estava presa, devidamente presa ao seu passado. Passado não resolvido é presente que incomoda. Quando seu passado não está resolvido, ele não é mais passado, é presente que perturba. Passado não resolvido é presente que comparece no seu relacionamento, no seu casamento, na sua relação com seus filhos, comparece na sua relação com Deus.
5º Sinal de uma alma ferida – A DESCONFIANÇA das Pessoas
“Se forem homens honestos como dizem, um de vocês ficará preso aqui, e os outros voltarão para levar alimento e matar a fome de suas famílias. Mas terão de trazer seu irmão caçula à minha presença, para confirmar o que me disseram. Assim, nenhum de vocês morrerá.” (Gênesis 42.19-20)
Assim que José disse que seus irmãos não passavam de espiões, imediatamente, eles se defenderam, alegando serem homens honestos. Porém, José não demonstrou confiança neles. Este é mais um sintoma de uma alma ferida: não conseguir confiar nas pessoas. Todas às vezes que nós somos machucados por pessoas, nós desconfiamos de pessoas. Nossa tendência é criar uma série de defesas emocionais, evitando confiar nas pessoas que nos feriram.
6º Sinal de uma alma ferida – Um FALSO ARREPENDIMENTO
“Nisso José retirou-se e começou a chorar, mas logo depois voltou e conversou de novo com eles…” (Gênesis 42.24a)
Em meio ao tumulto de seus pensamentos e sentimentos em relação aos seus irmãos, a Bíblia diz que José se retirou e chorou. Infelizmente, porém, esse choro de José não foi um choro de cura. Esse choro indica muito mais a sua reação em relação aos problemas e dificuldades vividas. Foi um choro que revelou apenas um falso arrependimento.
Por vezes, pensamos que algumas coisas são capazes de curar as feridas da nossa alma. Temos a tendência de achar que sabemos o que pode curar o nosso passado de dor e sofrimento. O que não pode curar o passado?
 O TEMPO não apaga as dores
A esta altura da sua história, José estava distante da sua família havia 22 anos, e agora, com 39 anos, não se dava conta dos reflexos de seus traumas, do passado não resolvido em sua vida. O tempo não pode curar o nosso passado, nem resolver questões ainda não trabalhadas.
 A DISTÂNCIA não cura as dores
José estava no Egito; sua família, em Canaã. Embora estivessem em países diferentes e em localidades distantes, isso não resolveu as questões pendentes entre eles. A cura não vem pela distância, mas pelo enfrentamento do problema, ainda que seja doloroso demais.
 Ser CHEIO DO ESPÍRITO SANTO não cura as dores
José era um homem cheio de Deus. Ainda bem jovem Deus compartilhava com ele sonhos proféticos. Depois receber o dom de interpretar sonhos e o próprio Faraó declarou a seu respeito:
“… Será que vamos achar alguém como este homem, em quem está o espírito divino.” (Gênesis 41.38)
O indivíduo é cheio do Espírito Santo, flui nos dons, nos carismas, mas isso não quer dizer que a sua alma está em ordem. José era cheio do Espírito Santo, mas matou a sua família no coração.
 O ESQUECIMENTO não cura as dores
José confundiu esquecimento com a cura da alma. O seu esquecimento lhe dava a impressão de que tudo estava resolvido, quando na realidade não estava. Talvez essa seja a sua realidade: o que eu mais quero é ser curado, mas o que menos quero é tocar no assunto.
O que foi necessário José fazer para trazer cura às feridas da sua alma? Os capítulos 43 e 44 de Gênesis são importantes para entendermos as etapas da cura das feridas da alma de José. Seus irmãos trazem Benjamim, e isso mexeu profundamente com o coração de José. Ele mandou preparar uma refeição e foi comer com seus irmãos. Assim que acabaram de comer e se preparavam para partir, José armou uma cilada para seus irmãos. Como vocês já sabem, a taça de José foi encontrada no saco de mantimento de Benjamim. E Judá já havia dito o que deveria acontecer com aquele com quem fosse achada a taça de José:
“Se algum dos seus servos for encontrado com ela, morrerá; e nós, os demais, seremos escravos do meu senhor.” (Gênesis 44.9)
Todos ficaram desesperados. O que iriam dizer ao pai? Como voltar para Canaã e dizer-lhe que o seu segundo filho com Raquel agora também estava morto? A partir de agora, o relato bíblico revela-nos uma das intercessões mais comoventes e brilhantes de que temos notícia: a intercessão de Judá pelo seu irmão Benjamim. A intercessão de Judá é terapêutica. Ela é um excelente modelo de como o Espírito Santo pode sondar nossas dores e tratar dos nossos traumas. Ela foi um bisturi de Deus para atingir a ferida de José.
Judá vai contar a história da tragédia do irmão. Ele vai dizer: nós tínhamos um irmão que não está mais vivo. Judá vai falar da tristeza do pai e Judá vai falar da possibilidade de um novo sofrimento na vida do pai por causa de Benjamim. Quando Judá encerra sua intercessão, começa o processo da cura das feridas a alma doente de José. Vamos aprender com José?
Para curar as feridas da alma…
1. ABRA o coração e FALE toda a VERDADE
“A essa altura, José já não podia mais conter-se diante de todos os que ali estavam, e gritou: façam sair a todos! Assim, ninguém mais estava presente quando José se revelou a seus irmãos.” (Gênesis 45.1)
Neste ponto José decidiu abrir o coração e contar toda a verdade. Chega de dissimulação. O filho ferido começou a se abrir aos que o tinham vendido para o Egito. José toma a decisão de ser curado. Ele precisou tirar a máscara de governador. Todo processo de cura e restauração da alma se dá quando decidimos abrir o coração e falar toda verdade para alguém. Enquanto estivermos fechados a isso, pouca coisa poderá ser feita para a nossa cura. A ferida que existe em nosso caráter precisa ser tocada e curada.
Para curar as feridas da alma…
2. EXPRESSE seus SENTIMENTOS sem reservas
“E ele se pôs a chorar tão alto que os egípcios o ouviram, e a notícia chegou ao palácio do Faraó.” (Gênesis 45.2)
Um dos grandes entraves na cura das feridas da alma é esconder a nossa dor e contar a nossa história de vida apenas fazendo uso da nossa razão. Isolamos o coração, ocultamos os sentimentos doloridos, e assim damos um relatório racionalizado de nossos traumas. José permitiu que os seus sentimentos mais profundos viessem à tona. Ele chorou toda a dor que um dia não pôde ou não tenha conseguido expressar. O choro que resolve o problema da nossa alma doente é aquele que é ouvido por outras pessoas, e não aquele que é feito em secreto no nosso quarto. Jesus era o Filho de Deus mas, quando perdeu seu amigo Lázaro, ele chorou. Como Filho de Deus, teve fé e poder para ressuscitar o morto; mas, como filho do homem, chorou a perda do amigo amado, pois tinha emoções, como todos nós temos.
Para curar as feridas da alma…
3. DIGA o NOME da sua DOR
“Disse José aos seus irmãos: cheguem mais perto. Quando eles se aproximaram, disse-lhes: eu sou José, seu irmão, aquele que vocês venderam ao Egito.” (Gênesis 45.4)
José, após expressar suas emoções em forma de choro diante dos irmãos, teve uma outra atitude: ele deu nome à sua dor. Ele disse: “eu sou aquele que vocês venderam ao Egito”. É preciso compreender que os nossos sentimentos feridos têm nomes específicos e por vezes relutamos em nomeá-los. Sem essa compreensão, não haverá cura. Qual é o nó que ainda está presente em sua alma? Por favor, não saia daqui sem dar nome à sua dor: eu fui vendido para o Egito; eu fui abusado sexualmente; minha mãe tentou abortar-me; meu marido me trocou por outra mulher; perdi o meu filho e nunca aceitei isso; guardo mágoas do meu pastor; estou revoltado com Deus; ainda não superei a dor do meu divórcio, etc. Qual é o nome da sua dor? Você vai precisar dizer nome por nome para que sua alma ferida encontre a cura.
Para curar as feridas da alma…
4. Tome a INICIATIVA da RECONCILIAÇÃO
“Então ele se lançou chorando sobre o seu irmão Benjamim e o abraçou, e Benjamim também o abraçou, chorando. Em seguida beijou todos os seus irmãos e chorou com eles…” (Gênesis 45.14-15)
José tomou a iniciativa da reconciliação. Ele abraçou, beijou e chorou com todos os seus irmãos. Seu coração estava livre de toda aquela amargura inicial e dos sentimentos de vingança. Porém, isso só foi possível depois que José abriu o seu coração completamente e falou toda a verdade, expressou sem reservas os seus sentimentos e disse o nome da sua dor. Não podemos pular as etapas deste processo. Como é importante o pai abraçar o filho e pedir-lhe perdão por suas faltas. Como é importante o marido abraçar a esposa e sinceramente pedir-lhe perdão por alguma palavra mais áspera ou por coisas piores. Como é importante os irmãos, que já não se falavam, consertarem-se diante de Deus e dos homens. É tremendo o que Deus pode fazer através de um abraço sincero e quebrantado. Ainda que você seja o ferido, tome a iniciativa da reconciliação.
Conclusão:
Quais são as provas de que a alma de José foi curada? Assim que José decidiu abrir o coração e permitir que Deus agisse, houve mudanças drásticas em seu comportamento. Quais são os sinais da cura da alma de José?
 REAPROXIMAÇÃO
“Disse José aos seus irmãos: cheguem mais perto…” (Gênesis 45.4)
O primeiro sinal de cura que percebemos na vida de José é este: ele começou a reaproximar-se dos seus irmãos. As barreiras começaram a ruir. Ele não teria feito isso se não estivesse aberto ao concerto e sem muitos dos sentimentos hostis antes travavam a sua alma.
 VER o OFENSOR de maneira DIFERENTE
“Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá…” (Gênesis 45.5a)
Que fato interessante! O mesmo José, que tinha acusado seus irmãos de espiões, expressando-se de um modo tão amargo e cheio de ira, agora diz a eles para não se afligirem, para não ficarem preocupados, nem se irritarem consigo mesmos. Algumas pessoas, após desabafarem suas profundas mágoas e serem direcionadas ao perdão, em pouco tempo têm uma nova visão e novos sentimentos em relação àqueles que os feriram. Enxergar o ofensor com outros olhos é um dos indicativos da cura.
 ENXERGAR o PROPÓSITO de Deus
“Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou adiante de vocês.” (Gênesis 45.5)
José começou a enxergar o seu passado e a sua história sob uma perspectiva não mais da carne, mas de Deus. O olhar não era mais de um filho ferido, mas de um homem curado. No Reino de Deus nada se perde. O que no passado foi instrumento de dor e vergonha, agora no presente pode ser reciclado pelo Espírito Santo, com o fim de ajudar muitas outras pessoas.
 A RESTAURAÇÃO da FAMÍLIA
“Voltem depressa a meu pai e digam-lhe: assim diz o seu filho José: Deus me fez senhor de todo o Egito. Vem para cá, não te demores.” (Gênesis 45.9)
O mesmo José que havia ficado treze anos longe da sua família e, ainda assim não queria rever os seus irmãos, agora é um outro homem. Toda a sua morosidade em relação à sua família transformou-se em correria. José ainda pediu aos seus irmãos que dissessem ao seu pai:
“Tu viverás na região de Gósen e ficarás perto de mim – tu, os teus filhos, os teus netos, as tuas ovelhas, os teus bois e todos os teus bens.” (Gênesis 45.10)
José desejou em seu coração reunir toda a família, como antes. O que Deus fez na família de José é o que podemos chamar de conserto e restauração. Todos choraram, todos abraçaram-se, todos perdoaram-se. É isto que Deus também quer fazer na sua vida hoje. Sua alma ferida gera uma família ferida. Uma família ferida gera uma igreja doente. É um ciclo que precisa ser definitivamente quebrado. E Deus o trouxe aqui porque Ele é o maior interessado na cura das feridas da sua alma.
Para curar as feridas da alma…
1. ABRA o coração e FALE toda a VERDADE
2. EXPRESSE seus SENTIMENTOS sem reservas

3. DIGA o NOME da sua DOR
4. Tome a INICIATIVA da RECONCILIAÇÃO
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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