APÓSTOLO PEDRO DE PESCADOR A
ESCRITOR...
INTRODUÇÃO
Numa sequência de estudos sobre
personagens da Bíblia Sagrada, objetivando o aperfeiçoamento do caráter
cristão, achei imprescindível estudar o apóstolo Pedro, um dos
grandes vultos do Novo Testamento. Homem inicialmente rude e de temperamento
impulsivo, Pedro seria alistado por Jesus, passaria por profunda
transformação e se tornaria figura proeminente na história da igreja.
DADOS PESSOAIS DO APÓSTOLO
●Nome original: Simão. Esse era o
nome de registro de Pedro (Mt 10.2), que parece ser uma forma grega do nome
hebraico Simeão (ouvindo), nome muito comum na época (Mc 6.3; 14.3; Lc 7.40; At
1.13, etc.). Mais tarde, Jesus mudaria seu nome para Pedro (do gr. Petros), ou
Cefas (do aram. Kepha), cujo significado é pedra, rocha (Jo 1.42, 1 Co 1.12). O
nome Pedro é dado, na Bíblia, exclusivamente ao personagem que no momento
estudamos, e não era conhecido como nome pessoal até aquele momento.
●Filiação: Pedro era filho de Jonas,
um pescador que vivia na região da Galiléia (Jo 1.42; 21.15-17; Mt 16.16).
●Profissão: Assim como seu pai, Pedro
era pescador, profissão que geralmente exercia na companhia de seu irmão,
André, e de outros dois irmãos, Tiago e João (Mt 4.18).
●Estado civil: Pedro era casado (Mc
1.30), e, do que podemos inferir de alguns textos bíblicos, sua mulher o
acompanhava sempre no seu ministério itinerante (1 Co 9.5).
●Terra natal: Pedro era natural de
Betsaida - uma aldeia nas praias nortistas da Galiléia, perto do Jordão, de
fortes influências gregas. O nome é aramaico e tem o sentido de casa de pesca
ou então casa de pescadores. Mas Pedro tinha também residência em Cafarnaum, na
Galiléia (Mc 1.21 e segs.).Ambos os lugares se situavam à margem do lago, onde
ele exercia a função de pescador.
Obs. A Galiléia fica na parte norte
da palestina. Na época dos Macabeus, a influência dos gentios sobre os judeus
se tornou tão intensa naquela região, que estes foram empurrados para o sul,
onde permaneceram por meio século. Sendo assim, a Galiléia teve de ser
colonizada, e esse fato, juntamente com a diversidade de sua população,
contribuía para o desprezo em que os galileus eram tidos (Jo 7.52). É
interessante o fato de Isaías falar “a Galiléia dos Gentios” (Is 9.2).
Habitando aquela região, Simão tinha contato permanente com os gentios.
●Escolaridade: Pedro nunca frequentou
alguma academia rabínica, não teve educação especial em teologia e retórica,
nem educação formal na lei judaica, por isso era considerado homem sem letras
ou indouto (At 4.13).
Obs. Não estamos descartando a
erudição pessoal de Simão, pois temos ciência de que ele aprendeu durante três
anos com Jesus e parece ter sido alcançado pelo movimento de João Batista (At
1.22). Naquela esfera de ansiedade pela chegada do Messias, Pedro, como um
genuíno judeu que era, procura estar inteirado acerca das coisa espirituais,
mormente acerca da chegada do Reino de Deus.
●Posição socioeconômica: os filhos de
Jonas, André e Pedro, trabalhavam na pescaria com o pai, embora tudo leva a crer
que Simão tinha o seu barco próprio. A pesca era um dos negócios rentáveis
naqueles dias; possuir barcos e redes para a indústria pesqueira não era para
pessoas pobres e, portanto, estes homens eram considerados classe média alta;
possuidores de suas casas próprias e viviam bem, para os padrões da época. A
indústria da pesca era uma das mais importantes naqueles dias…” (Reflexões
filosóficas de eternidade a eternidade (São Paulo:s.e., 2001), v.6, p.22-3).
PEDRO, PESCADOR DE HOMENS (Lc 5.8-10)
Já vimos no currículo acima que Simão
era pescador. Logo, é pertinente o fato de que, pela primeira vez que ele
aparece no cenário bíblico, encontramo-lo lançando a rede, juntamente com seu
irmão, André, e mais dois companheiros, os irmãos Tiago e João, no mar da Galiléia
(Mt 4.18).
Aquele dia seria um dia como qualquer
outro, não fosse o seu encontro com um homem de Nazaré, chamado Jesus, o qual
mudaria a sua vida para sempre, e o tornaria figura proeminente na história da
igreja de Cristo. Simão deixaria de pescar peixes para pescar homens. A Bíblia
fala de três encontros entre Simão e Jesus, sendo o último deles definitivo.
Do que podemos depreender dos
evangelhos de João, é provável que Simão tenha sido apresentado a Jesus ainda
antes do início oficial do ministério deste. O evangelista nos conta que Pedro
foi levado a Jesus por intermédio de seu irmão, André, o qual era discípulo de
João Batista e seguiu a Jesus quando João disse: “Eis o cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo”. Tendo André, mais tarde, encontrado a Simão,
contou-lhe que havia achado o Messias, e então o conduziu a Jesus (Jo 1.35-42).
O evangelista Mateus nos conta sobre
um outro encontro: Simão e André estavam lançando a rede no mar, quando Jesus
aparece andando junto ao mar da Galiléia e, vendo-os, disse-lhes: ‘“Vinde após
mim e eu vos farei pescadores de homens’. Então eles, deixando logo as redes,
seguiram-no” (Mt 4.18-20). O relato de Mateus é endossado pelo evangelista
Marcos no evangelho que este escreveu (Mc 1.14). O fato de terem deixado tudo e
seguido a Jesus sem nenhum questionamento nos faz entender que já tinham sido
apresentados, conforme comentado no parágrafo anterior.
Do relato de Lucas, todavia,
inferimos que Simão e os demais que foram chamados voltaram á atividade da
pesca, e que houve um terceiro encontro – este, decisivo – de Jesus com eles.
Precisavam de uma evidência clara da ação de Deus no carpinteiro de Nazaré. E
aconteceu. Lucas registra que Simão e seus companheiros pescaram durante toda
uma noite e não pescaram nada. Por conseguinte, retornaram mais cedo à praia.
Chegados à praia, viram Jesus ensinando uma grande multidão. O Mestre, de
imediato, reconhece Simão e entra no barco dele. Em seguida, pede para que ele
afaste o barco um pouco da margem, e, assentando-se, continua a ensinar à
multidão. Simão ouve, maravilhado. Acabado o discurso, Jesus ordena que ele
volte ao alto mar e novamente lance as redes. Simão relutou em fazê-lo, pois
estava frustrado com os resultados da noite anterior. Mesmo assim cedeu e, sob
a palavra do Mestre, lançou a rede. O resultado foi uma multidão tão grande de
peixes que a rede se rompia, e o barco teria naufragado, caso não tivessem
pedido ajuda aos seus companheiros, Tiago e João. Pronto: era a evidência de
que Simão precisava. O espanto se apoderou dele, de sorte que se prostrou aos
pés de Jesus e confessou-se pecador. Simão estava confessando Jesus como
Senhor. É nessa conjuntura que acontece a chamada específica. Jesus diz-lhe:
“Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens”. Iniciar-se-ia uma
nova vida.
“- Já aqui vemos que Pedro precisou
de um sinal para compreender que deveria seguir a Cristo. Não fora suficiente o
encontro que tivera em Betânia além do Jordão, que lhe tivesse sido mudado o
nome. Pedro mostra-se aqui como um típico representante dos “crentes da
circuncisão”, pois, como bom judeu, movia-se através de sinais (I Co.1:22).
Diante do sinal, porém, rende-se ao Senhor Jesus, o que não foi algo fácil para
um homem como Pedro, que, ao longo da narrativa dos Evangelhos, revela ser um
homem impulsivo, violento e que, assim agindo, demonstrava uma certa simpatia
para com o partido dos zelotes, os radicais judeus que entendiam que a
libertação de Israel deveria se dar pela revolta ao domínio romano”.
Mais tarde, Pedro seria chamado para
fazer parte do círculo íntimo do Senhor, juntamente com Tiago e João. Esse trio
presenciaria os momentos mais gloriosos do ministério do Senhor - como no caso
da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), na cena da transfiguração (Mc
9.9), na agonia de Jesus no Getsêmani (Mc 14.32) -, além de que seriam chamados
por Paulo de “as colunas” entre os apóstolos (Gl 2.9).
Jesus muda o nome de Simão. Já vimos
que o nome do filho de Jonas anteriormente era Simão, abreviatura de Simeão, um
dos doze filhos de Jacó, cujo temperamento impulsivo foi reprovado e censurado
por seu pai (Gn 34.25-31; 49.5-7). Jesus, sabedor do temperamento de Simão e da
necessidade de transformação de seu caráter, mudou-lhe o nome para Pedro
(grego) ou Cefas (aramaico), o que fora o ponto de partida para uma profunda
renovação de seu caráter e temperamento.
Essa mudança de nome está carregada
de forte implicação teológica. Jesus não mudou o nome de Simão para Pedro,
apenas porque achava este mais bonito que aquele não senhores. A troca de nome
representou uma transformação que, paulatinamente, seria efetuada no seu ser
mais profundo, e culminaria naquilo que a Bíblia chama de regeneração. Para um
melhor entendimento do que estamos a afirmar, vejamos, ainda que
superficialmente, a importância da outorga de um nome na Bíblia Sagrada.
Para nós, dos tempos modernos, o
nome, quase inteiramente, não passa de um título pessoal, que serve para
identificar um indivíduo. Esse não era o caso da Bíblia, onde o conceito de
nome era ao mesmo tempo profundo e claramente concebido. Vamos a alguns
exemplos.
• Primeiramente vemos que muitos
nomes bíblicos estavam relacionados às circunstâncias do nascimento do
indivíduo (Gn 10.25; 19; 19.22; 25.30). Essas circunstâncias poderiam ser
proféticas (Gn 25.26).
• Outro motivo para a outorga de um
nome era a esperança ou profecia. Deus usava nomes para que agissem como provas
positivas sobre acontecimentos vindouros (Os 1.4; Is 8.14; cf 8.18). Quando
eram os pais que nomeavam, eles podiam apenas expressar esperança, como, por
exemplo, fazia a triste Leia (Gn 29.32,33). Outros nomes eram orações
subentendidas (Gn 30.24). Nomes compostos com Yahweh e ’el devem ser
compreendidos como sendo orações (ex. Josué significa Jeová é salvação).
• Muito frequentemente, porém, a
doação de um nome tinha um significado mais profundo e mais pessoal: a outorga
positiva de um novo caráter e capacidade. No caso de homens nomearem a outros,
isso poderia ser apenas uma esperança piedosa (2 Rs 24.17). No caso de Deus
nomear alguém, tal nome era equivalente ou à regeneração, o que implicava numa
mudança profunda no caráter (Gn 17.5,15; 32.28), ou à condenação (Jr 20.3).
A mudança do nome de Simão parece
encaixar-se perfeitamente nesse último caso, pois tal fato acompanharia uma transformação
constante em seu caráter.
O CARÁTER DE PEDRO
Já aprendemos neste trimestre que o
caráter de um indivíduo é o conjunto de suas qualidades boas ou más, e que
determinam a sua conduta. A Bíblia salienta os traços principais do caráter de
Pedro, os quais iam se revelando em suas ações.
Pedro era um homem sincero. Desde os
primeiros instantes em que esteve com Jesus, Pedro mostrou-se uma pessoa
transparente e verdadeira, como no momento em que, maravilhado pelo milagre da
pesca maravilhosa, prostrou-se aos pés do Mestre e confessou-se pecador,
pedindo-lhe que se afastasse dele.
Pedro era dinâmico. Dinamismo é
qualidade daquele que é enérgico, ativo, bem disposto, que tem iniciativa. Foi
com essa disposição que Pedro decidiu sair do barco e ir ao encontro de Jesus
por sobre as águas, levantou-se contra os homens que intentavam prender seu
Mestre e cortou a orelha de um deles, e, no dia de pentecostes, teve a
iniciativa de sair do cenáculo e pregar o primeiro sermão, arrebatando quase
três mil almas.
Pedro era um homem volúvel. Uma
pessoa volúvel é alguém instável, que gira facilmente; numa linguagem bem
prosaica, alguém que, quando não é oito, é oitenta. No capítulo 16 do evangelho
de Mateus, vemos uma seqüência de fatos que mostra bem essa realidade. O homem
que ainda há pouco tinha dado lugar para Deus usá-lo, agora dava lugar para o
diabo (vv 16,17,22,23). O mesmo homem que arriscou a sua vida para salvar seu
Mestre, arremetendo-se contra seus algozes, e feito a promessa de que iria com
Ele até a morte, mais tarde, nega-O diante de uma criada (Jo 18.10, 17,25-27).
Ou, o mesmo que inicialmente não aceitava que Jesus lhe lavasse os pés, agora
diz ao Mestre: “Senhor, [lava] não só meus pés, mas também as mãos e a cabeça”
(qv Jo 13.6-9). Que extremos!
Pedro era impulsivo e impetuoso.
Impulsividade é qualidade de alguém que reage irrefletidamente sob as emoções
do momento. Pedro era guiado por uma forte impulsividade, conforme podemos ver
nos casos já citados, quando ele cortou a orelha de Malco, ou então, quando
prometeu que iria com Jesus até à morte, se preciso, sem nem sequer ter ideia
da grandeza da promessa que estava fazendo ou dizendo.
Jesus conhecia muito bem essas e
outras qualidades de Pedro, quando o chamou para o ministério. O mestre via
além das fraquezas daquele homem: visava as suas potencialidade. Para citar o
lugar comum, vale lembrar que Deus não chama capacitados, mas capacita os
chamados. A ousadia, impulsividade e dinamismo de Pedro seriam muito úteis
quando a serviço de Deus (At 1.13,15; 2.4). Antes disso, todavia, Pedro
passaria por uma experiência que foi decisiva para uma transformação profunda
no seu caráter.
GRANDE FRACASSO E RENOVAÇÃO
Pedro nega a Jesus. No capítulo 26 do
evangelho de Mateus está registrada a mais importante e mais amarga experiência
da vida de Pedro. Por três vezes ele negaria seu Mestre. Logo ele que havia
prometido ir com Jesus até à morte, se preciso (v 35). O acontecimento se dá no
pátio da casa do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e anciãos estão reunidos.
Jesus está preso. Todos buscam acusações contra ele. Depois de um
interrogatório breve, cospem-lhe o rosto e o esbofeteiam. Pedro observa. De
repente, uma criada se aproxima e lhe diz: “Tu estavas Com Jesus, o Galileu”.
Ele responde: “Não sei o que dizes”. Amedrontado, sai para o vestíbulo, quando
uma outra criada diz para os que ali se encontram: Este também estava com
Jesus, o nazareno”. “Eu juro que não conheço tal homem”, Pedro responde,
irrefletidamente. Ah! Mas o sotaque dele o denuncia. “Verdadeiramente tu és um
deles, pois a tua fala te denuncia”, acusam-no de novo. Pedro se indigna,
começa a praguejar e jurar; diz: “Não conheço esse homem”. O galo começa a
cantar. Imediatamente Pedro lembra o que Jesus havia dito, e qual não foi sua
dor quando, naquele mesmo momento, Cristo o olha de forma penetrante. Só lhe
resta chorar, chorar amargamente. Era a tristeza segundo Deus, que opera o
arrependimento para a salvação (2 Co 7.10). Ali Pedro é despido de todo
sentimento de orgulho, prepotência e superioridade que o caracterizou nos três
anos de discipulado. Sem dúvida alguma, o fato de fazer parte do círculo íntimo
de Jesus e as revelações que recebera de Deus fizeram-no pensar que era melhor
que os demais. Agora se sentia o pior de Todos. Começava a conversão de Pedro.
Procurado por Jesus. Os dias que se
seguiram à morte de Cristo foram sombrios para Pedro. Ele ainda podia ouvir o
cantar do galo e ver o olhar penetrante de Jesus. Os pensamentos que campeavam
sua cabeça eram de desilusão, frustração e pesar. Negar seu Mestre, não, aquilo
seria irreparável. De repente, as mulheres lhe trazem a notícia de que Jesus
havia ressuscitado e mandara um recado para ele: “Mas ide, dizei a seus
discípulos [de Jesus] E A PEDRO que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali
o vereis como ele disse” (Mc 16.7). Ali começava a restauração de Pedro. Mais
tarde, Jesus lhe aparece, ressurreto, em circunstâncias desconhecidas (Lc
24.34).
Foi no mar de Tiberíades que se deu o
último estágio da restauração. João conta que, mesmo depois de todas as
experiências que tivera com o Senhor, Pedro resolve voltar à pesca (cap 21).
Alguns dias se haviam passado desde que Jesus aparecera pela segunda vez aos
discípulos no Cenáculo – naquela ocasião, Ele lançou em rosto a incredulidade de
Tomé (Jo 20.27). Junto com Tomé, Natanael, Tiago e João, Pedro tem uma idéia
que revela mais uma vez a inconstância de seu caráter. Ele diz: “Vou Pescar”.
Naquela noite, nada apanharam. De manhã, Jesus aparece na praia, mas não é, a
princípio, reconhecido por eles. “Filhos, tendes alguma coisa que comer?”,
pergunta o “desconhecido”. “Não”, é a resposta que tem. “Lançai a rede à
direita do barco e achareis”, continuo. Obedeceram a ordem e uma multidão de
peixes emergiu na rede. Estava se repetindo o milagre da pesca maravilhosa.
Acredito que Jesus queria lembrar-lhes alguma coisa a: que em uma circunstância
bem parecida como aquela, ele fora chamado para abandonar a pescaria para ser
pescador de homens. Por que então estava voltando ao mar?
Foi João quem primeiro percebeu que
era Jesus e abriu os olhos de Pedro: “É o Senhor” (v7). Quando Simão Pedro
reconheceu Jesus, cingiu-se (estava nu) e lançou-se no mar. Na praia, depois de
jantarem, Jesus se dirige a Pedro com a seguinte Pergunta: “Simão, filho de Jonas,
amas-me mais do que a estes?” “Sim, Senhor; tu sabes que eu te amo”, respondeu
Simão. “Apascenta as minhas ovelhas”, continuou Jesus. Simão seria questionado
mais duas vezes com a mesma pergunta. Pela terceira vez, ele responde agora
entristecido, “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. “Apascenta as
minhas ovelhas”, Jesus lhe pede pela terceira vez. Pronto: Pedro estava
restaurado, convertido, transformado; pronto a ir até à morte por Jesus. Tanto
é que, logo em seguida, o Senhor vaticina sobre o tipo de morte que Pedro
teria, com que glorificaria a Deus (vv 18,19).
TOTALMENTE TRANSFORMADO
Pedro no Pentecostes. Jesus já havia
voltado para o céu. Antes, porém, ordenou que os discípulos não se ausentassem
de Jerusalém até que do alto fosse revestidos de poder (At 1.8). Cinquenta dias
depois da ressurreição de Jesus, acontece o cumprimento da promessa e os
discípulos são batizados com o Espírito Santo (At 2.1-5). Os sinais resultantes
do batismo chamam a atenção de judeus de todo o mundo que estão ali reunidos
para celebrarem a festa de Pentecostes e querem saber o que era aquilo. Pronto.
Pedro, cheio do Espírito Santo, levanta-se e prega o seu primeiro sermão com
tanta ousadia e destemor que quase três mil almas se converteram. Seu
temperamento destemido, impulsivo e ousado estava agora a serviço de Deus, sob
total controle do Espírito Santo. Imaginem só alguém que negara Jesus diante de
simples criados, agora o confessando diante de grandes autoridades.
Pedro após o Pentecostes. O
comentarista deste trimestre fala de dois elementos que marcaram o ministério
de Pedro: graça para resistir à perseguição e zelo pela integridade da igreja.
a) Resistindo à perseguição. O homem
inconstante que não conseguia velar sequer uma ora em oração com seu Mestre,
agora é um crente de constante oração. E estava indo orar, juntamente com João,
quando curaram um coxo à porta do templo (At 3.1-9). Naquela oportunidade,
Pedro pregou seu segundo sermão, resultando na conversão de quase cinco mil
almas (At 4.4). O tumulto chamou a atenção dos sacerdotes e dos capitães do
templo, os quais conduziram Pedro e João ao Sinédrio, o mesmo tribunal que
julgara Jesus. Pedro agora está convertido, está seguro e convicto, a ponto de
defender com toda a ousadia a causa do Mestre e regozijar-se por se haver digno
de sofrer pelo seu Senhor (At 5.42). Nem mesmo os grandes interpretes da lei
judaica conseguiram calar o homem, muito pelo contrário, ficaram impressionados
com a sabedoria co que Pedro falava, sabendo que este era homem indouto. Pressionado
para que parar-se de pregar, Pedro se saiu com esta pérola: “Porque não podemos
deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4.20).
b) Zelando pela integridade. A igreja
recém-formada crescia de forma impressionante. Grande era o entusiasmo entre
aqueles primeiros crentes. Eles vendiam suas propriedades e traziam aos pés dos
apóstolos. É nessa conjuntura que Pedro, como um líder na igreja, tem que lidar
com os ardis de Ananias e Safira, um casal que usou de falsidade para com a
comunidade dos santos. Eles venderam voluntariamente uma propriedade, a fim de
que o dinheiro fosse doado para a realização de obras sociais na igreja. Mas
não entregaram o valor combinado, guardaram uma parte, tentando assim enganar o
homem de Deus. A desonestidade do casal foi revelada a Pedro pelo Espírito
Santo. Não, a igreja não podia abrir aquela fissura logo de início. Pedro
precisava tomar uma posição. E agiu. Por uma questão de integridade – isso não
se negocia –, ministrou uma punição extrema – a morte - sobre Ananias e Safira
(At 5.1-10).
É importante notar o papel de
liderança desempenhado por Pedro naqueles dias. Foi ele que sugeriu que se
escolhesse um outro apóstolo para preencher o lugar de Judas, o traidor, e que
resultou na escolha de Matias. Foi ele quem respondeu aos judeus atônitos o que
significava os sinais no dia de Pentecostes, quem se insurgiu contra a
desonestidade de Ananias e Safira; mais tarde daria palavra decisiva sobre os
gentios, ordenando que não impusessem sobre eles o jugo dos ritos judaicos (At
15.7.-10).
CONCLUSÃO
Pedro foi um homem notável por sua
sinceridade e forte desejo de servir a Jesus em quaisquer circunstâncias. Com
sua história, aprendemos que Deus chama o homem, apesar dos seus defeitos, a
fim de projetar nele o seu caráter santo mediante a obra do Espírito Santo.
Pois ele conhece a estrutura de cada um de nós, sabe de nossas imperfeições e
nos entende. Há, porém, uma virtude que não pode faltar ao servo do Senhor:
sinceridade. Se formos sinceros e desejarmos realmente servi-lo com toda a
dedicação, a porta estará aberta para o Espírito Santo efetuar as
transformações necessárias em nosso caráter...
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e
Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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