ESTUDO SOBRE A VINHA QUE NABOTE
HERDOU DO PAI...
1Reis 21:1-5;15,16
Hoje veremos a respeito da
cobiça de Acabe. O mundo em que vivemos é orientado por um estilo de vida
materialista, hedonista (o prazer como o supremo bem da vida) e pragmatista
(toma por critério da verdade o valor prático), todavia, o Evangelho requer de cada
um de nós um estilo de vida rigorosamente contrário ao mundano.
A cobiça é um desejo forte,
constante e insaciável; ela pode levar o homem a pisar no seu próximo para
subir na vida, chegando a roubar e matar.
Existe o desejo legítimo e a
cobiça. O primeiro refere-se ao suprimento das necessidades e, em alguns casos,
um pouco mais, atingindo o nível do conforto; o segundo vai muito além, alcança
o excesso e avança rumo ao proibido. Mas onde está a exata fronteira entre uma
e outra coisa? É difícil dizer onde o desejo correto se transforma em cobiça,
assim como não podemos determinar com certeza a exata quantidade de comida que
alguém precisa consumir. Cada indivíduo é capaz de reconhecer que a sua
necessidade foi suprida e seu apetite saciado. Depois disso, o desejo torna-se
cobiça. Disse o sábio Salomão: “Se achaste mel, come somente o que te basta,
para que porventura não te fartes dele, e venhas a vomitar” (Pv 25:16). Deus
estabeleceu limites: Adão poderia comer do fruto de todas as árvores, exceto uma
(Gn 2:16,17). Quando desejamos o que Deus proibiu, está caracterizada a cobiça.
O décimo mandamento assevera: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não
cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu
boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” (Ex 20:17). Portanto,
o direito do outro é um dos nossos limites.
I. O OBJETO DA COBIÇA DE ACABE
1. O direito a propriedade no
Antigo Israel. De acordo com o livro de Levítico, a terra pertence ao Senhor
(Lv 25.23). Desde tempos bem antigos, os direitos de propriedade de terras têm
sido reconhecidos. Abraão negociou com Efrom, o hitita, uma sepultura para sua
esposa Sara, e, por fim, comprou um campo por certa importância declarada,
sendo a transação legalizada diante do povo da cidade (Gn 23.1-20). Durante uma
fome no Egito, José comprou para Faraó terras dos proprietários egípcios, em
troca de alimentos (Gn 47.20-26).
2. O objeto da cobiça do rei
Acabe: a herança de Nabote. Acabe possuía riqueza e todo tipo de bens materiais,
mas dirigiu seus olhos e sua cobiça à propriedade de subsistência de Nabote,
seu vizinho. Seu desejo incontido desencadeou uma série de pecados: abuso de
autoridade, acusação, falso testemunho, homicídio e roubo (1Rs 21). A proposta
que Acabe fez a Nabote parecia justa, generosa e irrecusável, pois oferecia em
troca uma outra vinha melhor, ou se desejasse, lhe daria em dinheiro o que ela
valia. Acontece que o valor da vinha para Nabote ia para além das questões
mercantilistas. Ele considerava aquela propriedade uma herança inegociável, e
cuja venda implicaria em transgressão ao mandamento do Senhor (cf Lv 25:13-28 e
Nm 36:7,9). Nabote procedeu corretamente; de acordo com o livro de Levitico, a
terra pertencia ao Senhor (Lv 25:23). Assim sendo, Nabote não poderia vender
aquilo que lhe fora dado como uma herança do Senhor. Diante da resposta e
posicionamento de Nabote, a reação de Acabe foi de desgosto e indignação, pois
o seu capricho não fora alcançado, o que desencadeou no rei uma crise emocional
(1Rs 21:4). Mas, Acabe queria aquela propriedade a qualquer custo; aquele
espaço de terra, era o seu objeto de maior desejo. Por ser rei, imaginava que
podia atropelar a lei de Deus e emplacar injustiça social. Para concretizar o
seu intento, esse rei fraco e sem personalidade arquitetou, em conluio com sua
impiedosa esposa Jezabel, uma das mais sórdidas tramas registradas nas páginas
Sagradas: a morte do inocente Nabote. Mas, o juízo de Deus foi severo contra a
casa de Acabe.
Atualmente, muitos líderes e
irmãos caprichosos, que não se contentam com aquilo que possuem, e que acham
que seus desejos precisam ser atendidos e satisfeitos por todos, estão
dominados pela cobiça. Tenhamos cuidado, pois a cobiça é abominação ao Senhor
(Dt 7:25).
II. AS CAUSAS DA COBIÇA DE ACABE
A principal causa da cobiça de
Acabe: o domínio incontrolado do “ter”, de “possuir”, aquilo que é do outro,
neste caso a vinha de Nabote. Segundo a narrativa bíblica a vinha de Nabote
estava localizada num lugar privilegiado, perto do palácio de campo de Acabe,
pois o outro palácio ficava em Samaria “E sucedeu depois destas coisas que,
Nabote, o jezreelita, tinha uma vinha em Jezreel junto ao palácio de Acabe, rei
de Samaria” (1Rs 21.1). Aparentemente, Acabe, levado por um capricho, desejava
transformá-la em um jardim.
Entendemos pelo texto sagrado
que aquela propriedade fora passada a Nabote por herança: “Porém Nabote disse a
Acabe: guarda-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais” (1Rs 21:3), o
que fortalecia a convicção de Nabote de que ele não deveria vendê-la nem
trocá-la por outra propriedade. É provável que Nabote tenha sido criado naquele
terreno, dedicando-se com seus pais ao cultivo de uvas. Se Nabote tivesse feita
essa venda ou trocada por outra vinha, ele teria transgredido não só uma
tradição, como também a sua consciência (cf Lv 25:23-28; Num 36:7ss). Acabe
reconhecia isso; ele era cônscio de que Nabote estava religiosamente obrigado a
conservar a posse de sua terra e que essa obrigação não poderia ser
contrariada. Entretanto, ele ainda assim queria essa área; ele estava
totalmente dominado pela cobiça, qual um viciado de drogas; somente a casa de
verão não lhe satisfazia, queria agora construir uma horta ao lado dela para
que seus desejos pudessem ser realizados; não se importava em quebrar o
mandamento divino: “não cobiçarás” (Ex 20:17). Desta feita, o que fez Acabe
diante da resposta negativa de seu súdito? Ficou entristecido, como uma criança
mimada, e não quis se alimentar. O desejo despertado pela cobiça é tão poderoso
que acaba por tornar-se ocupação única do cobiçoso. Acabe não desejava mais
comer, ou fazer qualquer outra coisa (1Rs 2:4).
Ao observar o estado em que se
encontrava Acabe, Jezabel, sua mulher, procurou tomar conhecimento do que havia
acontecido, o que lhe foi relatado pelo rei (1Rs 21.5-6). Diante do que ouviu,
Jezabel, que já havia em outros episódios demonstrado a sua influência e força
no reino, que tomava decisões sem pedir a aprovação do seu manipulável e omisso
marido, possuidora de um temperamento difícil e cruel em suas deliberações,
toma para si as dores de Acabe e declara: “governas tu, com efeito, sobre
Israel? Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de
Nabote, o jezreelita” (1Rs 21:7). Jezabel se coloca aqui como aquela que satisfará
a cobiça de Acabe. Uma esposa sábia não adota tal postura, antes, aconselha o
seu marido sobre os princípios do contentamento. Em fim, o desejo exacerbado e
maligno de Acabe resultou no assassinato do obediente Nabote, resultando assim
na inobediência a outro mandamento da lei moral de Deus: “não matarás” (Ex
20:13).
III. O FRUTO DA COBIÇA
Como Acabe não se apossou
imediatamente da vinha de Nabote, Jezabel continuou com seu plano diabólico.
Sem escrúpulos, sem temor a Deus, sem piedade e sem misericórdia, Jezabel
articula um plano onde Nabote seria vitimado por uma terrível calúnia. Usando o
nome e o sinete de seu marido, ela escreveu cartas aos anciãos e aos nobres da
cidade e que habitavam com Nabote, onde dizia o seguinte: “Apregoai um jejum e
trazei Nabote para a frente do povo. Fazei sentar defronte dele dois homens
malignos, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra
o rei. Depois, levai-o para fora e apedrejai-o, para que morra. Os homens da
sua cidade, os anciãos e os nobres que nela habitavam fizeram como Jezabel lhes
ordenara, segundo estava escrito nas cartas que lhes havia mandado. Apregoaram
um jejum e trouxeram Nabote para a frente do povo. Então, vieram dois homens
malignos, sentaram-se defronte dele e testemunharam contra ele, contra Nabote,
perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E o
levaram para fora da cidade e o apedrejaram, e morreu“.
Perceba quais os males que
seguiram a cobiça deste casal:
MENTIRA: – Os anciãos resolveram
atender aos intentos de Jezabel. Como podemos ver sempre há homens prontos a
venderem seu testemunho por dinheiro a fim de que sirva aos maus propósitos
daqueles que os alugam.”E os homens da sua cidade, os anciãos e os nobres que
habitavam na sua cidade, fizeram como Jezabel lhes ordenara, conforme estava
escrito nas cartas que lhes mandara” (I Rs 21.11);
FALSO TESTEMUNHO: – O veredito
de morte já estava predeterminado, por Jezabel. Mas, era necessário elaborar um
falso julgamento com um simples aspecto de justiça, para que, à vista do povo,
desse a impressão de ser um julgamento leal, arranjou-se duas testemunhas,
conforme pedia a Lei (Dt 17.6,7); mas eram falsas. “E ponde defronte dele dois
filhos de Belial, que testemunhem contra ele” (I Rs 21.10-a);
ASSASSINATO: – Por fim, a trama
culminou na execução de Nabote, pois o levaram para fora da cidade e o
apedrejaram. A injustiça estava claramente executada, pois Nabote foi executado
por um crime que jamais cometeu “Então mandaram dizer a Jezabel: Nabote foi apedrejado,
e morreu” (I Rs 21.14).
“É interessante observar que o
maligno plano de Jezabel se reveste de um caráter espiritual, com direito a
proclamação de um jejum e com o argumento de que Nabote teria blasfemado contra
Deus (e contra o rei). É possível “espiritualizar” até a cobiça. Em nome de
Deus, e com a máscara da falsa espiritualidade, muitas barbáries e injustiças
são realizadas sob a influência do “espírito de Jezabel”, muitas cobiças são
alimentadas à custa da destruição de vidas, casamento e famílias “(pr. Altair
Germano).
IV. AS CONSEQUÊNCIAS DA COBIÇA
A combinação de pecados
relacionados à cobiça produz um veneno tão poderoso que ameaça de morte tanto
as pessoas à sua volta como o próprio cobiçoso. O mundo “jaz no Maligno”, e tem
se tornado em “ninho” aconchegante para que o pecado cresça, venha à luz, e
cause os males da destruição e da morte. Precisamos estar alertas para este
fato. As conseqüências do pecado é a morte (Rm 6:23).
1. Julgamento divino. A cobiça
do rei Acabe teve uma conseqüência ainda mais funesta do que toda a sua
idolatria. Acabe e sua mulher Jezabel muito haviam irado o Senhor por causa da
intensa idolatria e da quase substituição do Senhor por Baal como deus nacional
do reino do norte. Entretanto, a morte de Nabote, planejada covardemente por
Jezabel, motivada pela cobiça do rei Acabe, foi a “gota d’água” da ira de Deus.
Por causa disto, Deus sentenciou toda a casa de Acabe à morte (1Rs 21; 2Rs
10:1-14). A sentença do julgamento de Acabe e Jezabel foi transmitida por
Elias, o profeta: “Então, veio à palavra do SENHOR a Elias, o tisbita, dizendo:
Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em
Samaria; eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para a possuir. E
falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porventura, não mataste e tomaste a
herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os
cães lamberam o sangue de Nabote, os cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo. E
também acerca de Jezabel falou o SENHOR, dizendo: Os cães comerão Jezabel junto
ao antemuro de Jezreel” (1Rs 21:18,19,23). Acabe ainda se recusou a admitir seu
pecado contra Deus; em vez de fazê-lo, acusou Elias de ser seu inimigo (cf 1Rs
21:20). É quase impossível que os que se tornam cegos pela cobiça e pelo ódio,
enxerguem seus próprios erros.
2. Arrependimento e morte. A
sentença divina trouxe medo e condenação a Acabe: “Sucedeu, pois, que Acabe,
ouvindo estas palavras, rasgou as suas vestes, e cobriu a sua carne de pano de
saco, e jejuou; e dormia em cima de sacos e andava mansamente” (1Rs 21:27).
Acabe foi mais perverso do que qualquer outro rei de Israel (1Rs 16:30; 21:25),
mas quando se arrependeu com profunda humildade, Deus atentou para ele e
prometeu que o castigo sobre a sua casa seria suspenso até uma outra ocasião –
“Não viste que Acabe se humilha perante mim? Porquanto, pois, se humilha
perante mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho
trarei este mal sobre a sua casa” (1Rs 21:29). O mesmo Senhor que foi
misericordioso com ele deseja ser benigno conosco. Não importa quão perverso
alguém seja; nunca é tarde demais para se humilhar, voltar-se a Deus e
pedir-lhe perdão.
É bom ressaltar, porém, que,
embora Acabe tenha se arrependido de seus atos pecaminosos, as consequências
foram inevitáveis. Acabe, Jezabel e toda a sua família foram eliminados, da
mesma maneira como as dinastias anteriores foram rejeitadas por causa de seus
pecados. Jezabel teve uma morte horrível na mesma cidade onde havia perpetrado
seus crimes. O cobiçoso Acabe e a cruel Jezabel receberam o prêmio da
injustiça. Para ler sobre o cumprimento da sentença divina, veja 1Reis 22:38,
onde os cães lamberam o sangue de Acabe, e 2Reis 9:30 a 10:28, onde Jezabel e o
restante de sua família foram destruídos. “O pecado sempre tem seu alto
custo!”.
CONCLUSÃO
Todo ato de cobiça além de
reprovado por Deus, será também duramente punido por Ele. Assim como Nabote, os
que são vitimados por causa de sua obediência a Deus, e diante da cobiça
alheia, são por Ele devidamente justificados e vingados. Portanto, todos
aqueles que de alguma maneira detém o poder e dele abusam para realizar
propósitos pessoais e até malignos, sofrerão consequências desastrosas. De Deus
ninguém zomba! A quem muito for dado muito será cobrado. Pense nisso...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e
Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante
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