SAÚDE ESPIRITUAL...
Há um terrível surto em
processo na igreja evangélica brasileira. Fatos inimagináveis têm se
multiplicado na prática de muitas comunidades locais. Parece um tipo de
esquizofrenia evangelical. Crentes que se auto exorcizam, rosas místicas, sal
purificador, varinhas e cruzes energizadas entregues aos fiéis, etc. Onde vamos
parar com esta paranoia?
Em outra vertente,
reerguer-se com vitalidade um conservadorismo "neopuritanístico" como
reação a todas estas coisas. Discussões do tempo dos meus avós voltaram aos
ambientes dos concílios. Tais como: o bater palmas, o uso de determinados
instrumentos no culto, a sacralização dos espaços de celebração, a oportunidade
ou não para mulheres ministrarem na igreja, a liberdade da expressão corporal
no culto, etc.
Assim, alguns graves
perigos à verdadeira espiritualidade tomam força e ameaçam a vitalidade da
comunhão do povo de Deus com o seu Senhor. Destacaria quatro grandes perigos:
1. O Tradicionalismo -
Alguém já escreveu: "Tradição é a fé viva dos antigos. Tradicionalismo é a
fé morta dos vivos." O grande perigo do tradicionalismo é que ele se
apresenta de modo sutil como uma interpretação inequívoca da Escritura e do
mundo. Assim, de modo disfarçado, o tradicionalismo se impõe como dogma,
anulando a autoridade única da Palavra de Deus. Isto engessa historicamente a
Igreja, destruindo a contemporaneidade de sua mensagem.
2. O Legalismo - Tal
fenômeno conduz à ideia de uma relação de mérito com Deus, menosprezando a
graça de Jesus. Leva as pessoas a serem escravas de regras e ritos, ao invés de
crescerem na idoneidade como cristãos capazes de aplicar princípios as diversas
realidades da vida. É uma boa opção para aqueles que não desejam crescer
através da reflexão e do bom senso, haja vista que no legalismo alguém já pensou
e definiu por todo mundo.
3. O Sincretismo
Religioso - Um tempo atrás um irmão me mostrou a embalagem de um sabonete de
arruda recebido num culto evangélico. Ora, o que levaria um líder evangélico a
aconselhar seus irmãos a banharem-se com arruda para espantar "mal
olhado"? Sabemos que isto não provém da fé cristã. Nada mais é do que um
elemento da religião não cristã absorvido por uma corrente que se proclama
genuinamente evangélica. Esta mistura religiosa é perniciosa à verdadeira
espiritualidade.
4. O Relativismo Moral
- O pecado não pode ser definido por minha opinião pessoal ou pela conveniência
das situações que me cercam. Iniquidade é tudo aquilo que o próprio Deus
definiu como contrário à sua vontade e impuro aos seus olhos. A relativização
do certo e do errado tem custado a saúde espiritual de muitas pessoas e igrejas
locais.
Em Marcos 7 Jesus têm
um confronto direto com os fariseus em detrimento do entendimento da verdadeira
espiritualidade. O ponto de partida é uma controvérsia sobre o que contamina o
homem. O que para nós é apenas um problema de natureza sanitária, para os
fariseus era um problema de ordem espiritual: O comer com as mãos impuras!
Diante deste embate, Jesus denuncia como a tradição dos líderes religiosos
levava as pessoas a uma falsa compreensão da relação espiritual delas com Deus
e com o mundo.
Assim, quero destacar
três princípios que Jesus ensina nesta passagem, que podem equilibrar nossa
comunhão com Deus, preservando-nos dos perigos à nossa espiritualidade:
1. Precisamos nos manter
cativos à Palavra de Deus (v. 6-8) - A tradição dos líderes religiosos, que se
propunha a ser uma interpretação da Lei, havia se sobreposto sutilmente como
uma oposição à própria Lei. Nosso compromisso maior precisar ser com a
Escritura. Nos submetemos aos líderes até que estes sejam fiéis à Palavra. Não
podemos trocá-la por tradições, conjunto de leis, ou misturá-la com outras
práticas religiosas. Não podemos relativizá-la por nenhum tipo de conveniência
pessoal.
2. Precisamos mensurar
nossa espiritualidade a partir da saúde de nossos relacionamentos (v. 11-13) -
Os fariseus ofereciam uma oferta a Deus para se sentirem desobrigados em honrar
seus pais. Pensavam que era possível manter a saúde da relação vertical sem
cuidarem da horizontalidade de seus relacionamentos. Nosso Senhor resumiu a Lei
e os Profetas em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo. O diagnóstico e a cura de nossa espiritualidade está no cuidado e na
saúde de nossos relacionamentos.
3. Precisamos cuidar do
mundo interior para termos verdadeira espiritualidade (v. 18-23) - Para os
fariseus, a saúde espiritual dependia do trato com elementos externos. Nosso
Senhor, porém, se a paz a tal compreensão demonstrando que nossa impureza
encontra-se no mundo interior. É de lá que brotam as imundícies. Deus deseja
tratar-nos de dentro para fora. É necessária a coragem de expor esta realidade
interna e negra que nos assola se desejamos saúde espiritual. Não devemos
fugir, mas nos apresentar como somos para sermos purificados.
Tradicionalismo,
legalismo, sincretismo religioso e relativismo moral podem destruir nossa
comunhão com Deus e nos afastar da verdadeira espiritualidade. O caminho da
real busca deve nos levar de volta para a Palavra de Deus, em sua singularidade
e simplicidade. É o caminho que propõe tratar-nos os vários níveis de
relacionamento para que nossas orações e buscas não sejam interrompidas. É o
caminho de olharmos para dentro, onde está o verdadeiro mal e a fonte de nossa
impureza. Somente este caminho irá nos conduzir à verdadeira espiritualidade...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ênfase e Divindades Dr. Edson Cavalcante
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