DEIXAI VIM A MIM AS CRIANCINHAS...
Três atitudes chamam a
atenção logo no início do texto: iniciativa de levar as crianças a Jesus (v. 13
“então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse”) – o texto não
explicita quem levou a Jesus estas crianças, mas evidencia desde já que não
haverá encontro das crianças com Jesus sem uma iniciativa clara, concreta,
objetiva dos adultos promovendo este encontro; resistência dos discípulos em
permitir o contato das crianças com Jesus (v. 13 “mas os discípulos os
repreendiam”) – os discípulos que estavam sendo treinados para serem canais de
aproximação viveram o papel oposto de canais de separação; a indignação de Jesus diante da atitude dos
discípulos (v. 14 “... Jesus, porém, vendo isto, indignou-se...”) – Jesus tem
“indignação” com a postura errônea dos discípulos, uma profunda insatisfação
que imediatamente se transformou numa repreensão firme e sábia, na qual Ele os
ensinou e ensina nós também hoje a ENCAMINHAR OS PEQUENINOS PARA A SUA
GRAÇA.....
I – ENCAMINHAR OS PEQUENINOS PARA A GRAÇA É
UMA PRIORIDADE DETERMINADA POR JESUS (v. 14”... Deixai vir a mim os pequeninos...”)
Jesus tinha uma visão
voltada para a família, tanto é que Seu primeiro milagre foi realizado numa
festa de casamento. No texto anterior, 10:2-12, Marcos nos informa que Ele
ensinou sobre a importância de preservar o casamento como um instrumento de
sustentação e aperfeiçoamento da família. E família para Jesus não eram apenas
os adultos, jovens ou adolescentes, mas também as crianças. Sua grande chamada
- “vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos
aliviarei” (Mt 11:28) – era feita também para as crianças. Jesus, sabiamente,
sabia que se alcançasse as crianças com Sua maravilhosa graça, transformaria
toda a história de vida delas. Por isso deixou aos discípulos Sua prioridade
missionária bem delineada: “deixem vir a mim os pequeninos” (v. 13)
II – ENCAMINHAR OS
PEQUENINOS PARA A GRAÇA ENVOLVE UMA POSTURA FACILITADORA (v. 14 “... Não os
embaraceis...”)
Os discípulos não
podiam alegar ignorância quanto ao projeto de Jesus para as crianças. Segundo
Marcos (ver 9:36-37), antes deste episódio de nosso estudo, Ele mesmo lhes
trouxe uma criança, colocou-a nos seus braços e com elas nos braços lhes disse:
“qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe;
e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou”. Mas,
apesar disto, eles estavam profundamente indiferentes quanto ao dever de serem
facilitadores do contato das crianças com Jesus. Aqui está um grande paradoxo:
os pais e discípulos, pessoas separadas
por Deus para conectarem as crianças com Jesus,
são muitas vezes os que “criam embaraços” = impecilhos, obstáculos,
barreiras, dificuldades para que elas experimentem da graça de Jesus.
Quando é que somos
embaraços para que as crianças cheguem a Jesus?
Quando achamos que
Jesus não tem interesse por elas – no começo do capítulo (10:1) Jesus estava
atendendo multidões, mas Ele, apesar das grandes demandas ministeriais, arrumou
tempo para atender as crianças. Criança tem lugar permanente no coração
gracioso de Jesus!
Quando não lhes
comunicamos que Jesus salva – crianças não irão a Jesus se não ouvirem falar de
Jesus, se não forem responsavelmente e permanentemente evangelizadas. Pv 22:6
diz – “ensina a criança no caminho em
que deve andar, e ainda quando for velho, não se desviará deles” – o caminho
que as crianças devem andar é Jesus (Jo 14:6) e elas não andarão nele
automaticamente, precisam ser ensinadas. Quando não conduzimos as crianças até
às oportunidades comunitárias de encontro com Jesus – a igreja oferece
oportunidades para as crianças nos cultos, pequenos grupos e ocasiões
especiais, mas elas jamais irão sozinhas, precisam do compromisso dos pais e/ou
responsáveis de conduzi-las responsavelmente aos encontros comunitários nos
quais o Senhor ordenar a benção para as crianças (Sl 133:10). Quando não
criamos no lar uma atmosfera facilitadora do aprendizado cristão – a
responsabilidade número um dos pais, em relação às suas crianças, deve ser
proporcionar-lhes em casa uma atmosfera de graça, na qual espontâneamente haja espaço para compartilhamento
da Palavra, oração, louvor e diálogo sobre a graça de Jesus. As crianças
precisam experimentar a presença de Jesus nos relacionamentos familiares. Esta
experimentação não se dará aos pés da TV, a babá eletrônica que derrama toda
espécie de lixo no coração das crianças, sob a conivência irresponsável dos
pais que preferem a comodidade de manter a criança ocupada, do que vê-la a
caminho do abraço de Jesus!
Quando nos tornamos,
pelo nosso comportamento, em pedra de tropeço – crianças sempre estão
antenadas, conectadas, permanentemente ligadas no que os adultos fazem. Por
nosso comportamento podemos levá-las para a graça do céu ou para a desgraça do
inferno. Nossas atitudes podem adoecer ou curar o coração das crianças. Jesus
tratou esta questão de forma tão séria que pouco antes deste fato que estudamos
Ele disse aos discípulos: “quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes,
melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e
fosse lançado ao mar” (Mc 9:42).
III – ENCAMINHAR OS
PEQUENINOS PARA A GRAÇA SIGNIFICA UMA GENUÍNA EXPERIÊNCIA COM O REINO DE DEUS
(v. 14 “... Porque dos tais é o Reino de Deus”)
Quando Jesus diz que
“dos pequeninos é o Reino de Deus”, antes de qualquer coisa, está afirmando que
crianças podem e devem entrar no Reino. E seja para elas seja para qualquer
pessoa, só há uma porta de entrada para o Reino de Deus: a graça de Jesus (Ef 2:8-9;
Jo 3:3). Não é incomum vermos crianças deixadas de lado quando na igreja é
feito um apelo para a salvação. O pressuposto para esta postura é: “crianças
são muito novas, não podem entender estas realidades espirituais”. Estamos
vendo em nosso país crianças escolhendo o roubo, a violência, o crack, o sexo
precoce, a mentira e tantos outros males, porque duvidamos da capacidade delas
escolherem a graça de Jesus que é o maior bem que podem experimentar na vida
delas enquanto crianças, na adolescência, juventude, idade adulta e até a
morte?
Quando Jesus diz
que “dos pequeninos é o Reino de Deus”
também está afirmando que as crianças podem e devem usufruir de todas as
bênçãos e das responsabilidades do Reino. O padrão que Jesus tem para as
crianças é o padrão que Ele teve para Ele mesmo enquanto criança nascida em
Belém e criada em Nazaré por Maria e José. Lucas diz sobre este padrão:
“crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc
2:52). Jesus, enquanto homem passou por um processo contínuo de crescimento
físico, mental, emocional, relacional e espiritual. Não houve para Ele,
enquanto homem, um desenvolvimento automático, pelo contrário, tudo se deu
dentro de um processo harmônico, equilibrado, no qual Jesus teve em sua
humanidade que vencer os desafios de cada etapa da sua idade. Crianças que já
entraram no Reino pela crença em Jesus precisam ser ajudadas, dentro das
relaidades de sua idade, a crescerem dentro do Reino vivendo os valores da
adoração, comunhão, evangelização, discipulado e serviço. As crianças não são a
igreja de amanhã, são a igreja de hoje!
CONCLUSÃO
1. As crianças são
exemplo para nós no que tange à entrada no Reino de Deus (v. 15 “Em verdade vos
digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma
entrará nele”) – Jesus, depois de apertar Seus discípulos no sentido de ser
exemplo para as crianças, fez a via contrária afirmando que elas são exemplo
para nós no que tange a “entrada no Reino”. O que significa entrar no Reino
como criança? Significa, dentre outras coisas, entrar no Reino com confiança.
Crianças são inteligentes, mas não fazem da compreensão intelectual completa um
pré-requisito para desenvolvimento de um
relacionamento. Tudo que as crianças querem para se interessarem por uma
pessoa, é um olhar receptivo e um toque
amoroso. Se perceberem isto elas devotarão à pessoa confiança. Para entrar no
Reino não precisamos compreender
racionalmente todos os mistérios do universo, precisamos apenas da
confiança de que Deus nos ama e providencia na graça de Cristo o perdão para
que possamos ser acolhidos como Seus filhos, recebendo no futuro Sua herança
nos céus e desfrutando no presente de uma vida abundante aqui na terra.
Resumindo, como as crianças, precisamos ter com Deus uma relação descomplicada,
na base da confiabilidade e não da racionalidade!
2. As crianças precisam
hoje da bênção de Jesus por meio do nosso abraço e das nossas mãos (v. 16
“então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava”). Quem é
hoje, para a criança, o colo de Jesus, o abraço de Jesus, o chamego de Jesus, o
beijo de Jesus, a palavra amiga de Jesus, o toque abençoador de Jesus? Somos
nós que, enquanto adultos, tendo passado pelos desafios da infância e pelos
desafios desta caminhada na graça, somos chamados por Jesus, aqui e agora, a
deixar ir a Ele os pequeninos, sem embaraços, porque deles é o Reino de Deus...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ênfase e Divindades Dr. Edson Cavalcante
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