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domingo, 28 de fevereiro de 2021

RAIZ DE AMARGURA

 

RAIZ DE AMARGURA

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hebreus 12:14-15).

Quando deparamos com a frase “raiz de amargura”, uma leitura superficial ou uma interpretação subjetiva pode nos levar a perder o ensinamento rico dessa expressão no seu contexto. Confesso que li esse trecho muitas vezes antes de perceber o seu verdadeiro sentido. Sabendo que a amargura é um mal que deve ser expulso da vida do cristão (Efésios 4:31), eu via nesse versículo de Hebreus mais uma instrução contra essa atitude venenosa. Mas o estudo mais cuidadoso da expressão conforme sua origem e o contexto desse trecho nos leva a outra conclusão e reforça alguns fatos importantes para nosso estudo e para a vida de cada pessoa que procura agradar a Deus.

A expressão “raiz da amargura” foi introduzida na Bíblia séculos antes de aparecer no Novo Testamento. Entre as palavras finais de Moisés encontramos esta admoestação para o povo de Israel: “Porque vós sabeis como habitamos na terra do Egito e como passamos pelo meio das nações pelas quais viestes a passar; vistes as suas abominações e os seus ídolos, feitos de madeira e de pedra, bem como vistes a prata e o ouro que havia entre elas; para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo cujo coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas nações; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarga, ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice” (Deuteronômio 29:16-19).

O contexto desse uso original da expressão lhe atribui seu significado importante. O ponto não é de amargura profunda no coração, uma raiz da qual brotam outros pecados, e sim de uma raiz que produz um resultado amargo, o castigo divino previsto nas maldições do capítulo anterior. A amargura vem de Deus, mas é provocada por atos humanos. Moisés avisou especificamente sobre o perigo de se desviar da vontade de Deus, cobiçando os ídolos e os prazeres carnais que os outros povos buscavam. Ele frisou o risco de uma falsa sensação de segurança, alguém achando que poderia seguir práticas pecaminosas e ficar impune. Mesmo participando da aliança especial que Deus fez com Israel, nenhum homem, mulher, família ou tribo tinha uma garantia de permanecer em comunhão com o Senhor.

Esse entendimento esclarece o ponto de Hebreus 12 e se ajusta perfeitamente ao contexto desse trecho do Novo Testamento. Esse livro frisa a superioridade de Jesus Cristo como Mediador de uma nova e superior aliança, o Novo Testamento. Repetidamente, o autor de Hebreus alerta sobre o perigo de se desviar de Jesus e participar de práticas profanas e inúteis.

Com base na linguagem de Deuteronômio e suas semelhanças com o contexto de Hebreus, devemos aproveitar duas lições importantes do aviso sobre a raiz de amargura: (1) Deixar de servir a Cristo, optando por qualquer outro sistema religioso ou prazer carnal, trará o amargo castigo de Deus; (2) Acreditar que o fato de ter entrado em comunhão com o Senhor seja garantia da salvação eterna é tolice. A doutrina da perseverança ou preservação dos santos, um ponto fundamental do Calvinismo que influencia a teologia de muitas denominações evangélicas, é um exemplo desse perigo. Tanto Moisés quanto o autor de Hebreus ensinaram a necessidade de continuar vivendo conforme a vontade do Senhor para manter a comunhão com ele. Quem prega a doutrina de “uma vez salvo, salvo para sempre” distorce as Escrituras e cria a raiz da amargura.

A amargura no coração é má, e deve ser excluída da vida do cristão. Mas o significado da “raiz da amargura” é bem mais amplo e nos adverte sobre a consequência desastrosa de qualquer desvio da vontade do Senhor Jesus. Vamos seguir a Jesus e perseverar até ao fim!
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

O LOUVOR A DEUS.

O LOUVOR A DEUS.

"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade" (João 4:23-24).

Fala-se muito, hoje em dia, sobre louvor e adoração. Muitas polêmicas são lançadas em torno deste tema, e, em vista disso, muita confusão se estabeleceu na mente dos irmãos.
Alguns pensam que louvar a Deus é somente cantar cânticos espirituais antes do estudo bíblico, da escola dominical, da ceia do Senhor, do evangelismo. É costume nas igrejas existir um período de louvor onde os fiéis entoam hinos e cânticos espirituais. Há alguns que acham que é somente na ceia do Senhor que se pode adorar. Outros dizem que louvar a Deus não tem nada a ver com cantar e sim com o nosso modo de vida.

O que vamos ver hoje não é para aumentar a polêmica e sim procurar respostas sinceras e honestas nas Escrituras, não para defender um ponto de vista, nem para combater algum outro, mas para encontrar o que a Palavra de Deus ensina sobre o verdadeiro louvor ou sobre qual é o louvor aceitável por Ele. Agindo assim, poderemos estar entre aqueles que Deus está procurando ... os verdadeiros adoradores.

Ao observarmos na Bíblia, a história da mulher samaritana, notamos que já naquele tempo havia polêmica com relação à adoração a Deus. Jesus, em poucas palavras, foi ensinando qual seria a verdadeira adoração ...

1- O verdadeiro louvor

Quando queremos saber qual o louvor que Deus aceita, surgem perguntas ...

* Qual o lugar que se deve adorar e louvar a Deus?
"Nossos pais adoraram neste monte; e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai" (João 4:20-21).
Não existe um lugar específico para se louvar. O importante é ter verdadeiros adoradores.

* De que forma se deve adorar e louvar a Deus?
"... e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade" (João 4:24).
Deus quer ser adorado e louvado em espírito e em verdade. Ele não quer um louvor cheio de formas e tradições ou invenções impostas pelos homens. Ele quer um louvor que saia do coração.

* Verdadeiramente, qual é o desejo do Pai?
O Pai está à procura de verdadeiros adoradores que verdadeiramente O louvem. Ele está interessado na adoração e no louvor do Seu povo. Isto não é algo que deveria causar polêmica, mas regozijo entre nós, povo de Deus.

Deus tem encontrado em você um verdadeiro adorador?

2- O prazer de cantar louvores a Deus

"Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu tiver existência" (Salmos 104:33).

Quando nós estamos adorando a Deus "em espírito e em verdade", nossa adoração se transforma numa linda expressão de louvor.
Tenho aprendido que tenho que louvar ao Senhor ...
a) porque devo... "Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu" (Deuteronômio 8:10).
"Louvai ao Senhor. Louvai, servos do Senhor, louvai o nome do Senhor" (Salmos 113:1).
O louvor a Deus é ordenado aos homens, é um dever dos Seus servos.

b) porque posso... "Bom é louvar ao Senhor, e cantar louvores ao Teu nome, ó Altíssimo" (Salmos 92:1).
"Com o fim de sermos para o louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo" (Efésios 1:12).
Todo aquele que pertence ao Senhor não somente deve, como também pode louvá-Lo.

c) porque quero... "Eu Te louvarei, Senhor, com todo o meu coração; contarei todas a Tuas maravilhas. Em Ti me alegrarei e saltarei de prazer (Salmos 9:1-2).
"Preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei e darei louvores até com a minha glória" (Salmos 108:1).
Nada deveria nos agradar mais do que louvar ao Senhor que nos criou e nos redimiu.

3- O louvor aceitável por Deus

Podemos começar a entender qual é o louvor aceitável por Deus observando as vidas de Caim e Abel ...
Caim trouxe perante o Senhor do fruto da terra mas ...
Abel trouxe das primícias do seu rebanho.
Por que Deus se agradou da oferta de Abel mas não da de Caim? Gênesis 3:21 nos diz ... "E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu"
Através deste versículo vemos que Deus mostrou o caminho. Depois da queda, Deus providenciou cobertura para o pecado de Adão. Deus sacrificou um animal inocente, cujo sangue cobriu o seu pecado e cuja pele cobriu a sua nudez. O cordeiro sacrificado é um símbolo do "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29).
Hebreus 9:22 diz que "... sem derramamento de sangue não há remissão."

Nosso louvor é certo quando já fomos lavados pelo sangue do Cordeiro de Deus, o nosso amado Jesus Cristo. É, então, através dEle que oferecemos "... a Deus sacrifício de louvor ..." (Hebreus 13:15).

Assim, como Caim, muitas seitas e filosofias tentam entrar na presença de Deus para adorá-Lo e louvá-Lo de maneiras não aceitáveis por Ele. Muitos de nós, assim como eles, estamos indo por caminhos errados também não aceitáveis por Deus.
Para se louvar a Deus tem que ser por fé, assim como fez Abel. Hebreus 11:4 nos diz ... "Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim ..."
Fé é aceitar a Palavra de Deus e isto a Bíblia nos diz em Romanos 10:17 ... "De sorte que a fé é pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus." A oferta sem sangue que Caim ofereceu foi uma recusa à instrução de Deus.
Deus conhecia o coração de Abel e o coração de Caim. Ele também conhece o seu coração e por isso não basta apenas louvar, é preciso também uma atitude correta de louvor que é expressa no dia a dia através de vidas consagradas ao Senhor e à Sua obra.
Uma linda expressão de louvor não tem nada a ver com palavras faladas, escritas ou cantadas se as mesmas não forem acompanhadas de vidas de fé na Palavra de Deus e na obra do Senhor Jesus Cristo, resultando em vidas que louvam, mesmo que não haja nenhum som.

Será que Deus, olhando no meu coração, encontra uma linda expressão de louvor?

4- O louvor tem que vir do coração

"Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (Efésios 5:19-20).
Devemos, então, louvar a nosso Deus de coração. Não pode ser nada forçado nem fingido mas espontâneo e verdadeiro. O louvor depende do grau de intimidade entre o que louva e o seu Deus. Alguém pode louvar de coração sem, contudo, abrir a sua boca, enquanto que outro pode estar cantando com todas as suas forças mas o seu canto não ser um louvor do coração.
O Espírito Santo nos ensina a louvar e agradecer por tudo, até mesmo pelas provações, conseguindo fazer com que nós possamos ver a bênção de Deus em meio à adversidade. O resultado é que ofereceremos sempre a Ele um louvor que vem do coração.

5- O louvor na igreja

"Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras. Servi ao Senhor com alegria, e entrai diante dEle com canto" (Salmos 10:1-2).
"Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração" (Efésios 5:19).

Creio que, quando o período de louvor é realizado por pessoas consagradas a Deus, com equilíbrio espiritual, com músicas (principalmente do Cantor Cristão) que trazem mensagens de edificação para a igreja, com músicas que trazem mensagens evangelísticas, com músicas que glorifiquem o nome do Senhor, com músicas cujos ritmos são coerentes com o ambiente cristão e com a reverência que devemos ter com o nosso Deus, com instrumentos consagrados a Deus, com músicos consagrados, dotados de bom senso musical e que respeitam os ouvidos e gosto de todos os irmãos, creio que o período de louvor será muito bem-vindo no louvor da igreja.

Resumindo então ... vemos que Deus se agrada com os louvores do Seu povo. O louvor expressa a alegria, a gratidão e o amor de um povo que estava sem Deus e sem esperança nesse mundo mas que foi alcançado por Sua graça. O verdadeiro louvor tem que ser autêntico, ou seja, verdadeiro e não fingido ... o meu louvor tem que condizer com o meu modo de vida.
Vamos, então, guardar em nosso coração o Salmo 100 que diz ... "Celebrai com júbilo ao Senhor. todas as terras. Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dEle com canto. Sabei que o Senhor é Deus; foi Ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo Seu e ovelhas do Seu pasto.Entrai pelas portas dEle com gratidão, e em Seus átrios com louvor; louvai-O, e bendizei o Seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a Sua misericórdia; e a Sua verdade de geração em geração."
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

FILHOS REBELDES E SEUS MOTIVOS.

FILHOS REBELDES E SEUS MOTIVOS.

1 Sm 2.12-17,22-25
12- Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não conheciam o SENHOR; 13- porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes em sua mão; 14- e dava com ele, na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló. 15- Também, antes de queimarem a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote, porque não tomará de ti carne cozida, senão crua. 16- E, dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então, ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar; e, se não, por força a tomarei. 17- Era, pois, muito grande o pecado desses jovens perante o SENHOR, porquanto os homens desprezavam a oferta do SENHOR. [...] 22- Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação. 23- E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios. 24- Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; fazeis transgredir o povo do SENHOR. 25- Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o SENHOR, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar.”

O episódio descrito no texto acima, que envolve o sacerdote Eli e seus filhos, nos serve de alerta, e deve nos conduzir a uma profunda reflexão sobre a maneira como educamos nossos filhos na atualidade.

O versículo 12 nos diz que os filhos de Eli eram filhos de belial (hb. beliya‘al), ou seja, eram praticantes de perversidades, impiedades, malvadezas, atos rebeldes. Eles não conheciam (hb. yadha‘), e aqui significa que não gozavam de um relacionamento pessoal, não tinham experiências com Deus. Assim, como muitos filhos de líderes e pastores nos dias atuais, viviam de uma forma que escandalizavam e desonravam os seus pais.


A primeira forma descrita no texto de seus atos rebeldes era a apropriação ilícita das ofertas (v. 13-17). Temos na atualidade filhos e parentes de pastores que pensam que as ofertas das igrejas são “receitas” que a família pastoral pode administrar como bem pensam. Dessa forma estão multiplicando o patrimônio familiar, e isso em detrimento do crescimento, da manutenção da obra, e da precariedade com que vive os obreiros auxiliares. A família pastoral desfila com carros de última geração, enquanto alguns obreiros nem bicicleta possuem para atender o trabalho. A família pastoral adquire grandes mansões, apartamentos de luxo, terrenos, sítios, fazendas, e os obreiros auxiliares vivem de aluguel, sem perspectivas de melhores condições. A família pastoral ocupa cargos estratégicos na administração da igreja, além de receberem salários diferenciados. Neste caso, o chavão “é necessário viver por fé” só serve para os outros.

A família pastoral é detentora do poder, e quando questionada, logo usa de artifícios para afastar aqueles que lhe são uma ameaça para a vida no “luxo palaciano”. De forma astuta também manipula as massas “crentes”, fazendo-as conformar-se também com a situação precária de vida, usando o discurso de que “é Deus que quer assim”, e impondo terror de “castigo divino” para com aqueles que “tocam no ungido”. Um absolutismo monárquico medieval com privilégios para o “clero” e “nobreza” evangélica contemporânea é vivido abertamente e escandalosamente, e isso para vergonha do evangelho.

Outra prática vergonhosa dos filhos de Eli era a imoralidade sexual (v. 22), manifesta em forma de orgia. Semelhantemente, nos dias atuais há filhos de líderes e pastores que vivem na imoralidade, envergonhando abertamente seus pais. Há caso de práticas sexuais ilícitas de filhos de pastores que são “abafadas”, para não macular a imagem do pai. Dois pesos e duas medidas são também usados na disciplina eclesiástica. Quando se trata dos filhos dos outros a disciplina é dura e sem misericórdia, enquanto os filhos e parentes de alguns pastores recebem disciplina diferenciada, e se são obreiros, em certos casos nem afastados do trabalho são.

Eli, nos informa o texto bíblico, ouvia e sabia dos fatos (v. 22), e até questionava o comportamento dos filhos (v. 23-24), mas não tinha autoridade e força para contê-los, e dessa forma os garotos deitavam e rolavam no ministério.

Como a situação chegou a esse nível? Qual a razão do comportamento inadequado, imoral e rebelde dos filhos de Eli, que se repetem em nossos dias? As respostas para tais questões não devem ser simplistas, pois envolvem muitas possibilidades, onde dentre as principais podemos citar:

- Educação permissiva. Há filhos de obreiros que desde cedo “pintam e bordam” na igreja, e não recebem reprovação alguma de seus pais. Pelo contrário, se algum diácono, líder de departamento, professor de escola dominical repreender ou chamar a atenção de seus filhos, podem até perder o cargo. Geralmente são repreendidos publicamente, para que isso sirva de exemplo para os demais que intentam censurar o comportamento de seus filhos.

- Excesso de rigor na criação dos filhos. Há obreiros que são tão duros com os seus filhos, cobrando deles um comportamento acima da média e impondo sobre eles um padrão de “santidade” tão alto (que de santidade não tem nada), que acabam por alimentar um sentimento de revolta, um ódio, uma revolta que mais cedo ou mais tarde se manifestará das mais diversas formas. Quantos filhos de obreiros ignorantes já não foram espancados por jogar bola de gude, empinar pipa, andar de bicicleta e por outras práticas que em nada maculam a moral e a fé do crente. Muitos destes obreiros ainda sofrem de culpa por perceberem o quanto cruéis e radicais foram, por entenderem hoje o mal que fizeram aos seus filhos, muitos destes marcados, desviados e revoltados (Ef 6.4).

- Carência afetiva. Beijos e abraços devem fazer parte do cotidiano da relação pais e filhos. Manifestações de afetividade, palavras doces, elogios e reconhecimento fazem bem. As necessidades afetivas não supridas podem desenvolver em nossos filhos sentimentos e comportamentos inadequados, com o propósito de serem notados, percebidos. Uma atitude rebelde pode ser um grito de desespero de quem sofre por falta de carinho e atenção.

- Amizade não construída. Os pais obreiros precisam construir um relacionamento de confiança com os filhos, precisam se tornar os seus melhores amigos, alguém com quem eles possam contar nos momentos mais críticos da vida, nas horas da forte tentação, das dúvidas e das fraquezas. Se não formos os melhores amigos de nossos filhos, podem ter certeza, eles buscarão noutros tal nível de confiança e amizade.

- Falta de exemplo. Um pai que é obreiro precisa dar exemplo aos seus filhos. Muitos filhos de obreiros são espelhos da conduta irresponsável e desordenada de seus pais. Nestes dias de igreja-empresa, onde muitos pastores se entendem como “donos do negócio”, gestores dos “impérios religiosos pessoais”, há uma multiplicação no preparo dos futuros herdeiros (imagine quem são), que certamente reproduzirão a mentalidade e as práticas de seus pais.

- Ausência ou presença de má qualidade. No outro extremo da falta de exemplo está a ausência dos pais. Já ouvi, e mais de uma vez, filhos de obreiros reclamarem que o pai nunca lhes dedicou tempo e atenção, devotando à igreja tais privilégios, esquecendo-se dos de sua própria casa e família. Ninguém pode cuidar da igreja, sem que antes cuide de sua própria família (1 Tm 3.4-5,5.8). Os pais precisam viver cada fase da vida dos filhos, e se fazer presentes nos momentos mais especiais. Eles só terão uma infância, uma adolescência e uma juventude.

- Rebeldia deliberada. Os pais obreiros nem sempre são responsáveis por influenciar negativamente a conduta dos filhos. A parábola do filho pródigo é um claro exemplo disso (Lc 15.11-24). Há pastores que educam os seus filhos conforme os fundamentos da Palavra, que são grandes exemplos de piedade, e mesmo assim os filhos se enveredam por caminhos difíceis, que só causam dor, tristeza e vergonha para os seus pais. As más amizades e companhias, a concupiscência da carne e dos olhos, a soberba da vida, a liberdade de escolha, as astutas ciladas do diabo, são fatores que podem desviar do caminho do bem um filho criado com amor, afeto, cuidado e disciplina na medida certa.
Conclusão
As questões aqui citadas não podem ser generalizadas. Conheço pastores, líderes e obreiros cujos filhos e família são uma bênção para a igreja.

As possíveis causas aqui listadas do comportamento rebelde dos filhos de obreiros são também aplicáveis aos filhos dos demais crentes e membros da igreja.
Que na condição de pais possamos ter a consciência tranquila de termos cumprido o nosso papel na educação dos filhos, com palavras e com vida exemplar. Se mesmo assim eles trilharem o caminho da rebeldia, devemos amá-los e apresentá-los a Deus em oração, clamando para que de alguma forma o Pai celestial possa discipliná-los, para que não venham a se perder.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.