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segunda-feira, 10 de junho de 2019

A SOBERANIA DE DEUS E O SOFRIMENTO DO CRISTÃO


                          A SOBERANIA DE DEUS E O SOFRIMENTO DO CRISTÃO
 Romanos 8.18-25
Introdução
Por que o cristão sofre? Se ele é amado por Deus desde antes da fundação do mundo, salvo de sua ira certa e preser­vado para viver a eternidade no paraíso, qual seria a necessidade de ele sofrer aqui? Essa pergunta ganha mais peso principalmente se considerarmos o tipo de teologia que ensina vitórias sobre os males, curas de doenças e prosperidade financeira. Qual seria a razão de o crente sofrer? Nós não temos todas as respostas, mas as Escrituras nos dão claras indica­ções de algumas. 

I. Sofrimento do cristão

Um dos pontos que talvez cause mais tristeza para alguns crentes é que eles sofrem tanto ou até mesmo mais do que alguns ímpios. Esse não é um problema novo. Tanto o rei Davi (Sl 37) quanto Asafe (Sl 73) expressaram a agonia do servo de Deus que contempla a prosperi­dade daqueles que não servem ao Senhor: “Não te indignes por causa dos malfeito­res, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade” (Sl 37.1); “… pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos” (Sl 73.2-3). O salmista relata que para os ímpios não há preocupações, pois seus corpos são sa­dios; além de eles não se cansarem como os outros mortais (Sl 73.4-5).
Já aqui nós vemos um problema comum aos que sofrem: inveja. Quando os cristãos desviam os seus olhos da providência de Deus, e do futuro que aguarda tanto a eles como aos ímpios, se estes não se arrepen­derem, nasce um desejo pecaminoso em seu coração. Como veremos mais à frente, o cristão deve manter os seus olhos fitos nas promessas de Deus, para não ceder à pressão, principalmente em relação às promessas que se referem à eternidade.
O cristão também pode sofrer por causa da disciplina de Deus. Esse sofrimento só está reservado aos seus filhos, porque ele deseja que estes vivam em santidade, conforme declara Hebreus 12.4-6: “… na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais es­quecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menos­prezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”.
Vemos repetidas vezes Deus disciplinar o povo de Israel por considerá-lo filho: “Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o Senhor, teu Deus” (Dt 8.5; cf. 2Rs 19.3; Jó 5.17; Pv 3.11; Jr 5.3; 6.8). Nem todos os de Israel eram de fato israelitas (Rm 9.6), ou seja, nem todos os indivíduos da nação de Israel eram verdadeiramente filhos de Deus, mas a disciplina atingia a todos indis­criminadamente. Deus agia para que os seus filhos pudessem ser quebrantados e se voltassem para ele em arrependimento. O objetivo de Deus na administração de disciplina aos seus filhos é sempre o bem; ele “… nos disciplina para aproveitamen­to, a fim de sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.10b).
Também podemos colocar nesse bojo o sofrimento que todo cristão passa por sua fidelidade a Deus. Escrevendo ao seu discípulo Timóteo, o experiente Paulo diz: “Não te envergonhes, portanto, do testemunho do nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8; 2.3). Mais à frente, o apóstolo nos dá certeza de que uma vida compro­metida com os valores do reino de Deus nos reservará problemas: “… todos quan­tos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12).
Jesus Cristo foi também enfático na relação que há entre segui-lo e sofrer as consequências dessa decisão: “Lembrai­-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também persegui­rão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo 15.20). Enquanto vivenciamos uma realidade de pregações que prometem todos os prazeres desta vida aos que se entregarem a Cristo Jesus, as promessas de sua palavra seguem na direção oposta. 

II. Sofrimento e glória

Quando deixam de olhar as Escrituras para encontrar o consolo que vem de Deus, os cristãos sofrem ainda mais em meio a seus padecimentos. As promessas que Deus faz com respeito aos sofrimen­tos dos seus filhos são fortalecedoras. Vejamos algumas delas. 
A. O sofrimento na vida do crente é passageiro
Escrevendo aos nossos irmãos, o apóstolo Pedro afirma que eles deveriam exultar por causa do plano de salvação que Deus concedeu, “… embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais con­tristados por várias provações” (1Pe 1.6b); e ainda “sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1Pe 5.9).
Com certeza, os sofrimentos do crente estão condicionados, no máximo, a esta vida. Talvez julguemos que anos a fio de aflições seja muito tempo para aqueles que passam por elas, mas o que são 70 ou 80 anos compa­rados com a eternidade? Por isso o apóstolo Pedro descreve que essas amarguras são “no presente” e “por breve tempo”.
Uma das confianças mais maravilhosas que o evangelho proporciona àquele que crê é que toda agonia limita-se somente a esta vida. Nos novos céus e na nova terra não teremos motivos para sofrer: “… lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).
Pedro ainda usa outra condicional, “se necessário”. Com certeza, nós podemos afirmar que nem tudo na vida do crente é sofrimento. Deus tem proporcionado momentos bons e de alegria, concedendo­-nos graciosamente muito mais do que pedimos ou pensamos (Ef 3.20). Além disso, nós ainda temos o consolo de saber que não sofremos sozinhos (cf. 1Pe 5.9). Isso significa que em suas lutas qualquer cristão pode contar com o apoio irrestrito de seus irmãos, e a igreja pode se regozijar na verdade de que sempre haverá compre­ensão e ajuda por parte daqueles que têm sido trabalhados pelo mesmo Espírito de Deus. Por essas razões, o apóstolo Pedro pôde concluir: “… o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna gló­ria, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (1Pe 5.10). 
B. O sofrimento na vida do crente revela a glória futura
O binômio sofrimento / glória é claro nas Escrituras, porque o que aconteceu a Cristo Jesus é um paradigma daquilo que também acontecerá conosco. Assim, temos registrado, através dos profetas do Antigo Testamento, “… qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão teste­munho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os segui­riam” (1Pe 1.11). Jesus Cristo padeceu tudo aquilo que era necessário tendo a certeza de que seria glorificado depois de sua obra e, próximo à sua crucifica­ção, ele “… levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1).
Da mesma forma, podemos viver nesta terra conscientes e esperançosos de que “… os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18). Veja como é interessante perceber que a Palavra de Deus redireciona nossos pensamentos às certezas do futuro enquanto passamos por sofrimentos nesta vida. Isso não é escapismo e nem fuga da realidade, pelo contrário, é a própria realidade futura que, filtrando nossa visão do presente, faz-nos esperançosos e jubilosos aguardando o que está reservado para nós.
Nós não somos chamados à inércia no tempo presente, ao contrário, devemos trabalhar e nos esforçar tendo convicção do que nos aguarda. Por isso o apóstolo Paulo termina o capítulo 15, no qual trata da ressurreição, assim: “… meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58). Enquanto estivermos nesta vida, não devemos ansiar o porvir chateados ou tristes; Pedro nos inspira: “… alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação da sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe 4.13, minha ênfase). 

III. Soberania, sofrimento e confiança

Nestes roteiros de estudo, procuramos enfatizar as verdades apresentadas nas Escrituras a respeito da soberania de Deus e como ela se relaciona com toda a sua criação, especialmente com os seres humanos. Procuramos também, à me­dida que estudávamos, fazer aplicações práticas para compreender como essas doutrinas têm a ver com a nossa vida.
Esta seção continua mantendo esse cará­ter prático. Esperamos em Deus que tudo aquilo que vimos tenha servido para a edi­ficação do povo de Deus e para conduzir a igreja a uma vida mais santa e piedosa.
Como temos afirmado, Deus tem diri­gido a história do universo conforme os seus santos propósitos, e isso diz respeito não apenas aos homens do passado, mas à nossa própria história. Tudo o que pas­samos, todas as coisas que vivenciamos, as experiências boas e ruins, procedem da poderosa mão do Pai.
Provavelmente, para chegar aonde chegou, você já tenha passado pelo vale da sombra da morte (Sl 23.4), e a reali­dade que o cerca pode estar minando a sua confiança no amor e no cuidado de Deus por você. Perdas dolorosas, angús­tias nos relacionamentos, depressões ou consequências produzidas pelo medo e pela ansiedade podem estar corroendo o seu relacionamento com o Senhor, e com aqueles que estão próximos a você. Nós desejamos que você seja encorajado pelas Escrituras somente. Não há nada que o homem diga ou faça, e não há nada fora da Bíblia, que possa ajudá-lo. Se você não concorda, saiba que em um período razoavelmente curto os sintomas só vão piorar, porque esses conselhos ou indicações dos seres humanos serão meros paliativos para a dor da alma, que só encontra descanso em Deus.
Destacamos duas promessas muito preciosas que recebemos de Deus. A primeira é: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados se­gundo o seu propósito” (Rm 8.28) – essa promessa tem a ver com o nosso sofri­mento. Deus está garantindo que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Ele não está garantindo que compreen­deremos tudo por que passamos, nem que nos alegraremos com tudo, mas que tudo está cooperando para o nosso bem. Se essa promessa estiver firme e bem arraigada em seu coração, você terá êxito em levar a vida de maneira mais piedosa e temente a Deus.
A outra promessa diz respeito ao futuro glorioso: “ a vontade do meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.40). Essa promessa é maravilhosa, pois nos apresenta a garantia de que não permaneceremos na morte. Mais do que isso, à semelhança do nosso Senhor, ressuscitaremos para viver plena e eternamente com ele e com todos aque­les que creram em seu nome. Por isso, não devemos temer aqueles que podem matar o corpo ou nos fazer mal porque isso é o máximo que eles podem fazer (Lc 12.4). Como pertencemos a Deus, e estamos assegurados nas suas mãos, o futuro de glória é certo e verdadeiro.
As coisas que padecemos servem para preparar o nosso caráter e fortalecer a nos­sa fé, transformando-nos à semelhança de nosso Senhor Jesus Cristo. Não deixemos que os sofrimentos desta vida retirem de nós a esperança de um futuro glorioso.

Conclusão

Os sofrimentos que os crentes enfrentam são reais e têm vários motivos; eles demonstram a glória futura e devem despertar em nós uma confiança inabalável na providência e no amor que Deus tem por nós, concedendo-nos condições de viver no tempo presente sensata, justa e piedosamente (cf. Tt 2.12).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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