A GLÓRIA DE DEUS NA FACE DO DISCÍPULO...
(2 Coríntios 3:7-18)
Durante a peregrinação de Israel no deserto, Moisés mantinha contato regular com o Senhor, na tenda da congregação. Sempre que Moisés entrava para falar com o Senhor, sua face começava a brilhar, refletindo a glória da presença de Deus. Quando ele saía, tinha que cobrir seu rosto para que o povo não cegasse com o fulgor. O brilho começava a desvanecer gradativamente, mas os israelitas não o percebiam por causa do véu que Moisés usava. Quando ele retornava à tenda da congregação, sua face começaria a luzir, novamente, com a glória do Senhor. Este evento histórico, registrado em Êxodo 34:33-35, é a base para os comentários de Paulo em 2 Coríntios 3:7-18.
A glória da nova aliança
"E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente" (3:7-11).
Enquanto a velha aliança estava cheia de glória, esta simbolizada pelo resplendor da face de Moisés, a nova aliança brilha ainda mais. Este contraste resulta das funções das duas alianças. A velha era uma aliança de morte, porque tudo o que podia fazer era diagnosticar a doença do pecado. A nova aliança providencia o remédio para os pecados dos homens. A velha aliança era um ministério de condenação porque condenava aqueles que deixaram de cumprir suas exigências, mas a nova aliança justifica, através do sangue de Cristo, aqueles que pecaram. É certamente uma coisa maior justificar o pecador do que condená-lo. A nova aliança é superior também porque ela ainda permanece, enquanto a glória da antiga aliança desvaneceu.
A diferença na glória da antiga e da nova é notável: "Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória" (3:10). Assim como a lua e as estrelas desvanecem quando o sol levanta, assim a glória da velha aliança empalideceu quando a nova aliança raiou em Cristo. Uma vez que sua glória foi suplantada, a velha aliança não é mais nossa lei. Nem mesmo os dez mandamentos, a lei gravada em pedras, se impõem, como tais, aos cristãos, ainda que muitos deles tenham sido incluídos na nova aliança (a exceção é o mandamento do sábado, que não é repetido na aliança de Cristo -- veja Colossenses 2:16-17).
O véu de Moisés
"Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia. Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até o dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado. Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (3:12-17).
O véu que cobria o rosto de Moisés, quando ele voltou a falar com o povo, simboliza o véu da cegueira nos corações dos incrédulos judeus quando eles liam a velha aliança. Assim como os israelitas não podiam ver que o resplendor na face de Moisés tinha desvanecido, assim também os judeus dos dias de Paulo não podiam ver que a glória da velha aliança tinha desvanecido. Mas, assim como Moisés retirava o véu quando voltava ao Senhor, na tenda, assim também quando alguém volta ao Senhor hoje, seu véu é removido e ele vê claramente. O Senhor a quem nos voltamos hoje é o Espírito, que é descrito neste contexto como o agente da nova aliança (3:3,6,8). Quando nos voltamos para o Senhor, na nova aliança, ficamos livres: de culpa, de pecado e de morte, e especialmente, do véu que impede o entendimento espiritual.
Moisés, modelo para nós
"E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" (3:18). Este texto destaca comparações e contrastes entre nós e Moisés. Nós, como Moisés, contemplamos o Senhor com a face desvendada. E, como ele, nosso rosto é transformado e começa a luzir com a glória do Senhor. Isto não é físico, em nosso caso, mas representa a radiante transformação espiritual que experimentamos. Cada cristão, em certo sentido, repete as experiências de Moisés.
Há diferenças entre nós e Moisés. 1. Diferente da situação dos israelitas, todo discípulo hoje contempla o Senhor. Nos dias do Sinai, somente o guia, Moisés, viu-o. O povo, por causa da culpa do pecado, era incapaz de contemplar o Senhor, ou de ver o resplendor da face de Moisés. Agora que a culpa dos pecados do cristão foi perdoada por Cristo, ele pode contemplar a glória de Deus na face de Cristo (4:6) e ansiosamente antever a contemplação final da glória do Senhor no céu (João 17:24). 2. Também, diferente de Moisés, nosso rosto não deve ser vendado. A luz de Cristo dentro de nós não deve ficar escondida; antes, outros devem ver a glória do Senhor refletida em nossa 'face', em nosso caráter. 3. Finalmente, somos diferentes de Moisés no fato que a glória de Moisés desvaneceu, e a nossa deve intensificar "de glória em glória".
Aplicações práticas
1. Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar" (3:12). A mensagem desvendada clama por um método desvendado de proclamá-la. Não deve haver desculpa para o anúncio franco e aberto do domínio de Cristo e de seu evangelho, porque o estilo do ministério deve concordar com o caráter da mensagem. Paulo era ousado. Ele pregava e ensinava a verdade a todos, indiferente ao perigo. Ele era freqüentemente expulso da cidade, espancado e aprisionado, mas nunca se esquivava de declarar a verdade de Cristo francamente. Nós, por outro lado, tendemos a ser hesitantes e indiretos em nosso ensinamento porque tememos o ridículo e a rejeição. Se ao menos pudéssemos começar a ver a espantosa glória do Senhor mostrada no evangelho, declararíamos a verdade com coragem.
2. Somente quando os israelitas se voltaram para Cristo, puderam discernir o verdadeiro significado e glória da velha aliança. Muito do Velho Testamento reflete a sombra de Cristo. O tabernáculo, os sacrifícios, o sacerdócio, o reinado e muitos eventos da história do Velho Testamento revelam a figura de Cristo. Ele é a chave para o entendimento do Velho Testamento. Sem Jesus, muito do seu significado permanece trancado na obscuridade.
3. Este texto dá uma tremenda visão da verdadeira meta do cristão: refletir a glória de Cristo e ser transformado em sua imagem. Cristianismo é muito mais do que moralidade e comparecimento à igreja; é um processo dinâmico resultante em Cristo sendo formado no coração do cristão (Gálatas 4:19). Os cristãos devem começar a parecer com Cristo. Não há segredo quanto a como esta transformação acontece. É contemplando Cristo em sua palavra. Quanto mais olhamos para ele, meditamos nele, e procuramos copiá-lo, mais o Senhor nos transformará. E a mudança é para ser progressiva. Cristo deve habitar em nosso coração mais e mais a cada dia. Enquanto o Espírito executa sua obra, o caráter de Deus deve emergir progressivamente na estrutura e natureza de nossa vida.
Pare um momento para pensar sobre como era a vida de Cristo. Sua paixão intensa era a vontade de seu Pai. Ele nunca falou e nunca agiu por sua própria iniciativa, mas sempre buscou ativamente agradar ao seu Pai. Ele orava ao seu Pai freqüentemente, mantendo uma relação íntima com ele. Precisamos crescer para sermos mais dominados pela vontade do Pai e para desenvolver uma amizade mais íntima com ele na oração.
Jesus era compassivo, meigo e perdoador. Ainda que os discípulos o desapontassem muitas vezes, ele continuou a trabalhar com eles pacientemente. Pedro negou, com um juramento, que ao menos soubesse quem Jesus era, no exato momento em que Jesus mais precisava dele. Mas apenas três dias mais tarde, um anjo incumbido por ele disse às mulheres que fossem e convidassem os discípulos, e Pedro, para encontrá-lo na Galiléia (Marcos 16:7). Naturalmente, Pedro era um discípulo, mas o Senhor sabia que ele poderia sentir-se indigno de encontrar Jesus depois de tê-lo deixado num momento tão crítico. Assim, Jesus assegurou-se de que ele recebesse um convite especial. E quando eles se encontraram, Jesus encorajou-o e prometeu usá-lo para alimentar suas ovelhas (João 21). O amor de Jesus não era limitado aos seus seguidores. Ele pediu a Deus para perdoar aqueles que o estavam crucificando (Lucas 23:24). Como nos comparamos com Jesus, em perdão? Estaremos, realmente, permitindo ao Senhor mudar-nos para a imagem e a glória espiritual de Cristo? Ou talvez não passemos tempo suficiente contemplando-o?
O verdadeiro cristão reflete a glória espiritual de Jesus em seu caráter e sua vida.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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