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terça-feira, 28 de novembro de 2017

O EU...


                                                                        O EU...
Quem é o homem? Essa é certamente uma pergunta intrigante, e ao longo da história, muitos filósofos, sociólogos e religiosos tentaram responde-la. No entanto, nós que somos cristãos, devemos buscar na bíblia a resposta para essa pergunta. E diferente do que possa opinar a maioria dos evangélicos, o ser humano não é essa criatura maravilhosa, cheia de valor intrínseco, um ser virtuoso de invejável caráter. Infelizmente, muitos dos nossos pastores estão dominados pela autolatria e apresentam o homem como uma criatura que, de tão maravilhosa, fez com que Deus se apaixonasse por ela, sendo ele mesmo (o homem) merecedor de toda honra e glória. Porém não é assim que a Bíblia diz. Ela, a Palavra de Deus, descreve o homem como um ser maligno, recheado de perversas intenções, obstinado e rebelde, totalmente incapaz de praticar a virtude com motivações puras e santas, totalmente perdido; enfim, perversamente pecador.

Essa criatura foi tão terrivelmente “enfeiurada” pelo pecado, que mesmo tendo ainda um resquício do reflexo do seu criador, ainda é mais parecida com o diabo, a quem desde a queda é atribuída a sua paternidade. Suas ações são ações imundas, seu coração é enganoso e perverso e nele, o pecado foi escrito com ponta de diamante. Ele é totalmente incapaz de, por si, converter-se em alguém melhor. Tal como o etíope não pode mudar a cor da sua pele, ou como o leopardo não pode mudar as suas manchas, assim também o ser humano, sendo continuamente ensinado no caminho da maldade, não pode converter a si mesmo. É por isso que ele precisa da graça de Deus.

E o que é graça? Graça é justamente a expressão da gratuidade de Deus. Não é a recompensa das nossas obras (já que isso seria mérito), mas um galardão sem obras. Ela existe justamente porque não merecemos coisa alguma de Deus, somos mais maus do que bons, erramos mais do que acertamos, pecamos mais do que oramos, somos injustos com as pessoas que nos amam, defraudamos amigos, somos infiéis nos contratos e compromissos e as vezes, quando nos vemos em momentos de extrema pressão e dificuldade, nos rebelamos contra a única pessoa que sempre esteve do nosso lado, isto é, Deus. Ao menor sinal de tribulação, ventilamos com Ele a nossa indignação, muitas vezes culpando-o injustamente pelos nossos desmantelos e fracassos.

Não se iluda, caro amigo, pois o homem é isso aí: Egoísta, não enxerga outra pessoa senão a si próprio. Egocêntrico, deseja que o mundo gire ao redor do seu próprio umbigo. Ególatra, idolatra a si mesmo e pensa que Deus e o universo tem o dever de trabalhar em seu favor. Inclinado ao pecado, seguirá para sempre interessando-se por aquelas coisas que, por vergonhosas que são, destroem a alma e fatalmente nos afastam de Deus. Em poucas palavras, somente um milagre para colocar esse homem no céu. Ou ainda, usando as palavras do próprio Jesus, só nascendo de novo!

Mas o que isso tem a ver com “a morte do eu”? Simplesmente tudo. Em nossa cultura de autovalorização, tendemos a exagerar no amor próprio e a fazer um alto juízo acerca de nós mesmos. Julgamos-nos melhores do que somos, e, portanto, mais dignos das afeições das demais pessoas. E por conta disso, muitos de nós vivemos com a impressão de que fomos defraudados, humilhados, ou mesmo deixados de lado (o que para o orgulhoso, é a pior forma de humilhação). “Quem ela pensa que é para agir assim comigo?”, reclamamos. “Quem é ele para desligar o telefone na minha cara?”, murmuramos. “Quem essa pessoa pensa que é para me deixar esperando assim?”, nos queixamos. Não é assim que acontece? E por que atuamos assim? Por orgulho. Simplesmente orgulho.

É claro que as pessoas precisam tratar-se da melhor maneira possível, especialmente os cristãos. A regra de ouro, “O que quereis que os homens vos façam, assim façais vós também” continua valendo. Não dá para achar que é normal a atitude de quem facilmente destrata as pessoas. Não obstante a pergunta mais importante é: “Como devemos reagir a situações como estas?” Devemos reclamar, queixar-nos, botar a boca no trombone, exigir nossos pretensos direitos, ou suportar calados, sofrer a afronta, encarar com humildade a humilhação sabendo que o sofrimento tem um caráter pedagógico e através dele Deus aperfeiçoa nossa vida e molda nossa personalidade?

Eu sei que você, amigo leitor, é plenamente capaz de “exigir seus direitos” e se impor em uma situação constrangedora como as que mencionamos aqui. Mas quantos de nós somos também capazes de suportar a humilhação, para a glória de Deus?

Eu imagino o quanto você deve estar confuso ao ler isso. E não culpo você. Infelizmente, a versão de cristianismo que foi ensinada a nós estava impregnada de jargões triunfalistas e estivemos expostos a mensagens assim por tempo demais. Frases como “Deus te chamou para ser cabeça, e não cauda”, “Você deve estar sempre por cima e nunca por baixo”, “Você está destinado a vencer!” fizeram a nossa cabeça por muito tempo e uma mudança de paradigmas é sempre dolorosa. É triste, mas o evangelho triunfalista dos telepastores, em lugar de nos unir a Deus e a Cristo, acabou separando-nos das verdades importantes do cristianismo. Por isso, mensagens como “levar a Cruz”, “morrer para nós mesmos”, “suportar a afronta” e “não pagar mal com mal” se tornaram enormemente impopulares.

E a raiz do problema, onde está? Na supervalorização que fazemos de nós mesmos. Temos um autoconceito superior aquele que deveríamos ter, pois no fim das contas, nós não somos absolutamente nada. Não somos os bons, nem os maiorais, nem merecedores de coisa alguma. Nossos pecados encheram a taça da ira de Deus, e a única coisa que poderíamos conquistar com nossos méritos é a sentença de condenação eterna no inferno! Por isso, toda atenção, carinho e apreciação que recebemos das pessoas, não podem ser atribuídas a alguma espécie de dívida delas conosco, mas à pura e preciosa graça de Deus. Entendeu?

Não merecemos palavras gentis, não merecemos tapa nas costas nem estrelas douradas na testa. Se a bíblia é verdadeira como afirmamos ser, então nós somos uns grandíssimos nadas, sustentados pela graça de Deus, da qual todos dependemos para viver, nos mover e existir.

Por isso, da próxima vez que alguém pisar na bola com você, ou te der um tratamento aquém daquele que você julga ser merecido, em lugar de irritar-se com a situação, experimente abaixar a cabeça. Use essa situação a seu favor, pois tais circunstancias costumam ser excelentes oportunidades para aniquilar o nosso ego, que é este ídolo que carregamos dentro do peito e que sempre se acha mais do que realmente é.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante 

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